PUB
Edição digital
PUB
Opinião

O fim dos ‘frenemies’

Quer a Google quer a Meta cresceram muito mais no resultado operacional do que em receita

Opinião

O fim dos ‘frenemies’

Quer a Google quer a Meta cresceram muito mais no resultado operacional do que em receita

João Paulo Luz
Sobre o autor
João Paulo Luz

Os resultados do segundo trimestre deste ano das ‘big techs’ mostram uma impressionante performance de quase todas, mesmo quando não alcançam as exigentes expetativas dos analistas. Deveremos recordar que as cotações das ações incorporam o valor atual mais as evoluções esperadas e, por causa disso, quando os resultados ficam aquém do esperado, as cotações caem no imediato.

Isso explica a reação aos resultados da Amazon e até em parte da Google, por contraste ao entusiasmo e à consequente valorização dos títulos da Meta. Ora, se a Amazon cresceu ‘apenas’ 10%, e a Google ‘apenas’ 14%, a Meta cresceu 22%. As primeiras foram penalizadas e a Meta premiada logo nas horas seguintes ao anúncio dos resultados.

Mas, se esta volatilidade é compreensível, um olhar mais atento mostra que quer a Google quer a Meta cresceram muito mais no seu resultado operacional do que em receita. A Google cresceu o seu EBITDA em 26% e a Meta uns impressionantes 58%. São muitos ‘billion dollars’ que não deixam antever uma evolução favorável a todos os que disputam os orçamentos publicitários com estes dois.

Os tempos em que estas empresas estavam associadas à expressão de ‘frenemies’, numa combinação de ‘friends and enemies’, começam a soar distantes. Hoje, são quase que apenas concorrentes, mesmo que no caso da Google sejam simultaneamente o principal fornecedor tecnológico dos seus concorrentes, exceção às redes sociais e agora às plataformas de ‘streaming’.

A saúde financeira que exibem, totalmente sustentada nos orçamentos publicitários, não deixa espaço para serem ‘friendly’ como no passado. As suas preocupações são, hoje, outras. O receio da regulação, das eventuais exigências fiscais e de controlo de privacidade nalguns territórios e os ‘players’ chineses.

E estas preocupações, a par dos analistas, não permitem que aliviem a captura de maior quota no mercado publicitário, que não cresce a metade desta velocidade. Há um sentido de urgência que clama por liberalismo no mundo ocidental, mas proteção face ao mundo oriental.

Se alguns vaticinam que a pesquisa vai mudar, e que uma pesquisa baseada em inteligência artificial conviverá mal com a lógica dos anúncios, essa é uma forte preocupação para a Google. Percebe-se que, se pudermos perguntar qual é a melhor opção para a nossa compra, que terá pouca utilidade anunciar algo que contrarie essa recomendação.

Mas se o ‘search’ vale ainda 57% da receita total da Google, será muito cedo para dizer que esta vive o momento Nokia, lembrando-nos do ano de 2007, em que o lançamento do iPhone levou ao rápido colapso daquela que era a empresa dominante do setor. Todos os que disputam as receitas publicitárias deverão esperar mais um acentuar da agressividade dos ‘players’ dominantes do que uma alteração do ‘status quo’.

A Nokia valia 150 mil milhões de dólares em 2007, mas a Meta vale hoje 1,24 biliões de dólares e a Google 2,04 biliões de dólares, mais de treze Nokias no seu apogeu. Mesmo que corrijamos a inflação, estamos a falar de outras dimensões.

Para nós, portugueses, estas grandezas ganham melhor perceção se dissermos que a capitalização bolsista da Google são 10 anos do nosso PIB. Deste tamanho e dependentes da publicidade, não há espaço para ‘frenemies’.

Sobre o autorJoão Paulo Luz

João Paulo Luz

Diretor de negócios digitais e publishing da Impresa
Mais artigos
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB
PUB

Navegue

Sobre nós

Grupo Workmedia

Mantenha-se informado

©2024 Meios & Publicidade. Todos os direitos reservados.