Daniel Oliveira, director da SIC Caras
“Queremos fazer um canal competitivo, não para perder”
Na primeira entrevista enquanto director do canal SIC Caras, colocado no ar esta sexta-feira, Daniel Oliveira fala sobre o novo projecto da estação de Carnaxide, explica a estratégia e as expectativas para o mais recente canal temático da SIC.
Pedro Durães
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A partir desta sexta-feira, dia 6 de Dezembro, a SIC Caras junta-se à família de canais temáticos da SIC, passando a ocupar a posição 14 na grelha da Zon. Em entrevista ao M&P, Daniel Oliveira, que assume o cargo de director da nova aposta da estação de Carnaxide, não adianta pormenores sobre o contrato mas assegura que o canal é sustentável e que quer ter uma palavra a dizer em termos de competitividade e audiências. “Queremos marcar uma posição e trazer qualquer coisa de novo ao mercado. Acho que há um vazio do ponto de vista das temáticas que não é proporcional à importância que elas têm para um determinado público”, afirma. Assumindo que se trata de um canal mais focado no público feminino, o responsável rejeita a ideia de que pode entrar em concorrência com a SIC Mulher, preferindo falar em complementaridade. Ainda assim, cita o responsável dos canais temáticos, Pedro Boucherie Mendes, a quem reporta: “Mais vale que a concorrência seja connosco do que com outros”.
Meios & Publicidade (M&P): Vão arrancar com emissão em exclusivo na Zon. O investimento do operador no canal é grande, suporta todos os custos? Quantos anos de exclusividade exige o contrato?
Daniel Oliveira (DO): Se o presidente da Impresa não revelou isso na apresentação do canal não serei eu a fazê-lo. Estamos satisfeitos com o acordo que foi conseguido e acho que temos todas as condições para arrancar com um canal competitivo e com a possibilidade de gerar conteúdos que estejam também presentes noutras plataformas, que sejam capazes de viver para além da SIC Caras, quer na SIC generalista quer em outras plataformas.
M&P: Estando, para já, apenas na Zon quais são os objectivos do canal em termos de audiências?
DO: Queremos marcar uma posição e trazer qualquer coisa de novo ao mercado. Acho que há um vazio do ponto de vista das temáticas que não é proporcional à importância que elas têm para um determinado público. Sobretudo numa era como a que estamos a viver, de fragmentação das audiências, em que os públicos estão mais dispersos, os conteúdos prevalecem e vão prevalecer sempre em relação ao resto. As pessoas vão ver um conteúdo independentemente de o verem na televisão ou no iPad, pelo conteúdo em si. Na SIC temos um histórico no tratamento dos conteúdos que julgo ser singular no panorama português e é isso que queremos potenciar: criar mais conteúdos, desta vez com um foco para a indústria do espectáculo, dos famosos, como se lhe quiser chamar, mas ter conteúdos que sejam competitivos e que são disruptivos de alguma forma com aquilo que vemos no mercado, procurando seguir a linha daquilo que a SIC já fez nesse domínio dos magazines, de agilidade, criatividade, procurar ter um olhar diferente em relação aos nossos principais concorrentes.
M&P: Qual será o peso da produção própria na grelha do canal?
DO: A produção nacional terá um peso de cerca de 40 a 50 por cento das horas de emissão, esse objectivo vai ser cumprido com alguma agilidade interna do ponto de vista dos recursos, no sentido de optimizar uma série de processos, nomeadamente no caso dos magazines. Vamos procurar que a mesma equipa possa fazer mais do que um conteúdo, mais do que um conteúdo para a generalista que possa ter um olhar mais abrangente e fazer mais conteúdos que depois são originais no canal. Essa é uma das formas que temos de ter mais produção nacional, optimizando os recursos que aqui temos. No fundo foi um pouco isso que fomos fazendo ao longo do tempo, também neste domínio do light enterteinment. O caso do Alta Definição é paradigmático, porque foi feito com a equipa que já estava a fazer os outros magazines e é seguindo essa lógica que procuraremos ter mais produção nacional e ter cerca de 12 horas ou mais em alguns dias, um pouco menos noutros.
