A rentrée dos canais de cabo
São cada vez mais a escolha dos resistentes que ainda vão vendo televisão. Na informação, no desporto e no entretenimento, são muitas as novidades que acabam de estrear ou que […]
Luis Batista Gonçalves
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São cada vez mais a escolha dos resistentes que ainda vão vendo televisão. Na informação, no desporto e no entretenimento, são muitas as novidades que acabam de estrear ou que poderão ser vistas nestas plataformas de distribuição já nos próximos meses. As estratégias foram afinadas, mas, salvo raras exceções, não se avizinham revoluções significativas.
Os canais informativos não param. Líder incontestável no cabo, a CMTV ocupa habitualmente o top 10 dos programas de televisão mais vistos nesta plataforma de distribuição de conteúdos. Para manter a liderança, tem vindo a fazer ajustes na programação, mas não se antevê nenhuma revolução. “O nosso conceito de grelha não comporta a ideia de uma rentrée. Reponde no dia a dia à atualidade. Recentemente, melhorámos os acompanhamentos dos jogos de futebol e alterámos o alinhamento das tardes, fazendo crescer o noticiário que é o pilar no horário”, informa Carlos Rodrigues, diretor da CMTV. “Temos uma aposta sempre reforçada no jornalismo de investigação. Mantemos um formato de investigação no ar todos os dias, vai para quatro anos, sem qualquer interrupção, feito único na televisão portuguesa”, orgulha-se.
Mais ambiciosa é a estratégia omnicanal que a SIC Notícias está a desenvolver. “No último trimestre deste ano, esperem uma revolução. Em outubro, seremos mais do que um canal de TV”, garantiu Ricardo Costa, diretor de informação da SIC e diretor-geral de informação do grupo Impresa, na apresentação da grelha do canal de Paço de Arcos. “O segredo é a alma do negócio, mas estamos a trabalhar numa nova forma de abordar o destino da informação como um todo”, confirmou também ao Meios & Publicidade, sem adiantar pormenores, Francisco Pedro Balsemão, CEO da Impresa, dona do canal.
Em mãos com um projeto de construção de novos estúdios, de reformulação da sua estratégia digital e de desenvolvimento da nova grelha para o próximo ano, a RTP3 acaba de estabelecer uma parceria com o Investigate Europe, um consórcio que junta jornalistas de investigação de 12 países. Em outubro, estreia “Ensaio”, um novo programa cultural apresentado pelos jornalistas Diogo Louçã Rodrigues, Catarina Dias Ribeiro e Joana França Martins, nos dias úteis, emitido a partir dos estúdios do Porto, Coimbra e Lisboa. “Iremos também ter um magazine semanal e queremos criar um clube de leitura e um cineclube, para alargar a nossa oferta cultural”, confessa António José Teixeira, diretor do canal.
Na CNN Portugal, também se preparam novidades, mas para novembro, para assinalar o segundo aniversário da estação. “Não são, ainda assim, mudanças estruturais. Estamos numa fase de consolidação e temos um bom desempenho. Faremos ajustes na forma e no conteúdo que serão surpreendentes”, promete Nuno Santos, diretor do canal.
Novidades nas plataformas de streaming
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Com um crescente número de subscritores, as plataformas de streaming também dão o tudo por tudo para atrair (ainda) mais espetadores. Na Netflix, enquanto não chega a segunda temporada da série portuguesa “Rabo de Peixe”, estreia em outubro a terceira temporada de “Lupin”, começa um novo curso em Las Encinas com a sétima temporada de “Élite” e Mike Flanagan apresenta “A queda da casa de Usher”. Em novembro, é a vez de “Toda a luz que não podemos ver” e do reality show “Squid game: O desafio”. Em dezembro, estreia “Berlim”, spin-off de “La casa de papel”.
Na HBO Max, depois de “Wolf”, “The curious case of Natalia Grace” e “Kim vs Kanye”, o destaque vai para a estreia da terceira vaga de “Starstruck”, a 28 de setembro. Em outubro, chegam as novas temporadas de “Our flag means death”, “Rick and Morty”, “The gilded age” e “30 monedas”.
