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Ter VIH e levar uma vida normal (com vídeos)

A campanha que assinala os 30 anos da associação Abraço tem criatividade a cargo da Coming Soon. Compostas por três filmes, a campanha conta a história de três pessoas que […]

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A campanha que assinala os 30 anos da associação Abraço tem criatividade a cargo da Coming Soon. Compostas por três filmes, a campanha conta a história de três pessoas que […]

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A campanha que assinala os 30 anos da associação Abraço tem criatividade a cargo da Coming Soon.

Compostas por três filmes, a campanha conta a história de três pessoas que testaram positivas para o vírus do VIH e, apesar disso, levam vidas completamente normais. “Quebrar o preconceito em relação ao vírus do VIH é a principal missão desta campanha. Levar as pessoas a fazer o teste – e descobrir que, com os tratamentos atuais, o vírus pode ficar indetetável e intransmissível. O que são mensagens muito positivas para uma campanha”, refere Marcelo Lourenço, cofundador da agência. “Para contar estas três histórias recorremos ao humor com um twist que parece-nos muito engraçado – vamos falar sobre os grandes dramas na vida destas pessoas com VIH e, isto parece um daqueles filmes de cortar os pulsos, mas no final são dramas muito mundanos – de quem leva uma vida normal, igual a toda a gente”, completa Pedro Bexiga.

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A produção ficou a cargo da Show Off Films com a realização de Alexandre Montenegro. Os filmes contam com a participação das atrizes Joana Brandão, Joana Ribeiro e Laura Dutra e música de Inês Herédia.

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WYcreative mostra o que é estar preparado para o MotelX (com vídeo)

No MotelX nada é tão inocente como parece. É essa a ideia transmitida pelo filme assinado pela WYcreative e pela Still para promover a 16ª edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa.

Pedro Durães

No MotelX nada é tão inocente como parece. É essa a ideia transmitida pelo filme assinado pela WYcreative e pela Still para promover a 16ª edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. “A ideia passa por transportar o espetador para um imaginário mais romântico, revelando pequenos pormenores de pessoas a prepararem-se, eventualmente para um encontro ou para qualquer coisa mais inocente do que na realidade é”, descreve a agência do WYgroup, responsável pela criatividade da campanha, cujo filme contou com produção da Still, realização de João Fanfas e música original de Fred Ferreira. A pós-produção de vídeo ficou a cargo da Lightfilm, enquanto a pós-produção de som foi assegurada pelo Skills Studio.

“Este é o resultado de um grande trabalho colaborativo entre nós, a agência e a produtora, que mobilizou um conjunto de pessoas fantásticas. E o resultado deixa-nos mesmo muito satisfeitos”, afirma Pedro Souto, diretor do festival.

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“As multinacionais têm uma vida mais fácil a 1 de Janeiro de cada ano”

A agência de meios Nova Expressão passou a accionista de uma nova network de media internacional. Manuel Falcão explica o projecto e analisa a actualidade dos media em Portugal


A agência de meios Nova Expressão passou a accionista de uma nova network de media internacional. Manuel Falcão explica o projecto e analisa a actualidade dos media em Portugal.


A Nova Expressão passou a integrar uma nova network de media internacional, a Local Planet. Para trás fica a estrutura internacional Columbus Media, entretanto extinta. Este é o ponto de partida para a entrevista a Manuel Falcão, director-geral da agência, em que apresenta as novidades e analisa o panorama dos media em Portugal, nomeadamente o segmento das publicações de economia, o crescimento da audiência dos canais por cabo e o combate dos publishers nacionais aos gigantes Facebook e Google.

Meios & Publicidade (M&P): A Nova Expressão faz agora parte de uma nova network de agências independentes. Que mudanças são estas?
Manuel Falcão (MF): A Columbus Media International deixou de existir a meio do ano passado. Houve um movimento de uma série de agências que tinham integrado a Columbus e de outras novas agências para criar uma estrutura mais formal e mais organizada, que foi lançada há poucos dias e que se chama Local Planet. A Local Planet é uma network internacional de agências independentes com duas estruturas centralizadas: uma para o continente americano e outra para a Europa. A parte europeia ficará sedeada em Londres e o CEO será Martyn Rattle, um executivo deste meio com larga experiência internacional. A Local Planet vai agrupar agências que têm operações em 40 territórios. Seremos perto de três mil pessoas na network com capacidades técnicas avançadas e com uma facturação global superior a 10 mil milhões de dólares. Pensamos que irão muito rapidamente aderir novas agências. A Nova Expressão tem o prazer de ter sido convidada para ser um dos 17 accionistas fundadores da Local Planet. Seremos, portanto, o braço português.

M&P: Qual é a percentagem accionista das agências?
MF: Varia conforme os territórios, a importância e peso dos respectivos mercados. São percentagens que vão desde um a dois por cento até aos 15 por cento. No nosso caso é de um por cento.

M&P: Funcionará como uma network de um grande grupo ou para já não existe essa ambição?
MF: Existe essa ambição de conseguirmos ter uma resposta competitiva em relação ao que os clientes internacionais normalmente procuram numa estrutura desse género, ou seja, a certeza de que, ao entregarem-nos os seus investimentos de media, eles são tratados com cuidado nos diferentes territórios por equipas profissionais que sabem o que é melhor. O facto de a Local Planet ser uma network mundial, mas com um posicionamento muito local, muito baseado na experiência das maiores agências independentes de cada país, vai acabar por possibilitá-lo. Na realidade, a Colombus nunca tinha conseguido ter clientes globais. A ambição da Local Planet é ter clientes globais e contas alinhadas internacionalmente. O nosso objectivo é também possibilitar que empresas portuguesas nossas clientes consigam ter apoio à sua internacionalização e à expansão nos mercados europeus, africanos, asiáticos ou no continente americano, onde a Local Planet tem presença.


“O perfil dos anunciantes está muito diferente do que era há uns anos. Nos 10 maiores anunciantes deste ano não temos nenhum banco, temos uma única empresa de telecomunicações”

 


M&P: O objectivo a curto prazo será então que a Local Planet comece a ser chamada por clientes internacionais para concursos?
MF: Exactamente. Há muitas consultas internacionais de clientes multinacionais que têm o planeta dividido em territórios, como o europeu ou o continente americano, que normalmente são tratados separadamente. A Local Planet está a fazer esforços para ser integrada nos vários pitchs que estão a decorrer neste momento.

M&P: A Nova Expressão sente que é penalizada pelos clientes por ser uma agência 100 por cento nacional? Faço a pergunta fazendo a ligação para um caso recente, o do Turismo de Portugal, em que a primeira versão do concurso da conta de meios digitais tinha umas regras que pareciam feitas à medida das agências multinacionais. Puxo até o assunto porque o Turismo de Portugal é vosso cliente.
MF: É nosso cliente, ganhámos a consulta pública há quatro anos e o contrato ainda decorre durante este ano. Também concorremos a essa nova consulta, por isso estamos coibidos de nos pronunciar. Voltando ao outro lado da pergunta, a questão é mais esta: os clientes que temos não nos penalizam por sermos uma agência portuguesa ou por não fazermos parte de um grupo internacional. O que acontece, às vezes, é que alguns grandes clientes olham para nós e pensam que podemos não ter o músculo para competir em pé de igualdade com algumas multinacionais. De facto, até temos músculo. Somos sócios em Portugal da Power Media, uma das grandes centrais de compra, e não existe, verdadeiramente, esse problema de dimensão. Costumo dizer que se fizéssemos o exercício de pegar nos clientes das agências e retirássemos os alinhamentos internacionais, a Nova Expressão, que está em 12º ou 13º lugar no ranking MediaMonitor, dependendo dos meses, estaria certamente na parte de cima da segunda metade do top 10. Nós chegamos a 1 de Janeiro de cada ano e não temos um orçamento de alinhamentos internacionais. Essa é uma questão que nos obriga a um esforço permanente e constante de new business. É um desafio podermos trabalhar com empenho para grandes e médias empresas nacionais, que são o núcleo dos nossos clientes e que nos têm ajudado a crescer ao longo dos anos.

M&P: Quer dizer com isso que os seus colegas das multinacionais estão acomodados às contas de alinhamento?
MF: Quer dizer que têm uma vida mais fácil a 1 de Janeiro do que a que nós temos. Eles sabem-no.

M&P: O perfil dos vossos clientes acaba por ser diferente do das outras agências. A Nova Expressão fechou 2015 no 12º lugar no ranking MediaMonitor, mas tem um investimento muito grande em imprensa. É, aliás, a agência de meios cujos clientes investem mais em imprensa. Porque acontece isso?
MF: Tem a ver com o perfil dos clientes. Nós tínhamos um investimento em televisão percentualmente muito baixo, mas no ano passado tivemos um crescimento significativo. Ainda não estamos ao nível que gostaríamos de estar.

M&P: Quais foram os clientes responsáveis por esse desempenho?
MF: Basicamente foi a conta do E.Leclerc que nos ajudou a reforçar muito o investimento em televisão. Também crescemos muito no digital graças à conta do Turismo de Portugal. Nós temos um investimento digital muito superior à média do mercado, está claramente no top dos investimentos digitais do mercado português. Em televisão no ano passado progredimos bastante, apesar de não termos produtos de grande consumo porque, tipicamente, são alinhamentos internacionais das grandes empresas do sector. Essa é uma das razões para não termos o investimento em televisão proporcional ao nosso share de mercado.

M&P: Parece-lhe que os suportes tradicionais de imprensa estão menos interessantes para a globalidade das agências de meios?
MF: A imprensa atravessa uma quebra progressiva do número de leitores e de audiência. Além disso, no mercado português o acesso aos canais generalistas é relativamente barato em comparação com outros países e não é muito superior ao preço da imprensa. Um bom número de anunciantes que noutros mercados tradicionalmente faz imprensa, em Portugal concentra-se na televisão porque o preço de entrada é mais acessível.

M&P: Já que falamos de imprensa, do lado das agências de meios sentem falta da edição em papel do Diário Económico, que teve uma suspensão que apanhou o mercado de surpresa?
MF: Era uma coisa que estava mais ou menos no horizonte se não aparecesse um comprador para o Económico. É sempre mau perder alguma concorrência. É sempre mais agradável ter concorrência em determinado sector. Hoje, no papel, os jornais económicos ficam organizados em termos de diários com o Jornal de Negócios, e em semanários com a Vida Económica, o OJE e o Dinheiro Vivo, que são todos realidades diferentes. Mais um jornal diário nesta área iria aumentar a concorrência e a qualidade dos produtos.

M&P: Há margem para que apareça um novo título de economia em papel ou no digital?
MF: É provável que apareça. Vamos assistir, com certeza, nos próximos meses ou no próximo ano, a alterações no panorama mediático português. A realidade do digital, que tem uma possibilidade de concretização de projectos que não tem custos industriais, permite que alguns projectos possam ensaiar essa plataforma, à semelhança do que acontece noutros países. Aliás, o próprio Diário Económico está a tentar sobreviver no online. É provável que venham a existir mais projectos na área económica no digital.

M&P: Apresentaram-lhe algum projecto ou o esqueleto de algum projecto que possa vir a ganhar forma?
MF: Por enquanto não, mas existem equipas no mercado a trabalhar nesse assunto.

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M&P: Pode adiantar alguma coisa?
MF: Não cabe a mim falar sobre o que outras pessoas estão a fazer e que ainda não é público.

M&P: Como vê o projecto da Plataforma de Media Privados de criar uma estrutura de publicidade digital, para os grupos de media nacionais, para concorrer com o Google e com o Facebook?
MF: Temos de ver bem o que vai ser feito. Ainda não consegui perceber e penso que a Plataforma ainda não tem uma ideia fechada sobre os moldes como vai funcionar. Houve uma experiência em Espanha, com os principais grupos editoriais, que não correu muito bem. Acabou por não resultar. Isto tem a ver com um problema, que é o da qualidade do inventário, do espaço digital para publicidade que cada um dos grupos vai colocar nessa plataforma. Se for um inventário secundário, sem muito interesse, não sei o que pode acontecer. Os grupos vão guardar o fundamental do inventário para eles próprios venderem? Vão colocá-lo na plataforma? A plataforma vai ser aberta e concorrencial? Vai ter em conta as difusões e audiências reais? Os números vão ser abertos? Estas são questões que levaram a que em Espanha houvesse problemas. São questões que condicionarão, com certeza, o desenvolvimento da plataforma. Achamos importante que haja uma presença forte digital de meios portugueses. A paisagem digital, nem aqui nem em país nenhum, se resume ou se pode reduzir ao Google e ao Facebook. É fundamental que haja meios nacionais, sejam eles oriundos da TV, imprensa ou rádio, que tenham uma expressão digital forte e coerente. São eles que têm a ver com a nossa realidade cultural e social. Vamos ver se os grupos se conseguem entender nessa área de uma maneira positiva quando, infelizmente, ainda não conseguiram entender-se noutras matérias.

M&P: Os anunciantes valorizam os meios digitais nacionais?
MF: Penso que sim. Claro que há uma força muito grande em relação ao Google e ao Facebook pelas razões conhecidas. Tornou-se habitual dizer que o Google sabe tudo sobre o mundo e o Faceboook sabe tudo sobre as pessoas. A diferença é que os meios portugueses sabem tudo sobre Portugal e sobre as pessoas em Portugal. É neste triângulo que se tem de jogar as coisas. A prova disso é que tem havido crescimento do digital em meios portugueses, existe potencialidade. Há um interesse efectivo por anunciar naqueles que são mais lidos e que, por exemplo, têm melhores plataformas móveis, que hoje são um factor absolutamente decisivo.

M&P: Passemos à televisão. Parece que não há mês em que os canais de cabo não ganhem quota aos generalistas. Há maneira de os canais generalistas conseguirem travar a queda?
MF: Sobre os generalistas, gosto de citar o Mark Twain em relação ao caso do jornal que noticiou a sua morte. A morte da televisão generalista ainda é largamente exagerada, ela vai continuar a existir, ainda é dominante e capta a maior fatia do investimento publicitário. Aqui é interessante voltarmos ao ponto do digital. Hoje temos formas de consumo de televisão que não as fórmulas tradicionais. Os conteúdos gerados em televisão acabam por ter uma audiência para além da sua emissão linear. Nos próximos anos vamos assistir a uma progressiva transferência da forma de ver televisão em ecrãs grandes de plasma nas nossas salas para ecrãs mais pequenos ou para a Smart TV ou para a Apple TV. Em Portugal há um esforço grande para que a rede de fibra óptica se estenda por todo o país, que continua a ser o factor mais relevante para a utilização de banda larga. As estatísticas da Anacom indicam claramente que, à medida que a fibra óptica entra em determinadas regiões, altera-se o padrão de consumo da internet. Isso tem consequências na visualização de vídeo. Também sabemos que o consumo de internet tem o seu pico na altura de prime time de televisão e que à volta de 60 por cento das pessoas têm double screening. Tudo isto são fenómenos que alteram o padrão de comportamento em relação à televisão. Não penso que a televisão generalista vá deixar de existir nos próximos anos, arranjará forma de se reconverter. É provável que ainda desça alguns pontos de audiência.

M&P: Neste panorama, qual o papel da televisão pública? Faço a questão tendo em conta que foi director do segundo canal. Como vê a nova administração?
MF: Esta administração está a fazer o seu caminho e está, com certeza, a encontrar um rumo. Não existe ainda um rumo para o serviço público de televisão em Portugal. Não sou o único a dizê-lo, mas esta opinião é exclusivamente individual. A RTP não é só a RTP1 e a RTP2, é um conjunto de canais de televisão e de rádio e existe alguma esquizofrenia na definição dos sectores que devem tocar. Claramente a RTP precisa de melhor definição para ser melhor compreendida pelo público e pelos stakeholders do mercado.

M&P: Como vê, por exemplo, a actual RTP2?
MF: Não gosto muito de falar sobre os sítios por onde passei e onde fui feliz. A Teresa Paixão [directora de programas da RTP2], que, aliás, trabalhou comigo quando estive no segundo canal, está a fazer o seu melhor com os dados que tem. Alterou-se um pouco a matriz do que as coisas eram, mas acho que há falta de definição. Já houve uma definição mais clara do papel de cada um dos canais do grupo do que a que há hoje.

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M&P: Que mudança houve com a entrada do consumo diferido nos relatórios das audiências de TV? Em Março a SIC Notícias reivindicou a liderança no cabo, quando na realidade se referia apenas ao consumo de TV em directo, uma vez que, juntando o consumo directo e o diferido, quem ficou à frente foi o canal Hollywood.
MF: Tanto quanto é possível ver ao fim de mês e meio, o que ainda é pouco significativo, percebe-se que o consumo em diferido tem mais peso nos canais do universo da pay TV. Há uma pequena incidência em prime time nos generalistas entre quem vê uma novela em directo e depois vai ver outra em diferido, ou entre alguém que está a ver futebol em directo e depois alguém vai ver a novela que passava no mesmo horário noutro canal. Há fenómenos destes, mas não são verdadeiramente significativos. Isto produz alguma variação dos ratings, portanto tem impacto comercial, mas ainda é cedo para determinar o verdadeiro impacto. Já no cabo manifesta-se nos canais com séries e filmes, como esse exemplo do Hollywood.

M&P: Este ano poderá haver um crescimento real do investimento publicitário nos canais generalistas?
MF: Não está a haver até agora. Ainda não há números certos do primeiro trimestre, mas a realidade do mercado ainda não o mostra. O mês de Janeiro foi relativamente fraco, Fevereiro foi melhor, mas ainda não sabemos como foi Março [entrevista realizada a 14 de Abril]. Diria que neste momento não há um crescimento significativo nos canais FTA. Há algum crescimento do cabo, que tem a ver com o peso progressivo dos canais de cabo.

M&P: Qual o impacto que a CMTV pode vir a ter em termos de investimento?
MF: A CMTV, desde que passou a estar nas duas plataformas, Meo e NOS, passou claramente a disputar a liderança. Está permanente no top 3, top 4 dos canais. Há semanas e momentos da semana em que é número 1. É claramente um canal para seguir com atenção.

