TVI 24: Um projecto que quer ser diferente
A26 de Fevereiro, dia do arranque das emissões da TVI 24, a luta pelas audiências entre a SIC e a TVI vai começar a ser também disputada no cabo. Oito […]

Filipe Pacheco
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Audiências semanais: TVI está de regresso à liderança
A26 de Fevereiro, dia do arranque das emissões da TVI 24, a luta pelas audiências entre a SIC e a TVI vai começar a ser também disputada no cabo. Oito anos após a estação dirigida por José Eduardo Moniz ter demonstrado a intenção de lançar um novo canal de televisão – projecto obstaculizado pelos impasses negociais entre Pais do Amaral e a PT – , a TVI vai ver finalmente concretizada a ambição de discutir em pé de igualdade com a SIC e a RTP o seu espaço no cabo, através de um canal de informação.
A meta traçada por José Eduardo Moniz esta semana, durante a apresentação do canal, foi a de trazer um espaço de informativo de referência para o sector audiovisual português. Para tal, o director-geral da estação de Queluz de Baixo manifesta a intenção de transportar para o novo canal a “independência e verdade” que diz serem os eixos característicos da informação da TVI ao longo dos últimos anos. Ou seja, a concretização de um “espaço de referência”, onde o “espectador não seja apenas visto como um consumidor, mas como um cidadão que tem de ser informado”, refere.
Uma perspectiva diferente de fazer jornalismo, que explique e ajude os espectadores “a retirarem as suas próprias ilações sobre propostas e pessoas”, é o aspecto que, na opinião de Moniz, vai determinar a diferença entre este e os projectos concorrentes. Evoca ainda “a frontalidade e a ausência de medo de falar a verdade” que têm pautado a forma de produzir informação da TVI como elementos diferenciadores em relação aos concorrentes SIC Notícias e RTP N. Mas não define, em números concretos, os objectivos, a curto e a médio prazo, de audiências para o canal. Fala, isso sim, da determinação de toda a equipa que ajudou a pôr de pé, em “tempo recorde”, um canal em que “os portugueses acreditem”.
Para conquistar esse capital de confiança, a TVI apresenta o debate, as entrevistas e o comentário, com enfoque na actualidade política, económica e desportiva, como as grandes apostas do novo canal. A qualidade dos comentadores, com capacidade para trazerem “acutilância e inteligência para o debate” público, é outro das vertentes assinaladas por Moniz para alcançar a meta proposta. Vasco Pulido Valente, Vital Moreira, Rui Ramos, o ministro dos assuntos parlamentares Augusto Santos Silva, o ex-titular da pasta Nuno Morais Sarmento, Joaquim Pina Moura, que se prepara para deixar a presidência do conselho de administração da Media Capital, e Braga de Macedo figuram entre os nomes que, em vários programas da grelha, discutirão os grandes temas da actualidade.
A aposta no desporto e em figuras do mundo do entretenimento, como Pedro Granger e Alexandra Lencastre para apresentadores dos programas Rédea Solta e Conversa Indiscreta, é a resposta “ao facto das pessoas desejarem ver tratados, num canal de informação, uma maior variedade de tópicos”, refere João Maia Abreu, director de informação da TVI. O responsável nega, contudo, que os programas apresentados pelos dois actores se desviem do posicionamento informativo do canal. A criação de parcerias com cadeias francesas de televisão, para mostrar ao “público outras formas de fazer documentário” – que difiram do registo da BBC, canal com o qual a SIC Notícias tem uma relação de exclusividade -, é outra das cartadas apresentadas pelo responsável de informação do canal. Tudo para atingir aquele que é o grande objectivo de João Maia Abreu, o de “bater a SIC Notícias”.