No Disney+, na senda do êxito das séries “The bear”, “Homicídios ao domicílio” e “Ahsoka”, a nova temporada de “Loki” é uma das principais estreias de outubro. As restantes ainda não foram anunciadas.
Futebol continua a ser rei nos desportivos
Nos canais desportivos, a agitação também é grande. Uma das principais novidades do Canal 11 é a transmissão da Liga dos Campeões da Ásia. “Temos como um dos eixos da nossa missão acompanhar os jogadores e treinadores portugueses em qualquer parte do mundo e essa importante prova reúne as condições para atrair a nossa atenção”, revela João Marcelino, diretor executivo de conteúdos da Federação Portuguesa de Futebol. “Asseguraremos que os portugueses continuem a ver os jogos de todas as equipas nacionais que não sejam reclamadas pelas televisões generalistas. O Canal 11 transmite, em média, 130 a 140 jogos por mês”, refere.
Na Sport TV, além de um reforço do digital e da transmissão de três jogos da Saudi Pro League por jornada, para acompanhar jogadores como Cristiano Ronaldo e Ruben Neves e treinadores como Jorge Jesus e Luís Castro, a nova época vive muito das partidas da Liga Portugal Betclic e da Liga Portugal Sabseg. Todos os jogos da segunda liga terão cobertura televisiva assegurada. Por jornada, será também exibido um jogo da Liga BPI, dando maior visibilidade ao futebol feminino.
A Eleven Sports migra para a plataforma DAZN. Apesar do site e da app serem descontinuados a 30 de setembro, os canais continuam ativos na MEO, NOS e Vodafone durante a época desportiva 2023/24, exibindo o futebol da UEFA Champions League, Premier League, LaLiga, Bundesliga e UEFA Women’s Champions League.
Muitas estreias nos canais de entretenimento
Novidades não faltam. Além da exibição de blockbusters como “Shotgun wedding – Casamento explosivo”, “Black Adam” e “John Wick: Capítulo 4”, o destaque mais imediato dos canais TVCine vai para a estreia de “Mal viver/Viver mal”, “Amadeo” e “Great Yarmouth – Provisional figures” e para ciclos dedicados a referências da sétima arte, de Wong Kar Wai a David Lynch. Em outubro, chegam novas produções, como “Based on a true story”, uma divertida série com Kaley Cuoco sobre a obsessão dos EUA por crimes, e, ainda ”This England”, uma aclamada minissérie britânica sobre a figura de Boris Johnson com Kenneth Branagh. “Vamos apostar em séries internacionais e não apenas do habitual mercado americano e inglês”, revela João Magalhães, marketing and communication coordinator dos canais TVCine.
Nos canais AXN, AXN White e AXN Movies, a estratégia não se altera. As novas séries são uma das apostas assumidas, mas as novas temporadas das produções de ficção de êxito também continuam em antena. “O investimento numa vasta oferta de filmes também se vai manter”, assegura Marta Trigoso, marketing manager do AXN Portugal. As maiores mudanças estão reservadas para o AXN White, que exibe a partir de outubro “Pássaro sonhador”. A série turca é a aposta para o horário nobre do canal, tal como “Paraíso das senhoras”, outra produção estrangeira. “A nova estratégia passa por proporcionar aos espetadores a possibilidade de verem as suas séries favoritas todos os dias da semana”, refere ainda a responsável.
Na SIC Mulher, a aposta na ficção passa por mercados menos convencionais. Os bons resultados das séries turcas, com novas estreias para os próximos meses, levam a direção do canal a olhar para Espanha, Ásia, Alemanha e França. No entretenimento, estão garantidos formatos de êxito como “MasterChef Australia” e “America’s got talent”. Os formatos nacionais “What’s up? TV”, “Irresistível” e “Estamos em casa” vão continuar em antena. “Vamos fazer algum investimento em conteúdos para esses programas para tentar capitalizar os convidados que lá levamos”, anuncia Nelson Furtado, diretor da SIC Mulher e da SIC Caras.