M&P: Em termos globais de mercado, o primeiro trimestre terá então sido estável…
MF: Sem grandes crescimentos. É muito difícil fazer previsões. Em 2015 chegámos ao fim do primeiro semestre com crescimento de 9 por cento em termos reais e acabámos o ano nos três pontos e qualquer coisa. O segundo semestre do ano passado teve instabilidade política e falta de decisões na área da economia, que acabaram por prejudicar o investimento publicitário. Esse semestre, em termos objectivos, caiu bastante. Este primeiro semestre pode correr bem, há alguns pontos que podem servir de animação. Mas também notamos que o perfil dos actuais anunciantes está muito diferente do que era há uns anos. Nos 10 maiores anunciantes deste ano não temos nenhum banco. É uma situação que não existia, a banca era um sector importante do investimento. Temos uma única empresa de telecomunicações nos 10 maiores investidores, que é a NOS. Normalmente tínhamos duas das três principais empresas de telecom. Mesmo a própria grande distribuição alimentar costumava ter uma presença maior. Hoje tem o Continente e o Intermarché bastante atrás. O Pingo Doce já não está tão próximo. O mercado mudou.


“Os instrumentos de medição causam sempre polémica, sobretudo para quem não está em primeiro lugar”


Manuel Falcão comenta a decisão de o Observador sair do Netscope, defendendo os instrumentos que existem actualmente no mercado

M&P: Como viu a decisão de o Observador sair do Netscope com críticas muito precisas ao sistema de medição da audiência online?
MF: Quando se tenta ter um painel com regras comuns, aceites por toda a gente como é o caso dos painéis que a Marktest elabora, é muito difícil que toda a gente esteja integralmente contente. O mercado em geral tem confiança nos métodos e nos sistemas utilizados pela Marktest, que são a referência que nós utilizamos. A História tem mostrado que quando alguém não quer estar num painel da Marktest é porque tem medições próprias que indicam valores diferentes ou porque não quer submeter as suas medições a essas bitolas. Tenho pena que o Observador tenha decidido sair porque fica muito complicado comparar o incomparável, porque os sistemas de medição do Observador são baseados em premissas que não são iguais às dos outros que estão a ser auditados – isto independentemente da justeza ou não das razões. Deixa de haver um ponto de comparação efectivo. Toda a gente perde se deixar de haver esse ponto de comparação.

M&P: Este movimento pode levar a que haja menos investimento por parte das agências de meios no Observador?
MF: É muito cedo para dizer isso, mas vamos imaginar que havia uma televisão que tinha um sistema de medição próprio que lhe era mais favorável. Uma TV que dizia que, em vez de 28 por cento de share, tinha 32, e que não queria esse sistema de audiências mas queria outro. O mercado ficava desequilibrado. Acreditamos em quem? O preço do rating vai ser qual? O que corresponde à medição que o mercado aceitou ou o que determinado órgão faz com uma metodologia própria que, apesar de tudo, não é tão escrutinada?

M&P: O Observador levantava a questão de o Netscope não medir todo o consumo dos conteúdos digitais, como é o caso das apps que poderão, segundo eles, representar 10 a 20 por cento da audiência. O Netscope não faz uma radiografia incompleta das audiências no digital?
MF: Não é só o Observador que tem apps. Isso aplica-se tanto às apps do Observador, como às dos outros meios, já que quase todos as têm.

M&P: A declaração do Observador em que anunciava a saída do Netscpe também referia uma questão de desconforto que existia em alguns meios sobre o facto de as audiências do Expresso integrarem a revista Blitz e a Exame Informática, o que seria uma forma de o jornal apresentar audiências mais robustas. O mesmo acontecia com o Jornal de Notícias e o Ocasião.
MF: Não penso que essas medições marginais sejam verdadeiramente significativas no bolo central.

M&P: Os sistemas de medição de audiências no digital parecem cada vez mais sofisticados, mais apurados, mas depois no papel parece que as coisas já não são assim…
MF: O Bareme da Marktest faz o trabalho que tem de fazer na medição por estudo de avaliação. A APCT, que faz a auditoria das tiragens e da circulação, tem feito um esforço enorme nos últimos anos para credibilizar os dados que disponibiliza, no sentido de utilizar sistemas e de criar plataformas para que a sua medição seja integrada no planeamento, coisa que não existia há uns anos. Tem-se progredido na imprensa em papel no que diz respeito à medição da circulação. Toda a gente está confortável com os dados que temos.

M&P: Ciclicamente a questão das audiências é motivo para polémica ou para manifestações de desconforto. Há então todas as razões para acreditar nos instrumentos que existem no mercado?
MF: Os instrumentos de medição causam sempre polémica, sobretudo para quem não está em primeiro lugar. Faz parte da vida, aqui ou na China. Esses instrumentos partem de um entendimento comum, de um sistema consensualmente aprovado, que as várias partes aceitam. No caso dos meios, existe a CAEM que junta todas as partes do processo, os publishers, os grupos de media, os anunciantes e as agências de meios que tentam, entre todos, consensualizar as regras do mercado. Têm-se dado passos nesse sentido. Nem sempre se tem a mesma opinião, mas no fim do dia toda a gente gosta que haja uma medição uniforme do mercado.

 

 

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“Há espaço para todos, menos para quem denigre a profissão”

A GCI passou a contar com Nuno Leite como chief operating officer. Um pretexto para fazer o balanço das actividades da consultora de comunicação


A GCI passou a contar com Nuno Leite como chief operating officer. Um pretexto para fazer o balanço das actividades da consultora de comunicação.


Nuno Leite assumiu há duas semanas o cargo de chief operating officer da GCI, ficando responsável pela definição dos planos e linhas estratégicas da empresa, coordenação das direcções executivas e orientação estratégica dos clientes de topo. O consultor de 38 anos, que esteve nos últimos três anos e meio na Hill+Knowlton Strategies, onde dirigiu a unidade de comunicação institucional, tinha já trabalhado na GCI durante sete anos, agência de onde saiu em 2012 para integrar a agência do grupo WPP.

Meios & Publicidade (M&P): Por que é necessário um COO na agência?
Nuno Leite (NL): O José Manuel Costa mantém as funções de CEO, mas a minha entrada ambiciona libertá-lo a curto prazo de algumas funções que continua a ter e reforçar a direcção-geral de operações. Vou rever uma serie de processos e metodologias de trabalho da empresa e prestar especial atenção à orientação estratégia dos clientes de topo.

M&P: Será o sucessor de José Manuel Costa?
NL: De todo. O José Manuel Costa é o accionista maioritário da empresa, ambiciona é libertar-se de algumas funções executivas, mas não com o objectivo de eu assumir a liderança una da empresa.

M&P: Como encontrou a GCI neste regresso?
NL: Bastante diferente. O meu regresso dá-se de uma forma inesperada. Estive dentro do grupo WPP cerca de três anos e meio, através da Hill+Knowlton. Tracei objectivos muito claros para a minha passagem pela Hill+Knowlton. A não ser acontecesse uma surpresa, ficaria entre três a quatro anos. Cumprido esse objectivo, em que recebi bastante e dei outro tanto à estrutura, tinha outras duas hipóteses em cima da mesa que estava a ponderar para a mudança que iria acontecer no primeiro semestre do ano. As hipóteses eram outra consultora do mercado e uma multinacional como responsável de comunicação. Esta foi uma proposta inesperada e que resultou de um almoço com José Manuel Costa.

M&P: A outra agência de comunicação era um concorrente directo?
NL: Não vou dizer qual era. Tratava-se de um processo em aberto em que tinha um convite para entrar para uma posição de topo. Acho que esta possibilidade de vir para a GCI foi inesperada até para o José Manuel Costa. Após a tal conversa, abriu-se essa possibilidade de vir e perceber o que é a GCI actualmente. A GCI tem 41 pessoas. Continua a ser uma empresa grande para a dimensão daquilo que é a maioria do tecido de consultoras de comunicação. Encontrei uma empresa diferente, mais madura e com um quociente de inovação. Sempre vi a GCI como uma consultora de projectos verdadeiramente holísticos, que envolvem quase todas as disciplinas da consultoria de comunicação. Aliás, tentei implementar essa visão em alguns projectos que montei com a minha equipa na Hill+Knowlton. Continuo a ver grandes projectos nesta casa, como Missão Continente ou o Open Innovation para a Sociedade Ponto Verde. Vejo claramente a GCI focada em montar esses projectos, mesmo pela grande marca de sustentabilidade que são os Green Project Awards. Os Food & Nutrition Awards e o Smart Waste Portugal também são projectos montados cá dentro.

 

 

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M&P: O caminho é vender esse tipo de projectos aos clientes?
NL: Somos uma empresa e temos de ter resultados operacionais que permitam estarem saudáveis e sustentáveis no pilar financeiro. O caminho é esse, mas não é pela venda. Tem a ver com a orientação estratégica da empresa. Muitas agências dizem no mercado que são uma consultora estratégica. Nós saímos da comunicação muito verticalizada e orientada sobretudo para o stakeholder comunicação social. O que a GCI faz é estudar a fundo os nossos clientes, o mercado e a concorrência. Depois, descomplicamos a relação que essas empresas, clientes e potencias clientes que têm com essa matriz de stakeholders complexa que tem influência no negócio das empresas.

M&P: Trouxe algum cliente da Hill+Knowlton?
NL: Não, não trouxe nenhum cliente.

M&P: Aparentemente nos últimos tempos têm saído da Hill+Knowlton algumas pessoas e clientes e essas questões costumam estar relacionadas.
NL: De todo. A minha vinda para cá é muito clara, mas claro que um dos meus focos estratégicos passa pelo desenvolvimento de negócio.

M&P: Como é que nos dias de hoje se consegue ganhar um cliente?
NL: Através de um conhecimento profundo do mercado. O mercado tem de ser estudado. Aquela coisa que as agências tinham há uns anos, de prospecção de clientes com a apresentação de credenciais, não interessa hoje a ninguém. Apresentam-se as credenciais de uma empresa em 30 segundos. E depois? Temos de estudar a fundo o negócio dos nossos clientes. É aí que está a matriz das relações públicas actual, da consultoria de alto nível. A alternativa seria continuarmos a providenciar os serviços menos complexos, e não estou com isto a diminui-los. Algumas empresas sentem apenas necessidade de apoios na relação com os media, mas não é isso que acrescenta valor à GCI face a outras empresas do mercado. O que acrescenta valor é a capacidade de descomplicar a tal relação com os stakeholders e perceber a influência que têm no negócio. Temos de apresentar algo realmente estratégico que permita a um CEO perceber que estas pessoas entenderam o negócio, os seus riscos e que a proposta que vamos apresentar vai estar ligada aos objectivos de negócio.

M&P: Está a pôr o foco na questão estratégica quando se nota o movimento no mercado de várias consultoras a apresentarem-se como agências ou grupos de comunicação de serviço completo. A GCI já teve no passado essa estrutura…
NL: Teve e tem. Não vou comentar nenhuma outra empresa do mercado, tenho opiniões formadas e respeito todos. Há espaço para todos, menos para quem denigre a profissão que eu e centenas de outros colegas temos. Refiro-me a práticas que não ajudam à reputação de empresas como as nossas, seja por dumping de preços, seja por vender aquilo que não podem oferecer.

M&P: Pode concretizar?
NL: Não vou fazer comentários específicos mas já tive várias situações em que são lançados briefings ao mercado em que a orientação era o preço. Oferecia-se muito por pouco e ao fim de dois ou três meses há o regresso a outras opções, o que fez perder tempo a toda a gente. Há espaço para todas as empresas e cada uma tem o seu posicionamento. É normal que as empresas estejam a fazer esta oferta pluridisciplinar porque é essa a necessidade dos clientes. A GCI já o faz nesse formato, pelo menos, desde a última vez que cá estive. Não o fazia com a escala actual porque as necessidades dos clientes eram outras.


M&P: A sua entrada implica a criação de alguma nova área de negocio?
NL: Estou neste momento a estudar a estrutura a fundo, a olhar para a estrutura do ponto de vista macro-financeiro. Ainda é cedo para dizer se vai implicar alguma área de negócio. Não tenho no meu mandato a criação de nenhuma área de negócio, tenho sim a orientação estratégica da empresa.

M&P: Como é que a GCI está organizada actualmente?
NL: Além dos serviços financeiros e administrativos, que se querem robustos e saudáveis, a GCI tem um board constituído por duas pessoas, o CEO e o COO, neste caso o José Manuel Costa e eu próprio. Tem um comité estratégico, que integra algumas pessoas da empresa e tem um comité operacional, tem três direcções executivas. Depois tem consultores séniores e júniores e a equipa de produção e design.

M&P: Em termos financeiros, como está a agência neste momento?
NL: Está saudável e recomenda-se. Eu decidi vir para a empresa e o encontro de vontades entre a minha pessoa e os accionistas é, por si, uma mensagem. A empresa está robusta, completamente ajustada ao que é o volume de trabalho e clientes que tem. Não vou falar de números, deixamos isso para o final do ano. Está sólida após a revisão de estrutura que teve, como muitas empresas de vários sectores de actividade.


“A empresa está bem de saúde e recomenda-se. Não diria se não estivesse, nem estaria cá”

 


M&P: Pode explicar o processo de redução da estrutura?
NL: A empresa era maior, tinha mais pessoas e clientes diferentes. O reposicionamento da empresa, para estar a trabalhar sobretudo em grandes projectos ligados aos nossos clientes, também careceu de rever o tipo de recursos que a empresa tinha. Nem todos os profissionais de comunicação estão habilitados a trabalhar desta forma holística. A revisão da estrutura não se dá apenas porque o negócio diminui ou porque os clientes mudaram. Os clientes nesta área e em todas as outras consultorias, seja de gestão ou de TI, têm uma tendência cíclica para entrarem e saírem. As relações desgastam-se, as visões mudam.

M&P: Quanto facturou a GCI no ano passado?
NL: Não estava cá e portanto não é algo que esteja preparado para responder. Posso dizer que neste momento a empresa está bem de saúde e recomenda-se. Não diria se não estivesse, nem estaria cá.

M&P: Há algum tempo falava-se de questões de dívidas e salários em atraso. Isso são já questões do passado?
NL: De toda a análise que já fiz até ao presente, não existe nada que motive a minha preocupação.

M&P: Quais são os clientes que garantem maior trabalho para a GCI?
NL: Um dos maiores clientes é a Sonae, para quem temos inúmeros projectos, nomeadamente com a insígnia Continente, na área do retalho alimentar. Na indústria temos Nobre e Sidul, na gestão de resíduos um dos grandes clientes é a Sociedade Ponto Verde, existem outros como a AM3E. No associativismo trabalhamos com a APED e a Cotec, no grande consumido, a Sovena e a Unilever para diferentes marcas. Nos seguros temos Zurich, na saúde IMS, Cerner e Tecnimede. No sector público estamos a trabalhar com EMEL. Na consultoria de gestão temos a Ernest & Young. Para além destes clientes temos os projectos desenvolvidos dentro desta casa e que são hoje plataformas multi-stakeholder: Green Project Awards, Smart Waste Portugal e Food & Nutrition Awards. São projectos de civic engagment, que são plataformas que se ligam à sociedade e que encaixam interesses de múltiplas variantes, entre os quais uma série de clientes nossos. Alguns destes projectos têm raiz nacional e projecção internacional.

M&P: Qual o ponto de situação da operação em Angola?
NL: Isso seria uma conversa com o José Manuel costa. Não vou ter funções executivas a esse nível.

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“Quis ficar em Portugal e lutar por este mercado”

A 004 define-se agora como uma agência de serviço integrado “no bullshit” e que procura “fucking ideas”. João Gomes de Almeida explica por que mudou o posicionamento da empresa com a sua entrada para director criativo


A 004 define-se agora como uma agência de serviço integrado “no bullshit” e que procura “fucking ideas”. João Gomes de Almeida explica por que mudou o posicionamento da empresa com a sua entrada para director criativo


É o novo director criativo da 004, dirigida por Patrícia Reis, que se apresenta agora como uma agência de serviço integrado, deixando para trás o perfil de atelier de design. João Gomes de Almeida (28 anos) passou pela BAR e foi, até final do ano passado, director criativo da Nylon, que chegou a Agência do Ano nos Prémios Comunicação M&P. “Acredito piamente que os prémios são um bom barómetro do potencial criativo das agências. Por isso mesmo serão obviamente uma aposta da 004 a médio prazo”, defende.

Meios & Publicidade (M&P): Em termos práticos, o que está a mudar na 004 para que, com a sua entrada, a agência se apresente agora como uma agência de serviço integrado?
João Gomes de Almeida (JGA): Muita coisa, na verdade. Antes de mais mudou o nosso posicionamento, deixámos de ser um atelier para passarmos a usar a assinatura de “Fucking Ideas”. Esta assinatura demonstra efectivamente a forma como nos queremos afirmar no mercado: sabemos como ter boas ideias e sabemos que as boas ideias são as únicas que são capazes de criar uma boa relação entre


o consumidor e a marca. Paralelamente mudaram também os processos. O bom da 004 é que há 18 anos que já temos o tão bem afamado “design thinking”. O que estamos a fazer agora é adaptar esta metodologia também à publicidade, à activação e ao digital. Para além do posicionamento e dos processos, estamos também a construir uma nova filosofia de agência. Queremos ser a agência mais ágil, mais versátil, mais rápida e mais criativa do mercado – para isso estamos a cortar gorduras, fazer co-criação com os responsáveis das marcas, criar atalhos e abolir burocracias. Somos uma agência verdadeiramente “no bullshits”.

