“Somos um exemplo de renovação do modelo de assessoria de imprensa convencional”
Rodrigo Viana de Freitas analisa o trabalho da Central de Informação, em que a área de eventos tem ganho especial relevo. E conta por que deixou de apostar em Angola […]
Rui Oliveira Marques
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Rodrigo Viana de Freitas analisa o trabalho da Central de Informação, em que a área de eventos tem ganho especial relevo. E conta por que deixou de apostar em Angola
Uma equipa de cerca de 20 pessoas e uma facturação na ordem dos 1,1 milhões de euros. Na lista de clientes estão a Vodafone, Teatro Nacional São João, Dachser Group, Syminghton, Travelport Portugal, Universidade Católica do Porto, Super Bock Arena, ANTRAM, Mobinov – Cluster Automóvel de Portugal e Vitacress. A Central de Informação nasceu há 15 anos com foco na assessoria de imprensa, mas actualmente a área de eventos representa metade da facturação.
Meios & Publicidade (M&P): Nos últimos meses a Central de Informação ganhou vários prémios. Pela primeira vez ficou com o título de Agência do Ano nos Prémios Comunicação M&P, mas também venceu os prémios da network IPRN e nos Stevie Awards. É uma coincidência este destaque?
Rodrigo Viana de Freitas (RVF): Não é coincidência, é o resultado de um processo. A Central tem tido uma curva de crescimento e posicionamento para um perfil de projectos que nos permitem ganhar outra visibilidade. Hoje somos mais do que uma agência de comunicação convencional. Somos uma agência vocacionada para projectos 360, com grande complexidade, que têm empurrado a agência para desenvolver um conjunto de competências muito diferentes, que vão além da assessoria de imprensa e que passam pelo design, multimédia, pelo desenho de conceitos exclusivos, pela cenografia, pela decoração.
M&P: Portanto, apresentam-se como agência de serviço completo e não como agência de comunicação?
RVF: A assessoria de imprensa representa menos de 30 por cento do negócio, embora seja uma componente importante, onde temos clientes-âncora e onde continuamos a crescer. As outras áreas têm-nos feito desenvolver outras competências. Em Maio vamos produzir o 12º evento internacional da Central, feito no sétimo país diferente e no quarto continente diferente. Estamos a falar de eventos de grande dimensão. Não são lançamentos de livros.
M&P: Que evento é esse?
RVF: É um incentivo para a Vodafone em Nova Iorque mas temos realizado convenções, galas para 800 convidados, festivais como o que desenvolvemos em Espanha em seis cidades.
M&P: É a área de eventos que representa a maior fatia de facturação?
RVF: Sim, mas não organizamos um evento de hospedeiras e de cocktail, mas sim um evento com toda a componente cenográfica, com conteúdos multimédia, video, guionismo, design gráfico, produção. Isto faz com que as outras áreas da agência fiquem mais sólidas. A área de eventos puxa também a área de assessoria de imprensa, que continua a ser um elemento importante neste mix de comunicação que temos.
M&P: O que tem de distintivo o projecto We Rock Fest, que venceu vários prémios?
RVF: É de um cliente de assessoria de imprensa, a Dachser, com quem trabalhamos em Portugal há 13 anos. Entretanto o centro de decisão foi-se transferindo para Madrid, que é algo que acontece muito com as multinacionais que estão em Portugal. A Dachser internacional comprou em Espanha a maior empresa ibérica de transportes, a Azkar, que tinha 72 plataformas em Espanha e Portugal e precisava de um projecto que reforçasse o sentimento de marca entre mais de quatro mil trabalhadores. Precisavam de um projecto descentralizado na Península Ibérica e de criar um sentimento de marca e pertença. Lançaram o desafio à Central e a outras agências em Espanha. A Central desenvolveu um festival de Verão itinerante, que começou em Bilbau e passou por Saragoça, Madrid, Valência, Sevilha, Porto e Barcelona. Durante dois meses montámos e desmontámos o festival para colaboradores e famílias desenhado e produzido de raiz, que andava por Espanha dentro de três camiões TIR. Desenvolvemos o conceito, cenografia, produção, gestão operacional, articulação com os todos os fornecedores nos vários locais. Este é cada vez mais o tipo de eventos que a Central desenvolve. Não é fazer eventos iguais ou estar a competir pelo preço.
M&P: A Vodafone é outro dos clientes na área de eventos.
RVF: É cliente há mais de seis anos. Fazemos convenções, encontros de parceiros e incentivos internacionais. Gostamos de clientes exigentes, se calhar foi por isso que nos demos mal em Angola. Gostamos de clientes com nível de sofisticação alto, que exige perfeição e um nível de dedicação elevado, A Vodafone é um cliente à nossa imagem. No fim-de-semana passado tivemos para a Vodafone um evento criado de raiz no Porto, no Queimódromo, em que construirmos um mega clube com um concerto dos Amor Electro e do Vasco Palmeirim, em que o público podia participar com perguntas através do WhatsApp. Já estivemos com a Vodafone no Dubai, na Alemanha e na Holanda. Vamos estar agora em Nova Iorque com acções de incentivos de vendas.