Nos canais lineares da The Walt Disney Company Portugal, as novidades só serão desvendadas no showcase da empresa, em novembro, mas as linhas de orientação permanecem. “Reforçaremos o investimento para consolidar não só a liderança do grupo no seu todo, mas também o êxito individual dos nossos canais Fox e Fox Life como os canais de séries mais vistos. É lá que se emitem nove das 10 séries mais vistas em Portugal. O Disney Junior é líder no target preschool e o Disney Channel é campeão de notoriedade O National Geographic é a máxima referência de qualidade no seu segmento e, no 24Kitchen, o foco permanecerá na produção e no talento local”, avança Luís Fernambuco, diretor-geral da The Walt Disney Company Portugal.
O canal Casa e Cozinha também aposta forte em profissionais portugueses para a nova grelha, apresentada no passado dia 19. O veterinário André Santos, a arquiteta Joana Laranjeira, o surfista e viajante João Kopke, o engenheiro do ambiente Tiago Matos, a designer de interiores Vanessa Rebelo e o chef Vítor Adão são os rostos das novidades de produção nacional. No Porto Canal, uma das apostas é “No trilho”. Apresentado por Afonso Vilela, é um formato “com diferentes rubricas e cenários que vai mostrar toda a riqueza do nosso património natural”, informa o canal.
Na televisão com sotaque brasileiro, as principais novidades do Globo Portugal estrearam no início de setembro. Além da série humorística “Sai de baixo” e da série musical “Rensga Hits!”, o talk show “Que história é essa, Porchat?”, o programa “Bem juntinhos” e “As vilãs que amamos”, que em registo confessional revisita algumas das personagens mais emblemáticas das telenovelas da Globo, são as principais apostas. “A nossa intenção é satisfazer o público português, oferecendo ainda mais conteúdos nossos, mas também o brasileiro, porque há atualmente muitos brasileiros a viver em Portugal”, justifica Rodrigo Nascimento, o novo head of international business EMEA da Globo.
Novidades nas plataformas de streaming
Vitor Dourado
Chief investment officer do Havas Media Group
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A publicidade na televisão irá depender do interesse do meio – e do que ele produz – para os consumidores. As marcas vão sempre procurar os pontos de contacto mais eficientes, eficazes e relevantes para comunicar. Tem sido assim e continuará a ser, com a diferença de estarmos agora, e com tendência crescente, num ecossistema muito mais complexo e fragmentado, onde a luta pela atenção se apresenta inevitável. A relevância da televisão, tal como dos restantes media, assenta em dois pilares: a sua capacidade de produzir conteúdos interessantes para os consumidores, que consigam um lugar de destaque no crescente ecossistema de oferta de vídeo e a sua capacidade de distribuir esses conteúdos nas várias plataformas onde os consumidores estão presentes. Se conseguirem produzir conteúdos de qualidade e com interesse para os consumidores e os disponibilizarem no local certo, as marcas estarão lá e a sua monetização estará facilitada.
O video on demand, através dos seus vários modelos (SVOD, BVOD, TVOD e AVOD), a connected TV, os OTT e os serviços de streaming são soluções que permitem alavancar negócio na produção e na distribuição de conteúdos e isso está a acontecer um pouco por todo o mundo. Tudo isto também é televisão e a publicidade estará onde estiver a televisão, se for relevante para os consumidores e, consequentemente, para as marcas. A questão que se coloca em Portugal relativamente aos players locais é a mesma que se coloca na maioria dos setores de atividade no nosso país: será que temos dimensão e músculo (e pontaria) para competir com autênticos Golias e será o mercado publicitário suficiente para responder às necessidades dos projetos nacionais, por forma a continuarem competitivos no médio prazo?