M&P: Uma agência “no bullshit”? Há muito “bullshit” na relação agência-clientes?
JGA: Com a crise as agências tiveram que se reinventar e isso trouxe coisas boas e coisas más. Uma das coisas más foi o facto de muitas terem tirado o foco da ideia, para o colocarem do lado da estratégia (algumas) e outras do lado da tecnologia. Muitas agências criativas são hoje em dia tudo menos criativas, porque realmente criatividade é o que menos interessa lá dentro

 

 


M&P: E qual o papel dos marketeers?
JGA: De um momento para o outro, os marketeers começaram a dirigir-se às agências para comprar criatividade e no balcão encontraram alguém com a filosofia de um vendedor de bomba de gasolina, que rapidamente começou a tentar impingir-lhes um monte de coisas que eles não queriam nem precisavam, apenas porque parecia mais barato comprar em pack. Chegou o momento de dizer: Back to the basics! Na 004 respeitamos o trabalho dos marketeers, queremos aprender com eles sobre as suas marcas, queremos respeitar a visão que têm da sua marca, procurar insights brilhantes, ter “fucking ideas”, desafiá-los a colocarmos em conjunto a ideia na rua e no final conseguirmos resultados brutais. Quanto mais simples e honesto for o negócio da publicidade, mais bonito também se tornará.

M&P: Pode fazer uma radiografia da 004 neste momento? Quem são os principais clientes?
JGA: A 004 tem neste momento uma equipa de oito profissionais de topo e acabámos de contratar um novo elemento para a equipa de contacto. É uma equipa extraordinariamente sénior, eu sou o segundo mais novo, e que está em mutação. É natural que nos próximos meses entrem mais pessoas, mas isso irá depender obviamente da evolução do negócio. Quanto aos principais clientes é algo sobre o qual não me vou debruçar agora. Acabámos de fechar hoje mesmo um novo cliente para um trabalho de above-the-line. É cedo ainda para falar disto, mas posso dizer que temos uma interessante carteira e com um longo historial de trabalho em parceria. A juntar a isto estamos também em new business. Aproveito o espaço para – passo o pleonasmo – desafiar os marketeers a desafiarem-nos.

M&P: O que é que a 004 pode oferecer de diferente a uma marca, face às restantes agências instaladas do mercado? Há realmente interesse por uma “boutique criativa”?
JGA: De diferente podemos oferecer tudo. Em primeiro lugar todas as marcas que trabalhamos têm o mesmo nível de prioridade, o mesmo carinho e a mesma dedicação da nossa parte. Eu estou envolvido em todo o processo, gosto de envolver os clientes na criação, temos tempo para os ouvir e o contacto é feito sempre que necessário directamente com os decisores criativos. Temos menos intermediários e por isso somos mais rápidos e diria que melhores. Em segundo lugar não temos a pretensão de achar que conhecemos uma marca melhor do que os profissionais de marketing que a trabalham diariamente. Na 004 queremos trabalhar ao lado das marcas, sem ter o tique e a arrogância de pensar que estamos muito à frente em relação a elas. Em terceiro e último, não vendemos tretas. O nosso trabalho é ter grandes ideias e que sejam efectivas nos resultados que tragam para as marcas. Os nossos orçamentos não têm, nem nunca vão ter, alíneas esquisitas sobre as quais o cliente não sabe o que está a pagar. Quanto ao interesse pelas boutiques criativas, é um facto que estão na moda em todo o mundo e Portugal certamente não é excepção. Não sei é se as agências instaladas têm interesse em que apareçam novas agências a porem em causa a sua suposta superioridade criativa e “estratégica”.

M&P: Em termos internacionais ou locais, que “boutiques criativas” podem servir de inspiração para a 004?
JGA: Há vários exemplos a nível internacional. A que mais me identifico é a Pereira & O’Dell, que foi uma agência que vingou quer em negócio, e que trabalha, por exemplo Intel, Coca-Cola, Dell, Skype e Uber, quer ao nível de prémios, já que a AdAge nomeou-a 2015 Stand Out Advertising Agency of the year. Paralelamente o PJ Pereira é ele mesmo um revolucionário. É um programador que virou copy, é um criativo digital que há anos que diz que não faz sentido falar de digital e é o pioneiro do brand entertainment.


“Os marketeers começaram a dirigir-se às agências para comprar criatividade e no balcão encontraram alguém com a filosofia de um vendedor de bomba de gasolina”

 

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M&P: Pela sua experiência na Nylon e na BAR, acha que os clientes estão mesmo interessados no potencial das ideias? Há margem no mercado para arriscar?
JGA: Quer na Nylon quer na BAR tive a oportunidade de levar para a frente grandes ideias. Há cada vez mais margem para arriscar. Este risco tem é que ser partilhado entre o anunciante e a agência, por isso é que a co-criação é tão importante. Não se pode arriscar só porque sim, só para fazer uma coisa maluca – a criatividade tem que estar alinhada com a estratégia da marca, só estando alinhada é que não corre o risco de se tornar refém da mesma.

M&P: Durante pouco mais de um ano foi director criativo da Nylon. O que o levou a ficar tão pouco tempo na agência?
JGA: Quando fui para a Nylon prometi a quem me contratou que ia fazer da agência uma referência do ponto de vista criativo em Portugal. Desde sempre pensei que esse processo demoraria 2 ou 3 anos a tornar-se realidade. Em apenas um ano a Nylon ganhou 29 prémios nacionais e internacionais de criatividade, contando só com os trabalhos criados com a minha direcção criativa. Fomos Agência do Ano nos Prémios de Comunicação Meios & Publicidade, os trabalhos que criámos foram notícia em todo o mundo e a Nylon tornou-se indiscutivelmente uma das referências criativas nas novas agências de publicidade em Portugal. Obviamente que não consegui tudo isto sozinho, foi um trabalho de toda a equipa. Mas a verdade é que um ano após a minha entrada o objectivo estava cumprido. Não sou um profissional de se acomodar e ficar parado. Por isso é que decidi sair e comunicar essa decisão ao CEO da agência. Precisava de um novo desafio, onde tivesse um papel mais activo na definição da filosofia e dos processos da agência. Aproveito para referir que a Nylon e o seu CEO sempre se comportaram exemplarmente ao longo deste processo.


M&P: Pouco tempo depois de sair da Nylon, o grupo YoungNetwork anunciou que iria deixar a estrutura accionista da agência. Existe alguma relação entre estes dois factos?
JGA: Penso que não. Respondi sempre directamente ao CEO da Nylon e nunca tive nenhuma reunião ou qualquer tipo de contacto com os decisores da YoungNetwork.


M&P: Quando entrou para a Nylon era logo um objectivo inicial coloca-la na rota dos prémios e dos festivais? Pretende fazer o mesmo na 004?
JGA: Entrei para a publicidade como gestor de redes sociais na BAR, passados uns meses ganhei um Ouro e uma Prata nos Young Lions e virei copywriter. Para mim os prémios sempre foram um objectivo e também o resultado do bom trabalho criativo que tentei sempre desenvolver – não só na Nylon como também na BAR. Acredito piamente que os prémios são um bom barómetro do potencial criativo das agências. Por isso mesmo serão obviamente uma aposta da 004 a médio prazo.


M&P: Teve outras ofertas em cima da mesa antes de avançar para a 004?
JGA: Tive algumas propostas em Portugal e fui sondado no Brasil. Por uma questão de decoro não vou falar sobre essas propostas, seria deselegante da minha parte e não acrescentaria nada a esta entrevista. Posso apenas dizer que sempre quis ficar em Portugal e lutar por este mercado. Acredito mesmo na criatividade portuguesa feita em Portugal.


M&P: Foi cinco vezes premiado nos Cannes Young Lions Portugal, duas delas com ouro e tem mais de 70 prémios em festivais nacionais e internacionais. Considera-se um dos criativos-estrela da sua geração?
JGA: Para ser criativo-estrela em Portugal teria que trabalhar em Londres, Reykjavik ou São Francisco. Em 2015 fui jurado no FIAP (México), FIP (Buenos Aires), El Ojo (Buenos Aires), Creativity International Awards (Louisville), AME Awards (Nova Iorque) e New York Festival. Na última semana fui convidado para ser jurado em mais dois festivais internacionais, um dos quais novamente em Nova Iorque e outro na Europa. Sabe de quantos prémios fui jurado em Portugal? Apenas dos jovens criativos do Eurobest… Isto para dizer que esse conceito do criativo-estrela infelizmente já não existe em Portugal. Embora sinta, isso sim, reconhecimento do meu trabalho por parte dos clientes, alguns colegas e dos media da área. Isso é o que realmente importa.

 

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Frederico Paiva

Frederico Paiva, director de negócio da Samsung Portugal, explica por que decidiu a marca assumir pela primeira vez o estatuto de patrocinador oficial do Rock in Rio


Frederico Paiva, director de negócio da Samsung Portugal, explica por que decidiu a marca assumir pela primeira vez o estatuto de patrocinador oficial do Rock in Rio

“Na Samsung Portugal já tivemos vários projectos world first”

A Samsung vai patrocinar a edição deste ano do Rock in Rio Lisboa. A marca, que entrou no festival em 2014 com o estatuto de apoio, assume agora o título de patrocinador, ao lado do Continente, EDP ou Pepsi. O contrato é válido apenas para uma edição. A Vodafone continua com o título de patrocinador principal. A empresa coreana estará presente com a marca Samsung Galaxy, prometendo levar a experiência dos smartphones e wearables para o evento. Em entrevista ao M&P, Frederico Paiva, director de negócio da Samsung Portugal, levanta a ponta do véu sobre o projecto, prometendo elevar a fasquia tecnológica do festival. Se no território do futebol a Samsung fez a primeira transmissão do mundo em realidade virtual de um jogo de futebol e na moda criou uma app para a smart TV associada à Moda Lisboa, para o Rock in Rio, sem detalhar, Frederico Paiva promete uma “experiência inovadora”. Sobre vendas, refere apenas que “a Samsung trabalha e tem conseguido ser líder em Portugal”.

Meios & Publicidade (M&P): Porquê a opção por estar no Rock in Rio como Samsung Galaxy e não apenas com Samsung?
Frederico Paiva (FP): Vamos estar com a nossa área de mobilidade, que vai trabalhar mais este território de música. Em diferentes territórios, utilizamos uma área de negócio ou uma área de produtos especificos da Samsung. Por exemplo, na área de cooking trabalhamos com a área de digital appliances, no futebol temos feito mais push com a área de televisão. Tivemos recentemente uma campanha em que, com o equipamento topo de gama de televisão, oferecíamos uma camisola do clube preferido da primeira liga. Agora temos uma campanha com subscrições de canais premium de desporto. Na música, a área que tinha mais complementaridade e que queríamos dinamizar era a da mobilidade, daí entrarmos com Samsung Galaxy.

M&P: Comunicaram o patrocínio em Dezembro. Tinham decidido há muito tempo a associação ao festival?
FP: A estratégia traçada no início de 2015 passava por estarmos em quatro territórios: futebol, moda, surf e música. Achámos que esta seria uma boa forma de entrar no território da música. Sabemos que vai ter efeitos mais em 2016 mas queríamos começar ainda em 2015 para aproveitar o Natal. Entrámos ainda no território do cooking onde temos um projecto piloto no Mercado da Ribeira, onde somos parceiros tecnológicos.

M&P: Presumo que tenha ouvido outros organizadores de festivais. O que o fez optar pelo Rock in Rio que, à partida, será mais caro do que os outros festivais?
FP: Não teve a ver com a oferta de outros festivais, até porque os eventos na área da música são diferentes entre si. Sentimos que este é um evento que está muito baseado em family entertainment, que em termos de timings fazia sentido com o nosso road map de lançamentos de produtos e fazia sentido também do ponto de vista de experiências que podem vir a ser executadas. Por outro lado, já tínhamos uma relação de parceria com o Rock in Rio em que éramos, desde a edição de 2014, marca de apoio. Havia uma base sobre a qual era mais fácil construir a edição de 2016.

M&P: As vendas Galaxy dos próximos meses estarão sempre alavancadas no Rock in Rio?
FP: Mesmo sem contar com este efeito Rock in Rio, o nosso device topo de gama tem o segundo melhor resultado de vendas a nível europeu. Diria que o melhor só pode tornar-se ainda melhor. Estamos à procura de alargar a experiência e enriquecer a oferta de valor em relação ao nosso topo de gama, mais do que esperar uma alavancagem enorme das vendas.

M&P: Haverá um Galaxy Rock in Rio?
FP: (risos) Começámos com uma campanha promocional forte. O nosso equipamento topo de gama com a oferta de um bilhete Rock in Rio foi um dos presentes que os consumidores mais puderam desejar neste Natal. Vamos seguir agora um road map de actividades comercial, promocional e de marketing em que os vários momentos Rock in Rio encaixam com o nosso plano comercial e promocional.

M&P: Referiu na apresentação do patrocínio que queria ter um projecto de referência internacional no âmbito do patrocínio. O que se poderá esperar?
FP: Desde que estou na Samsung que tivemos vários projectos world first. Tivemos a primeira transmissão de um jogo de futebol em 4k em multiplataforma em 2014 com um jogo de treino Portugal-Grécia, em 2015 tivemos a primeira transmissão de um jogo de realidade virtual, no Porto-Benfica, e tivemos em Peniche a primeira transmissão de realidade virtual de um evento de surf. Estamos claramente a lançar e a colocar a fasquia alta. Só me parece possível olhar para o Rock in Rio com a proposta de uma experiência que seja a primeira no mundo ou que seja completamente disruptiva.

M&P: Consegue fazer esses projectos porque tem orçamento ou porque o mercado português o permite?
FP: É uma conjugação de vários factores. O primeiro é a equipa, a vontade e inquietude de fazer algo que seja pioneiro. Temos um ecossistema tecnológico avançado em termos de redes e de equipamentos. Temos as condições e a vontade de o pôr em pratica. Muitas vezes não são questões puramente de orçamento, são questões técnicas e tecnológicas.

M&P: Vão aproveitar o festival para apresentar inovações em termos de wereables?
FP: A activação tradicional em grandes formatos, como as rodas gigantes, não seria muito aquilo que era expectável para a Samsung. Vamos tentar, através da conectividade e da tecnologia assente nos wereables, poder ter experiências inovadoras no recinto e que possam utilizar a plenitude da tecnologia que a Samsung tem ao seu dispor. É muito mais essa a expectativa que os consumidores têm em relação a nós, mais do que estarmos na roda gigante.

M&P: Olhando para 2015, que balanço faz do comportamento do mercado?
FP: O mercado da electrónica de consumo teve um ano difícil, mas a Samsung cresceu quase dois dígitos nas vendas. Ao nível do que foi o reforço da marca, entrou em novos territórios, afirmou a tecnologia como factor referencial na disponibilização de produtos e soluções, reforçou a área empresarial. Consolidámos 2015 como um ano muito importante, o que nos abre todas as expectativas positivas para 2016.

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Nuno Pinto de Magalhães

No último ano o ICAP analisou sete denúncias. Nuno Pinto de Magalhães explica por que tem o sector a ganhar em dar força à auto-regulação. Código de Auto-Regulação para Produtos Cosméticos pode estar para breve


No último ano o ICAP analisou sete denúncias. Nuno Pinto de Magalhães explica por que tem o sector a ganhar em dar força à auto-regulação. Código de Auto-Regulação para Produtos Cosméticos pode estar para breve
“Melhor auto-regulação, significa menos legislação”


O director de comunicação e relações institucionais da Sociedade Central de Cervejas, Nuno Pinto de Magalhães, assumiu no fim de 2014 a presidência do Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial (ICAP), em representação da APAN. Em entrevista, Nuno Pinto de Magalhães questiona a vontade do anterior governo em impor um visto prévio à publicidade de telecomunicações. “Porquê sobrecarregar o Estado de recursos administrativos e financeiros se o sistema complementar que o ICAP preconiza poderia exercer essa função de triagem com maior celeridade e qualidade?”

Meios & Publicidade (M&P): A auto-regulação pode ser considerada uma forma de as marcas evitarem maiores ou novas restrições legais à sua comunicação comercial?
Nuno Pinto de Magalhães (NPM): É mesmo esse um dos principais objectivos da auto-regulação.
A actividade legislativa do Estado só deve ser exercida em última instância e incidir sobre sectores conturbados que mereçam ser regulados. Se a auto-regulação estiver adequadamente implementada, como é o caso de Portugal, através do ICAP, na comunicação comercial, esvazia-se o fundamento da intervenção do legislador porquanto está salvaguardada a defesa dos direitos em causa. No fundo, melhor auto-regulação para menos legislação.

M&P: Qual a abordagem do ICAP quando lhe é solicitava, por parte de uma entidade pública ou associação, uma opinião ou parecer sobre determinada matéria ou alteração legislativa?
NPM: De total abertura e disponibilidade. Aliás, determinadas entidades públicas convidam o ICAP a pronunciar-se. E não é de estranhar se tivermos em conta que o ICAP se encontra enriquecido pela sua especialidade em matéria de publicidade e outras formas de comunicação comercial.


M&P: O Código da Publicidade proposto pelo governo PSD/CDS consagrava pela primeira vez a auto-regulação, no entanto, impunha um visto prévio a todas as campanhas de telecomunicações. É sinal que o legislador desconfia da auto-regulação?
NPM: A previsão da consagração legal da auto-regulação foi uma manifestação inequívoca do reconhecimento das vantagens que o Estado, consumidores e agentes económicos poderiam beneficiar com a auto-regulação. Por outro lado, tal consagração reflectia tão só aquilo que numerosas directivas europeias vêm sugerindo aos Estados membros. Sobre o visto prévio do regulador nas campanhas das telecomunicações, como também sucede noutros sectores de actividade, estamos em plena discordância. Porquê sobrecarregar o Estado de recursos administrativos e financeiros se o sistema complementar que o ICAP preconiza poderia exercer essa função de triagem com maior celeridade, e mesmo qualidade se atendermos à especialização dos membros da estrutura do ICAP, o Júri de Ética e o Gabinete Técnico-Jurídico. Releve-se que isto não representa uma intromissão nas competências do regulador, pois este sempre poderia conduzir uma monitorização, de preferência implacável, junto de eventuais infractores. Todavia, sabendo que o ICAP analisaria as campanhas com base em normas éticas e que estas são mais restritivas do que as legais, duvido que os houvesse.


M&P: Que expectativas tem para esta matéria em relação ao novo governo?
NPM: De que irá apostar efectivamente na auto-regulação numa perspectiva de futuro e de reconhecimento de que esta a todos aproveitará.


