Portugal (ainda) é production friendly mas produtoras pedem mais apoio
Depois da pandemia, agora a incerteza económica provocada pela ainda guerra na Ucrânia obrigou as produtoras nacionais a reinventarem-se (mais uma vez). Nada que as faça baixar os braços. Apesar […]
Sandra Xavier
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Depois da pandemia, agora a incerteza económica provocada pela ainda guerra na Ucrânia obrigou as produtoras nacionais a reinventarem-se (mais uma vez). Nada que as faça baixar os braços. Apesar dos constrangimentos, Portugal está bem e recomenda-se.
“A conjugação do fim da pandemia com o início da guerra na Ucrânia, faz com que o panorama da publicidade em Portugal se ressinta com a inflação, tal como a maior parte dos setores. Os orçamentos sofrem um aumento do custo em geral, desde os materiais, equipas, alimentação, transportes, alugueres de equipamento e até no custo dos locais se sente a diferença de valores. Infelizmente, muitos e bons projetos, não passam do orçamento, não pela vontade das marcas ou das agências, mas pela exigência orçamental que muitas vezes não é possível cumprir”. As palavras são de João Cabezas, sócio e produtor executivo da Casper Films.
Alberto M. Rodrigues, executive producer da Ministério dos Filmes, concorda que “a indústria perdeu valor, como acho que se passa em todos os setores de atividade, exceção feita, se calhar, ao turismo e a algum setor imobiliário. Mas esta é a realidade que temos e procuramos ultrapassar, com aquilo a que chamo produção criativa, ajustar a forma de trabalhar à realidade, e esta não é de agora”. Mas para o responsável existe uma realidade “mais dura: os players que insistem em desvalorizar a sua/nossa própria atividade, com orçamentos absolutamente incomportáveis”, desabafa.
André Valenti Gaspar, realizador e sócio da Perfect Storm, afirma ter sentido “uma paragem no início do ano, que percebemos ser geral. Houve um momento de ponderação por parte das marcas, para perceber de que forma os consumidores e as suas próprias marcas se iriam adaptar a uma nova realidade de recessão no poder de compra. No entanto, a conclusão foi o que já todos esperávamos, não só é necessário continuar como é fulcral comunicar para qualquer marca sobreviver em tempos de crise”.
As sucessivas crises económicas, diz, dotaram a indústria de uma capacidade de “adaptação mais ágil por parte de todos. Mas há com certeza algumas alterações no setor, os clientes e agências estão mais criteriosos nos briefings, na escolha da pool de produtoras, em todo o processo há um maior rigor na procura pela eficiência. Ao mesmo tempo e ligada a essa eficiência, cresceu a procura pela inovação e em diferenciar-se do resto do mercado. As criatividades são mais arrojadas e o papel das agências e dos criativos é cada vez mais exigente, mas isso abre espaço também a novos talentos”.
Nuno Noivo, executive producer da Grumpy Panda, alerta que “o impacto da inflação no setor tem obrigatoriamente que refletir-se também num maior investimento para a produção e não apenas restringir-se aos custos de quem cria e produz”.
Alexandra Dias, fundadora e executive producer da More Maria, explica que “a alteração que sentimos na procura tem sido no sentido positivo, mas será um dado conjuntural, eventualmente não generalizável. Já no que toca aos projetos, temos, por um lado, sentido uma estagnação dos budgets dos anunciantes, e por outro um incremento dos custos dos recursos, o que impõe desafios adicionais e nos obriga a ser mais criativos na forma como abordamos os projetos”.
Já Alexandre Montenegro e Tamiris Montenegro, produtores executivos da Show Off/Mola, asseguram que, “quem disser que este ano não está a ser um ano atípico, ou está a mentir ou, no máximo, faz parte da exceção que confirma a regra. A guerra na Ucrânia, que teima em não acabar, a inflação que daí origina e as mudanças de paradigma e investimentos na indústria, tudo influencia e influenciou um ano muito duro, com uma procura menor e uma luta maior no nosso setor já tão desgastado em anos anteriores”.
Opinião diferente tem Miguel Varela, CEO da Garage, para quem a procura e os orçamentos para produção estão “bem acima do esperado” e para quem o impacto que a inflação está a ter no setor “é transversal”.