M&P: Referiu há pouco a experiência de Angola como algo que não deixou particulares saudades. O que aconteceu exactamente?
RVF: Estivemos em Angola dois anos, em 2012-2013, com um parceiro local. Achávamos que tínhamos de experimentar. Surgiu-nos a oportunidade, com um empresário local, de abrirmos uma empresa em parceria. Chegámos a trabalhar com o Ministério dos Assuntos Parlamentares, fizemos uma gala para o governo, com 800 convidados, que correu muito bem. Mas é um mercado dependente de fornecedores externos e sentíamos que não conseguimos cumprir os níveis de qualidade. Estávamos sujeitos a falhas de produção, ao incumprimento de prazos. Foi um processo dramático. Depois há toda a lógica financeira do mercado de Angola que não é adaptada a nós. A Central é uma empresa rigorosa também do ponto de vista financeiro. Fomos PME Líder pela primeira vez no ano passado. Temos uns rácios de pagamento muitíssimo altos. É uma empresa financeiramente muito saudável e que não se enquadra na criatividade financeira – que não é o nosso registo. Não pomos de parte a hipótese de voltar para acções pontuais mas não para ter uma operação em Angola sujeita às regras locais.
M&P: O saldo dessa experiência foi negativo?
RVF: O saldo foi positivo, mas em Angola projectamos um evento para um nível de satisfação de 100 por cento, o cliente acha que se for 50 por cento é já muito bom e aquilo acaba nos 75. Não gostamos de entregar um projecto a 75 por cento de satisfação. Gostamos que o cliente fique verdadeiramente satisfeito. O mercado tem níveis de produtividade e de exigência diferentes. Gostamos de estar em mercados evoluídos, com clientes multinacionais e com regras muito claras.
M&P: A Central de Informação faz parte de uma rede de agências de comunicação, a IPRN. A rede funciona realmente? É que não faltam redes internacionais de agências de comunicação…
RVF: Em 2016 sentimos que fazia falta pertencermos a uma rede internacional. Também tive a sensação de que havia muitas redes. Fizemos um levantamento de redes internacionais e lançámos pedidos de reunião e de contactos. A IPRN, de todas, foi a que teve maior capacidade de resposta, que entendeu melhor as nossas necessidades e que teve uma maior disponibilidade. Entrámos na rede em 2016, na convenção de Bordéus. Estamos muito satisfeitos porque é uma rede de agências independentes, tem uma dispersão geográfica muito interessante. Estamos com perto de 50 agências de média dimensão, de quatro continentes. Dá-nos um link directo muito rápido a cada um destes mercados. Temos feito através desta rede projectos com Washington, já entramos em concursos na Polónia, já tivemos projectos com o Reino Unido. Temos um cliente partilhado com Espanha. Mais do que o negócio directo, nomeadamente se o que pago à rede cobre o que lá vou buscar, é a troca de experiências. Temos encontros anuais: um mundial, outro europeu e outro ibérico. Nós somos a única agência portuguesa, mas Espanha tem três agências com diferentes perfis. Somos vistos como um exemplo do que é a renovação do modelo de assessoria de imprensa convencional. Por isso hoje já somos vice-chairman da organização e estamos agora na fase final para trazer a convenção dos 25 anos da rede para Lisboa em Maio do próximo ano.
M&P: A renovação do modelo de assessoria de imprensa é exactamente o quê?
RVF: Quando era jornalista achava que o papel dos assessores de imprensa era quase sempre redutor. Tirando alguns bons exemplos via-o quase como um serviço administrativo de marcar entrevistas, um processo um bocado reactivo, ligar a fazer follow up. Enquanto jornalista nunca me revi neste modelo de comunicação que está, felizmente, ultrapassado na maior parte das agências. As agências de comunicação trabalham muito, têm muitos clientes e com diferentes temáticas em simultâneo, mas muito do trabalho desenvolvido pelas agências acaba por ser perdido. Alimenta-se as redacções, mas depois aquilo que não é consumido pelas redacções acaba por se perder. Há aqui um trabalho grande de sistematização da informação que não deve ser perdido. As redes sociais vieram alterar um pouco isto, mas não chega gerir redes sociais. O que fazemos é desenvolvimento de conteúdo multimédia de qualidade. Por exemplo, para o Teatro Nacional São João, que é nosso cliente há vários anos, estamos com um projecto não só de assessoria de imprensa mas de 30 vídeos por ano para anúncios institucionais da RTP, para redes sociais. Isto faz com que a Central tenha de investir em termos de produção, que tenha os seus recursos próprios. Não estamos dependentes de fornecedores externos. Mais do que a qualidade técnica da câmara A ou da câmara B, o que uma agência de comunicação deve ter é um bom olhar editorial sobre as matérias. Pode-se encomendar uma história a uma produtora mas aquilo vem muito publicitário ou usa drones. Os meios não querem isso, querem um bom olhar editorial sobre as temáticas. Estamos a transformar a nossa equipa de assessoria de imprensa numa redacção dos clientes, sem querer com isso substituir os órgãos de comunicação social, mas dando conteúdo. Hoje, muitas destas histórias multimédia que produzimos para o São João, para a eLife, para a Imperial par ao Super Bock Arena são muitas vezes publicadas pelos próprios meios porque as reconhecem como um conteúdo editorial relevante, não publicitário, bem editado. Outras vezes cedemos brutos para serem incluídos nas matérias de televisão, por exemplo. Com isto fazemos com que os clientes passem a controlar melhor a sua própria informação. passem a ser eles próprios produtores de conteúdos. O trabalho da agência passa a ser mais relevante e imprescindível na actuação com os clientes. Se não, é tudo uma questão de preço. Não estamos nesse campeonato, estamos no campeonato de pensar as marcas, dar-lhes ferramentas e conteúdo.
