O fim da rádio FM?
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Podcasts, vodcasts, social networking, internet… o digital coloca todas estas tecnologias ao dispor dos meios, mudando a paisagem radiofónica. Estaremos a assistir ao princípio do fim da rádio FM tal como a conhecemos? O M&P ouviu os operadores nacionais na NAB – European Radio Conference e deixa aqui algumas pistasArádio tal como a conhecemos parece estar a chegar ao fim e, curiosamente, a avaliar pelas opiniões recolhidas pelo M&P durante a European Radio Conference, em Barcelona, os operadores portugueses estão a sentir-se bem com a situação. O responsável por este admirável mundo novo é o digital e a transformação que está a imprimir nos media, um momento revolucionário ao qual a rádio não está imune. A European Radio Conference, organizada pela National Broadcasters Association, é disso sintomática. O digital – por via da discussão das novas tecnologias como blogues, podcasts, as chamadas plataformas comunitárias, mobile streaming e o próprio vídeo – e o novo mundo de possibilidades que revela ao meio, foi um tema transversal ao encontro que reúne alguns dos principais operadores europeus do sector e que os está a entusiasmar. É o caso de António Mendes. Depois de três dias onde se viveu e respirou experiências mundiais de rádio, o director de programas da RFM, estação do grupo Renascença líder de audiências em Portugal, conclui que “a rádio está viva”. “Sente-se que há uma muito menor preocupação com aquilo que antes era percepcionado como ameaças (IPods e todas essas ferramentas) e uma forma mais inteligente de ver a coisa, que é “como é que a rádio pode integrar todas as novas tecnologias?'”, explica o responsável. Uma opinião igualmente partilhada por Nelson Ribeiro. Foi, considera o director de programas da Renascença, “uma conferência muito marcada por um ou dois temas, sendo um deles o digital”. Mais, diz o responsável da estação generalista, “o digital vem trazer novas oportunidades para a rádio e temos de aproveitá-las. Novas oportunidades porque nos países mais desenvolvidos no digital e nas multiplataformas, como o Reino Unido, está a verificar-se que a rádio nunca teve índices de audiências tão elevados como teve o ano passado e este ano continua a subir a audiência global de rádio”.
Acabar com as fronteiras do FM e do AM
Pedro Ribeiro, director de programas da Rádio Comercial, destaca igualmente os desafios colocados pelo digital ao meio. “Se há quatro anos se estabelecesse um cenário dizendo que íamos ter coisas como o Google Earth, podíamos comprar música online como hoje ou transmitir concertos pela internet para todo o mundo, as pessoas torciam o nariz”, refere. “A verdade é que revolução digital é muito rápida, tomou conta da nossa vida e desta actividade. Só quem estiver muito bem preparado para ela e adaptar o seu esquema mental de funcionamento da rádio a esta nova realidade estará preparado não só para não sofrer com o facto de outros fazerem coisas bem feitas neste universo, mas também para aparecerem novas ideias, novas maneiras de pensar a rádio e de completar a oferta do FM ou na Onda Média com a oferta no digital”, afirma o responsável da estação do grupo Media Capital. Um cenário que Pedro Ribeiro encara de forma positiva. “Neste encontro, mais do que em qualquer outro, percebeu-se, para quem tivesse dúvidas, que o futuro é online e que o futuro é, de facto, digital. A rádio tem o enorme desafio de se adaptar ao mundo digital não tendo medo desse mundo digital, porque o meio rádio é o que tem mais a lucrar em termos de possibilidades de expansão e de diversificação de oferta para os ouvintes com a adopção do mundo online”, defende. “As grandes questões do futuro da rádio têm a ver com a forma como vamos potenciar o crescimento da rádio através do online, mas também com a necessidade de enquadrar isso em termos de direitos de autor e até pelas barreiras que actualmente existem pelas licenças de FM que temos”, refere. “Se calhar no digital, no futuro, vai ser mais difícil perceber se existe diferença entre rádio local e nacional, porque o digital é de todos e é online, ou seja, global. No futuro, com o avanço do digital as fronteiras entre as estações vão ter menos a ver com a dimensão das estações e mais com a criatividade e oferta de conteúdos de cada uma. Vamos libertar-nos das fronteiras do FM e da AM”, vaticina Pedro Ribeiro.