Modelo de Negócio
A TVI 24 vai estar a funcionar na posição sete da Zon TV Cabo, depois de ter sido assinado, em Março do ano passado, o contrato que dá à empresa presidida por Rodrigo Costa o exclusivo de transmissão do canal durante o primeiro ano. Do acordo, resulta um modelo de exploração de receitas semelhante ao existente entre a SIC Notícias e a mesma operadora. A Zon explora as receitas publicitárias do canal, pagando, em contrapartida, um determinado montante à TVI, cujo valor não foi adiantado por José Eduardo Moniz. Em relação à posição de exclusividade da Zon, Eduardo Moniz refere que poderá ser discutida mais tarde, pois, na altura de terem sido fechadas as negociações com o operador, ainda não existia o Meo, da PT.
Sem definir os valores investidos neste canal, que o Correio da Manhã avança como sendo de 6,5 milhões de euros, José Eduardo Moniz manifesta o desejo de disputar os mesmos públicos em pé de igualdade com os concorrentes. Em relação às audiências, o responsável evoca os objectivos traçados quando foi convidado para dirigir a estação. Nessa altura, Eduardo Moniz falava em alcançar um terço das audiências. Hoje o canal generalista é líder de mercado.
Há espaço para mais um canal
Essa é a opinião dos vários especialistas à pergunta se haverá espaço para mais um canal de informação no cabo. Além de existir, a TVI poderá reforçar a força da sua marca com esta operação
Com o aparecimento de um novo canal na televisão por cabo, são vários os cenários que se colocam em relação à canalização de investimentos publicitários para o cabo e os vários canais concorrentes da TVI 24. A fazer fé nas palavras de Manuel Falcão, director-geral da Nova Expressão, não há dúvidas sobre a existência de mercado para a emergência de um projecto com as características do apresentado esta semana pela TVI. “Tudo dependerá das audiências e dos públicos que o canal conseguir atingir, porque, em teoria, existe espaço para mais um canal”, assegura, sublinhando que “a história da comunicação é feita de novos projectos”.
Mas esta é uma questão que não é específica para os canais por cabo e, muito menos, por aqueles que disputam espaço no segmento da informação. “O que se passa com os canais de informação é o mesmo que se passa com os restantes media. Num mercado pequeno, como o português, existe uma massa crítica bastante baixa em termos de investimento publicitário”, explica Alberto Rui Pereira. Partindo desta constatação, das duas uma: ou a TVI consegue captar mais audiências e, com isso, mais receita para o cabo ou, caso não aconteça, poderá tornar os outros dois canais menos competitivos “Já existiam dois canais de informação, e os dois têm audiências. Há, portanto, a expectativa de saber se o canal vai buscar audiências aos outros dois canais ou consegue criar audiências próprias. Isto porque o bolo de investimento publicitário não vai aumentar”, destaca o director-geral da Initiative.
E a conjuntura actual de diminuição do investimento publicitário não inviabilizará o novo projecto. Antes pelo contrário. Poderá até reforçar a posição da TVI no mercado. “É sempre bom lançar novos projectos em ciclos de crescimento. Mas a crise não pode inviabilizar todos os projectos”, diz Alberto Rui Pereira. Por outro lado, em sua opinião a TVI poderá reforçar as suas sinergias e ganhar uma nova dimensão na sua imagem. “A marca TVI não tem tanta força na informação e esta é uma forma de se projectar nessa área”, complementa.
Embora a conjuntura esteja a dificultar as contas de todos os players na área dos media, Filipa Osório, directora-geral da Opera, diz que a grande vantagem para a TVI é que o novo canal vem “complementar uma oferta em relação a um canal que tem um grande favoritismo comercial”, traçando como cenário ideal a oferta “vir a ser um dia coberta também pelo Meo”.
Mas o sucesso do projecto da TVI dependerá sobretudo da sua capacidade para se diferenciar, nos conteúdos, em relação à concorrência. “Já há dois canais e, como tal, o terceiro vai ter mais dificuldade para se impor no mercado. Nesse âmbito, é necessário perceber se vai ou não conseguir diferenciar-se ou ser igual aos outros dois projectos. Se for igual aos outros dois terá mais dificuldades, até porque a SIC e a RTP têm um pedigree na informação que a TVI não tem”, sustenta André Freire de Andrade, director-geral da Carat.
