O ciclo virtuoso das cidades criativas
As indústrias criativas são sinónimo de vitalidade económica. Agora, é o Porto que quer seguir o caminho já trilhado por cidades como Sheffield, Amesterdão e Barcelona As indústrias criativas estão […]
Filipe Pacheco
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As indústrias criativas são sinónimo de vitalidade económica. Agora, é o Porto que quer seguir o caminho já trilhado por cidades como Sheffield, Amesterdão e Barcelona
As indústrias criativas estão a ocupar um lugar de destaque no crescimento da economia de vários países europeus. O Reino Unido, que antes de 1997 ocupava um lugar marginal no produto do país, colocou as indústrias criativas no topo das prioridades da agenda política do governo britânico. A razão não é para menos. As actividades ligadas ao cinema, à música, à publicidade ou ao design estão a competir taco-a-taco com os sectores mais tradicionais da economia do país, com os números a demonstrarem de forma clara esta realidade: 7,3% do produto interno bruto tem origem nas actividades ligadas ao sector, estando 1,8 milhões de activos daquele país empregados na indústria. A euforia é tal, que em Fevereiro deste ano, o governo de Gordon Brown decidiu apresentar um plano que tem por objectivo fazer do Reino Unido o centro mundial das indústrias criativas.
O plano prevê a criação de um centro mundial das artes globais, que procurará apoiar o talento criativo em sectores como a moda, o cinema, a animação e as novas tecnologias. Englobado no projecto está também prevista a implementação de uma oferta de cinco horas semanais de actividades culturais, que incluem a visita a museus, a galerias, cinemas e teatros. A pensar na evolução do meio digital, o governo trabalhista conta também criar institutos de meios digitais, estando ainda a estudar a possibilidade de fundar uma academia de artes criativas coordenada pelo St. Martin’s College of Art and Design e pelo Chelsea College of Art.
Já nas áreas ligadas à comunicação, números da Work Foundation vêm dizer que cada vez mais clientes internacionais recorrem ao talento criativo do país, fazendo entrar, só nas áreas da publicidade, design e arquitectura, cerca de três mil milhões de euros por ano em terras britânicas.
A maior evidência da importância que a criatividade está a assumir no panorama da economia britânica encontra-se na extensão desta política para outras cidades do país. Tal como em Londres, Sheffield está a apostar em políticas concertadas para impulsionar a criatividade no meio digital. Ainda em Março de 2007, foi anunciada a parceria com a Creative Space Management, no sentido da empresa gestora de centros de media, estúdios de design e todas as actividades relacionadas com a criatividade gerir o Sheffield Digital Campus. O objectivo da fundação deste pólo regional para a área digital e criativa é atrair negócios substanciais que permitam à cidade fazer acelerar o crescimento da sua economia nos próximos dez anos. Nesse sentido, já estão a ser disponibilizados serviços associados, tecnologia de ponta e instalações adaptadas às necessidades das empresas com elevado potencial de crescimento no sector digital.
Contudo, o crescimento da economia criativa nas várias cidades europeias também está assente noutro tipo de estratégias. É o caso da cidade de Amesterdão, onde uma política de fortes incentivos fiscais levou a que grandes agências, como a da Wieden + Kennedy, tivessem atraído contas como as da Nike para serem trabalhadas na capital holandesa. O peso de actividades editoriais, artísticas e publicitárias não pára de crescer, tendo sido recentemente demonstrado no estudo As Indústrias Criativas na Holanda, da autoria de Erik Stam, Jeroen P.J. de Jong e Gerard Marlet, que a ligação de mais de 9% da população a estas actividades tem directamente contribuído para os níveis de crescimento do emprego na cidade de Amesterdão. Trata-se, portanto, da emergência de um ciclo virtuoso, já que as cidades criativas são sinónimo de talento e têm, por isso, a capacidade para atrair investimento e massa crítica que permitem, com base nesse modelo, acelerar os níveis de criação de riqueza das regiões.
O exemplo de Barcelona é paradigmático. Com a implementação de políticas públicas e do florescimento de escolas ou centros de excelência na área do design, a cidade conseguiu atrair para a Catalunha empresas e algumas marcas de peso na economia europeia, como são a Renault e a Seat. O Centro de Design de Barcelona está agora a assinalar os seus 35 anos, e a efeméride pode muito bem ser entendida como um marco do hub criativo criado na cidade catalã. Afinal, o centro tem sido, ao longo dos anos, um dos eixos do design enquanto elemento estratégico para a excelência da actividade empresarial da região.
A necessidade de impusiolnar as indústrias criativas e negócios invadores em Barcelona foi também expressa no Consejo Asesor Internacional de la Generalitat, criado em 2007. O fórum tem, na génese, o objectivo de discutir com especialistas de todo o mundo a forma de atrair novos talentos para reforçar as áreas da investigação e a criação de novos negócios na região da Catalunha. Na primeira reunião, que juntou 14 empresários e académicos de todo o mundo, foi reconhecido que a abertura de Barcelona ao mundo global não pode estar dependente da “obsessão” da cidade catalã em comparar-se com Madrid na capacidade que a capital espanhola tem para a atrair investimento, sendo apontada como uma das soluções a criação de um cluster criativo na Catalunha.
O caso do Porto
A mesma ideia foi discutida recentemente no Porto, a propósito da apresentação do estudo Desenvolvimento de um Cluster de Indústrias Criativas na Região Norte, impulsionado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e coordenado pelo especialista britânico Tom Fleming. O documento sustenta que a região do Porto reúne condições para se tornar no pólo criativo de referência em Portugal. A existência de um conjunto de estabelecimentos de ensino com capacidade para criarem talentos criativos e a existência de infra-estruturas são alguns exemplos que ilustram o potencial daquela região. Com a economia criativa a representar, neste momento, um volume de negócios de 646 mil milhões de euros na União Europeia, a solução apontada passa por aproximar o Porto de um novo modelo económico assente na criatividade. É defendida assim a criação de uma agência que sirva de pólo de articulação entre os agentes públicos e privados ligados às indústrias criativas da cidade. “A criação de benefícios fiscais ao investimento nas indústrias culturais, a criação de um fundo regional de investimento que combine empréstimo, capital de risco e project finance, para que seja possível alavancar negócios criativos que necessitam de ganhar escala” são outras das medidas apontadas para aproximar o Porto das cidades europeias onde a excelência criativa é já, actualmente, entendida como o grande paradigma do desenvolvimento económico.