A rádio FM ou AM está perante novos desafios que vão transformar a forma como o meio é percepcionado, considera, por seu turno, António Mendes. “Estamos muito habituados a ver a rádio prendida ao FM. A rádio não é FM”, começa por referir o director de programação da RFM. “A rádio é unir pessoas e, desde que exista um suporte que permita o transporte, isso pode ser rádio. A rádio no início era onda média, não é o que temos hoje. As novas tecnologias só vão permitir à rádio chegar por mais vias aos ouvintes”, diz. “Há muitos anos que ninguém compra rádios e continuam sem comprar aparelhos de rádio, mas hoje em dia têm no computador, no telemóvel, no carro… E quem trabalha em rádio só tem de aproveitar essas oportunidades”, defende António Mendes.
Algo com potencial para animar um mercado português de rádio que, a avaliar pelo estudos de audiência do meio, estabilidade dos formatos das estações e número de players relevantes, está a atravessar uma fase, no mínimo, pouco animada. “Hoje o panorama da rádio em Portugal não é nada satisfatório”, afirma Pedro Tojal. O homem que apresenta no seu currículo a direcção de estações do grupo Renascença e mais tarde da Media Capital Rádios, considera, relativamente ao mercado português, que “há menos apelo da rádio, as audiências têm vindo a descer e o meio precisa de ser revitalizado”. “Aqui [na NAB European Radio Conference] percebe-se que, ao contrário do que se passa em Portugal, a rádio não está a cair, mas sim a encontrar novos caminhos para evoluir”, diz o agora partner da consultora de comunicação Jiotis. “Temos aqui as novas tendências que existem, as novas plataformas, a forma como a rádio já não fica no ar só por si, há muito mais por onde expandir”, diz. “É como se houvesse hoje em dia mais estradas para mais sítios diferentes”, acrescenta.
As novas ferramentas da rádio
Se, tal como diz Ricardo Soares, subdirector de programas da Antena 1, “o digital é o futuro” e “a rádio tem de estar no digital, nas novas plataformas, tendo a internet nos telemóveis como um aliado”, se “o futuro da rádio passa indiscutivelmente pelo digital”, como frisa o responsável da estação pública, talvez essa quase que inevitabilidade explique um pouco o sentir dos operadores que olham para esta realidade mais como uma oportunidade do que como uma ameaça. Entre uma ameaça ou uma oportunidade, Nelson Cunha não hesita em colocar o digital no reino de oportunidade para o meio rádio. “É obviamente uma oportunidade para a rádio”, diz o director de programação da Mega FM, estação do grupo Renascença, que toma como exemplo mercados como o inglês, onde o digital tem tido um papel importante no crescimento da rádio. A incógnita permanece é sobre a forma como o “o consumidor percepciona a forma como se olha para o digital. Talvez por isso é que estamos tão expectantes”.
“O digital é o futuro e a rádio tem de olhar para o digital muito mais como um aliado do que como um adversário. Se não o fizer perde a guerra, porque as coisas estão a evoluir nesse sentido quer na rádio, quer na televisão”, começa por dizer José Mariño, director adjunto de programação da Antena 3. “O digital e o podcast é fundamental para a rádio. Agora a rádio tem de aprender a lidar com outros meios”, afirma José Mariño e explica porquê: “A internet veio colocar nas mãos da rádio uma responsabilidade diferente. Temos um site e não vamos fazer apenas rádio, se calhar temos de dar conteúdos diferentes que façam com que os nossos ouvintes tenham uma imagem da sua rádio e ganhem outra dimensão da rádio que ouvem”, defende o director adjunto de programação da estação mais jovem da RDP. “Nós, para mais grupo RTP, temos a possibilidade de fazer TV e rádio, de fazer mais coisas nesse sentido, de atrair mais ouvintes e desenvolver aquilo que será o futuro, que não se sabe o que será, mas é bom já ter um pezinho no comboio”, acrescenta. Afinal, como refere Jorge Alexandre Lopes, director adjunto de novas plataformas do grupo RTP, “ouvir rádio hoje não é ouvir no rádio. 9% da escuta de rádio em Portugal já é feita em plataformas que não são a FM ou a Onda Média. Em Inglaterra, na Virgin Radio, 40% da suas audiências já são proveniente de plataformas diversas do FM”.
Resta saber se o tema multiplataforma colocado na agenda mediática e estratégica dos grupos de media nacionais também rima com rádio. “Penso que o caminho para o digital e para o conceito multiplataforma já está a acontecer no mercado português”, começa por dizer Nelson Ribeiro, da Renascença. “Está a aumentar de forma significativa o número de pessoas que ouve rádio pela internet, por leitores de mp3 e telemóveis mas talvez não com a mesma expressão de outros países. É um processo gradual, mas é um caminho inevitável e que está já a acontecer”, defende. Um ponto de vista partilhado por Miguel Cruz. Quando questionado sobre se considera que o tema multiplataforma já chegou à rádio o director de programas M80, Romântica FM e Best Rock FM considera que sim. “Não tenho é a certeza que chegue tão rápido como em outros países onde a dimensão do mercado, a capacidade financeira das próprias empresas permitem um desenvolvimento mais rápido”.
