A McDonald’s, que nos últimos anos tem vindo a aumentar o foco na importância das políticas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), anuncia que está a pôr fim a algumas destas práticas, noticia o The Guardian. O Publicis Groupe, por seu lado, acaba de despedir quase metade da equipa de DEI, incluindo Geraldine White, diretora de diversidade da ‘holding’ desde 2021, avança a Ad Age. A Costco, que tinha reafirmado o compromisso com a diversidade, apresenta-se como uma exceção nesta tendência.
A McDonald’s justifica que o “cenário legal em mudança”, após decisões do Supremo Tribunal dos Estados Unidos e ações de outras empresas, leva a empresa a analisar as políticas que seguia em matéria de DEI. A cadeia de restauração rápida vai abandonar objetivos específicos – introduzidos em 2021 na sequência de ações judiciais que alegavam assédio sexual e discriminação racial – para aumentar a diversidade nos níveis de liderança
Vai também deixar de promover o programa que encoraja os fornecedores a implementar formação em diversidade e a representação de minorias na sua liderança, bem como suspender a participação em estudos externos, como o índice anual de inclusão no local de trabalho da Human Rights Campaign para funcionários LGBTQ+.
O clima político em mudança, incluindo a oposição de figuras como Donald Trump e de grupos conservadores, poderá ter influenciado as últimas decisões do Mc’Donald’s. Apesar das mudanças, a equipa de liderança sénior do McDonald’s declara, em carta aberta aos funcionários e franqueados, o compromisso com a inclusão, observando que 30% dos seus líderes nos Estados Unidos provêm de grupos sub-representados, em comparação com 29% em 2021. No entanto, a empresa não atinge o objetivo original de 35%, até ao final de 2024.
O Publicis Groupe, por seu lado, justifica a decisão de despedir quase metade da equipa de DEI, com 13 colaboradores, por estar a tentar “reorientar o rumo da equipa”, segundo a Ad Age. “O nosso compromisso para com a diversidade, a igualdade e a inclusão nunca foi tão importante nem tão determinado, e esse trabalho continua com as nossas equipas em toda a organização”, refere um porta-voz do Publicis Groupe.
Segundo a Ad Age, várias empresas estão a afastar-se do conceito de DEI, para evitar ressentimentos por parte dos conservadores, relançando essas equipas sem os termos diversidade ou equidade, mas como ‘equipas de impacto’, com um foco na sustentabilidade. Um executivo do Publicis Groupe, suspeita que a ‘holding’ poderá estar a fazer o mesmo e aponta como exemplo a contratação de Nannette LaFond-Dufour como diretora de impacto, em maio de 2024.
Duane La Bom, ex-vice-presidente de recursos humanos e diretor de diversidade da Epsilon, agência de marketing do Publicis, foi também despedido no final de 2024. Duane La Bom participou em projetos para a Epsilon, como o relatório anual sobre as disparidades salariais entre homens e mulheres e a parceria com o Thurgood Marshall College Fund. Em 2024, o orçamento do DEI da Epsilon foi reduzido e duas das quatro pessoas que trabalhavam sob a direção de Duane La Bom foram despedidas.
Na sequência dos despedimentos, alguns líderes do setor criticaram o Publicis nas redes sociais, sobretudo pela alegada hipocrisia, devido ao vídeo de Boas Festas divulgado no final de 2024, no qual Snoop Dogg, uma figura proeminente da comunidade negra, declara o Publicis como “a maior ‘holding’ do mundo”.
“Numa semana, o vosso CEO usa um capuz e cumprimenta o Snoop [Dogg] numa publicação nas vossas redes sociais e, literalmente, e quero dizer LITERALMENTE, na semana seguinte, fazem uma caminhada com a vossa equipa de DEI pela porta das traseiras”, escreve Walter Geer, diretor criativo de inovação da VML na América do Norte, numa publicação no LinkedIn. “As pessoas são rápidas a abraçar a cultura negra quando esta melhora a sua imagem ou serve os seus interesses. Aproveitam-se da nossa criatividade, do nosso estilo e da nossa influência para parecerem relevantes”, acrescenta Walter Greer.
As marcas retalhistas também têm estado sob pressão nesta matéria. Empresas como a Walmart, a Lowe’s, a Tractor Supply Co. e a Ford recuaram nas políticas de DEI em 2024, após protestos de ativistas. A Costco é uma das mais recente a enfrentar a pressão dos ativistas conservadores. O retalhista norte-americano foi recentemente analisado pelo National Center for Public Policy Research, grupo conservador que alega que a Costco está envolvida numa eventual discriminação contra empregados caucasianos, asiáticos, homens e heterossexuais.
Segundo a CNN, o grupo propôs que a Costco emitisse um relatório sobre os riscos financeiros dos objetivos de DEI. A empresa argumenta, numa declaração aos investidores em dezembro, que “um grupo diversificado de funcionários ajuda a trazer originalidade e criatividade às nossas ofertas, promovendo a ‘caça ao tesouro’ que os nossos clientes valorizam”.
Ao recusar-se a ceder à pressão dos ativistas, a Costco pode servir de exemplo a outras marcas que enfrentam pressões semelhantes. “A Costco está a dizer: ‘isto é bom para o negócio, mas estou a fazê-lo porque é benéfico para os meus clientes, para os meus empregados e para os acionistas'”, declara à Ad Age Leeatt Rothschild, fundador e diretor executivo da Packed with Purpose, empresa de brindes corporativos sedeada em Chicago.