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Opinião

O presente é vertical. Mas será largo o suficiente?

O vídeo vertical não é apenas uma questão de formato, é uma mudança na forma como vemos o mundo digital

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O presente é vertical. Mas será largo o suficiente?

O vídeo vertical não é apenas uma questão de formato, é uma mudança na forma como vemos o mundo digital

Sobre o autor
Pedro Filipe-Santos

O formato vertical, retrato, ou 9:16 para os mais literais, tem vindo a ganhar cada vez mais espaço no marketing digital e nas redes sociais, nos últimos anos. Plataformas como o TikTok e formatos como o Instagram stories e o ‘reels’ adotaram este enquadramento, e, de repente, estamos todos a ver o mundo ‘de pé’. Mas será que este formato é realmente a revolução que promete ser? Ou há algo que se perde quando limitamos a nossa visão a um ecrã vertical?

Primeiro, falemos das vantagens. O formato vertical é, indiscutivelmente, o formato mais natural para dispositivos móveis. Vivemos num mundo em que o telemóvel é a extensão do nosso corpo, e segurar o telefone na vertical é a forma mais cómoda e intuitiva de consumir conteúdo. Este formato adapta-se perfeitamente à maneira como usamos o telemóvel no dia a dia, eliminando a necessidade de girar o dispositivo. Além disso, o 9:16 captura a atenção de forma mais envolvente.

A verticalidade ocupa o ecrã inteiro, o que gera uma experiência imersiva para o utilizador, que fica totalmente focado no conteúdo, sem distrações periféricas. E, claro, quanto mais tempo alguém passa a ver, maior o potencial de impacto da mensagem publicitária. Até já há fabricantes que desenvolveram monitores para exibir exclusivamente formatos de vídeo vertical – pensem nas paragens de autocarro e de metro, múpis e na possibilidade infinita de ‘displays’ de media digital ‘out-of-home’, por exemplo.

Por outro lado, o modo retrato pode ser limitador. Quando vemos o mundo na vertical, perdemos a amplitude e a riqueza de detalhes, que um enquadramento horizontal, ou paisagem, oferece. Pense nos documentários da natureza, nos jogos de futebol, ou nos sucessos do cinema: numa ‘Guerra das Estrelas’ vertical, por exemplo, alguém saberia dizer com convicção quem disparou primeiro, se Greedo ou Han Solo?

Todos estes formatos utilizam a horizontalidade para capturar a vastidão, a ação e o contexto. Ao ver o mundo em 9:16, restringimos a nossa perspetiva a um recorte mais estreito, o que pode limitar a narrativa visual, especialmente em vídeos que exigem profundidade e contexto mais amplos.

Há também a questão da adaptação criativa. Nem todos os conteúdos funcionam bem em modo retrato. Marcas e criadores precisam de ser mais criativos na maneira como compõem as suas histórias, ajustando-se às limitações do formato. O desafio, neste caso, pode ser uma oportunidade, mas é inegável que algumas mensagens simplesmente não têm o mesmo impacto quando ‘apertadas’ num enquadramento vertical.

Além disso, o formato vertical pode não ser inclusivo para todos os públicos. Muitos consumidores ainda preferem consumir conteúdos na horizontal – paisagem, ou 16:9, como preferirem – nos computadores ou televisões. Ignorar este segmento em favor de uma estratégia totalmente vertical pode significar perder oportunidades de conexão, com uma audiência que ainda valoriza os formatos mais tradicionais.

No entanto, talvez a maior vantagem do formato vertical seja a sua capacidade de adaptação ao conteúdo rápido e informal, algo que o público jovem, em particular, aprecia. A simplicidade e a velocidade do ‘scroll’ vertical encaixam-se perfeitamente no desejo por estímulos rápidos e novidades constantes. Estamos num ritmo de consumo acelerado e o 9:16 responde diretamente a isso.

Ver o mundo ’em pé’ traz consigo uma série de vantagens inegáveis: maior imersão, comodidade e adaptabilidade ao formato ‘mobile’. No entanto, a desvantagem mais evidente é a perda de amplitude e de riqueza visual, limitando a experiência a um recorte mais estreito. Subestimar a importância e o impacto do 9:16 é esquecer que cada formato tem o seu lugar e o seu valor. E, numa perspetiva mais Marvel Comics, no retrato somos o herói e na paisagem somos parte da aventura.

Sobre o autorPedro Filipe-Santos

Pedro Filipe-Santos

Codiretor executivo e sócio da Snack Content Portugal
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