M&P: Em Outubro de 2014 foi assinado o Código de Auto-Regulação da Comunicação Comercial em Matéria de Bebidas Alcoólicas – Vinhos e Espirituosas. É já possível fazer um balanço desta iniciativa?
NPM: De facto, faltava para termos todo o sector de bebidas alcoólicas abrangido, depois do sector cervejeiro, o dos vinhos e das espirituosas. Foi um grande passo reconhecido por todos, autoridades incluídas, nacionais e estrangeiras, sendo este código considerado, em termos de princípios, com pre-clearence no caso dos vinhos e monitorização no caso das espirituosas e cervejas, um best practice ao nível europeu. O balanço é, quanto a nós, muito positivo. O ano de 2015 foi de adaptação dos diversos subscritores aos mecanismos que se impunham. “O caminho faz-se caminhando”, estando certo que 2016 iremos continuar a ajustar o modus operandi.


M&P: Estão a trabalhar neste momento em mais algum código de auto-regulação? Há algum sector em que poderia ser interessante as empresas criarem um conjunto de regras de auto-regulação?
NPM: Destacamos o Código de Auto-Regulação da Publicidade e Outras Formas de Comunicação Comercial em Matéria de Produtos Cosméticos, projecto que já fizemos chegar à AIC – Associação dos Industriais de Cosmética, Perfumaria e Higiene Pessoal. Quanto a outros normativos éticos, que temos em carteira e em diálogo com os intervenientes adequados e cuja divulgação não é oportuna, reiteramos a nossa disponibilidade para os adoptar e implementá-los, a bem da auto-regulação. O ICAP tem um Código de Conduta transversal e agregador de múltiplas disciplinas e formas de comunicação. Desafiamos incessantemente a indústria a nos fazerem chegar os receios sectoriais que porventura sintam.


“Um dos factores do decréscimo do número de reclamações pode resultar do aumento significativo dos copy-advices”



M&P: Em termos de disputa entre anunciantes, quantos casos analisou o ICAP no ano passado? Em relação a anos anteriores, como tem evoluído o número de deliberações?
NPM: O ano passado registaram-se sete queixas. Da evolução é-nos difícil falar. De facto, tem vindo a ser demonstrado que o número de queixas é imprevisível de ano para ano. A título exemplificativo mas relevante, um dos factores do decréscimo do número de reclamações pode resultar do aumento significativo dos copy-advices. Ao abrigo do princípio da transparência, para além do site do ICAP que detém toda a informação, inclusivamente das partes envolvidas sobre as queixas interpostas, passámos também este ano a ter uma newsletter electrónica, que vai para todos os nossos associados e outros stakeholders, com a mesma informação em tempo útil.


M&P: Mas os anunciantes ou agências recorrem ao sistema de copy advice do ICAP que permite o aconselhamento jurídico sobre o anúncio de uma campanha publicitária antes da sua difusão? Quantos recorreram no ano passado?
NPM: A possibilidade de os associados do ICAP poderem recorrer, gratuitamente, ao copy advice prévio, é uma ferramenta que gostaríamos que fosse ainda mais utilizada, nomeadamente pelas agências de publicidade, pois seria mais eficaz na prevenção de inconformidades e pouparia certamente custos aos associados, nomeadamente com a necessidade de apoio jurídico específico. Mesmo assim, em 2015 tivemos 81 pedidos de copy advices o que significou um aumento de cerca de 17 por cento em termos de variação homóloga. Estes dados, que estamos aqui pela primeira vez a comunicá-los em termos públicos, traduzem a crescente responsabilidade de todos os agentes publicitários, anunciantes, meios e agências, e contribuem para a dignificação da sua actividade e respeito pelos consumidores.


M&P: Costuma ser apontado ao ICAP que, muitas vezes, as deliberações só são divulgadas depois de as campanhas não estarem no ar, impedindo assim a eficácia da deliberação. Concorda com esta crítica?
NPM: Não como crítica. Estes casos acontecem essencialmente em campanhas de curta duração, veiculadas em TV ou em digital. Daí recomendarmos o copy advice, conforme expliquei antes. Devemos ter presente sobre esta contingência que o ICAP está sujeito a uma tramitação específica que garanta a defesa de todas as partes envolvidas. A saber: a observância do princípio do contraditório, o que quer dizer que o júri não pode deliberar sem a defesa da parte visada, e a interposição da queixa ser por nós recepcionada quando a publicidade foi, faz tempo, veiculada.


M&P: A generalidade do consumidor comum desconhece a existência do ICAP. Quantas queixas receberam de cidadãos comuns no ano passado? Pretendem divulgar mais o ICAP junto da sociedade civil?
NPM: O comportamento tradicional dos consumidores portugueses, em tudo o que interage com os seus direitos, é de algum laxismo nas reclamações/queixas. Mas este comportamento está a mudar e ainda bem. Temos de continuar no caminho seguido nos últimos anos e que consta do nosso Plano de Actividades de campanhas de notoriedade do ICAP, que permita ao consumidor saber da possibilidade de nos utilizar, a par de outras organizações existentes, para se fazer ouvir e valer em tudo o que considere que a comunicação comercial/publicitária feriu os seus direitos e salvaguarda. Em 2015 não existiram queixas formais de consumidores, ao contrário de anos anteriores, não obstante os numerosos contactos de esclarecimento e não só que os particulares nos dirigiram. Quer isto dizer que estes, apesar de terem um formulário de simples preenchimento no site do ICAP e de poderem contar com o apoio do secretariado, acabam por não formalizar as reclamações, pois, muitas vezes, os contados havidos com o ICAP esclarecem as suas dúvidas ou processos de intenção. Note-se que estas potenciais queixas são gratuitas para os consumidores e para as associações que os representam, com as quais temos vindo a desenvolver um profícuo inter-relacionamento.


M&P: É inevitável perguntar-lhe, enquanto head of corporate affairs da Sociedade Central de Cervejas, como viu a decisão do júri do ICAP de impedir a Sagres de se afirmar como “A Cerveja Oficial do Futebol”.
NPM: Apesar de eu ter, para este efeito, estes “dois casacos”, é a prova provada que o Júri de Ética é um órgão completamente independente da direcção do ICAP.

ICAP

Cinco decisões do ICAP analisadas à lupa

O M&P esteve a ler as deliberações do Júri de Ética ICAP referentes a 2015. Seguem-se as disputas mais relevantes, atravessando os sectores das bebida, azeite, detergentes e telecomunicações

 

Não há cerveja oficial do futebol
Uma guerra comercial clássica: Super Bock vs Sagres. A Unicer apresentou queixa contra a Sociedade Central de Cervejas e Bebidas pelo facto de a Sagres ter usado numa publicidade em TV a frase “A Cerveja Oficial do Futebol”. A empresa da Super Bock alegava que se estava perante uma “publicidade ilícita, falsa e enganosa, com violação das normas que consagram os princípios da honestidade e da veracidade da publicidade, que proíbem, em especial, a publicidade enganosa”, já que a marca da Unicer tem contratos de patrocínio nesta modalidade.
A Sagres alegou que a campanha esteve apenas presente em estádios de futebol, e não na televisão, e que era realizada no âmbito de “contratos de patrocínio validamente celebrados com as entidades detentoras de tais direitos”, englobando a Liga Portuguesa de Futebol, Primeira Liga, Taça da Liga e competições profissionais das selecções. Além disso, a Sagres relembrou que era “a marca mais espontaneamente associada em Portugal a este tipo de desporto”.
O júri considerou que a expressão “cerveja oficial” não comporta qualquer ambiguidade, isto é, o título teria de ser atribuído pelas autoridades competentes como um direito exclusivo. Desta forma, a expressão “oficial” correspondia a uma utilização não autorizada e só poderia ser aplicada caso patrocinasse em exclusivo todos os eventos e acções da modalidade. “A expressão é susceptível de induzir em erro o consumidor médio quanto à qualidade do anunciante, no sentido de um reconhecimento ou aprovação oficiais”, refere o júri. Resultado: a Sagres não pode apresentar-se como “A Cerveja Oficial do Futebol”.

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O tamanho do olival da Oliveira da Serra
Outra disputa, agora nos azeites: Gallo Worldwide vs Sovena Portugal. O ICAP analisou quatro expressões após queixa da Gallo contra a Sovena: “Nasceu no maior olival do mundo”, “Cresceu no melhor lagar do mundo”, “E conquistou os maiores especialistas em todo o mundo” e “Oliveira da Serra, a marca portuguesa de azeite mais premiada do mundo”. A primeira deliberação do júri do ICAP é longa, mas a conclusão é peremptória: “É susceptível de induzir o consumidor médio em erro quanto à superioridade do prestígio mundial da marca de azeite Oliveira da Serra consubstanciando, assim, uma prática de publicidade enganosa.”
A publicidade em causa seria para suspender. No entender do júri, o anúncio da Oliveira da Serra não apresentava nem remetia para quaisquer provas, dados, estudos ou investigações que comprovassem ou permitissem inferir as tais conclusões de superioridade. A título de exemplo, a publicidade não apresentava a qualquer estudo que demonstrasse ser a Oliveira da Serra a marca portuguesa de azeite mais premiada do mundo. “Tal não é verdade, nem sequer verosímil”, considerará o ICAP já no texto de recurso, já que a Oliveira da Serra foi registada em 1969, enquanto a Gallo “existe no mercado há mais de cem anos, ganhando prémios recorrentemente desde 1908”.
A Sovena recorreu da decisão, a argumentação foi reforçada e o júri mudou parcialmente a decisão. Assim, como justifica a Sovena, de acordo com o World Best Olive Oils, organização que classifica num ranking os azeites premiados por instituições credíveis em todo o mundo, a Oliveira da Serra é a marca portuguesa mais galardoada e a Sovena a empresa que tem o maior lagar de azeite do mundo. Desta forma, as referências de superioridade em relação ao lagar e aos prémios ficaram fundamentadas, mas o que aconteceu ao “maior olival do mundo”? Entendeu o júri que a Sovena se abastece não em um mas em três olivais situados em concelhos alentejanos diferentes (Ferreira do Alentejo, Elvas e Avis). Além disso, “não foi prova nem esta Comissão de Apelo dispõe de qualquer informação de que não exista olival maior em toda a superfície da Terra”, pode ler-se na deliberação. A expressão, não pode ser usada, portanto. Fica também o recado para os jornalistas que têm escrito nos últimos anos que “o maior olival do mundo é português”. É melhor confirmarem as fontes.

oliveira da serra

O folheto da Vodafone
A DECO não gostou do que leu num folheto da Vodafone TV NET Voz. Alegava a associação da defesa do consumidor que o preço de 25,90 euros por mês não correspondia aos serviços publicitados. No folheto eram prometidos mais de 100 canais, que, na verdade, não eram todos de televisão, o tráfego de internet até 50 Mbps não estava garantido e para usufruir da oferta de 25 euros (20 euros em videoclube e cinco para karaoke) era necessário alugar o equipamento TvBox, o que acarretaria um encargo mensal de 4,50 euros (ADSL) ou 5,50 euros (fibra).
O júri, que detectou várias imprecisões na queixa da DECO, deliberou que “o folheto reúne, detalhadamente e de forma objectiva toda a informação necessária à tomada de decisão de compra informada por parte do consumidor, não induzindo nem sendo susceptível de o induzir em erro”. A DECO não tinha, portanto, qualquer razão.

vodafone

Cuidado com as comparações
A Unicer lançou uma campanha publicitária, com três spots, à marca Água das Pedras. O mote era “Porquê beber Pedras e não uma água com gás qualquer?” e tinha como assinatura “Cuidado com as aparências. Pedras é Pedras. Tudo o resto é só água com gás.” A Água de Luso torceu o nariz e considerou que se estava perante publicidade comparativa ilícita e publicidade enganosa.
Na argumentação, a Unicer chega a considerar que “a postura da queixosa é surpreendente, pelos argumentos aduzidos e pela forma agressiva com que os mesmos são apresentados, parecendo mais preocupada em atacar e esconder algo do que alertar para potenciais ou eventuais erros ou lapsos de um concorrente”. Tiro ao lado. O ICAP deu razão à Água de Luso já que as mensagens veiculadas violavam os princípios da veracidade, comprovação, comparação e denegrição do Código de Conduta do ICAP. O caso foi analisado já depois de a campanha ter saído do ar.

pedras salgadas

A guerra de cápsulas
Não se trata de cafés, mas da comparação de cápsulas de detergentes para a roupa. No spot do Persil Power Mix Caps, da Henkel, protagonizado por uma criança, era apresentada uma “mistura revolucionária” da responsabilidade da “melhor cápsula do mercado”. Surgia também uma espécie de gráfico com cinco cápsulas, quatro das quais “implicitamente” identificáveis com produtos concorrentes. A cápsula da Persil obtinha o melhor desempenho nesse gráfico.
A concorrente Unilever Jerónimo Martins, que comercializa Skip, questionou a legalidade da utilização da criança, uma vez que não via qualquer relação directa entre o produto anunciado e target infantil. A empresa referia que as cápsulas de gel tira-nódoas com potenciador em pó não tinham sido lançadas pela primeira vez no mundo pela Henkel e que em Portugal tinham chegado ao mercado ao mesmo tempo que as cápsulas da Skip.
Decisão do júri: não havia qualquer relação directa entre o menor e o produto anunciado (viola o nº 2 do art. 14º do Código da Publicidade), a superioridade do produto anunciado era apresentada sem restrição a circunstâncias nem critérios (feria o princípio da veracidade) e não ficou provado que o produto da Henkel fosse inovador. O júri considerou que se estava perante um caso de publicidade comparativa, infringindo as normas legais e da auto-regulação.

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Como é a vida de João Coutinho em Nova Iorque

“Logo a seguir a Cannes grandes clientes baterem à porta da agência”


O projecto Guns with History, que consistia numa loja em Nova Iorque com armas ligadas a histórias trágicas, rendeu 14 leões na edição deste ano do festival de Cannes. Um argumento de peso para que João Coutinho, director criativo na Grey NY, fosse eleito Personalidade de Publicidade do Ano nos Prémios M&P

“Logo a seguir a Cannes grandes clientes baterem à porta da agência”


A conversa entre João Coutinho e o M&P decorreu numa segunda-feira às nove da manhã, durante o percurso a pé que o director criativo da Grey Nova Iorque fez entre a sua casa e a agência, localizada na 5th Avenue, mesmo frente ao icónico Flatiron Building. Temperatura ambiente: dois graus. Antes de instalar-se nos EUA, no início de 2014, João Coutinho esteve na Ogilvy São Paulo, onde conquistou em 2013 um grande prémio em Cannes pelo case Fãs Imortais para o Sport Clube Recife. Mudou-se para a Grey, com a dupla Marco Pupo, depois de receber convites do Brasil, Espanha, Europa de Leste e Dubai.

Meios & Publicidade (M&P): Como vai ser esta semana de trabalho?
João Coutinho (JC): Tenho uma campanha de lançamento de um modelo novo da Volvo nos Estados Unidos. Vamos também lançar na semana que vem, na segunda-feira, uma campanha nova, que é um vídeo online de música para Bosch. Chego à agência entre as nove e as nove e meia. Demoro 10 minutos a pé de casa até ao escritório. As reuniões começam, por vezes as nove e meia ou dez horas e só acabam às 18h. A diferença que noto para Portugal, Brasil e Espanha, que foram os países onde trabalhei, é que aqui há muitas reuniões.

M&P: Por que há tantas reuniões?
JC: Aqui o pessoal é muito organizado. Marca-se reuniões, às vezes, para se falar de uma reunião. Estou envolvido neste momento nuns 16 projectos. Esses dois de que falei são os maiores desta semana mas tenho outros projectos não tão grandes para outras marcas.

M&P: Que marcas trabalha regularmente?
JC: Essas duas trabalho regularmente. Durante quase dois anos trabalhei para a Canon, a marca é mais conhecida pelas câmaras, mas tem muito mais coisas. Fizemos um projecto chamado The Trailer, que demorou um ano e tal com o realizador Ron Howard e o Josh Hutcherson do Hunger Games. As pessoas podiam fazer os seus trailers no site, que ainda está online, com o trailer vencedor produzíamos uma curta.

M&P: São sempre trabalhos que se prolongam por um ano?
JC: Vendemos na semana passada um trabalho pequeno para a Volvo que vamos filmar amanhã. Há coisas em que se trabalha um ano ou um ano e meio, depois há outras que parecem Portugal, são processos super-rápidos.

M&P: Do lado do cliente, que diferenças encontrou face à realidade do Brasil ou de Portugal?
JC: Aqui ainda têm algum respeito pelas agências, pelos criativos e pela criatividade. Em Portugal ou no Brasil, para fazer uma campanha, tinha de apresentar três realizadores e três orçamentos. Aqui, se quero fazer a campanha com o realizador que acho indicado, falo com o cliente e explico o porquê. Normalmente ele confia na agência e evita assim envolver pessoas que depois não vão trabalhar connosco. Mas também há clientes que têm um esquema semelhante ao de Portugal. Aqui também há clientes conservadores, como em todo o lado.

M&P: Por que confiam os clientes mais nas agências?
JC: É uma questão cultural. O mercado é bem maduro. Saí de Portugal em 2011 e sentia com a crise o que está a acontecer agora no Brasil, tal como já acontecia em Portugal desde 2008. Os clientes começam a cortar budget, as contas vão todas a concurso, as agências começam a fazer tudo para manter o cliente, a qualidade do trabalho cai drasticamente.

M&P: Nos Estados Unidos o ciclo económico é neste momento outro. Está-se a viver um ambiente positivo?
JC: Sim. Aqui não se nota crise nenhuma. A economia vai bastante bem. Há trabalhos em que temos 30 mil dólares para fazer uma coisa pequena, mas no ano passado fiz essa campanha para a Canon, que eram três filmes online, que custaram cerca de quatro milhões de dólares – e nem sequer foi para a televisão. São budgets que, para um europeu, tirando os ingleses que estão habituados a estes números, são um pouco surreais.

