Bruno Sambado, director-geral da Take & Sound
“A RTP não deveria ser um ‘irmão pobre’ dos canais generalistas”
A Take & Sound é uma jovem produtora, não é um tubarão. Mas, com a estreia no início de 2015 do primeiro formato para um canal generalista, já nada entre os grandes. Bruno Sambado explica, em entrevista ao M&P, o percurso da produtora por trás da edição portuguesa de Shark Tank.
Pedro Durães
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Bruno Sambado esteve na Mandala e, depois de vários anos a mexer os cordelinhos por cima da cabeça de governantes, decidiu nadar com os tubarões. No início de 2013 avançou para fora de pé e lançou a sua própria produtora, a Take & Sound. Quase dois anos depois, sente-se como peixe na água, já atingiu o break-even e espera fechar este ano com um volume de negócios de meio milhão de euros. Precisamente o valor que cada tubarão está disposto a investir na versão portuguesa do formato internacional Shark Tank, que chega a Portugal pelas mãos da Take & Sound e da Blue Pipeline, da qual Bruno Sambado é também sócio, e que, juntas, detêm a totalidade dos direitos do programa que estreia no início de 2015 na SIC. A Endemol vai co-produzir o formato. Em entrevista ao M&P, o director da produtora explica o percurso destes dois anos e quais os planos daqui para a frente. Pelo meio, não poupa nas críticas a uma situação que considera ser má para o sector: “Os enlatados não são um problema das multinacionais do sector. É muito mais um problema das direcções de programas dos canais generalistas e aqui acho que a RTP deveria ter um papel muito mais importante na nossa realidade do que aquele que tem actualmente. É uma empresa amorfa, com uma enorme indefinição sob o ponto de vista dos conteúdos. Em vez de ser uma verdadeira estação de serviço público, é apenas mais um canal generalista com uma diferença entre a SIC e a TVI: é pior.”
Meios & Publicidade (M&P): A Take & Sound nasce no início de 2013 e está agora a chegar ao fim do segundo ano de actividade, preparando-se para estrear a sua primeira produção para um canal generalista com o Shark Tank na SIC. Que balanço faz deste arranque?
Bruno Sambado (BS): Foi um arranque como qualquer outro, com imenso esforço, muita resiliência, alguma sorte, muito apoio emocional familiar… Diria que foi um arranque normal, num período de imensa indefinição financeira em Portugal, mas sobretudo neste sector. Felizmente, fui-me rodeando das pessoas mais capazes e eficientes em cada uma áreas de negócio e fomos fazendo o nosso caminho com a confiança dos nossos clientes, a quem gosto de chamar parceiros.
M&P: Trabalhou durante vários anos na Mandala e optou por fazer agora o seu caminho com uma produtora própria. Porquê esta aposta num mercado que tem sofrido tanto com a crise?
BS: A Mandala foi uma empresa muito marcante, fiz amigos para a vida e aprendi imenso. Acontece que cheguei a um ponto da minha carreira em que a margem de progressão já não existia, tinha chegado ao topo da minha carreira na Mandala. Como dizia, aprendi muitas coisas boas e entendi também que deveria fazer algumas coisas diferentes, por isso decidi fazer pela vida. Entendi também que, apesar do que este sector vinha sofrendo e continua a sofrer, havia espaço para uma forma diferente de estar no mercado em termos de posicionamento. Felizmente tive razão.
M&P: Há espaço para novas produtoras nacionais ou as produtoras multinacionais como a Endemol ou Freemantle dominam num mercado onde os enlatados são a solução mais imediata para preencher grelhas de programação?
BS: Há espaço para quem quer trabalhar. Chegámos a uma fase da nossa vida, tanto pessoal como empresarial, em que temos de nos ajudar. Essa ajuda passa pela gestão interna da nossa empresa, mas sobretudo por tentar ajudar quem nos contrata conteúdos com fórmulas diferentes. Acredito que, se fosse director-geral da Fremantle ou da Endemol, estaria numa situação financeira mais confortável. Mas tenho a certeza de que a Take & Sound e os nossos colaboradores não teriam uma vida tão divertida. Tudo o que sai da nossa casa é inventado por nós e isso é a nossa maior recompensa. Quanto aos enlatados, penso que esse não é um problema das multinacionais, é muito mais um problema das direcções de programas dos canais generalistas e aqui acho que a RTP deveria ter um papel muito mais importante na nossa realidade do que aquele que tem actualmente. É uma empresa amorfa, com uma enorme indefinição sob o ponto de vista dos conteúdos. Em vez de ser uma verdadeira estação de serviço público, é apenas mais um canal generalista com uma diferença entre a SIC e a TVI: é pior. O que é uma enorme pena, mas enfim, é o país que temos e consequentemente a televisão que merecemos.
M&P: Os generalistas deveriam apostar mais na produção nacional, como começam a fazer canais como o Canal Q, cuja produção é quase totalmente nacional?
BS: A RTP deveria apostar bastante mais na produção nacional. A SIC e a TVI são estações privadas e fazem o que entendem, e bem. Já a RTP não deveria ser um “irmão pobre” dos canais generalistas, adoptando programas semelhantes em horários parecidos com conteúdos idênticos. Deveria sim, diferenciar-se pelos seus conteúdos, pela sua ousadia, pelo ensaio, por estimular o mercado do audiovisual nacional, enfim, fazer serviço público à séria. Atenção que tenho o maior respeito e amizade pelos responsáveis de conteúdos da RTP, mas estou em total desacordo com as suas opções. Já agora, deixo uma pergunta no ar, que é feito da RTP2? Da RTP Internacional? Concordo com o Fernando Alvim, para além da RTP Memória, deveria também haver uma RTP Futuro! Para que saiba, apresentámos na plataforma da RTP oito programas, passaram todos à segunda fase e morreram todos na segunda fase, um deles com um investimento feito pela Take & Sound num piloto inclusivamente… Enfim, é a vida.