M&P: Quanto investirão anualmente ao nível da produção de programas e formatos?
DO: Não lhe posso dizer mas estará em linha com os outros canais temáticos da SIC, ainda que muitos dos projectos tenham um custo muito residual precisamente por essa agilidade de recursos que temos. Alguém que vai gravar uma reportagem fá-lo com mais tempo e dá origem depois a conteúdos exclusivos para o canal, isso é uma optimização que representa uma poupança elevada. Mas está em linha com os outros canais temáticos da estação.
M&P: Quantas pessoas têm alocadas a esta equipa da SIC Caras?
DO: Temos uma coordenadora de produção, eu próprio e depois nenhuma das pessoas que está aqui connosco, e essa é uma das matrizes da SIC, está em exclusivo no canal, uma vez que há tanta interligação de conteúdos entre os magazines da SIC e entre a revista Caras, que várias pessoas vão fazer várias coisas.
M&P: Como esperam que se posicione o canal, em termos de audiências e de rentabilidade, no universo de canais temáticos da SIC? Tem mais potencial do que uma SIC Mulher ou SIC K?
DO: Essa estimativa não está feita e penso que nesta altura será precipitado fazê-la. O canal estará em exclusivo num operador, ao contrário da SIC Radical ou da SIC Mulher e, portanto, está circunscrito a um espectro. Mas queremos fazer um canal que seja competitivo, não queremos fazer o canal para perder. Nesse sentido, queremos que trilhe o seu caminho, sabemos que será um caminho duro porque há uma oferta que é elevada e porque hoje em dia as conveniências de consumo estão muito presentes na forma como temos que olhar para a televisão, não é só a televisão que faz concorrência à televisão. Por isso, temos de olhar para este tipo de conteúdo pensando que o rating que é gerado de forma tradicional pode não representar efectivamente o impacto do canal, que pode viver também muito presente noutras plataformas, nas redes sociais, na forma como os conteúdos geram opiniões e envolvimento dos telespectadores. As marcas prevalecem, vivemos esse momento em que as marcas são uma mais valia para o canal, procurar criar essas marcas é para nós o principal objectivo. Mas queremos obviamente ter uma palavra a dizer no âmbito dos canais por subscrição e acho que a SIC tem esse histórico, os canais que faz têm uma visibilidade grande. Mas nestas coisas não basta saber fazer, é preciso que se juntem uma quantidade de factores que só quando o canal arrancar saberemos se estão de acordo com as nossas expectativas ou não.
M&P: Como vê o lançamento no último ano dos novos canais da TVI, sendo o +TVI bastante focado também nas personalidades e na temática dos famosos?
DO: É uma opção legítima e para o mercado é bom que haja uma oferta diversificada. Olho com distância, com a distância própria de quem faz televisão, de que sabe o que se passa, o que o canal tem. Mas tenho a certeza de que a capacidade que a SIC sempre demonstrou, sobretudo nesta área dos canais temáticos, não é sequer comparável com nada que exista no mercado. E queremos continuar um passo à frente daquilo que é feito.
M&P: Como se posicionam a nível de concorrência? Quem identificam como concorrentes directos da SIC Caras?
DO: Sendo este canal previsivelmente para um público feminino, entra em concorrência directa com os canais de séries que são mais destinados a esse público e com a própria televisão linear. Penso que entraremos em concorrência com esses canais, uma vez que procuraremos ter temáticas que, em certos horários, poderão estar presentes nesses canais e, sobretudo, tendo uma oferta que poderá gerar interesse em alguém que não se revê na programação de ficção. E já sei qual é a pergunta seguinte… A SIC Mulher é um canal especializado num determinado tipo de temas e o SIC Caras será complementar em relação a essa oferta porque tem um olhar especializado sobre estas matérias. Não entraremos em concorrência directa em termos de temáticas à mesma hora, haverá a preocupação de ter essa complementaridade, e, como diz o Pedro Boucherie Mendes, mais vale que a concorrência seja connosco do que com outros. Por isso estamos confortáveis com essa situação de gestão dos públicos e das temáticas a oferecer.
