As marcas em três atos: pré-internet, pós-internet e web3
Nesta macro-narrativa do desenvolvimento das marcas, a web3 é um mistério com resolução em curso
‘Tragédia em Três Atos’ é um dos policiais que mais gosto de Agatha Christie, sobretudo porque é a concretização plena do conceito que lhe dá o nome.
No universo daquilo que hoje denominamos de narrativa — essa palavra onde hoje cabe quase tudo, a estrutura em três atos é um modelo amplamente utilizado, que divide uma história em três partes principais, frequentemente chamadas de configuração (setup), confronto (confrontation) e resolução (resolution). Este modelo foi popularizado por Syd Field no seu livro de 1979, ‘Screenplay: The Foundations of Screenwriting’.
No livro de Agatha Christie, a história começa num ambiente teatral, onde conhecemos os personagens e o contexto. Um misterioso assassinato acontece, lançando suspeitas sobre todos os envolvidos na peça. Poirot, desde sempre o meu Hércules favorito, entra em cena, investigando o crime e interrogando os suspeitos.
O enredo é repleto de reviravoltas e pistas falsas, mantendo o suspense até o fim. Na resolução, Poirot revela o culpado e explica o motivo, resolvendo o mistério de forma brilhante e surpreendente. (Já disse que o adoro?).
Nas marcas, e na sua evolução, não é diferente. Tal como Miss Marple ou Poirot desvendariam, ao longo da narrativa, percebemos que cada fase do ‘branding’ – da pré-internet à web3 – tem o seu próprio mistério e resolução, onde cada ato revela novas camadas e complexidades.
Assim como numa narrativa bem estruturada, a história do ‘branding’ e da comunicação, no sentido mais lato possível, pode ser dividida em três atos distintos: a era pré-internet, a era pós-internet e a emergente era web3. Cada um destes ‘atos’ representa uma fase crucial no desenvolvimento das marcas, marcada por diferentes desafios e inovações. Senão, vejamos (Diana Poirot entra em cena):
Primeiro ato: a pré-internet (setup)
Neste ato, as marcas definiam e estabeleciam as suas identidades através de meios tradicionais, como jornais, revistas e meios de comunicação de massas. Era um período de estabelecimento e consolidação das bases do ‘branding’, onde a uniformização e a consistência visual eram fundamentais.
Segundo ato: a pós-internet (confrontation)
Com a chegada da internet, as marcas enfrentaram novos desafios e oportunidades. A transição para plataformas digitais exigiu adaptação e inovação. A complexidade aumentou com a necessidade de designs responsivos e interativos, para além de uma maior personalização e ‘engagement’ direto com os consumidores.
Terceiro ato: a web3 (resolution)
Agora, na web3, as marcas estão a entrar num novo paradigma de descentralização e controlo do utilizador. Tecnologias como blockchain, IA e ‘smart contracts’ (NFT e outros) estão a redefinir as interações na forma como as marcas comunicam, proporcionando novas formas de relação e criando economias digitais próprias. Este ato, ainda que ainda ‘em cena’, representa a resolução, onde as marcas estão a adaptar-se e a prosperar num ecossistema digital mais evoluído.
Nesta macro-narrativa do desenvolvimento das marcas, a web3 é um mistério com resolução em curso, onde novas soluções e possibilidades emergem todos os dias. Uma ‘resolution’ bem resolvida com tudo em aberto, onde as marcas estão a adaptar-se às novas realidades tecnológicas e sociais num mundo cada vez mais digital e descentralizado.
Estaremos cá para ver, saber e participar. Será cómico, se não for trágico. Já dizia o meu amigo Poirot, “wherever there is human nature, there is drama.”.