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Opinião

O início e o fim de tudo no luxo: o preço

As normas penais são uma coisa relevante para a sociedade. O luxo talvez ainda não

Opinião

O início e o fim de tudo no luxo: o preço

As normas penais são uma coisa relevante para a sociedade. O luxo talvez ainda não

Sobre o autor
Pedro Simões Dias

Sou advogado e dizem que os nossos índices morais são baixos. Não acredito muito na condição humana e acho que as pessoas são em geral iguais, mais ou menos por degraus.

As pessoas têm as suas perceções sobre determinadas realidades (a diferença entre perceções e opiniões deixo para um outro momento) e como as qualificam por degraus.

Assim acontece no luxo. Todos temos uma perceção do que é o luxo. Temos a ‘nossa’ opinião. Luxo, prestígio, excelência. Excelência, que é a palavra do momento, porque se tenta evitar o uso da palavra luxo em detrimento da palavra excelência, aparentemente, porque uma parte da comunidade internacional tem modelos de crítica ao luxo.

A noção de luxo, segmento a que a marca Comporta Perfumes pretende ou aspira a estar incluída, parece ser complexíssima. Esta noção foi-se tornando cada vez mais complexa ao longo das últimas décadas, quando os estudiosos foram criando camadas e camadas de novas explicações sobre o conceito e evolução, e cada vez mais afinadas.

Hoje há o ‘uber-luxo’ ou ‘upscale luxury’, o ‘it luxury’, mas também a consideração do masstigio (a união de massa e prestígio) ou a aproximação do luxo ao low-cost e do low-cost ao luxo. Uff, não está fácil.

Hoje, não podem pedir a definição de luxo à Céline Abecassis-Moedas, à Monica Seabra-Mendes, à Helena Amaral Neto, à Catherine da Silveira ou ao Carlos Coelho, porque eles cometem um hara-kiri, só de pensarem na empreitada. Se a pedirem ao Gilles Lipovetsky, temos uma conversa para anos. Neste caso, somos nós que acabamos por ir para o hara-kiri.

Vamos tentar simplificar a vida àqueles consultores e perguntar então: quais são as características mais óbvias do luxo? Aí vai ser um mundo: exclusividade, personalização, experiência e emoções, qualidade superior, craftmanship, conceder status, etc. Ou isso tudo em conjunto. Admito que, se puxarem muito por eles, talvez algum deles possa falar de preço.

Sou básico. Acho o preço o critério de definição de luxo: preço, preço muito, muito, muito elevado (o acento do adjetivo dependerá do degrau de que partamos a análise). Nos bens de uso pessoal ou de serviços B2C, não conheço nada que não seja superlativamente caro que não seja percecionado como de luxo (concedo, todavia, que alguns tratamentos médicos com utilização de determinada tecnologia ou medicamentos sejam muito caros e que não se considere como “luxo”).

O preço é, assim, o princípio e o fim do conceito do luxo. É o fim quando a sofisticação, o cuidado no serviço ou a qualidade de produtos, por exemplo, não podem deixar levar esses produtos ou serviços a um preço fora do padrão.

É o princípio quando o preço é incrivelmente alto, não por algo que se possa considerar invulgar ao produto ou com uma qualidade intrínseca ao mesmo que o qualifique como tal, mas (é o que está a pensar) por ser de uma determinada marca.

E é também o preço que reboca tudo mais no luxo. É esse preço que seleciona consumidores e que torna exclusivo um produto ou um serviço, que cria uma almofada adicional de margem financeira para poder personalizar-se alguma parte dos mesmos e criar vivências especiais.

Não compliquem o que é fácil. O que sempre foi fácil de explicar. No direito também foi assim: há 150 anos, por exemplo, o universo das normas penais só se relacionava com critérios formais.

Com o tempo complicou-se e criaram-se e começou a aceitar-se novos critérios, de cariz material, logo mais difusos. Mas as normas penais são uma coisa relevante para a sociedade. O luxo talvez ainda não.

Sobre o autorPedro Simões Dias

Pedro Simões Dias

Fundador da Comporta Perfumes e advogado de proteção de direitos de marcas
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