Geometria descritiva
Na base, no vértice da esquerda, tenho a criatividade, no da direita coloco a estratégia. Em cima, está o ‘earned media’
Sou de letras. Juntando esta tendência e gosto ao facto de trabalhar em comunicação há algumas décadas, tornou-se fácil aceitar o convite do M&P para colaborar (mais ou menos) uma vez por mês, tentando comentar uma ou outra novidade que marque a agenda do setor, desabafar de forma acutilante sobre o dia a dia numa agência ou partilhar um olhar mais atento sobre tendências dignas de registo – e não as que vivem menos tempo do que uma traça. E, com isto, regresso à casa de partida.
Sou de letras. Sou daqueles que, na escola, fugiram da matemática no momento em que lhes foi dada essa escolha. Mas pior ainda é a minha ausência total de sentimento pela geometria. Não consigo visualizar a forma como um paralelepípedo se posiciona num determinado espaço. Não consigo nem quero. Se pensar muito nisso, fico mareado.
O que é engraçado, no meio desse ódio declarado a uma disciplina que nunca foi capaz de me oferecer uma nota positiva, é que nos últimos tempos, tenho pensado que os ângulos, as formas, as transformações e demonstrações geométricas têm significados e aplicações bem mais profundas do que os círculos que um compasso desenha a picar o papel e a mesa.
No dia a dia de agência, recebemos briefings, pensamos em soluções, construímos relações e pomos na rua projetos de comunicação que fazem as delícias dos consumidores e os sorrisos de prova superada dos clientes. É um jogo complexo que, sem querer aligeirar, tem características de figura geométrica. De uma especificamente. Pelo menos para mim.
Triângulo. “Figura geométrica que ocupa o espaço interno limitado por três segmentos de reta que concorrem, dois a dois, em três pontos diferentes formando três lados e três ângulos internos que somam 180°”.
Hoje em dia, cada vez que fechamos um projeto, dou por mim a pensar num triângulo. Aliás, dou por mim a recorrer ao triângulo para validar esse mesmo projeto. A cada vértice da figura, atribuo um aspeto que considero essencial. Na base, no vértice da esquerda, tenho a criatividade, no da direita coloco a estratégia. Em cima, está o ‘earned media’.
E avalio a campanha: para um projeto ser verdadeiramente vencedor, não posso descurar nenhum dos vértices. Só uma proposta que tenha uma grande ideia, bem suportada estrategicamente e que dê que falar é que faz sentido.
Sou de letras, mas, com o tempo, decidi criar uma definição ‘minha’ para essa figura geométrica que tem acompanhado os meus dias na agência. Cada vez mais sinto que é a fórmula de sucesso das campanhas que pomos na rua.
Triângulo 2.0. “Figura geométrica que serve de validação a projetos de comunicação eficazes, juntando nos seus vértices a criatividade, a estratégia e a capacidade de gerar conversa”.