M&P: Como se chega a esses valores? É um cliente que diz que tem esse orçamento ou para clientes com certa dimensão o dinheiro não é assunto?
JC: O cliente diz logo quanto dinheiro tem. Por exemplo, para essa campanha foram sete dias de filmagens, trabalhámos com a Park Pictures, que é uma produtora top 5 nos Estados Unidos, trabalhámos com o director de fotografia mexicano Rodrigo Prieto, que fez o Lobo de Wall Street, Babel, Brokeback Mountain. Tudo isso paga-se.

M&P: Como correu a adaptação a Nova Iorque? Sentiu algum choque cultural face a São Paulo?
JC: Senti mais dificuldades quando fui para o Brasil. Trabalhava na Lowe em Lisboa, que devia ter 40 pessoas, e fui para a Ogilvy São Paulo, que devia ter umas 600. É uma diferença em todos os sentidos. Aqui foi uma adaptação completamente tranquila. A diferença é que aqui os clientes confiam mais nas agências, os budgets são maiores, as coisas são mais organizadas, as pessoas são pontuais, as coisas resolvem-se, cada pessoa tem uma função definida. Dentro da organização os papéis são bem claros. Na Grey Nova Iorque somos mil pessoas, pode haver zonas cinzentas em termos de funções, mas é muito raro.

M&P: No vosso site (www.joao-and-marco.com) referem que os vossos colegas estranham que escovem os dentes a seguir ao almoço.
JC: (risos) Eles detestam que alguém escove os dentes na casa de banho, mas a nós também faz confusão que comam algumas coisas à secretária, como pasta com queijo mal-cheiroso.

M&P: A metodologia e organização da Grey é muito diferença da da Ogilvy São Paulo?
JC: A Ogilvy, quando estive lá, já trabalhava contas globais, mas em termos de organização é mais latina, aquele latino a que estamos habituados. Trabalhávamos algumas contas internacionais, havia vários estrangeiros na agência em vários departamentos, o que é raro no Brasil. Aqui o ambiente é mais competitivo no bom sentido, no final ganha o bom trabalho. No Brasil há muito talento, é uma coisa cultural. Lá existem os publicitários-celebridade, como o Nizan Guanaes, o Marcello Serpa ou o Washington Olivetto. São celebridades que vão a programas de televisão. Aqui isso não existe, o publicitário é uma pessoa normal.

M&P: A Grey NY foi considerada a segunda agência mais criativa do mundo em Cannes este ano. Isso teve impacto no negócio?
JC: Teve. Em 2013 a Grey foi considerada agência do ano pela Adweek e em 2014 pela AdAge. Há uns três ou quatro anos que a agência está num momento muito bom, mas este foi o melhor ano de sempre, quer no escritório de Nova Iorque quer da network. É o resultado do trabalho do Tor Myhren, que é o presidente e o global creative director da network. Ele entrou na Grey há seis ou sete anos quando a Grey era o patinho feio das networks, para onde ninguém queria ir. Conseguiu transformá-la numa agência sexy com quem os clientes querem trabalhar e para onde os melhores criativos querem ir. Este ano notou-se logo a seguir a Cannes com grandes clientes a baterem à porta da agência a passar briefings para trabalharem connosco.

 


“Com a crise, os clientes começam a cortar budget, as contas vão todas a concurso, as agências começam a fazer tudo para manter o cliente, a qualidade do trabalho cai drasticamente”

 




M&P: Presumo então que foi aumentado a meio do ano.
JC: Fui. Aqui é automático, nem é preciso pedir.

M&P: A partir de quantos leões é que se tem direito a aumento?
JC: Não sei os valores de cor, mas estão definidos para grand prix, ouro… recebemos um bónus. Eu ganhei sete ouros e sete pratas, foram 14 leões. A agência de Nova Iorque ganhou 25. Tivemos um bónus mas acabamos por dividi-lo pelas pessoas mais fundamentais na equipa. A equipa era eu e o meu dupla que fomos os directores criativos e os criativos, uma account que é também directora de contas global da Gillette, um produtor da agência, o departamento de design e o de PR, que foi muito importante. Acabamos por dividir o bónus, que era só para nós, por toda a equipa.

M&P: Por que foram tão generosos?
JC: Foi a ideia mais difícil que já fiz na minha carreira e já la vão vinte anos a trabalhar. Foi muito, muito difícil. Quando dissemos que íamos abrir uma loja de armas em Nova Iorque, diziam-nos: “Are you crazy?” Foi esse o nome que demos à palestra que demos há um mês em São Paulo, pela quantidade de vezes que ouvimos essa frase.

M&P: Esse é então o trabalho mais importante da sua carreira?
JC: No Brasil fiz a campanha dos Fãs Imortais para o Sport Clube Recife que ganhou um grand prix e seis leões em Cannes. Foi esse que me deu visibilidade e me fez vir para Nova Iorque. Agora, o vídeo deste case das armas já passou os 50 milhões de views, foi falado em mais de 100 países, passou nas notícias e gerou um grande debate nos Estados Unidos, com pessoas contra e outras a favor. Foi a campanha de prevenção do uso de armas mais eficaz de sempre nos Estados Unidos.

M&P: Faz dupla com o brasileiro Marco Pupo. Quando é que se apercebeu de que era o parceiro certo?
JC: Estamos a trabalhar juntos há dois anos e meio. Começamos na Ogilvy em meados de 2013. Estávamos a trabalhar juntos há uns seis ou sete meses, quando surgiu a possibilidade de vir para cá, perguntei-lhe se estava numa de vir. Aceitou e viemos os dois. Quando há química é como nos namoros, os critérios são parecidos, temos uma maneira de ver quer a carreira e a vida muito parecida. É uma dupla para durar, espero eu. Conseguimos gerar boas ideias e, ainda por cima, divertimo-nos.

M&P: Quando estão no processo criativo, ainda falam e pensam em português?
JC: Falamos sempre em português, mas escrevemos em inglês. Só conseguimos criar à noite. De dia, como somos directores criativos, passamos o dia em reuniões e a ver trabalho de duplas. Não saio tarde da agência, cerca das 19h, mas também depende do dia, na sexta-feira saí à uma da manhã. O que acontece é que cada um vai para casa, deito os meus filhos, e partir das 21h/21h30, cada um em sua casa, começamos a trocar ideias e trabalhamos.

M&P: No Brasil trabalha-se muito para os prémios. Em Nova Iorque pensa-se muito em criar cases para levar a festivais?
JC: Não. A prioridade é fazer bom trabalho real, com clientes reais. Mas o trabalho do controlo de armas é para um cliente pro-bono que, por si só, garantiu 14 leões à agência. A agência investiu nesta ideia, foi um exemplo de que um cliente pro-bono pode ser tão positivo para o cliente como para a agência. Todos os outros leões que a agência ganhou este ano em Cannes foram com trabalho pedido pelos clientes.

M&P: No próximo ano vai levar a Cannes algum case que possa ter um impacto semelhante?
JC: Para já não tenho nada que sinta que tenha o mesmo impacto. Temos algumas coisas com potencial para ganhar, mas nada como este ano.

M&P: Como vê esta contradição de os criativos portugueses estarem a ganhar mais prémios do que nunca em Cannes mas as agências portuguesas atravessarem um do piores momentos nesta matéria?
JC: Há vários factores. Talento em Portugal não falta e a prova disso é que os portugueses vão dando cartas nas agências dos mais variados países onde estão. Na nossa indústria em Portugal o problema começa com uma coisa básica: não há dinheiro, muitas vezes nem para pagar salários. Se não há dinheiro não se pode desenvolver ideias nem inscrevê-las em festivais. A Ogilvy gastava à volta de 200 mil dólares em inscrições, deve ser o dinheiro que todas as agências em Portugal investem. Se tivermos boas ideias, se conseguirmos que os clientes as aprovem, se as produzimos bem e depois as inscrevemos em várias categorias, aumenta a possibilidade de ganharmos mais leões. As agências em Portugal têm também pouca gente, têm outras prioridades mais importantes que os prémios e é uma bola de neve. Em Cannes houve logo grandes clientes a dizer que iam bater à porta da agência porque queriam trabalhar connosco. Os prémios atraem negócio. Já tinha essa noção. Por exemplo, na campanha Real Beauty Sketches que o Hugo Veiga fez para a Dove, o cliente foi bater à porta da agência, porque a Ogilvy tinha ganho esse ano 16 leões em Cannes, incluindo ouro com duas campanhas para marcas da Unilever, como a Hellmann’s, e outro ouro para a Sprite, marca da Coca-Cola. A Ogilvy já trabalhava localmente Dove mas foi assim que entrou esse negócio global. O negócio da Hellmann’s era local e passou a global. Estamos a falar de negócios de milhões e milhões de dólares. A história dos leões fantasma, que havia nos anos 90 com campanhas de print… Ainda há agências que fazem isso no Brasil e no Dubai, mas tem os dias contados.

M&P: De vez em quando deve receber propostas de outras agências. O que faria a si e ao Marco mudar de agência?
JC: Depois de Cannes, recebemos propostas de bastantes agências dos Estados Unidos e de Londres. Fomos agora promovidos na Grey a group creative directors e temos uma excelente relação com o Thor, com o Andreas [Dahlqvist], que é o CCO de Nova Iorque. Já temos o nosso espaço conquistado. Tudo o que são trabalhos mais importantes, nós costumamos estar envolvidos. Gosto bastante de trabalhar na Grey. Para sair, teria de ser uma proposta, não só de dinheiro, mas para fazer alguma coisa absolutamente fabulosa. Sentimos que as coisas ainda agora começaram, somos queridos e valorizados aqui.

M&P: Costuma ter contactos de criativos portugueses para irem para os EUA?
JC: No Brasil tinha mais. Tento sempre manter o contacto com o mercado português. Algum dia gostava de voltar. Portugal, além de ser o meu país, tem uma qualidade de vida que não se tem em mais lado nenhum.

M&P: Mas vê-se a trabalhar numa agência portuguesa?
JC: Para já não, confesso. Seria complicado pela situação actual e porque estou aqui a meio de um projecto. Nós acabámos de contratar um português, o director de arte Daniel Soares, que vem trabalhar para o meu grupo e estava na R/GA. Já está nos EUA há uns três anos. Conheci-o na Lisbon Ad School quando dei lá aulas. É o primeiro português que contrato. Vamos ser dois portugueses na agência.

M&P: No meio de mil pessoas.
JC: (risos) Pois. Brasileiros há vários. Aliás, quando eu o Marco entramos chamavam-nos “brazilians”, e eu dizia que não, que era um português que vivia em São Paulo. Agora já sabem que sou português, mas mesmo no nosso meio há pessoas que não fazem ideia onde fica Portugal, pensam que é na América do Sul ou ao lado do Panamá.

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“Ao fim de ano e meio estamos na posição onde pensávamos estar ao fim de três anos”


José Manuel Fernandes, publisher do Observador, foi eleito Personalidade de Media do Ano nos Prémios Meios & Publicidade. Pretexto para um balanço do primeiro ano e meio do projecto e para olhar para o futuro da imprensa e dos media em geral.

“Ao fim de ano e meio estamos na posição onde pensávamos estar ao fim de três anos”


Um balanço do primeiro ano e meio de Observador, a resposta da concorrência, os novos investimentos e planos de futuro para o projecto, a evolução e futuro da própria imprensa em Portugal e do sector dos media em geral, o destino do papel, a monetização de conteúdos online e as fontes de receita alternativa, paywalls e publicidade nativa, o braço de ferro entre os publishers e o Google, a chegada do Netflix, o desaparecimento de jornais, a pressão sobre os media dos governos de Sócrates e Passos Coelho e o que se pode esperar do novo ciclo politico à esquerda num governo liderado por António Costa… A eleição como Personalidade de Media do Ano nos Prémios M&P foi o pretexto uma entrevista com José Manuel Fernandes, publisher do Observador e jornalista com papel determinante na fundação do Público, onde esteve 20 anos, 11 dos quais como director. Acabou por ser uma longa conversa que poderá ver, em formato vídeo, na secção M&P Plus do nosso site e da qual publicamos aqui um excerto.

Meios & Publicidade (M&P): Quando recebeu o prémio, referiu que não esperava, depois de ter lançado o Público, estar no lançamento de outro novo projecto. Havia expectativa de que o Observador fosse um projecto de tal forma diferente e inovador que fosse capaz de ser reconhecido desta forma tão rápida pelo mercado?
José Manuel Fernandes (JMF): Só poderia ser um projecto ganhador se fosse de facto diferenciador, radicalmente novo em relação àquilo que se produzia. No entanto, optámos sempre por uma estratégia de alguma prudência, não fizemos aquilo que algumas vezes se costuma dizer que é entrar com toda a força pensando que assim é que se ganha o mercado. Infelizmente, houve muitos projectos de comunicação social que, à conta disso, queimaram etapas e depois acabaram por soçobrar.


Estávamos absolutamente convictos de que havia espaço para uma oferta digital de tipo muito diferente. Todas elas estão, ou estavam, de alguma forma condicionadas pelos outros produtos que as mesmas redacções têm de produzir, seja um semanário, um diário, seja um noticiário de rádio. E pela própria legacy, pelos hábitos e cultura das redacções. Achámos que era absolutamente possível, necessário, havia a oportunidade, havia procura, para um projecto focado na informação no momento, on time, rápida, actualizável e, sobretudo, muito adaptada aos novos hábitos de consumo de informação. Uma das coisas que quisemos ter desde o início foi um site que pudesse ser lido em todos os dispositivos e metade das notícias já não lidas nos corredores tradicionais, mais de metade já são lidas em tablets ou smartphones. Não era exactamente assim há ano e meio quando começámos, mas havia a percepção de que era nessa direcção que as coisas estavam a caminhar. Por outro lado, tínhamos a ideia de que em Portugal havia uma espécie de herança dos jornais, que vinha do PREC, altura em estiveram super politizados e partidarizados, e depois do PREC achou-se que tudo era clinicamente puro e independente, o que não é verdade, é falso. A ausência de assumir que há um olhar sobre o mundo acaba por fazer com que exista um olhar não assumido que acaba por ser o resultante da cultura das próprias redacções. Nós quisemos ter isso também como ponto de partida, não fugimos. Achamos que ajuda os leitores. Num meio como o online, onde as pessoas não se deparam com a questão de chegar a uma banca e não terem dinheiro para comprar os jornais todos, podem saltar de órgão de informação em órgão de informação, saber onde se está é importante também. Foram duas apostas ganhas. Ao fim de ano e meio estamos na posição onde pensávamos estar ao fim de três anos, foi uma evolução muitíssimo mais rápida do que tínhamos pensado. Isso permitiu-nos reforçar um pouco o investimento, por vontade própria dos accionistas. Está tudo a correr melhor do que esperávamos.
JU7A2690xxx

 


M&P: Na opinião, e não só, durante muito tempo o Observador foi conotado como um título alinhado à direita. Ainda recebe muitas mensagens e comentários nesse sentido?
JMF: Em Portugal é sempre assim. Há sempre a preocupação de catalogar as pessoas, os projectos, o que quer que seja. E nós fomos, até pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, que nos deu a honra, fez várias tentativas de catalogação, por acaso todas um bocadinho ao lado porque era sempre em função de candidatos presidenciais que nunca apareceram. Faltaram os candidatos presidenciais, por assim dizer, ao projecto. Obviamente não era assim, o único candidato que acabou por aparecer foi ele, na área com que ele estava preocupado. Mas o projecto distingue claramente aquilo que é a sua cobertura informativa, temos uma cobertura ampla e da qual não temos razões de queixa das várias forças politicas, ou temos queixas por igual, o que é bom sinal. Não gosto de um órgão de informação que não tem razões de queixa, é sinal de que não incomoda ninguém. E os órgãos de informação também são feitos para incomodar, o poder e as oposições. Na parte da opinião, para começar não temos políticos a escrever, quem ocupa cargos políticos, que é uma coisa muito tradicional em Portugal, têm direito a umas colunas, uns debates aqui e ali. Aqui, quem comenta política são pessoas que não estão no activo.

M&P: Durante a campanha eleitoral surgiram criticas de que o Observador estaria alinhado à direita. Concorda com esta avaliação?
JMF: Se falar na opinião, a maior parte foi mais critica da esquerda do que da direita, apesar de ter havido opiniões criticas da direita. Se falar dos textos de informação, acho que é completamente injusto. Entrevistámos todos os líderes políticos, fizemos alguns debates, cobrimos as principais campanhas, não andámos a fazer os detalhes todos mas demos toda a informação mais depressa e com mais lisura e transparência do que a maior parte dos outros órgãos de informação. Inclusivamente tivemos a preocupação de criar uma fórmula nova, que depois foi seguida pelos nossos concorrentes, e que é muito comum nos EUA que é o chamado fact check. Há um líder político que diz alguma coisa e nós vamos verificar se é verdade, se é mentira, se é enganador ou não. Fizemos isso para todos e devo dizer que nem sempre os líderes da direita se saíram bem, às vezes saiam-se mal. Houve total frontalidade e independência.


M&P: Foi muito crítico da forma como o governo de Sócrates lidava com a comunicação social. Agora que se abre um novo ciclo político à esquerda, o que espera em termos de pressão sobre os meios de comunicação social?

JMF: Não sei, espero que não aconteça nada. A situação actual está melhor do que o que estava durante o governo de José Sócrates. Continuo a achar que não devia existir uma Entidade Reguladora com as características que tem, aquilo é o fruto de uma ideia razoável pessimamente aplicada. Não era para ser aquilo, era para ser diferente e depois saiu uma coisa que continua sem fazer muito sentido. Felizmente tem andado apagada, enquanto não se vê pelo menos não faz ondas. Há algumas coisas neste governo que preferia que não tivessem acontecido. Não gosto de ver neste governo um antigo ministro como ministro dos Negócios Estrangeiros, não tem a tutela da comunicação social é certo, mas um antigo ministro que teve essa tutela e procurou fazer uma lei que, pela primeira vez em muitos anos, uniu todos os jornalistas contra ela. Uma Lei do Estatuto do Jornalista que foi considerada quase uma lei da mordaça. Uma lei que foi aprovada, só não entrou em vigor porque o Presidente da República a vetou politicamente. Mas não é o único caso. O anterior presidente da ERC, uma pessoa que não me parece que tivesse da comunicação social a visão mais correcta, é também ministro. E, finalmente, cereja no topo do bolo, porque se foram lembrar de ir buscar para o governo como secretário de Estado da Presidência, aí sim, um cargo importante, o advogado que colocou uma providência cautelar para silenciar o Correio da Manhã num dos seus noticiário sobre o caso José Sócrates? Isso já é um sinal politico que me preocupa mais. Espero estar enganado.