João Abreu, produtor executivo da Playground, concorda: “Da nossa parte o saldo é positivo, com bastantes projetos neste primeiro semestre do ano, com praticamente todos os realizadores a filmarem com alguma regularidade.O impacto da inflação sente-se, sobretudo, no que tem a ver com combustíveis, construção, refeições, disponibilidade de viaturas e materiais – o que, de facto, acaba por ter um peso significativo no orçamento de produção, ainda que estejamos sempre a tentar minimizar o impacto no orçamento final ao cliente. Para fazer face a estas questões, procuramos, acima de tudo, ser mais eficientes na abordagem aos projetos e durante a produção”.
Comunicar mais com menos
Relativamente ao que está mudar nos pedidos das marcas, Miguel Varela remete a resposta para as agências e João Abreu diz não sentir mudanças. “Tanto clientes como agências continuam a trabalhar nos melhores conceitos possíveis para cada marca, para cada produto e o impacto que isso tem tido na parte de produção tem sido o habitual”, afiança.
Já André Valenti Gaspar considera que “há uma maturidade diferente nos briefings que chegam por parte das marcas e das agências, com objetivos muito claros, tanto da estratégia de comunicação da campanha como do espaço que existe para o input da produtora e dos realizadores. Existe esse espaço e é cada vez mais valorizado. A eficiência do produto final passa por todos os intervenientes.
Outra das mudanças que sentimos é a secundagem dos filmes, que está cada vez mais reduzida. As peças maiores são o nice to have que faz sentido, muitas vezes apenas no digital devido ao investimento, e as peças mais curtas são o foco principal, tanto para TV como para o digital. É um desafio gigante que está primeiramente na mão dos criativos, mas também passa para o nosso lado”.
João Cabezas concorda com “o fortalecimento da presença no digital, não como um complemento à televisão, mas com uma estratégia bem definida, sempre apoiada pelo trabalho das agências. É cada vez mais um meio direcionável aos clientes alvo que obriga as produtoras a reinventarem-se e a acompanhar as novas tendências digitais”.
Para Alberto M. Rodrigues, “as marcas tentam comunicar da forma mais abrangente possível, já não basta ter um filme em TV, como no passado, têm que chegar a todos os públicos, estar atentas a todas as formas de comunicação, que hoje existem e são muitas, logo os pedidos são cada vez mais complexos, no que diz respeito à resposta a dar nos vários formatos”.
Nuno Noivo defende que “a principal inovação está na relação entre o público e a mensagem: a comunicação crossmedia e a consciencialização social. Os briefings vêm com versões, reduções ou diferentes filmes para formatos e plataformas específicas, o que torna bastante desafiante otimizar um plano normal de rodagem para todos esses outputs. Esta evolução resulta em que se encontrem também novas linguagens e novos códigos estéticos. Temas como a diversidade e a inclusão fazem cada vez mais parte das estratégias de comunicação”.
“Além do já referido desalinhamento progressivo entre budgets e custos”, Alexandra Dias diz que “existe também uma maior pressão sobre os prazos de execução”.
Quanto a Alexandre Montenegro, lembra que “já não é de hoje que não fazemos ‘apenas’ filmes. Fazemos filmes, post, reduções, formatos, fotos e aproveitamento de tudo e de todo material possível e imaginável de uma produção. Faz parte da atualidade, faz parte da nova realidade digital e orçamental. Portanto, nunca a frase ‘um negócio de milhões, onde se contam tostões’ fez tanto sentido como agora”.
Budgets encolhem
De facto, há, por parte das produtoras ouvidas pelo M&P, uma sensação (e certeza) de que os clientes estão a querer fazer mais com menos. Talvez, por isso, no caso da Garage, “cada projeto é avaliado com o menor custo possível, mas tentando servir a ideia, não pondo em causa, nunca, a qualidade das produções”, destaca Miguel Varela.
João Abreu refere que, “na generalidade, clientes estão bastante cientes dos custos de produção e, embora nos lancem muitas vezes verdadeiros desafios criativos, entendem os orçamentos que lhes são apresentados. Regra geral, os concursos são equilibrados ao nível de valor e, do feedback que temos, a criatividade dos realizadores continua a ser um fator determinante na escolha. No caso em que há consultores de produção a mediar o contacto entre as produtoras e os clientes, temos tido o seu apoio na gestão das expectativas de todas as partes”.