M&P: O que é preciso para que as produtoras independentes se afirmem no mercado português?
BS: É necessário termos uma grande força de vontade, fazermos uma enorme ginástica financeira, termos um departamento criativo excepcional, um departamento comercial esforçado, uma extraordinária relação com os nossos clientes e uma estrutura ágil e multidisciplinar.
M&P: Voltando à Take & Sound, o que têm feito nestes dois anos? Quais foram os principais projectos?
BS: O nosso principal projecto foi o Chakall Com Uma Pitada De para a SIC Mulher. Foi esse que nos fez acreditar que seria possível. Depois ganhámos o Volante para a SIC Notícias, tivemos a sorte de ver um projecto documental para a RTP a propósito dos 40 anos do 25 de Abril, Primeiras Entre Iguais, ser viabilizado, fizemos uma serie da Escolhas do Consumidor para a RTP Informação e, finalmente, agora em co-produção com o Shark Tank.
M&P: Já atingiram o break-even?
BS: Felizmente atingimos o break-even no final do primeiro ano de actividade. O nosso “sócio” Estado português, dia 30 de Maio deste ano, recebeu IRC.
M&P: Como foi a evolução entre 2013 e 2014? Qual foi o volume de negócios da Take & Sound nestes dois anos e qual o crescimento de um ano para o outro?
BS: Em 2013, que foi o nosso primeiro ano e em que operámos apenas 11 meses, tivemos um volume de negócios de 225 mil euros. Vamos terminar 2014 com 500 mil euros. Temos o primeiro semestre de 2015 assegurado, para já, com a mesma facturação de 2014.
M&P: Quais são as expectativas para o próximo ano?
BS: Certeza certeza, meio milhão de euros, se bem que o nosso objectivo será chegar aos 700 mil euros.
M&P: Como surgiu a hipótese de produzir com a Blue Pipeline o formato Shark Thank?
BS: Sou muito amigo do Paulo Sousa Marques, que é sócio do António Carrapatoso numa outra empresa. Em várias conversas conjuntas entre o Paulo e eu, decidimos que seria uma boa ideia tentar trazer para Portugal o Shark Tank e foi isso mesmo que fizemos. Entretanto, montei com o António Carrapatoso uma empresa com esse propósito específico, que é a Blue Pipeline. Assim, a Take & Sound detém 50 por cento dos direitos do conteúdo e a Blue Pipeline, da qual também sou sócio com o Paulo Sousa Marques, detém os restantes 50 por cento.
M&P: Qual a importância que este projecto assume no volume de negócios da produtora?
BS: Pouco, na medida em que estamos a fazer uma co-produção com a Endemol. Tendo a Endemol a maior responsabilidade da produção, tem consequentemente a maior fatia da facturação.
M&P: Que outros projectos têm em carteira para estrear entre o final deste ano e o próximo ano?
BS: Para já estamos a trabalhar no Chakall na Quinta, que vai estrear na SIC Mulher muito em breve. Acredito que este conteúdo venha a surpreender os telespectadores, não só pela qualidade de captação mas também pela forma como abordamos o tema da gastronomia. Depois, continuaremos com o Volante, que é actualmente o mais antigo programa automóvel em Portugal. Vamos estrear o Shark Tank, estamos a produzir mais duas séries da Escolhas do Consumidor para a RTP Informação, estamos a produzir também o Marketing Num Minuto by Marketeer e depois teremos outras novidades para o segundo semestre, sobre as quais ainda não podemos adiantar nada.
M&P: A produção de ficção nacional é algo que equacionam também a médio prazo?
BS: Gostaria muito, mas somos uma empresa pequena e a produção nacional obriga a uma bagagem financeira que, por enquanto, não vislumbro. Além disso, as produtoras nacionais que estão a actuar nessa área de produção estão a fazer um grande trabalho, sobretudo a SP Televisão, que tem vindo a melhorar de novela para novela fazendo um trabalho exemplar. É bom ver empresas do nosso meio que são compostas por amigos nossos a ter sucesso e a fazer grandes trabalhos. Mas, respondendo directamente à sua questão, gostaria imenso de fazer ficção. Pode ser que um dia, quem sabe…
M&P: Estão a produzir também na área da publicidade. Quais são os objectivos e expectativas para esta área de negócio?
BS: A publicidade que temos produzido divide-se da seguinte forma: 80 por cento adaptações de copys internacionais e 20 por cento de filmes do zero. Acontece que os centros de decisão das grandes multinacionais nossas clientes estão a sair de Portugal e as adaptações vídeo começam cada vez mais a ser executadas no Reino Unido, República Checa ou Espanha. O nosso posicionamento na área da publicidade está neste momento a ser revisto. As expectativas não são as melhores. O Estado deveria intervir, de modo a criar uma lei que obrigasse as multinacionais com uma sede em Portugal a produzir com parceiros e fornecedores portugueses. Seria uma forma de defender as pequenas empresas, para quem esta área de negócio é fulcral. Mas o Estado deveria intervir aqui da mesma forma que deveria intervir na questão da televisão por cabo, não só pelas quotas da produção nacional, mas também por outra razão: por que raio temos nós que estar a ver spots publicitários em espanhol num fornecedor de televisão português?
M&P: Qual o peso deste área actualmente?
BS: Cerca de 20 por cento.
M&P: Como quer que a Take & Sound seja vista no mercado dentro de cinco anos?
BS: Como uma empresa séria, credível e que devolve não só aos seus colaboradores como à sociedade.