Antes ser da Parvónia que ser parvo
por Susana Albuquerque,Confesso que não gosto do conceito de comunicação da Media Markt (Eu é que não sou parvo!), mas gosto bastante da execução local da Parvónia feita pela TBWA. […]
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por Susana Albuquerque,Confesso que não gosto do conceito de comunicação da Media Markt (Eu é que não sou parvo!), mas gosto bastante da execução local da Parvónia feita pela TBWA. “Ich bin doch nicht blöd” (no original!) parece-me uma forma óbvia de uma marca dizer que é barata, e pouco inteligente pois limita-se a insultar intelectualmente quem a não escolhe (o que do ponto de vista da sedução é, no mínimo, duvidoso). Através da Wikipedia, fico a saber que o eixo do parvo é global e ainda aprendo como é que se diz “Eu é que não sou parvo!” em 13 línguas diferentes (Nie dla idiotów! Em polaco, só por curiosidade). Mas esta adaptação do ser parvo ao mercado luso na figura da intraduzível Parvónia mais os seus embaixadores boratianos (a miss, o escuteiro, o general e o presidente) é divertida como já não via num anúncio português há muito tempo.
Pensando sobre ela, encontro várias qualidades, que a meu ver a tornam pouco parva: 1. tem graça, o que é agradável de ver num país e num mundo demasiado ocupados em levarem-se a sério; 2. o conceito criativo da Parvónia é uma execução local e muito nossa. E é um bom conceito, quando falamos de uma marca popular que se posiciona pelo preço e pela compra inteligente (quem nunca usou a palavra parvónia para descrever ignorância e um lugar onde não se passa nada que atire a primeira pedra); 3. Parvos são os habitantes da Parvónia, e não quem compra na concorrência: esta é uma volta inteligente para uma marca que usa a palavra Parvo na assinatura, o que imagino ser um problema bicudo de resolver para qualquer criativo.
Mas estes considerandos são apenas uma introdução longa para aquilo que importa comentar porque voltou a estar na ordem do dia, depois dos gays contra os heteros orgulhosos da Tagus, e agora com os escuteiros contra a Parvónia da Media Markt. Portugal está a ficar a nação da tolerância zero para com a publicidade de humor politicamente incorrecto. Intolerância por intolerância, eu preferia que os feios, por se sentirem discriminados, se unissem para tirar do ar as campanhas que só usam a mesma gente bonita de sempre. A este propósito gostava de citar o Groucho Marx, para quem o humor é a razão enlouquecida (“Humor is reason gone mad”), colocando assim as boas piadas no mesmo eixo dos comentários politicamente correctos sobre a vida e as pessoas, só que em extremos diametralmente opostos.
Gostava ainda de aproveitar este espaço para recordar a opinião pública que os publicitários não inventam nada. Os melhores de nós observam bem o que se passa à volta, e reproduzem-no ora com graça, ora com elegância, ora com melodramatismo, ora com acutilância, a fim de provocar simpatia junto de quem os vê, e a partir daí gerar uma compra. Um escuteiro parvo só tem graça porque toda a gente já conheceu um escuteiro parvo um dia, ou conhece alguém que conhece, ou viu filmes americanos sobre isso, e esse lugar-comum não foi a publicidade que inventou (nem esse nem nenhum outro).
Felizmente, hoje em dia, os portugueses já só têm este nível de dureza e correcção politica em relação ao humor na publicidade, estando todas as outras formas de humor em clara expansão, doa a quem doer. Agradeço com sinceridade ao Contra-Informação e agora aos Gatos por, sabe-se lá como, terem ajudado a despentear um bocadinho Portugal, mostrando-nos o José Sócrates a fumar uma ganza enquanto falta às aulas, o polícia maníaco e gay que organiza por cores e tamanhos todo o material apreendido nas rusgas e o senhor do 112 que não gosta de trabalhar (por muito menos que isto, o Herman foi retirado do ar há uns anos e na altura toda a gente achou que essa tinha sido uma decisão parva). O humor não poupa nada nem ninguém, caso contrário não tem graça. Podemos estar a caminhar para uma publicidade sem humor mas isso é, passo a homenagem a La Palice, caminhar para uma publicidade com menos graça.
directora criativa da Lowe & Partners