André Valenti Gaspar argumenta que “a pós-produção é uma grande mais valia para complementar a imagem filmada e é algo que as agências e as marcas começam a utilizar no sentido de redução de custos. Acrescentar pós-produção encarece um projeto, mas utilizar a pós-produção para substituir elementos – de todos os tipos: de arte, de location, de figuração -, faz com que seja possível manter custos reduzidos sem perder qualidade e impacto nos filmes”. Além disso, prossegue, “os meios técnicos, nas produções nacionais, só têm espaço para serem utilizados de forma mais eficiente e criativa e nisso temos visto uma grande adaptação, desde o briefing até à concretização das ideias. A redução de custos não pode ir nunca contra os resultados e disso todas as marcas com sucesso estão muito consciencializadas”.
Alberto M. Rodrigues considera que, “cada vez mais, o processo criativo não pode distanciar-se do budget das marcas e todos os envolvidos, cliente/agência/produção, têm que estar presentes mais cedo, ainda numa determinada fase de criação, para se poder optar pelo caminho certo e não chegar ao ponto em que a ideia está absolutamente desfasada do budget disponível. Este processo existia no passado, eu participei em vários, ao longo dos anos, deixou de existir, na maioria dos casos, infelizmente. E aí surgem os problemas e a frase ‘criativa’ ou não tanto -‘arranja quem faça’”.
Para Nuno Noivo, “o investimento/impacto em diferentes media faz com que a fatia para a produção seja cada vez mais ponderada por métricas e percentagens, mas, sem o correspondente acompanhamento por parte da criatividade e do investimento, esse custo está a ser imputado aos diferentes agentes, que têm que entregar o produto pretendido”.
Alexandra Dias recorda que “o panorama não é homogéneo; existem marcas que pretendem produções menores e menos recursos; existem as que querem produções similares e menos recursos; mas também se fazem grandes campanhas com budgets ajustados à realidade”.
Já João Cabezas, não tem dúvidas de que, “infelizmente, os orçamentos estão a reduzir, ou não reduzem mas pedem para incluir mais outputs, mais fotografias, mais filmes digitais, o que acaba por se resumir numa redução orçamental. Tentamos sempre que isso não implique diretamente nos meios ou na dimensão da produção. Mais logística orçamental, mais negociações, menos margens para as produtoras, mas sempre cumprindo os nossos parâmetros de exigência”, sublinha. Tamiris Montenegro alinha que a redução dos budgets “é uma tendência que veio a acentuar-se cada vez mais. E engana-se quem acredita que irá mudar ou acabar. Simplesmente veio para ficar. Quem souber lidar com essa realidade irá sobreviver, quem não souber irá ficar pelo caminho, é a ordem natural das coisas”, resume.
Pandemia (ainda) a fazer das suas nas equipas
Não é só nos orçamentos que as produtoras sentem diferença. Ao nível dos recursos humanos disponíveis também. A maioria dos protagonistas do mercado considera que ainda há sequelas resultantes da covid-19, mas Miguel Varela acha “que não tem só a ver com a pandemia”.
Tamiris Montenegro recorda que “muita malta simplesmente desistiu da profissão ou simplesmente mudou de ares, porém, o mundo tornou-se mais pequeno e, portanto, os profissionais estrangeiros tornaram-se mais fáceis e acessíveis – vemos isso na pós-produção. Se é verdade que sofremos uma verdadeira razia na nossa equipa fixa que, com algum orgulho até, foi levada pela Marvel, Pixar e empresas deste nível, também não é menos verdade que temos acesso a profissionais do mundo todo – desde a Índia à América do Sul -, disponíveis para trabalhar em equipa connosco ao simples carregar de um botão”.
João Abreu também deteta “carência de profissionais a vários níveis, mas não cremos que tenha sido fruto da pandemia, como identificado noutros setores. Se no ano passado sentimos que havia uma grande pressão ao nível dos recursos humanos devido às grandes produções internacionais, infelizmente, este ano, devido à incapacidade de o país se manter competitivo, não estamos a prever uma situação semelhante”.
