Se a saúde começa no prato, por que não criar uma marca alimentar para os hospitais?
Pensemos numa marca unificada, presente em todos os hospitais públicos, que ofereça refeições nutritivas, obviamente saborosas e alinhadas com os princípios de uma vida saudável

Numa recente visita ao Hospital de São José, em Lisboa, deparo-me com uma cena que ilustra um paradoxo no nosso sistema de saúde: um bar hospitalar cuja oferta alimentar (na foto) parece contradizer os próprios princípios de bem-estar que a instituição deve promover.
Esta observação levanta uma questão crucial: se a saúde começa no prato, então por que não criar uma marca alimentar para servir especificamente os hospitais portugueses? Certamente não queremos que os médicos prescrevam dietas saudáveis com uma mão, enquanto seguram na outra uma bola de Berlim a pingar creme artificial.
Há uma oportunidade de transformar a perceção e a realidade da alimentação nos cuidados de saúde. Pensemos numa marca unificada, presente em todos os hospitais públicos, que ofereça refeições nutritivas, obviamente saborosas e alinhadas com os princípios de uma vida saudável. O único problema é que poderemos ver pacientes a recusar a alta, agarrados às bandejas de refeição, obrigando os médicos a, literalmente, empurrá-los para fora do hospital.
Uma marca com estas características poderá estabelecer um padrão nutricional consistente em todo o sistema hospitalar, entre pacientes, visitantes e profissionais de saúde, que tenha como referência as escolhas alimentares saudáveis. Também demonstrará o compromisso de Portugal com a integração da alimentação saudável nos cuidados de saúde.
Isto já sem falar de que irá fomentar uma cultura de bem-estar e seguramente uma forma, a curto prazo, de trazer algum retorno ao Estado, reduzindo a grande fatia do orçamento público que vai para a saúde, que muitos de nós bancamos.
Imagine-se uma montra repleta de sandes de pão de qualidade, recheadas com frango grelhado e abacate cremoso; ‘wraps’ de salmão fumado com espinafres frescos; saladas vibrantes com atum fresco, quinoa e legumes coloridos; ou taças de proteína com frango temperado, arroz integral e legumes salteados. Visitar um doente poderá também tornar-se uma experiência a copiar, para replicar em casa. Para além de que os doentes serão visitados mais vezes.
Vão dizer-me que, para ganhar um concurso público, esta ideia não consegue ser competitiva no preço. Talvez se o concurso incluir a cláusula: “o vencedor deve garantir que as refeições sejam tão saudáveis quanto saborosas, e tão burocráticas quanto um formulário do concurso do SNS”.
Voltando à ideia inicial: a criação de uma marca alimentar para hospitais não é apenas uma questão de imagem, mas uma necessidade prática, real e urgente para acabar com a comida altamente inflamatória e deixarmos de ouvir tanta gente a pedir dois folhados de salsicha com uma italiana.
Esta ideia oferecerá uma solução sistematizada para melhorar a qualidade nutricional das refeições servidas, garantindo que os hospitais praticam o que pregam em termos de alimentação saudável. E quem sabe, talvez até consigamos fazer com que a frase “sabe a comida de hospital” se torne num elogio gastronómico.
No fim de contas, se os hospitais estão no negócio de salvar vidas, por que não começarem pelo que põem no prato?.