M&P: Parece-lhe que é um indício do que pode vir aí?

JMF: Não sei, mas vemos que António Costa é mais impaciente com a comunicação social do que Passos Coelho. Pelo menos visivelmente, deu esses sinais na campanha eleitoral, as pessoas viram, não estou a dizer nada que não se tenha visto. É mais impaciente, se é mais interventivo, não sei, estamos para ver. Há um mau precedente. Houve uma guerra entre o Público, já depois de eu ter saído, e a Câmara de António Costa por causa da divulgação de dados que a Câmara tinha obrigação de divulgar e fez tudo o que esteve ao seu alcance, até ser finalmente derrotada nos tribunais, para impedir o acesso dos jornalistas a esses documentos. Também não é um bom sinal. Mas no essencial, não penso que venham aí novas censuras.


“Porque se foram lembrar de ir buscar para o governo o advogado que colocou uma providência cautelar para silenciar o Correio da Manhã num dos seus noticiários sobre o caso José Sócrates? Isso já é um sinal politico que me preocupa”


M&P: Voltando aos media e ao Observador, durante vários anos foi pelo Público que foi receber prémios. Como vê o Público hoje?
JMF: Não gosto muito de falar sobre um local de onde saí, acho que não devemos regressar aos lugares onde fomos felizes e eu fui muito feliz no Público. Segue o seu caminho, do nosso ponto de vista é o nosso principal concorrente, ou um dos nossos principais concorrentes. Sabemos que para podermos chegar onde queremos temos que combater no terreno do Público e bater o Público. Portanto, continua a ser uma referência. Na altura, quando saí, o Público tinha quase 20 anos de liderança na internet, tirando os desportivos que são um campeonato à parte. Entre os órgãos de informação foi sempre primeiro, nos últimos quase dois anos perdeu essa liderança, primeiro para o Correio da Manhã e agora nos últimos meses para o Jornal de Notícias. Não creio que sejam boas notícias porque o tipo de informação que o Público continua a fazer hoje é, do meu ponto de vista, mais relevante do que a desses órgãos de informação, que vão por caminhos diferentes. Não estou com isto a desmerecer quer o CM quer o JN, no seu metier e nos seus objectivos não é por acaso que o CM é de longe o jornal líder. É líder porque, por um lado, produz um tipo de informação que ninguém produz, e por outro porque deixou de ter áreas que não cobria. Hoje há áreas, por exemplo no domínio da politica e da justiça, que o CM cobre com uma pertinência e com uma capacidade de dar notícias novas que não encontro noutros órgãos de informação. Mas não é por isso que estão à frente na internet, aí é mais pela parte popular, pela parte cor-de-rosa. É uma parte que não é o campeonato do Público nem do Observador. Do ponto de vista tecnológico, da plataforma, o Público era o único até há pouco tempo que tinha uma plataforma moderna. Mas sinto que às vezes ali se sofre do problema de ter que estar sempre a tomar uma decisão, que é a decisão “ponho já isto ou guardo para o papel amanhã”. Há ali umas horas em que as pessoas param porque têm de estar a fechar a edição em papel. Isso é uma lógica diferente. O público do Observador no online é já hoje várias vezes superior ao alcance que têm as edições em papel que praticamente só chegam a pessoas influentes, que as folheiam mas cada vez menos. Se olhamos para os números de vendas em banca, entre os principais órgãos de informação portugueses, tirando o CM e o JN o resto já quase não existe. É dramático dizer mas é verdade. Mas não quer dizer que não sejam influentes na mesma porque isto depois multiplica nos suportes na internet. Mas na cabeça de muitos jornalistas, e a própria máquina, a lógica das organizações é esta, no dia seguinte, aconteça o que acontecer, os jornais nunca deixam de estar na banca. E, por isso, há uma altura do dia em que se fecha o papel. Isso exige imensos recursos e imensas horas, pessoas e tempo. Acaba por quebrar, às vezes, a atenção que se está a dar a uma notícia de última hora, que exige permanente actualização e que fica às vezes um bocadinho para segundo plano porque é necessário ir fazer uma coisa diferente. Um dos meus desafios nos últimos anos no Público foi ir tentando vencer esta cultura das redacções e que tem a ver muito com a maneira como se trabalha todos os dias, as rotinas estão feitas para ter uma edição no dia seguinte na rua e depois ajustada no online. Tem de ser ao contrário. Posso estar enganado, mas do que conheço da forma como estão organizadas as redacções em Portugal, mesmo aquelas que fizeram apostas grandes online, isso ainda não acontece.

M&P: É essa ligação das redacções com a edição em papel que está a impedir a mudança para o digital?
JMF: O grande problema é que produzir o papel ou um noticiário de hora a hora é uma coisa que obriga a interrupções permanentes, tem realmente uma lógica diferente. Há um grande jornal internacional, o Financial Times, que reorganizou completamente a sua redacção no sentido de dar prioridade ao online. A hora das reuniões, a hora do fecho, a hora em que as coisas têm de estar prontas, tudo é em função do online. E o papel é que depois vai lá buscar o que precisa. Julgo que isso ainda não aconteceu em Portugal. Um projecto que suscitou enorme expectativa, e que tinha um conceito inicial com algum interesse e que tive curiosidade de ver se funcionava, mas julgo que não alcançou as expectativas, foi o Expresso Digital. Se tivesse que estar à frente daquela redacção imagino a dor de cabeça que não seria. Todos os dias tinha que estar pensar se ponho já online, guardo para as seis da tarde quando tiver o Expresso Diário ou guardo para o fim-de-semana quando tiver a primeira página do Expresso semanal. O que faço com a notícia? Esta gestão não é muito fácil porque às vezes o próprio jornalista não conta tudo, porque prefere que saia ali ou acolá e toma ele a decisão omitindo que já tem aquela informação. Não sei se se passa no Expresso mas passou-se comigo quando tinha que gerir essa situação, não me custa a crer que se continue a passar.

M&P: Acabou por ser uma aposta digital que transpõe para o online o modelo do papel.
JMF: No fundo é o velho vespertino. Os vespertinos faziam sentido porque a forma como se recebia informação há 20 ou 30 anos era completamento diferente da forma como se recebe hoje. Os mais velhos ainda têm alguma paciência mas os mais novos é já, não querem esperar. Isso faz com que a própria ideia de guardar seja uma ideia que a pouco e pouco vai perdendo. O que faz sentido guardar são coisas completamento diferentes, não são propriamente notícias. São coisas de reflexão, de enquadramento, análise, reportagens que exigem mais tempo para ler. Não estou com isto a dizer que o papel vai desaparecer ou que os noticiários tal como os conhecemos vão desaparecer, isso não vai acontecer. Ou pelo menos não vai acontecer de um dia para o outro. Muitos órgãos de informação em papel vão continuar a desaparecer, disso não tenho grandes dúvidas, é inevitável. O modelo das televisões generalistas vai mudar, já está a mudar. Em Portugal havia o hábito de comprar um jornal à tarde para haver uma actualização da informação. Aquilo que o Expresso tentou fazer foi retomar esse hábito. Não sei até que ponto é que isso está a ser um sucesso. Parece-me que contribuiu mais para a melhoria do site e para animar todo o resto do site do que propriamente aquela zona. Há uma coisa em que o Expresso é muito forte, não desvalorizemos, é o jornal português com mais assinantes digitais, apesar de não ter sido líder e de estar longe da liderança no digital, é o jornal com mais assinantes digitais. Porquê? Porque na assinatura digital dão acesso à edição do Expresso em papel em formato digital. Isso é um activo que eles não perderam apesar da estratégia de outros órgãos de informação, que fizeram estratégias de fechar parcialmente os seus sites a ver se conseguem aumentar o número de assinantes. O Expresso aí continua à frente. Apostar nesse activo continua a fazer todo o sentido.

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M&P: Quando lançaram o Observador identificaram como principal concorrente o Público. Apesar de a concorrência aparentemente estar nos diários por serem estes a liderar em visitas, a resposta mais forte à chegada do Observador acabou por surgir do lado de um semanário, o Expresso, que quase em simultâneo lançou essa edição diária digital. Esperavam esta reacção do Expresso?
JMF: Quem quer vencer tem de olhar para o líder e, na altura, o Público era o líder. O Expresso não era e não é. Agora, no Expresso houve uma evolução forte e rápida nestes anos. Além disso, o Público tinha acabado de fazer uma mudança que o tinha colocado uns passos à frente de todos os outros, foi o primeiro site português de informação geral a ser aquilo a que se chama responsive. Na altura nenhum outro tinha feito isso, nós já construímos nessa base. O que acho extraordinário é que houve sites em Portugal que fizeram entretanto remodelações e não fizeram isso. Não sei em que mundo é que eles estão a viver. O Expresso fez uma aposta vigorosa, importante e arriscada. Teve óbvios frutos na sua página diária, frutos talvez menos claros no número de assinantes que acrescentaram com o Expresso Diário. Cresceram mas penso que a expectativa era maior.

M&P: Talvez a mudança no Expresso mais percepcionada como resposta ao Observador tenha sido a introdução das newsletters matinais, algo que marcou desde cedo a proposta do Observador. Como viu esta criação de uma newsletter em tudo semelhante à do Observador?
JMF: Sabíamos que isso ia acontecer. Quando decidimos fazer as newsletters, não inventámos a roda, adaptámos algo que já existia. Sabíamos que em tudo o que estávamos a fazer havia coisas que os nossos concorrentes iam rapidamente fazer como nós. Admitimos que as newsletters eram uma daquelas que sabíamos que alguém, mais tarde ou mais cedo, ia fazer com as características mais ou menos aproximadas e sabíamos que havia outras coisas que iriam ser mais difíceis de atingir, até por questões culturais. Por exemplo, no nosso site, quando citamos uma notícia de outro órgão de comunicação colocamos o link para a pessoa poder ir ler ao outro órgão. Porquê? Se fizermos isso estamos a ajudar a vida aos nossos leitores e estamos a ser leais. Por outro lado, estamos a perceber o que é a internet, que não é um sitio fechado. Se eu quiser saber mais sobre aquilo, o que vou fazer é sair do meu site, vou abrir o site do outro órgão de informação e vou à procura daquela notícia. Levo mais tempo mais saí do meu site. O que é que não quero que aconteça? Que o leitor deixe o meu site, quero ser o meeting point. Sei que se chegar ali encontro o que preciso. Saio, mas se voltar a querer encontrar o que preciso volto outra vez. E isso é algo que vai muito contra a cultura das redacções portuguesas. Isto é perceber o que é a internet, perceber qual é a nossa função de servir o leitor. Nenhum dos nossos concorrentes foi ainda capaz de dar esse passo. Em relação às newsletters, são hoje em dia uma nova área que todos os órgãos de informação estão a apostar. Porque de facto são muito práticas, são uma forma muito boa de nos aproximarmos sobretudo de que utiliza aparelhos móveis. È muito fácil de ler num smartphone. E é também uma forma muito simpática de orientar as pessoas de um lado para o outro. Era o elemento mais óbvio, não digo que seja o mais fácil. É tão difícil de copiar que eles copiaram mas não o fizeram bem, tiveram que encontrar dez pessoas para fazer aquilo que no Observador é feito por uma. Mas pronto, fizeram, isso é que era importante. Só acho estranho que ainda não tenha aparecido mais gente a fazer o mesmo.

M&P: Tem números que possa adiantar sobre quantas pessoas recebem e abrem as newsletters do Observador?
JMF: Não lhe posso dizer porque, sinceramente, não sei de cor. Até porque demos agora mais um salto com o lançamento de mais uma newsletter, a Lifestyle. E não vamos ficar por aqui, vamos fazer mais. Mais uma vez, estamos atentos ao que está a acontecer, vemos as tendências, percebemos que as pessoas procuram e gostam daquilo, que aquilo é um serviço útil e nós estamos aqui para prestar serviços úteis. Por isso vamos tentar ir, de forma inteligente e não apenas automática, porque há muitas newsletters automáticas, de encontro ao que as pessoas querem. Mas nunca esperei ter tantas pessoas a subscreverem e tantas pessoas a abrirem. Quando comparamos o número de pessoas que abrem uma newsletter com o número de pessoas que abrem um artigo, a newsletter bate aos pontos.

M&P: Com tantos meios a apostarem nas newsletters, não corremos o risco de saturar os leitores? Aquilo que começou por ser um elemento diferenciador do Observador não estará já banalizado depois de ter sido tão explorado também pela concorrência?
JMF: No fim do dia vai ficar à frente quem fizer a melhor newsletter, quem satisfizer melhor as pessoas. E vai haver newsletters para vários gostos e vários feitios. Se fosse por esse raciocínio dizia assim: “já há vários jornais diários, não vou fazer outro”. Ainda bem que há vários. Apesar de tudo, ainda temos cinco diários de abrangência nacional em Portugal. Por exemplo, para que é que há três desportivos? Mas ainda bem que há, é sinal de pluralismo e de que há pessoas com sensibilidades e gostos diferentes.

M&P: Tendo em conta esta resposta do Expresso, por um lado, e por outro a liderança no digital de jornais como o CM, quem identificam hoje como principais concorrentes do Observador?
JMF: Posso dizer que no Observador temos sempre alguém que está a chefiar a redacção, essa pessoa tem dois ecrãs para poder ter mais páginas abertas e tem sempre abertas as páginas dos dois principais económicos, do Diário de Notícias, Expresso, Público, Jornal de Notícias, enfim, aqueles que estão mais atentos à questão da internet. Depois também é preciso dar alguma atenção às rádios mas nesse caso o forte delas é ainda o noticiário de meia em meia hora, que acaba por antecipar muito o que põem na internet. Em Portugal não há, para já, o que há em países como os EUA e Reino Unido, que é um poderoso site de informação de uma televisão, como uma BBC ou CNN. Não sei se algum dia isso vai chegar a acontecer. Estão para ser conhecidos agora os Prémios de Ciberjornalismo e todos os anos aparece sempre muito bem colocada, porque fazem um tipo de jornalismo e de trabalhos multimédia muito bem feitos, a Rádio Renascença. São coisas que levam muito tempo a produzir, mas que é uma aposta que eles fazem como marca de qualidade que têm. É preciso olhar para todo o lado. Às vezes há coisas que surgem de blogues, alguns um bocado mais sofisticados. Isto para não falar de alguns sites internacionais para onde às vezes também temos de olhar, como foi agora com os atentados em Paris ou como vai ser com a cimeira do clima.

M&P: Quando o Observador foi lançado, em Maio do último ano, falavam em alcançar a liderança no digital no espaço de três anos. Vamos a meio do caminho e, segundo dados do Netscope de Outubro, o Observador está já em 11º, com 8,2 milhões de visitas. Estão onde queriam estar nesta fase?
JMF: Quando falamos de liderança no digital não estamos a falar dos desportivos e agregadores. Se tirarmos esses já estamos mais à frente. E também depende do ranking, se falarmos em pageviews estamos em terceiro, se falarmos de utilizadores estamos em sexto. Diria que estamos à frente de onde queríamos estar por comparação com o que era o líder da altura. Estamos muito mais perto do líder da altura do que esperávamos estar, e o líder de então até evoluiu. Houve mudanças, sobretudo o Correio da Manhã que teve uma evolução ao procurar mercados que não são bem os nossos, o que o colocou um bocadinho fora do nosso radar. Mas não deixa de ser alguém em que pensemos, tendo em atenção que nem sempre os números do Netscope são números importantes em termos da receita que trazem. É preciso equilibrar bem o valor por que se vende o anúncio com a quantidade de páginas que se vendem. O líder, que é um jornal desportivo, tem uma receita de publicidade muito baixa, por exemplo. Não consegue traduzir essa liderança porque não é valorizado pelo mercado publicitário. Por isso, precisamos aqui de um equilíbrio quando a nossa principal fonte de receita é a publicidade. Diria que, ao fim de ano e meio, estaremos onde prevíamos estar ao fim de dois anos e meio.

M&P: Nesse caso, acredita que, ao fim dos três anos, estarão à frente do Público, por exemplo?
JMF: Acho que cada passo que dermos agora é mais difícil mas vamos continuar a fazer por isso. Estamos muito mais perto do que pensávamos estar nesta altura, é um facto, portanto temos mais razões para pensar que isso é possível.

 


“Quando estávamos a fechar o orçamento para 2015 tínhamos determinados objectivos de receitas, a meio de 2015 aumentámos esse objectivo, e vamos provavelmente superá-lo. Ninguém acreditava que isso fosse possível há um ano”


M&P: Em termos de investimento, apontavam também para o break even ao fim de três anos. Estão em condições de atingir esse objectivo ou tiveram de reformular o business plan? Há pouco falou num reforço do investimento.
JMF: O break even será no final do terceiro ano, é o que está previsto. Houve uma aposta um bocadinho maior agora por parte dos accionistas porque sentiram que era necessário alargar a mais áreas e criar canais novos. Isso, naturalmente, criou mais pressão sobre o break even. Não temos um cêntimo de empréstimo, é tudo capital dos accionistas. Foi uma coisa quisemos, não ficarmos dependentes da banca, sabemos os problemas que os meios têm em Portugal relativamente à situação de endividamento. Foi um caminho que, desde o princípio, não quisemos percorrer. Mas, ao mesmo tempo, estamos tão à frente das receitas esperadas que, mesmo com esse reforço de aposta, temos tranquilidade de que chegamos lá. Quando estávamos a fechar o orçamento para 2015 tínhamos determinados objectivos de receitas, a meio de 2015 aumentámos esse objectivo, e vamos provavelmente superá-lo. Ninguém acreditava que isso fosse possível há um ano. Os primeiros, que eram menos ambiciosos do que os segundos, eram objectivos que estavam lá como “conquistar o Evareste”. Já passámos o Evareste, não sei se há algum monte mais alto. Também já passamos esse. Vamos ver. Sabemos que nos primeiros tempos o crescimento é sempre mais rápido do que o crescimento que vem a seguir mas temos sido tão bem surpreendidos tantas vezes que vamos continuar.