Nuno Noivo concorda que “a limitação dos recursos humanos está associada ao aumento das produções internacionais. Claro que este verão, também vamos ter limitações graças à Jornada Mundial da Juventude. Quando as produções eram apenas as nacionais, era difícil a ficção nacional conseguir absorver as equipas que faziam publicidade durante tanto tempo. Agora mudou, porque estamos a falar de produções internacionais, com outros meios e orçamentos, e é a publicidade nacional que está a ter dificuldade em assegurar equipas em determinados períodos e em poder assegurar as remunerações desejadas”.
Alberto M. Rodrigues afirma que “as sequelas vão demorar a desaparecer, temos que as ultrapassar, não existe outra maneira de reagir. Os recursos humanos, em Portugal, são de grande valia e nada ficam a dever ao que se faz fora do nosso país”. Por outro lado, prossegue, “a área de service é uma área em que a Ministério entrou recentemente, mas recebemos algumas solicitações, sobretudo com parcerias que tínhamos na área da produção noutros países; é um processo que estamos a tentar melhorar, mas as condições do nosso país são incríveis sob todos as aspetos”. No entanto, o responsável deixa um alerta: “As produções de service têm, por norma, mais dinheiro e nalguns casos inflacionam a nossa indústria, há que ter algum cuidado com as portas que se fecham, porque foram inflacionadas numa determinada produção de service.”
André Valenti Gaspar também acredita que “as sequelas do período pandémico vieram para se manter: as reuniões virtuais, as aprovações por via digital, as produções mais leves, tudo isso veio facilitar e tornar os processos mais ágeis. As reuniões presenciais continuam a existir e a serem valorizadas, mas em momentos cruciais já não há retorno para a realidade pré-covid”. Ao nível de recursos humanos, continua, “vemos duas grandes mudanças. Por um lado, temos técnicos muito talentosos na área da publicidade, mas são um número reduzido quando se torna necessário responder a tantas produções vindas de fora – os services -, e quem sofre com isso são as produções nacionais, que têm recursos mais reduzidos. Por outro lado, os meios digitais encurtaram as distâncias em todo o mundo, e poder trazer talentos internacionais ou até mesmo portugueses que fazem vida lá fora, é agora uma possibilidade. A forma como selecionamos os nossos realizadores e o nosso talento, perdeu a barreira das fronteiras. E isso não se deve só aos nossos processos, mas também aos da indústria de uma forma geral”.
Opiniões diferentes têm Alexandra Dias, para quem já “voltámos à ‘normalidade’ ou a um panorama pré-pandemia”, e João Cabezas, que assegura que “já não existe qualquer sequela do período pandémico nas produções, quer nacionais quer internacionais. A área do service tem estado com elevada procura, ainda mais elevada no outono/inverno quando muitos países têm condições meteorológicas mais adversas e nós temos invernos mais quentes e amenos. Apesar de o nosso departamento dedicado ao service ser recente, há muito que a Casper já produzia services, muito por ligações antigas com broker, contudo, factos são factos, e passámos de orçamentar mais do dobro do que o ano passado”.
Opiniões dividem-se sobre atratividade de Portugal
“A perceção que temos é que a procura continua a crescer. Temos um país com características singulares e muito atrativo: uma luz surpreendente, bom clima, enorme diversidade de locais e paisagem, equipas com enorme profissionalismo e, pelo menos por enquanto, a preços competitivos”, destaca Alexandra Dias. Nuno Noivo está em sintonia: “A procura está em crescimento, devido aos incentivos e ao aumento de produções para as plataformas de streaming, contudo, existem duas ameaças que podem impedir essa continuidade de crescimento futuro: a limitação existente das verbas disponibilizadas para os incentivos à produção através do cash rebate e para os apoios às coproduções, e o aumento dos custos das produções, relacionados com o aumento das tabelas das equipas e com a inflação generalizada.”
João Cabezas concorda que “as produções internacionais têm tido uma procura elevada, com mais orçamentos e consultas neste último semestre. Existe também muita concorrência por parte de outros países, quer europeus quer de outros continentes”. Na Europa, refere “existem vários países com grande capacidade concorrencial com Portugal. Deveria existir uma maior estratégia com apoio governamental para o apoio e captação de produções em território nacional, exemplo de Espanha que está, neste momento, com vários apoios ao nível fiscal na nossa área com cash back para produção de publicidade”.
