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O mal está só nos ‘outros’?

A mais recente campanha da Meo, intitulada ‘Somos Uma Só Família’, tenta fazer uma apologia bem conseguida a tudo isto

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O mal está só nos ‘outros’?

A mais recente campanha da Meo, intitulada ‘Somos Uma Só Família’, tenta fazer uma apologia bem conseguida a tudo isto

Sobre o autor
Paula Cosme Pinto

Independentemente de cores de pele ou de geografias em que nascemos, será sempre muito mais aquilo que nos une do que o que nos separa. Da biologia às emoções, temos mais em comum do que possamos ou, em alguns casos, gostemos de acreditar.

Então, porque continuamos a preferir o medo, a intolerância e o desrespeito? Porque continuamos a aceitar o ódio enquanto narrativa se, enquanto humanos, os ‘outros’ serão sempre como ‘nós’ em inúmeros aspetos?

A mais recente campanha da Meo, intitulada ‘Somos Uma Só Família’, tenta fazer uma apologia bem conseguida a tudo isto. Um curto filme mostra o afeto sem fronteiras entre duas meninas – uma portuguesa, outra imigrante de ascendência muçulmana -, amizade essa que é recebida com desconfiança pelos progenitores da primeira.

Em vários momentos, desde a partilha de comidas distintas aos hábitos de vestuário, o pai chega mesmo a ser agressivo na forma como reage à união das duas crianças. Não vou ser ‘spoiler’ e contar-vos tudo porque vale mesmo a pena procurarem e campanha em vídeo nas redes sociais e verem-no até ao fim.

Gestos de cortesia, respeito e um simples sorriso deixam clara a tal igualdade que nos aproxima dentro da diversidade de crenças, tradições e culturas que nos possam separar. Quem conseguir terminar o filme sem verter uma lágrima ganha o prémio de cabeça dura do ano.

Diz o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.

E é precisamente essa a mensagem que a marca pretende passar com esta campanha natalícia: celebrar a empatia e a solidariedade como pilares essenciais para a transformação social. Como? Relembrando todas as pessoas da nossa sociedade para a importância da aceitação mútua entre pessoas de diferentes origens e culturas.

Com divulgação no universo digital, televisão, rádio, imprensa e ‘outdoors’, diria que é uma belíssima forma de se fazer chegar às massas um contraponto à narrativa populista anti-imigração que tem vindo a crescer, impulsionada pela proliferação de partidos e grupos xenófobos, também em Portugal.

Muitas vezes, principalmente quando a garantia das nossas necessidades mais básicas é posta em causa, é-nos mais fácil acreditar que o problema são ‘os outros’ ao invés de olharmos para dentro. É simplesmente mais aceitável acreditar que os males do mundo são obra dos que veem de fora, do que encarar que o mal também somos nós, os que estamos cá dentro.

Mas vai sendo tempo de entendermos que o bem e mal não se dividem em ‘nós’ e os ‘outros’. O bem e o mal, mundo fora, seremos sempre tanto ‘nós’ como os ‘outros’.

Sim, a diferença assusta. Sim, este medo irracional aos ‘outros’, aos estrangeiros, aos que trazem consigo crenças, hábitos e visões distintas da vida, pode tirar-nos de pé. Historicamente, o desconhecido teve esse condão de mau da fita. E, convenhamos, foi demasiadas vezes uma ameaça real às vidas e à liberdade de tantos, isto não é de agora.

E, sim, falo mesmo do que os europeus, por exemplo, fizeram mundo fora durante séculos. Contudo, chegados a tempos onde a informação empírica está ao dispor de toda a gente, e a capacidade de comunicação entre povos nunca foi tão ágil, há que tentar perceber que, mais do que um receio inato pelo que não conhecemos, há muita gente que tem a ganhar com este ódio.

Minando logo à partida qualquer possibilidade de diálogo e de pontes de entendimento. Da política à economia, quantos interesses comporta este jogo de poder, fomentado por alarmismos estratégicos, que têm tanto de populistas quanto de falaciosos, com informações falsas transmitidas amiúde como verdades absolutas?

O ódio não se combate com ódio, portanto, um aplauso à Meo por optar por pôr no espaço público uma campanha multimeios que contradiz de forma tão delicada, quanto assertiva, estes discursos bolorentos de apologia à discriminação e à violência. Que, este ano, o espírito festivo possa ser este. A diversidade não é um bicho-papão.

Sobre o autorPaula Cosme Pinto

Paula Cosme Pinto

Comunicadora pela igualdade de género e temas sociais
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