M&P: Tendo em conta esses resultados, o modelo baseado exclusivamente em receitas publicitárias ainda funciona para os media?
JMF: Por enquanto sim. Não sabemos se, no final do dia, vamos conseguir viver só da publicidade. Também aqui houve mudanças, negativas para todos os órgãos de comunicação. O peso do Facebook e do Google na captura da publicidade digital aumentou globalmente, não só em Portugal. É um peso tão esmagador que tornou muito mais complicada a vida a todos os órgãos de informação que têm operações digitais, mas não só. A todos, ponto. Isso está a criar um problema a toda a gente. Desse ponto de vista, temos um problema maior do que aquele com que contávamos, sabíamos que ele existia mas não com a dimensão que está a assumir. Por outro lado, também estamos a conseguir ir buscar uma quota de mercado entre os publisher em Portugal que não estávamos a contar ter já nesta altura. Temos conseguido superar os desafios. Mas estão a acontecer mudanças todos os dias, a própria forma como as notícias aparecem nas redes sociais, nos Facebooks, estão a haver novidades e nunca sabemos bem se aquilo vai trazer mais ou menos receitas. Mas não podemos é ficar de fora.

M&P: O que podemos esperar ao nível de modelo de negócio do Observador? A introdução de uma paywall, ainda que parcial?
JMF: Não digo desta água não beberei, nunca se deve dizer isso. Mas a paywall não me parece que seja, no nosso caso, a melhor solução. Pelo menos a curto prazo. Não sei o que o futuro nos reserva. A paywall é um modelo que em alguns órgãos de comunicação está a funcionar relativamente bem. O grande problema é que, ou a paywall é muito agressiva para o leitor como a do Expresso Diário, que é intransponível, que tem o reverso da medalha, que é não se conseguir provar sequer o que é oferecido. Complicam tanto a vida ao leitor que podem criar animosidade. As paywall menos agressivas são bastante esburacadas e muitas delas são facilmente ultrapassáveis sem pagar. Vai-se encontrar formas de complementar a publicidade, nós já estamos a encontrar algumas que já representam uma percentagem significativa das nossas receitas, cerca de 15 por cento, conteúdos patrocinados. Algumas áreas estamos a explorar, como as conferências, não no modelo tradicional porque o mercado está a ficar saturado mas há caminhos, não são muitos mas há caminhos.

M&P: Relativamente a novos projectos, há algum tempo, num exercício com alunos do IADE, foi feita uma experiência de desenhar uma edição em papel do Observador. Ter uma edição impressa, com um apanhado dos artigos mais marcantes da semana por exemplo, é algo que considerem? Há hipóteses em estudo para uma edição em papel do Observador, seja em formato semanal ou outro?
JMF: É um assunto sobre o qual falamos. Ainda não vimos que faça muito sentido, pelo menos fazendo de uma forma tradicional. Há um ou dois exemplos internacionais, por exemplo há uma edição desse género, mas é patrocinada, em que um grupo de empresários quis que houvesse isso do site americano Politico. Fazem uma edição dessas nos EUA. Mas houve um grupo de pessoas que disse “nós gostamos muito de vocês e somos um bocadinho antiquados, por favor façam-nos aqui uma coisa em papel todas as semanas que nós pagamos”. Se nos aparecer alguém que faça isso, estamos cá para as curvas. Mas como modelo de negócio… Nós olhamos para os números das vendas em banca e são tão pouco entusiasmentes.

M&P: Uma área em que o Observador tem apostado muito também é no vídeo. Há ano e meio, Rudolf Gruner, ao M&P, falava na possibilidade de se estabelecerem parcerias no sentido de ter esses conteúdos a passar em broadcast, o que até agora não se concretizou. Isso foi deixado de lado? Ainda pensam nisso?
JMF: Não foi deixado de lado, não conseguimos ainda concretizá-lo. Não tenho os números presentes mas temos alguns vídeos com sucesso significativo. É óbvio que não são vídeos que competem com os canais generalistas ou mesmo com os canais líderes de cabo. Mas temos programas que são mais vistos do que alguns programas de canais informativos da televisão por cabo.

 

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Paulo Campos Costa: “Não vamos ter cortes no orçamento”

Eleito Personalidade de Marketing do Ano nos Prémios M&P, Paulo Campos Costa analisa o trabalho recente da EDP e as perspectivas de investimento para o próximo ano. As funções globais e o novo ciclo político não foram esquecidos


Eleito Personalidade de Marketing do Ano nos Prémios M&P, Paulo Campos Costa analisa o trabalho recente da EDP e as perspectivas de investimento para 2016. As funções globais e o novo ciclo político não foram esquecidos


A direcção de marca e comunicação da EDP, coordenada por Paulo Campos Costa, foi extinta, passando agora a estar dividida em direcção de comunicação, a cargo de Rui Cabrita, e em direcção de marca, assumida por Ana Sofia Vinhas. O profissional fica com a direcção de coordenação global de marca, marketing e comunicação em todos o mercados onde a EDP está presente. “É um desafio para que as coisas funcionem ainda melhor, para que haja um maior alinhamento para que nos projectos pensados em Portugal, Espanha, Brasil ou Estados Unidos possa ver-se qual a aplicabilidade em termos globais, de forma a usar os menores recursos possíveis”, explica Paulo Campos Costa, em entrevista realizada no rescaldo dos Prémios Meios & Publicidade 2015.

Meios & Publicidade (M&P): Um dos argumentos para a sua nomeação como Personalidade de Marketing do Ano foi a campanha 1 Século de Energia, porque tinha várias características inéditas, foi realizada por Manoel de Oliveira. Foi uma forma de muito portugueses contactarem com a obra do realizador. Em termos práticos, que resultados é que este projecto trouxe para a marca?
Paulo Campos Costa (PCC): Quando pensamos em fazer uma campanha disruptiva e diferente, que é algo que lançamos sempre à agência que trabalha connosco, tentámos ver o que se está a fazer de melhor e o que é que o mercado quer ver. Esta campanha teve uma infeliz coincidência, em termos de timing de lançamento, porque foi adiada um pouco para não ser em cima do falecimento do Manoel de Oliveira.


Mas é algo que vai ficar na história de quem faz cinema e de quem faz publicidade. Foi um marco desafiar Manoel de Oliveira para algo que ele tinha dito que nunca iria fazer, que era uma campanha de publicidade. Houve regras. Não foi uma campanha qualquer. Tivemos de respeitar a forma como o Manoel de Oliveira via o mundo. Houve aqui felizes coincidências, uma delas foi quando decidimos dar o nome 1 Século de Energia, que foi o nome da própria campanha, em que desafiamos os portugueses que tivessem uma família com várias gerações, que nos enviassem vídeos que nos mostrassem qual era a energia que os fazia mover. Chegaram dezenas de vídeos de Norte a Sul do país, vários relacionados com o desporto. O que foi eleito foi o de uma família que há quatro gerações dança folclore. A reportagem que passou nos Prémios Meios & Publicidade é real, se calhar muitas pessoas que estavam a ver pensavam que era encenado. A equipa da EDPOn foi lá cima e foi comunicar no local que eram a família vencedora. Quando se candidatou, a família disse que ensaiava todas as sextas-feiras. Chegamos lá e vimos que era verdade.

M&P: Essa família acabou por ganhar energia grátis para o resto da vida. Entretanto, o documentário realizado por Manoel de Oliveira vai entrar no circuito dos festivais de cinema internacionais?
PCC: Vai. Aliás, já esteve no festival de Madrid e está inscrito em mais. É isso que está combinado com a família. Aqui os louros do filme são de Manoel de Oliveira. Sempre fizemos questão de dizer que é um filme de Manoel de Oliveira e da família.

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M&P: Foi um projecto mais caro do que uma campanha normal da EDP?
PCC: Pelo contrário, como Manoel de Oliveira nunca tinha feito um filme de publicidade, não foi a parte de quanto podia ganhar [que o convenceu]. Não foi por aí. Ele fez isto, não se pode dizer pro bono, porque há os custos de produção do filme, mas foi uma campanha que ficou abaixo dos custos normais de um filme. Ele queria fazer este filme. Há aqui uma coisa que tem a ver com o pai dele. Se o pai de Manoel de Oliveira não tivesse estado na construção de uma barragem, se calhar, este projecto não poderia ter chegado a bom porto como chegou.

M&P: Já desempenhava funções de âmbito global para a comunicação da EDP, mas assumiu agora a coordenação global de marketing, marca e comunicação. Em termos práticos o que significa este cargo? O que acrescenta às funções anteriores?
PCC: É mais uma tentativa de estarmos um passo à frente do mercado. A estrutura da EDP em Portugal é diferente da de outras empresas portuguesas, mas também em termos internacionais. É um desafio para que as coisas funcionem ainda melhor, para que haja um maior alinhamento para que nos projectos pensados em Portugal, Espanha, Brasil ou Estados Unidos possa ver-se qual a aplicabilidade em termos globais, de forma a usar os menores recursos possíveis. Aqui as palavras serão: alinhamento e partilha de experiências. Por muito recursos tecnológicos que existam hoje ao nosso dispor, como as teleconferências, nada substitui a partilha pessoal, de uma pessoa ir aos EUA ou ao Brasil. Já fazíamos reuniões, mas agora vamos fazer com outros moldes porque juntamos estas áreas de marketing, marca e comunicação e toda esta área da empresa ligada ao cliente. Nós existimos por causa do cliente. Vamos envolver também a área do cliente para percebermos quais são as suas necessidades.

M&P: Nesta nova estrutura, Ana Sofia Vinhas e Rui Cabrita vão ter autonomia real para desenvolver os projectos das respectivas áreas?
PCC: Eles já a tinham. Sempre houve liberdade, há agora uma autonomia formal. Desde 1 de Outubro de 2015 que são directores de duas direcções da holding. A antiga direcção de marketing e comunicação foi extinta e passou a existir uma direcção de comunicação com o Rui Cabrita como director e uma direcção de marca com a Ana Sofia como directora. Esta autonomia foi importante para mostrar que as coisas mexem e que dentro da EDP há oportunidades.

M&P: Foi uma forma de motivar as equipas?
PCC: Sem dúvida. Numa organização as pessoas têm de se sentir motivadas. Há oportunidades dentro da EDP. As pessoas mudam, vão de um lado para o outro. Este ano, por exemplo, tive cinco intercâmbios com o Brasil.

M&P: Nos mercados internacionais a relação com o cliente não é tão apurada como em Portugal?
PCC: É diferente. No Brasil somos incumbentes em Guarulhos, São José dos Campos e no estado do Espírito Santo. No Brasil produzimos muito mais energia do que aquela que distribuímos. Nos EUA começámos em 2015 a fazer venda a grandes clientes, como a Amazon ou o Walmart. Há grandes clientes que começam a trabalhar com uma empresa que não tinha clientes finais. Até aqui produzíamos energia e vendíamos à rede. Houve uma grande viragem. Temos clientes finais, não estamos a falar de consumidor doméstico, mas de grandes indústrias que têm grandes necessidades em termos de energia. Em Portugal e Espanha é diferente. Fornecemos energia, gás e electricidade. É um mercado que não tem como crescer e tivemos de nos reinventar e oferecer produtos e serviços. Mais uma vez estamos a tentar inovar e a liderar a tendência de mercado a nível ibérico.

M&P: A nível ibérico pode haver alinhamento a nível de comunicação?
PCC: Já existe. Em 2015 as campanhas já foram feitas para Portugal e Espanha. Um exemplo recente esteve em televisão, o Funciona. Foi um produto que nasceu em Espanha e quando nasceu já se estava a pensar na sua aplicabilidade em Portugal. Depois há as especificidades de cada mercado. Para o Funciona aqui fiz televisão e lá só outdoor e mupis. Temos de ver o budget e a possibilidade que temos em cada um dos mercados.


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M&P: No caso da energia, o mercado espanhol é mais sofisticado?
PCC: Nestes dois mercados há praticamente os mesmos players. Só que enquanto em Portugal éramos o incumbente e agora estamos no mercado livre e a maior parte dos clientes estão no mercado liberalizado, no mercado espanhol entramos e tivemos de ir conquistando. Onde entramos lideramos e, no caso do gás, o nosso crescimento tem sido muito grande. Agora é diferente com os clientes. Aqui tenho de procurar uma maior relação de proximidade e de fidelização. Em Espanha, primeiro, tenho de conquistá-los.

M&P: Segundo o ranking da Brand Finance, a EDP é a marca mais valiosa e costuma ser apresentada como a maior multinacional portuguesa. Comunicam a portugalidade da EDP nos mercados internacionais?
PCC: Isso sabem, até por causa do próprio nome. EDP são Energias de Portugal. Além do Brand Finance, na Forbes estamos a meio da tabela das 500 marcas mais valiosas e lá aparece EDP Energias de Portugal. Hoje o capital está disperso, somos uma empresa 100 por cento cotada, não há capitais públicos mas ser português é algo que nos honra. Temos de ter atenção de que hoje a EDP é dos accionistas e são eles que têm a palavra a dizer em relação à estratégia e aos planos. Quando éramos uma empresa 100 por cento pública havia um conjunto de directrizes. Agora é feito um plano de negócios e tem de ser cumprido.

M&P: Na área da comunicação interna, a EDP deve ser a empresa portuguesa que mais investe em comunicação interna ou estou errado?
PCC: Isso deve ser verdade. Uma das mais importantes decisões tomadas aqui dentro pelo conselho de administração executivo foi a aposta na comunicação interna. A cultura de uma empresa não se faz de um dia para o outro, vai-se construindo. A área da comunicação gere de forma editorial as ferramentas que tem à disposição. Nós temos a intranet, a TV, a rádio e a revista e temos um conjunto de newsletters usadas de forma criteriosa para momentos importantes de comunicação. Essas ferramentas foram um dos suportes mais importantes para criar uma cultura de grupo. A EDP é uma empresa nacional presente em muitas geografias e a cultura dentro da EDP hoje é idêntica nas diversas geografias. Se estiver no Brasil e me sentar à secretária, entro no computador como se tivesse sentado em Lisboa, Madrid, Houston ou Oviedo. Isto foi uma construção que não se fez de um dia para o outro. As ferramentas de comunicação são hoje um importante instrumento de partilha de conhecimento e informação. Antigamente as pessoas sabiam as notícias pelos jornais, hoje sabem por dentro. Todas as pessoas têm hoje acesso às ferramentas internas.

M&P: Essas ferramentas já foram várias vezes distinguidas em festivais internacionais…
PCC: Tanto em Portugal, como na Europa e na América Latina, como o melhor canal de TV corporativo. É um canal feito por pouca gente e com pessoas que têm de saber um pouco de tudo. Por exemplo, quem faz o canal faz também a rádio. A partir de Janeiro os colaboradores vão poder aceder à diversa ferramentas de comunicação interna a partir de um dispositivo móvel, independente de onde estiverem.


“Temos de aumentar as sinergias nas diversas áreas dentro das empresas do grupo nas diversas geografias, de forma a que daí resultem poupanças que nos permitam fazer mais”


“No futebol tenho a certeza de que é totalmente impossível a EDP estar presente”

 



M&P: Já informou algum parceiro de que poderá haver cortes no orçamento para 2016?
PCC: Este ano não vamos ter cortes, isso significava que andava a mentir. Se no ano passado se cortou 10 por cento e no anterior 10… daqui a pouco estávamos a zero. Para o próximo ano não está previsto corte, vamos analisar e realinhar as prioridades. A criação da direcção global de comunicação é muito importante porque através de pequenas poupanças conseguimos fazer mais. Se o budget aumentasse conseguíamos fazer mais, o que não quer dizer que fizéssemos melhor. Agora o desafio é ao contrário. Temos de aumentar as sinergias nas diversas áreas dentro das empresas do grupo nas diversas geografias, de forma a que daí resultem poupanças que nos permitam fazer mais.

M&P: Entramos num novo ciclo político. De que forma a EDP encara este novo governo?
PCC: A EDP é hoje uma empresa 100 por cento privada e as decisões são definidas pelos accionistas. Há um conselho geral de supervisão que supervisiona o que o conselho de administração executivo faz. Nós vamos continuar a fazer bem o que fazemos e a entregar os resultados com que nos comprometemos. A política aqui não interfere.

M&P: No acordo entre o PS e o Bloco consta a medida de retirar a taxa o audiovisual da conta da luz…
PCC: Também não comentamos propostas, nem projectos de decreto-lei. Nós limitamo-nos a cumprir o jogo com as regras definidas.

M&P: Puxava a questão política porque, muitas vezes, os comentários negativos que podem pôr em causa a reputação da EDP acabam por vir da área política, seja pelos custos da energia ou a construção de barragens.
PCC: Se os partidos concordassem todos, seriam todos iguais. Os programas e os objectivos dos partidos são diferentes. A EDP é um player que vai continuar a jogar da mesma forma de sempre: trabalhar e produzir energia, distribuir energia, comercializá-la e continuar a dar bons resultados aos accionistas, mas sempre tendo em conta um conjunto de stakeholders. Os políticos são stakeholders importantes para a EDP.

 

 


“Estamos a ver se há espaço para um festival EDP criado de raiz”


A poucos meses do regresso do Rock in Rio, Paulo Campos Costa explica porque está a olhar para novas oportunidades
na área da música e afasta a ideia de que tenha um dos maiores orçamentos de comunicação do país. “Adorava que fosse verdade”


M&P: Na nomeação para os Prémios M&P foi referida a coerência da aposta da EDP na música e no desporto. Tendo em conta que o Rock in Rio está próximo e tem um acordo para os mercados onde o evento decorre, acha que o festival continua a funcionar bem em termos de plataforma de comunicação?