Miguel Varela, por seu turno, diz que a atratividade portuguesa tem-se “complicado pela concorrência de outros países mais baratos a nível de técnicos, como no geral. Temos que melhorar a nível de autorizações, nomeadamente de lugares de estacionamento, ainda existe muita falta de compreensão a esse nível”.
Alexandre Montenegro concorda que Portugal poderia ser um destino mais apetecível “se houvesse maior estrutura e interesse por parte dos nossos governantes. Não é compreensível que, após o ano passado, em que Portugal foi palco de tantas produções estrangeiras de porte, nada fosse feito no sentido de aumentar o incentivo para se captar ainda mais produções deste tipo”. Além disso, acrescenta, “a pouca visão de alguns dos nossos técnicos também não ajuda ao criarem tabelas absurdas que retiram competitividade do nosso mercado frente aos nossos concorrentes diretos. A impressão que me dá é que há uma falsa impressão facilitista em acreditar que, apenas por ser service, pode cobrar-se o que for… enfim, pouca visão”.
Também João Abreu considera que “a atratividade do país para o service está a decair notoriamente” e que “os principais fatores são o custo dos técnicos, o custo das viagens e o custo dos alojamentos, que estão a ficar desproporcionalmente altos. A isto junta-se a nossa situação periférica em relação à disponibilidade e acesso a meios técnicos”.
Ao nível de valores, aponta, “estamos agora a competir ao mesmo nível com mercados que ainda há um par de anos tinham valores superiores aos nossos na ordem dos 20 por cento, nomeadamente o mercado espanhol”, sendo que “estes países apresentam uma capacidade técnica e logística bastante mais evoluída e com uma variedade de oferta superior à nossa a nível de casting, localizações, entre outros”. Já o mercado de Leste, “apesar da guerra na Ucrânia, apresenta valores muito abaixo daquilo que nos é possível apresentar e é bastante competitivo e agressivo na procura de clientes”.
Embora salienta que “Portugal tem equipas técnicas cada vez melhores, uma variedade de casting e uma concentração de localizações extremamente interessante para a produção de service”, João Abreu lamenta que continue “a não existir uma política concreta de apoio ao acolhimento de produções de filmes comerciais estrangeiros e, pior ainda, as notícias que nos chegam é que as produtoras internacionais que procuraram o acesso a esses apoios, como o cash rebate – oferecido praticamente por todos os grandes destinos de service -, debateram-se com níveis de burocracia e prazos que criaram logo anticorpos para o seu regresso ao nosso país. Neste sentido, é de facto a perda de uma oportunidade de ouro, e se perdurar esta inexistência de um plano de apoio bem definido e bem sucedido, poderemos perfeitamente não voltar a ter essa oportunidade num futuro próximo”.
Ainda assim, André Valenti Gaspar defende que “Portugal continua a ser muito atrativo para as produções nacionais e internacionais e não é uma questão apenas de custos. É uma questão de diversidade de paisagens, naturais e arquitetónicas e que ainda não estão demasiado vistas. É uma questão de clima, de segurança e de talento. Formar uma boa equipa em Portugal é fácil, procurar caras com look internacional é fácil. Os nossos clientes e os nossos realizadores internacionais não se cansam de Portugal, pelo menos para já”.
Alberto M. Rodrigues alinha: “Portugal é definitivamente um paraíso no que diz respeito a produções internacionais, mas não é aceitável que a indústria portuguesa tenha tantas restrições, nomeadamente em Lisboa e Sintra. No ano passado, só para dar um exemplo, fecharam boa parte da capital, vários dias, para produções internacionais – estou absolutamente de acordo, todos os envolvidos têm a ganhar, respeitando todas as regras”.
Contudo, explica, “o problema é que as produtoras nacionais têm que inventar estratagemas, como por exemplo estacionar carros de véspera, porque não nos é permitido ter mais do que três lugares de estacionamento, entre outros. Aí existe uma diferença que não é compreensível. Falei destas duas cidades porque é a realidade, espero que leiam ou ouçam falar deste artigo. O resto do país é absolutamente production friendly. A indústria existe e movimenta muito dinheiro, merecia mais respeito.”