Opinião

A resposta está no mercado

Até o homem mais rico do mundo não pode enfrentar os mercados e ganhar

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A resposta está no mercado

Até o homem mais rico do mundo não pode enfrentar os mercados e ganhar

João Paulo Luz
Sobre o autor
João Paulo Luz

Nick Leeson foi o ‘trader’ de derivados que, sendo responsável pela operação de Singapura do Barings Bank, conduziu à falência do banco em 1995. O Barings Bank era um dos bancos mais antigos da Europa e foi vendido por uma libra ao banco holandês ING.

Segundo o próprio, no livro ‘Rogue Trader’, tudo começou quando uma colaboradora da sua equipa se enganou e comprou 20 contratos de derivados em vez de os vender. A perda era de 20 mil libras e Nick Leeson optou por a esconder, criando a conta 88888 onde acumulou essa diferença. Segundo ele, tinha a intenção de recuperar as 20 mil libras, algo que não era expressivo face às quantias que movimentava, e depois regularizar a operação, poupando a carreira da sua colega.

O que a história nos trouxe foi que Leeson percebeu que poderia esconder perdas e com isso ir construindo uma carreira, constituindo-se como uma das estrelas do banco. O menor receio ao risco levou-o a fazer operações muito avultadas, aumentando o volume de perdas até ao ponto em que as suas enormes posições no mercado já não lhe permitiam recuperar.

Em três anos, Nick Leeson acumulou perdas de 827 milhões de libras, mais do dobro que a liquidez que o banco tinha nessa altura, levando ao seu colapso.

Esta história traz dois grandes ensinamentos. O primeiro é que em todos os mercados há dificuldade em não aderir ao que parece muito bom e que nos faz brilhar. A maior parte das fraudes ou dos erros nas grandes corporações devem-se precisamente a todos querermos acreditar nas boas notícias.

Hoje é fácil acharmos surpreendente como é que ninguém viu a crise do ‘subprime’ iniciada em 2007, ou a bolha ‘dot-com’ do início do século, em que empresas sem receita e modelo de negócio claro valiam muitos milhões.
O segundo ensinamento é que nunca se consegue vencer o mercado. Nick Leeson tinha posições enormes que conseguiam ir corrigindo pontualmente as tendências do mercado, quando estas lhe eram desfavoráveis. Mas a insistência em contrariar o mercado levou à destruição do seu banco.

Neste início de 2025 estamos todos assustados com a imprevisibilidade da nova administração norte-americana. Sendo cedo e muito difícil prever o que vai acontecer, há alguns factos que podemos já sinalizar.

As grandes empresas tecnológicas, talvez assustadas com a vaga de regulação que se avizinhava como forma de travar o seu domínio, mudaram de lado no xadrez político norte-americano e todos estiveram ao lado de Trump desde a sua posse. Apenas a Microsoft não esteve presente.

O segundo facto é que há, aparentemente, uma nova forma de fazer política e também de fazer negócio.
Cada um pode dizer o que lhe for mais conveniente e o convencimento é que isso supera o habitual escrutínio e a anterior penalização a que todos éramos votados, quando o que dizíamos se provava falso.

Se é tudo novo e assustador, ao mesmo tempo deveremos não esquecer os dois ensinamentos atrás referidos. A realidade impõe-se aos discursos e aos números inflacionados, mesmo que num primeiro momento eles sejam bem acolhidos. Quando, aparentemente, há a crença que não dizer a verdade já não penaliza como no passado, confiar em informação que seja propriedade dos interessados deve merecer ainda maior cuidado.

O segundo e mais claro, é que contrariar o mercado estará sempre votado ao fracasso. A trajetória da Tesla mostra isso mesmo. Até o homem mais rico do mundo não pode enfrentar os mercados e ganhar.

Mesmo sabendo que conflitos de interesse, ‘inside trading’ e manipulação dos mercados por anúncios não comprovados são hoje práticas que são vistas de forma muito relativa, o que está a acontecer reforça que o mercado, como força da soma de milhões de vontades individuais, é muito difícil de controlar, se não mesmo impossível.
É esse o maior motivo de esperança para a Europa e para o modelo social que gostaríamos que prevalecesse, que a resposta do mercado seja a ‘mão invisível’ que nos vai trazer de volta ao equilíbrio

Sobre o autorJoão Paulo Luz

João Paulo Luz

Diretor comercial de TV e digital da Impresa
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