Os concorrentes do TVI 24
A SIC Notícias foi pioneira, em 2001. No cabo, a estação de Carnaxide apostava no lançamento de um canal exclusivamente vocacionado para a informação. Na altura, ainda pairava a dúvida sobre se haveria mercado e mesmo matéria, em Portugal, para um projecto desta natureza. Hoje, as dúvidas estão dissipadas. O canal dirigido por António José Teixeira é líder de audiências no cabo, só ficando atrás dos três canais generalistas.
Os 3,8 por cento de share alcançados em 2008 contribuem para esta posição. Mesmo assim, o projecto da estação de Carnaxide já se situou na fasquia dos quatro por cento. Foi assim logo no ano do seu arranque, em que termina com um share de 4 por cento, e foi também assim em 2003, altura em que atinge o número de 4,4 por cento, a melhor prestação da SIC Notícias desde a abertura. Um canal de notícias, debates e reportagens líder de mercado, o que demonstra bem o apetite dos portugueses pelo consumo de informação…em televisão. Mas não todos. Mais os da grande Lisboa, onde o canal atingiu 39,5 por cento de audiência no final do ano, e os do Litoral Centro, mesmo assim com uma diferença significativa para os espectadores da capital, com uma audiência de 16,7 por cento. Menor expressão, só no sul e no interior do país, zonas onde o canal atingiu audiências médias de 7,6 e de 7,9 por cento, respectivamente.
Mas também são mais os portugueses com maior poder económico a consumir os conteúdos da SIC Notícias. O contraste entre os 35,7 por cento de audiências médias das classes A/B e os 13,9 por cento da classe D são disso prova. Mesmo nas classes situadas no meio dos dois extremos, a diferença é notória. Basta salientar os 33,9 por cento de audiências médias registados na classe C1, quando comparados com os 16,4 por cento atingidos na classe C2.
A publicidade captada em 2008 é outro indicador da vocação de liderança da SIC Notícias no cabo. Os 79,6 milhões de euros de investimento publicitário, a preços de tabela, dão conta da supremacia do canal face ao concorrente directo, a RTP N, que encerrou o ano com 24,4 milhões de euros de espaço publicitário vendido. Só um canal como o AXN se aproxima timidamente do desempenho do canal noticioso da SIC, ao registar cerca de 54 milhões de euros de investimento publicitário.
Com o estatuto de crónica vencida face à SIC Notícias na guerra das audiências, a RTP N começou foi o primeiro canal do segmento a imprimir mudanças antes do lançamento do novo canal da TVI. Em Outubro de 2008, altura de alterações gráficas e de grelha no canal, o director José Alberto Lemos reconhecia ao Meios & Publicidade a necessidade de antecipar a chegada da TVI 24. “Esperamos que quando a TVI 24 surgir a RTPN já esteja num patamar mais confortável em termos de audiências e que seja uma referência mais afirmativa no panorama noticioso nacional”. Um percurso que seria trilhado com a aposta em nomes como José Adelino Faria, um rosto tornado conhecido dos portugueses com a sua passagem pela SIC Notícias, e Carlos Daniel, como apresentador do Jornal das 21.
Mesmo assim, o canal não esboça uma aproximação em relação à SIC Notícias. Acaba 2008 com um share de 1,6 por cento e um perfil de espectador sobretudo diferente na sua distribuição geográfica. Ao contrário da SIC Notícias, é no grande Porto que a RTP N consegue atingir maior expressão, atingindo 28,8 por cento de audiências médias. Um valor que representa uma diferença algo significativa em relação à Grande Lisboa, zona do país onde há registo de audiências médias de 19,4 por cento de audiências médias. Contudo, é no perfil dos espectadores que se verifica a vocação mais democrática do canal. Embora à semelhança da SIC Notícias, as classes A/B sejam aquelas que têm maior expressão nas audiências, com 29 por cento, a grande diferença sobressai quando se registam os 25,3 por cento verificados na classe D, valor ligeiramente acima dos 25,2 por cento obtidos pela classe C1 com maiores audiências. Analisados os perfis dos dois canais de informação, resta por agora perceber onde o novo canal da TVI se vai posicionar para ganhar o seu espaço de mercado.