O impacto da publicidade nos canais de streaming
Num encontro recente entre empresas de media americanas, donas dos vários serviços de streaming, e os anunciantes, a NBCUniversal iniciou o evento com um vídeo animado onde o ursinho Ted, criado por Seth MacFarlane, que lançou uma série no serviço de streaming Peacock, cantava e dançava uma música que incluía o refrão “We need ads”. O ursinho cantava para o público: “We were all dreamers to think that the streamers were anything but fads. Now, we’re all begging for ads”. Depois de um período de grande crescimento na sua base de subscritores, com grandes custos de angariação, refira-se, a estagnação e até a queda nos resultados, num ou outro caso, levou algumas plataformas de streaming a abraçar modelos mistos, considerando a publicidade como um importante (vital) canal de receita. Este modelo tem vindo a ser adotado em vários mercados, mas com resultados diferentes.
Em alguns países com sucesso, noutros onde o equilíbrio entre a redução do preço da subscrição e a introdução de publicidade ainda não foi encontrado. E até os preços de media e níveis de investimento exigidos por algumas plataformas não convenceram o mercado publicitário. Nos EUA, por exemplo, a adesão dos anunciantes tem sido significativa. Apesar de ser um mercado onde se procura uma padronização na medição de audiências entre as várias formas de consumo de conteúdos de vídeo (wishful thinking para o nosso mercado), a resposta costuma ser dar prioridade ao progresso em detrimento da perfeição. A oportunidade de alcançar outros públicos é mola suficiente para a aposta, claro que assente em métricas, data e insights que a justificam.
Por outro lado, temos o exemplo de Espanha, um mercado muito mais próximo do nosso, mas com uma dimensão incomparável. No país vizinho, este modelo ainda não encontrou motivos de grandes festejos e por várias razões: o número de subscritores não era suficiente para entregar o que as plataformas propunham, o investimento mínimo exigido era demasiado alto e o preço nada competitivo quando comparando com o praticado no meio digital ou em televisão. Aqui, o go-to-market esteve longe de considerar as características do mercado. Mas, obviamente que, com uma estratégia adequada, haverá impacto no investimento publicitário na televisão linear, como haverá noutros meios e como houve sempre que se fragmentou a oferta e o mercado não cresceu.
Continuaremos a ser o mesmo número de consumidores e a nossa atenção será ainda mais dividida, tal como será o share of wallet dos vários suportes. A questão mais importante é: como se vão posicionar os players locais com a entrada (a verificar-se) de mais concorrentes a uma fatia de bolo que tende a perder dimensão? Que serviços vão disponibilizar? Que modelos de negócio vão adotar? Que reorganizações estruturais vão implementar?
A TV com grelha linear continua um meio eficiente?
Se considerarmos como base o ano de 2019, antes da pandemia obrigar ao lockdown em 2020, os canais free-to-air (FTA) perderam, em média, 7% de telespetadores. Contudo, o consumo de TV linear cresceu no mesmo período cerca de 4%, impulsionado pelo crescimento de 20,6% dos canais de pay TV. Curiosamente, o tempo despendido a ver televisão apresenta variações muito similares. Em quatro anos, em Portugal, o consumo de televisão linear cresce em número de telespetadores e em tempo de visionamento. Mas também é verdade que uma análise de tendência aponta para uma redução inevitável do consumo linear como um todo, tendo em conta o peso dos canais FTA e da quebra que vêm apresentando. Neste panorama, são os Outros, onde se incluem canais de streaming, consolas de jogos e utilização de apps em smart TV, que ganham mais terreno, com um crescimento de cerca de 43%.
Contudo, a televisão linear tem ainda um papel importante em Portugal, talvez como em poucos países ocidentais. Talvez, uma vez mais, pela sua dimensão, mas também pelo tecido sociodemográfico que nos compõe. Continua a ser um meio fundamental para chegar à maioria dos consumidores, para criar brand awareness, alcançando níveis de cobertura que nenhum outro meio ainda consegue em curtos espaços de tempo, e a um preço muito competitivo. Por isso, sim, a TV linear continua a ser um meio muito eficiente em Portugal para as marcas que querem ser reconhecidas e que necessitam de comunicar com o maior número de pessoas ao mesmo tempo.