M&P: A questão é conseguir pôr os clientes a pagar esse valor que considera justo.
RVF: Por isso é que não queremos os clientes todos. Somos uma agência que tem crescido relativamente devagar. Temos um conjunto de marcas que se revê no nosso posicionamento. Não estamos na guerra do “ganho mais concursos do que tu” ou do “tenho mais clientes do que tu”. Queremos marcas que trabalhem numa lógica de longo prazo e que se revejam no modelo de comunicação que temos.
M&P: Nestes 15 anos de existência da Central tem acompanhado a transformação da imprensa. Que diagnóstico faz do estado das redacções, nomeadamente ao nível dos meios do Porto?
RVF: A Central é das poucas agências nacionais com sede no Porto mas não temos uma visão regionalista da nossa actividade. A maior parte dos nossos clientes está em Lisboa e temos uma visão cada vez mais internacional. O Porto é um excelente sítio para termos parte da produção, onde os custo de operação são mais competitivos e temos uma maior fidelização de equipa porque há menor rotatividade de equipas entre empresas. O nosso vizinho do lado, o Jorge Mendes, também vê vantagens em estar no Porto e é claramente uma empresa internacional. Há 15 anos, quando decidi deixar o jornalismo e enveredar pela comunicação, o cenário já não era muito animador. Os meios não vão acabar. As fake news são a melhor coisa que podia ter acontecido à comunicação social.
M&P: Porquê?
RVF: São a prova de que a qualidade da fonte é fundamental para sabermos em quem podemos ou não confiar. Fico muito assustado quando amigos ou pessoas com que privo têm dificuldade em identificar uma fake news. Isto representa uma oportunidade imensa para os meios. Os órgãos de comunicação social são o garante de que a informação é fidedigna e não é manipulada. Nas últimas décadas assistimos à concentração em grandes grupos, à redução do número de jornalistas, à perda de redacções espalhadas pelo país. O Porto também tem perdido jornalistas, meios e títulos. Há órgãos nacionais que não têm correspondentes no Porto. No resto do país é ainda mais assustador. Para as empresas de comunicação é uma oportunidade porque produzimos conteúdo relevante e conseguindo que as nossas marcas sejam credíveis nas redacções, conseguimos maior facilidade na entrada de materiais. Isto levanta algumas preocupações éticas sobre aquilo que é produzido e sobre a capacidade que os meios têm para filtrar o que lhes chega.
M&P: Uma questão sobre o mercado do Porto e do Norte. O caso do Turismo do Porto e Norte e a história que está a ser investigada e que envolve uma agência de comunicação, teve algum impacto na região ao nível da percepção do que é o trabalho das agências de comunicação?
RVF: Não conheço o envolvimento que teve a agência em questão. Não é a primeira vez que uma agência é envolvida em processos com clientes. Não acho que tenha a ver com o facto de ser uma agência de comunicação, tem a ver com relações pessoais. Não acho que tenha tido impacto nem na região nem no país, mas é um assunto que acompanhamos com particular atenção, nomeadamente no âmbito da APECOM. Temos de aguardar que haja algum esclarecimento sobre isso.
M&P: Como está a facturação da Central?
RVF: É uma agência que nos últimos três anos teve uma facturação média superior a 1,1 milhões de euros. Somos uma empresa com o selo PME Líder e com endividamento zero.
M&P: É a segunda vez que o destaca.
RVF: Para nós é importante. Não somos uma agência que tenha por hábito estar em bicos de pés a dizer o que faz, comunicamos de forma pontual, mas essa é uma das bandeiras: zero endividamento, prazos de pagamento muito curtos, não temos nenhum litígio do ponto de vista laboral ou de pagamento a fornecedores. O selo PME Líder prova que é uma agência limpa, saudável, e é assim que queremos continuar a ser. Estamos na facturação de 1,1 milhões mas prevê-se que nos próximos anos aumente, até pela complexidade dos projectos que estamos a fazer, que permitem ter volumes de trabalho maior.