PCC: A música continua a funcionar bem em termos de plataforma de comunicação, mas por estarmos nos festivais não quer dizer que continuemos. Depende sempre de quem organiza e das condições que são dadas aos patrocinadores para que haja visibilidade e retorno e se consiga impactar quem lá vai e se perceba, no meu caso, que está lá a EDP. Eu não tenho um produto que possa distribuir, a energia eléctrica não é palpável. O desafio que lanço internamente é qual a forma de nos posicionarmos em cada um dos festivais. Estamos a fechar o nosso posicionamento em relação ao próximo ano. Isto não tem a ver apenas com um lado, tem a ver também com o lado da organização que tem de nos dar as condições para lá estarmos. Se começar a ser uma confusão de marcas e uma anarquia em que não existam regras, não vale a pena continuarmos na música. Mas a música é um excelente território, foi uma boa aposta que fizemos na altura certa. No Brasil, este ano, os resultados foram muito bons para nós em termos de activação no local. Agora, estamos a falar de um continente com 200 milhões de habitantes em que somos conhecidos, como disse, em duas zonas. Fora daí há um trabalho que tem de ser feito que não se faz de um dia para o outro, a não ser que tivéssemos um budget enorme e fizéssemos uma aposta massiva a divulgar a marca EDP.

M&P: No mercado português estão então a reavaliar se continuam com os mesmos festivais?
PCC: Em princípio, em 2016, vamos continuar com os mesmos festivais. Foi isso que colocámos nos nossos planos. Agora, estamos a falar com as organizações de festivais, que são várias, para definir o nosso posicionamento.

M&P: Quanto gastam em patrocínios de festivais?
PCC: Nunca respondemos a essa questão. Pode-se dizer que em termos de orçamento disponível para patrocínios não estamos a falar em mais que 10 ou 12 por cento. Se tivesse um grande festival, com o naming EDP… Nós temos um que é o EDP Cool Jazz, que este ano foi muito mais forte do que no passado e em que o retorno para a marca foi maior, mas não tenho ainda um festival de raiz criado para a EDP. Para 2016 não está previsto, mas, para o futuro, estamos a ver se há espaço para um.

M&P: O que seria um festival de raiz?
PPC: É um festival que ainda não existe, com naming nosso e onde iriamos fazer as coisas de forma diferente. Não posso dizer agora qual seria essa forma, mas teríamos de ser diferenciadores. Quando decidimos apostar no território da música fizemos um trabalho com mais de um ano e meio para ver todas as áreas e modalidades, incluindo futebol e basquetebol, onde é que havia espaço e não houvesse confusão de marcas, para conseguirmos ganhar alguma identificação positiva junto dos nossos clientes. Vimos que havia espaço. Andámos no primeiro e segundo anos a aprender. Não entrámos neste território para sair. Não estamos só nos festivais, que é aquele evento que acontece todos os anos, e no caso do Rock in Rio de dois em dois anos.


M&P: No desporto têm-se fixado no atletismo.

PCC: Somos o patrocinador mais antigo de maratonas. No dia 13 de Dezembro temos a prova mais antiga do país, que não tinha apoios nem visibilidade, e que vamos apoiar esta prova que tem uma causa social.

M&P: Porque não a aposta em futebol?
PCC: Aí estamos a falar de outros valores. Uma empresa como a EDP para entrar no futebol tinha de dominar e ser visível como outras marcas o foram no passado. Mas estamos a falar de valores que não cabem, de forma alguma, dentro do nosso orçamento.


M&P: Chegaram a analisar as abertura de patrocínio ao FC Porto e ao Sporting?

PCC: Não, porque uma das coisas definidas pelos accionistas é que não estamos no futebol. Não temos budget. Não temos orçamento mesmo que largássemos tudo o resto para estar no futebol. Estamos a falar de outros valores. O retorno, não sei se é maior, é diferente. Agora, não temos orçamento para estar no futebol.


M&P: Quando no mercado se comenta que tem um dos maiores orçamentos de comunicação do país não é verdade?

PCC: Adorava que fosse verdade. Já passei por outras empresas e tenho o conhecimento de qual era o orçamento na altura. Agora, temos um orçamento em que tentamos chegar ao maior número de eventos dentro do que está definido como nossas prioridades em termos de apoios. Agora, no futebol, tenho a certeza de que é totalmente impossível a EDP estar presente.

 

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“Temos claramente um ou dois trabalhos que podem ganhar ouro”

O festival Cannes Lions arranca este fim-de-semana. Em entrevista ao M&P, Vasco Perestrelo, CEO da MOP e representante do festival em Portugal, fala sobre o estado da criatividade nacional e […]


O festival Cannes Lions arranca este fim-de-semana. Em entrevista ao M&P, Vasco Perestrelo, CEO da MOP e representante do festival em Portugal, fala sobre o estado da criatividade nacional e antecipa o que podemos esperar da performance das agências nacionais

 


“É imprescindível fazermos melhor.” É desta forma que Vasco Perestrelo, CEO da MOP e representante em Portugal do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, responde perante as expectativas para este ano. Em 2014 Portugal conquistou apenas um leão de bronze. Nas palavras do profissional, “temos claramente um ou dois trabalhos que podem ganhar ouro” e para pratas e bronzes “há muitos candidatos potenciais”. Ainda assim, Vasco Perestrelo reconhece que a criatividade nacional ainda não está ao nível dos anos áureos da publicidade, antes da crise. “Temos de voltar a ganhar essa capacidade de querer arriscar, de querer ganhar, de querermos ser bons”, exorta, lamentando o facto de que “a crise legitimou a cadeia de valor de não arriscar”.

Meios&Publicidade (M&P): No último ano tivemos um dos piores desempenhos de sempre em Cannes com apenas um leão de bronze [em Design para a This is Pacifica]. Este ano podemos estar mais optimistas?

Vasco Perestrelo (VP): Tivemos uma crise e isso afectou a criatividade. O que a crise fez, além de um impacto financeiro muito importante no mercado em geral e de publicidade em Portugal, que nos últimos cinco a seis anos caiu 35 a 40 por cento, foi levar o mercado todo a retrair-se, começando na cadeia de valor dos anunciantes até aos publishers. Isso aconteceu porque uma crise como a que tivemos faz com que as marcas tenham de pensar no essencial e a publicidade não é o essencial. Devia ser mas não é. Isso fez com que se retirasse um nível de risco, aumentando a aversão ao risco e reduzindo a capacidade de inovação, o que se reflectiu não só no nível de inscrição de candidatos como também na qualidade dos trabalhos. A crise legitimou a cadeia de valor de não arriscar. Nesses anos caímos muito, quer ao nível do volume de inscrições que no numere de candidatos. Em 2013 crescemos um pouco mas penso que teve a ver um pouco com o efeito Eurobest em Portugal, agora voltámos a crescer (os números finais apontam uma subida de 14 por cento nas inscrições portuguesas) e, portanto, nota-se que a publicidade, os prémios e a capacidade de risco está a voltar.

M&P: Mais do que o volume de inscrições, o fraco desempenho terá tido mais a ver com os projectos que existiam e a falta de capacidade das marcas portuguesas em arriscar? O único leão foi, aliás, para um projecto desenvolvido para um estúdio alemão.

VP: Exactamente. Telecomunicações tem sido talvez o mercado mais competitivo em Portugal do ponto de vista da comunicação, mas o mercado de cada marca caiu muito e isso teve um impacto natural na capacidade de investimento, apesar de aí, porque a concorrência ainda é muito dura, ainda houve, principalmente pelo movimento de concentração da NOS e pela força do Meo, uns vestígios de criatividade boa, arriscada, como consequência de o mercado ser muito competitivo. Mas há outros mercados que não são tão competitivos. Quando as marcas chegam à conclusão de que podem, no limite, sentar-se à mesa e chegar a um acordo para cada uma baixar os seus investimentos em x por cento e ficam as duas na mesma em termos relativos, estamos em maus lençóis. Significa que a crise é de tal ordem que faz com que as marcas cheguem a conversar em vez de concorrerem umas com as outras.


“Quando as marcas chegam à conclusão de que podem, no limite, sentar-se à mesa e chegar a um acordo para cada uma baixar os seus investimentos em x por cento e ficam as duas na mesma em termos relativos, estamos em maus lençóis”

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M&P: E do lado das agências criativas? Acha que a necessidade que muitas sentiram de reter clientes lhes retirou essa capacidade de propor coisas arriscadas?

VP: Completamente. Há dois níveis de crise, um sustentado em que todo o mercado sofre mas depois existem algumas agências que, por terem uma cultura diferente, vêem nisso uma oportunidade, muitas vezes até são mais ousadas e fazem mais e melhor criatividade para se distinguirem e tirarem partido dessa homogeneização do mercado. Mas há um segundo nível de crise, que infelizmente foi aquele a que chegámos, em que é tão grande e o impacto nas empresas é de tal ordem que esse efeito de curto prazo vai embora também. As agências são feitas de pessoas e, quando se cai 20, 30, 40 ou 50 por cento de receitas, isso tem um impacto imediato no principal custo, que são as pessoas. E não havendo recursos, há uma tendência para que menos pessoas tenham de fazer o mesmo número de trabalhos e isso acaba por homogeneizar o trabalho. Há menos tempo e o exercício criativo é um exercício que precisa de tempo e de reflexão. A crise retirou tudo isso e a consequência foi o trabalho ser bastante mais mediano.

M&P: E neste momento as agências já têm esse tempo?

VP: Ainda não. O grande problema da crise é que vamos demorar mais tempo a recuperar a situação que tínhamos antes. O mercado caiu muito depressa e vai demorar duas a três vezes mais o tempo que tivemos de perda para recuperar os níveis do passado. Mas há coisas boas no meio disto, porque no meio desta revolução consequente da crise, houve a revolução digital, a revolução dos media, várias revoluções ao mesmo tempo, que fazem com que os paradigmas estejam a mudar de uma forma muito mais abrupta. Há muitas agências novas que apareceram já nestas condições e são muito mais elásticas, mais flexíveis, a fazer coisas sem ser nos standards das grandes agências, sempre num modelo muito enraizado nos tempos do analógico.

M&P: A criatividade nacional já está num nível de qualidade semelhante ao dos anos em que trouxemos mais leões de Cannes?

VP: Acho que não, tenho que ser sincero. A crise balizou-nos a todos, a começar pelo anunciante e até chegar a nós, tirou-nos a todos este capacidade de risco e nós somos bichos humanos e acomodámo-nos a isso. Temos de voltar a ganhar essa capacidade de querer arriscar, de querer ganhar, de querermos ser bons. Os resultados da publicidade em Cannes, relativamente a Portugal, durante muitos anos foram melhores do que a nossa posição relativa em relação ao mundo. Em muitos outros rankings não estávamos tão bem como em Cannes em termos criativos, o que mostra que é um sector ambicioso. Isso perdeu-se um bocadinho. É preciso agora que as pessoas que estão à frente das agências voltem a ter esse sentido de querer arriscar e vencer.

 

 


M&P: Ao nível das inscrições, no último ano tivemos apenas 10 inscrições em Filme, metade das do ano anterior. Na competição dos Young Lions, pela primeira vez, este ano as inscrições em Cyber superaram as de Filme. É uma tendência esta diminuição das inscrições em Filme a a aposta cada vez maior no digital?

VP: Acho que sim. Há duas tendências a acontecer em filme. Também há filme em Cyber e há muitas coisas low budget que, como vão depois para YouTube, estão a ir para a categoria de digital. Enquanto em Filme tem sido mais o filme tradicional, e aí ainda são grandes produções. E a nossa crise deu cabo disso, com excepção dos filmes da NOS, que tiveram, por força da fusão, a circunstância de ter um grande budget. Mas onde se gastava mais dinheiro numa campanha era na produção do filme e, portanto, isso teve um impacto de curto prazo. Mas há um efeito paralelo, os custos de produção também estão a cair. Hoje em dia consegue-se fazer um filme como telemóvel, o exercício dos Young Lions em Filme em Cannes é com telemóvel. Portanto, há aqui um efeito que vai começar a ter peso a médio prazo, vão começar a aparecer grandes ideias, talvez com níveis de produção muito altos, mas que custam muito menos. Vai dar outra vez um boost à produção de filmes. Mas muitas vezes os filmes mais low budget não vão a televisão porque ainda é caro e vão parar a Cyber. Se continuar a haver essa separação, é natural que o Cyber cresça muito e o Filme não tanto, mais para Portugal. Se a categoria passar a ter mais a ver com o filme em si e não com o meio onde é divulgado, vai crescer como um todo porque estamos numa era, sobretudo no digital, de grande boom do vídeo, vai crescer aí nitidamente.

M&P: Tendo em conta os trabalhos que tem visto e os que foram inscritos, quais as categorias onde lhe parece que os trabalhos portugueses têm mais hipóteses de trazer um leão?

VP: É difícil. Inibo-me sempre um bocadinho de dizer, tenho os meus preferidos, como é óbvio. Há uma campanha que adoro, do Teatro Maria Matos e do São Luiz (projecto criado pela Leo Burnett). Mas aí está um caso que, em termos internacionais, vai ser muito difícil passar porque aquilo é muito nosso, há ali um lado emocional de ser português que nós valorizamos muito mas que tenho receio que tenha dificuldade de passar em Cannes. Espero que não. É um case global, que faz o pleno em termos de comunicação. O que sinto é isso, cada vez mais as agências a especializarem-se não só nas suas áreas tradicionais mas a irem buscar outras áreas, isso vai continuar a ser uma tendência.

M&P: Sem especificar em termos de projectos, quais as categorias com melhores hipóteses?

VP: Diria que temos possibilidades em Design, nas tradicionais temos sempre bons trabalhos e nas áreas digitais também temos coisas muito interessantes. Nas áreas completamente novas, como Innovation e Branded Entertainment, não tenho a certeza se temos alguma coisa inscrita. O que também mostra uma tendência que ainda não chegou cá e que é trabalho também da representação portuguesa, que é ir buscar toda a área tecnológica, startups e isso passou a ter um espaço em Cannes. É para isso o leão em Inovação, para ideias tecnológicas e não tanto para criatividade. Há que ir buscar todo esse sector que, em Portugal e especialmente em Lisboa e em alguns pólos, está muito pujante. Vamos, com o passar do tempo, ver esses pólos entrar em Cannes, o que é bom. A nossa ideia é que no próximo Cannes Lions Review, já este ano, já tenhamos espaço para toda essa gente.

M&P: Se tivesse de apostar numa previsão, o que diria? No último ano foi apenas um e de bronze. É fácil fazer melhor este ano?

VP: É imprescindível fazermos melhor. Temos claramente um ou dois trabalhos que podem ganhar ouro, gostava muito que pudéssemos trazer ouros. A partir daí acho que para pratas e bronzes há muitos candidatos potenciais. Embora não seja decisivo, é importante em termos relativos o que vai aparecer dos outros países. Para o ouro isso não é importante, quando um trabalho é ouro é ouro, mas para prata há uma tendência para se equilibrar um bocadinho, ver o que se está a fazer em termos mundiais. Mas acho que temos aí muitas hipóteses, shortlist então muitas mais, mas gostava de ter no mínimo dois, três, quatro leões e, se possível, um ou dois leões de ouro.


Inscrições portuguesas em Cannes crescem 14% para 241 projectos


LDepois de terem caído cerca de 31% no último ano, fixando-se em 211 projectos inscritos, as inscrições portuguesas no festival Cannes Lions voltaram este ano a crescer na ordem dos 14% de acordo com os números oficiais agora divulgados. Este ano estarão a concurso no festival de criatividade 241 projectos de agências nacionais (235 mais seis projectos inscritos no festival Lions Health), ainda assim aquém dos 313 projectos submetidos em 2009, o ano com maior volume de inscrições desde que rebentou a crise no mercado publicitário.
Em termos de categorias, Imprensa continua a ser a mais concorrida pelas agências nacionais, com 41 projectos inscritos, seguida de Outdoor com 29. Empatadas em terceiro lugar estão as categorias de Media e Promo & Activação, ambas com 23 inscrições. Logo a seguir, com 22, surge a categoria Cyber, seguida de Filme e Direct com 18 e 17 projectos nacionais a concurso, respectivamente. Com 12 inscrições estão as categorias de Design e Filme Craft e com 11 as de Rádio e RP. Branded Content & Entertainment conta com 9 projectos de agências nacionais, enquanto Design de Produto e Mobile registam apenas 5 e 2 respectivamente. Nas categorias de Titanium & Integrated, Eficácia Criativa e Glass Lions, assim como no novo festival Innovation Lions, não há projectos nacionais a concurso. No festival Lions Health Portugal conta com 6 inscrições, 3 em Pharma e 3 em Health & Wellness.
No total de todos os países, o festival bateu este ano novo recorde com 37,426 inscrições, a que se somam 1862 nos Lions Health e 845 nos Innovation Lions.

 


Previsões para Cannes

 



M&P: Esses dois projectos de que fala com hipóteses de ganhar ouro, pode adiantar quais são?

VP: Não, como representante não gosto de dizer. Também já me enganei, houve pelo menos um ano em achei que ia ganhar e nao aconteceu. O meu critério já falhou. A meu favor tenho o facto de que em todos os outros anos acertei sempre, como foram os casos da Microsoft e O Escritório ou da campanha da Fuel. Mas acho que vamos ganhar alguma coisa de ouro.

M&P: E a nível internacional? Quais os cases que se destacam e que estão na frente da corrida pelos leões?

VP: Há uma campanha internacional para o National Geographic, um filme em que só usam locução de uma pessoa conhecida, o Kevin Spacey, em que, no fundo, fazem uma analogia à nossa destruição do planeta. E os filmes são lindos. Estou a dar este exemplo porque é um exemplo completamente tradicional, em que a pureza de uma história bem contada, com um copy bem escrito, tem um efeito extraordinário. Depois há todo um conjunto de casos virais que são extraordinários.

 

 


O estado da criatividade nacional

 

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