Há quem considere que apenas foram dados os passos iniciais no caminho rumo ao digital. Os grupos nacionais, opina Jorge Alexandre Lopes, “fizeram a parte do caminho que considero obrigatória. É o bilhete de entrada na era digital”. Como? “Criando novos conteúdos a partir das suas programações, estendendo para o online aquilo que pode ser o seu plano de comunicação, mas daqui para a frente vamos ter de deixar de estar no plano da experimentação, a ser mais exigentes e, acima de tudo, começar a criar o mercado. E há muito para fazer em Portugal”, considera. “Há muitas questões que passam pelo digital, e não necessariamente pela internet, que é a plataforma mais óbvia. A internet e o telemóvel são apenas duas plataformas. Em Portugal há uma rede de Digital Audio Broadcasting (DAB) que é repartida potencialmente por três operadores, mas onde dois deles, por exemplo, objectivamente por razões que lhes assiste, decidiram não entrar”, relembra o responsável. “Mais”, acrescenta, “a Anacom tem disponível para concurso mais dois multiplexers de DAD o que nos vai levar a seis frequências nacionais”. Todavia, o DAB tem sido um processo onde apenas praticamente em Inglaterra e Dinamarca parece ter tido um kick-off positivo, limitado por questões tão comezinhas como não disponibilidade massificada de terminais. “Por alguma razão em Inglaterra funcionou: houve um envolvimento do público, do privado, do regulador, dos retalhistas…”, contrapõe Jorge Alexandre Lopes. “Ninguém compra tecnologia pela tecnologia, mas sim pela experiência nova, neste caso de rádio. Tem de haver uma diversificação de canais. Ninguém compra terminais para ouvir programação que tem no FM”, diz. Entre a questão do ovo e da galinha, como a coloca, ou seja, quem é que deve dar o pontapé de arranque ao DAB – os operadores com nova oferta, ou consumidores com a compra de terminais DAB – Jorge Alexandre Lopes considera que a questão do DAB no que diz respeito à rádio só se vai impor na agenda com o arranque da Televisão Digital Terrestre (TDT). “A questão do DAB é central, mas não vejo que em Portugal se desate esse nó antes do arranque TDT, que agora começa. A rádio digital em plataforma broadcast vai a reboque da TDT. Quando em 2012 as pessoas perceberam que vão ter de comprar caixas para poderem continuar a ver televisão, nessa altura será mais fácil passar a mensagem de que precisam de comprar uns rádios novos através dos quais têm uma informação que de outro modo não tinham. Até lá não vejo que se consiga consensos”, opina o director adjunto de novas plataformas do grupo RTP.
E a área comercial?
Se o digital propõe um mundo de oportunidades à programação das estações, o mesmo se aplica à área comercial. “As estações de rádio têm de reforçar o contacto com a audiência e através disso fazer chegar marcas a consumidores. Também para as áreas comerciais se abrem portas muito importantes, que passam pelo spot de 30 segundos, que continuará a existir, mas essas novas plataformas reforçam a proximidade que o meio rádio tem e que podem servir muito bem essas marcas que anunciam em rádio”, considera Salvador Bourbon Ribeiro, director comercial da TSF, estação do grupo Controlinveste.
“Antigamente as rádios tinham ouvintes hoje têm de conquistar consumidores, e as marcas fazem exactamente o mesmo”, refere, por seu turno, Renata Silva, directora comercial da Intervoz, braço comercial do grupo Renascença. “Nessa perspectiva a abordagem tem de ser muito mais abrangente. A rádio é um meio que está disponível em todo o lado, agora não pode ser cingida ao FM e ao on air. As novas tecnologias permitem à rádio cada vez mais essa liberdade de ser ouvida cada vez mais em todo o lado”, acrescenta. Uma realidade que levou no grupo Renascença a uma mudança de posicionamento da área comercial, que se afirma como consultores de publicidade e não apenas como vendedores. “A consultoria na perspectiva da venda tem de funcionar no sentido em que temos de perceber junto de um anunciante qual o seu objectivo e, dentro de casa, encontrar uma solução e isso não quer dizer que tenha de passar só ou até pelos spots tradicionais”, diz. As novas tecnologias, sintetiza a responsável, “permitem fazer chegar os conteúdos às pessoas de diferentes formas e isso é também o que os anunciantes pretendem”.