M&P: Até hoje, o social nunca deu mais do que um programa, como foi o caso do Caras Notícias, com a SIC Notícias, e da TVI com a Lux. É uma temática com força suficiente e interesse para dar origem a um canal temático?
DO: Sim, sobretudo porque, e é essa a ideia mais difícil de desfazer na cabeça das pessoas, o canal não é uma continuação da revista, tem uma identidade própria, uma marca autónoma, que herda os valores da revista, trabalha em conjunto com a revista, mas é muito mais do que isso. Se temos documentários sobre a realeza, a temática está lá, mas as grandes reportagens, as entrevistas que teremos têm uma identidade própria, não é uma continuação da revista. O programa Passadeira Vermelha está em cima da actualidade, mas não da actualidade que a revista tem circunscrita em si. O canal faz sentido por não ser uma continuação de nada, o canal nasce com uma identidade própria.
M&P: O canal servirá também muito como forma de promoção dos conteúdos da SIC generalista, à semelhança do que acontece um pouco com o programa E-Especial?
DO: É um dos objectivos, não só como promoção mas como complementaridade. Por exemplo, um evento como os Globos de Ouro terá um acompanhamento na SIC Caras que é muito mais exaustivo e presente do que hoje acontece, quer no que antecede ao evento quer no que sucede, portanto essa complementaridade pode ser estendida a outros programas que são feitos em directo. Esse follow up, se calhar mais até do que a promoção dos conteúdos, que também existirá, será uma aposta. Por exemplo, no caso de um programa como o Factor X, na semana que se sucede às galas, pode ter algum espaço no canal.
M&P: Referiu a questão de estar em várias plataformas. Em que plataformas vão estar e como vai ser feita essa integração?
DO: Queremos ter uma presença forte nas redes sociais, no Facebook, no Twitter, no Instagram, precisamente porque hoje um canal já não pode ignorar esse fenómeno, que geram mais proximidade com os utilizadores. Um programa de televisão não deixa de o ser se for visionado, em parte ou no todo, num computador, continua a ser um programa de televisão, continua a ter a marca SIC Caras. O mercado vai ter nos próximos anos de se adaptar a esta realidade, sobretudo nessa medição do rating, em que alguns programas estão a ser prejudicados. Essa mediação terá que ser feita de alguma forma, mais cedo ou mais tarde, para aferirmos essa capacidade de envolver as pessoas.
M&P: Não há o risco de um site SIC Caras canibalizar as audiências online da Caras?
DO: Não, porque a nossa presença será complementar. E o site da Caras também fará esse acompanhamento da nossa programação e colocará conteúdos do canal e vice-versa. Essa complementaridade de meios e destas valências multiplataformas é que fará a força do canal.
M&P: E que impacto terá o canal na audiência e vendas da revista?
DO: Ultrapassa-me, estou exclusivamente a pensar no canal e, portanto, não é uma matéria sobre a qual tenha reflectido.
M&P: Para percebermos um pouco melhor e na prática o posicionamento do canal, como seria a abordagem da SIC Caras ao caso Bárbara Guimarães/Carrilho?
DO: De algum modo, da forma que a Caras tratou, com respeitabilidade. Foram cometidos excessos do ponto de vista do tratamento desse caso em particular, nós não os cometeríamos, teríamos a sensibilidade e bom-senso de tratar um caso como esse com a dignidade e o respeito que o caso nos merece, não fugindo ao caso. Não procuramos saber mais do que o limite da esfera privada nos obriga. Ainda que alguns protagonistas tenham aberto essa porta, procuraríamos ter sensibilidade. Há sempre casos que só tratando sabemos como seria, mas esse é um caso paradigmático sobre que balizas devemos estabelecer, por exemplo, não procurando fazer perguntas em momentos que são a despropósito, com filhos por perto, ou mesmo que alguém as faça, ter o bom-senso de não as emitir.