Do Google ao ChatGPT
A pesquisa dá lugar a um diálogo, em que a ferramenta é ativa, influencia o curso da conversa e nos entrega textos finais
Tim Berners-Lee lançou a 6 de agosto de 1991 um convite público no Usenet, para colaboração no projeto World Wide Web, tornando a web acessível ao público pela primeira vez. Temos esse momento identificado, como temos a apresentação do iPhone, em janeiro de 2007, por Steve Jobs. São dois momentos que hoje não temos a menor dúvida que mudaram o mundo.
Não é, por enquanto, claro o dia que a história vai reservar para marcar o início da inteligência artificial, nem qual é a utilização que se vai tornar mais notória desta nova capacidade.
Mas há uma mudança que temos a certeza de já se ter iniciada, que é a forma como procuramos informação. Os últimos 25 anos foram marcados por páginas web indexadas, que nos obrigavam a visitá-las e confirmar que a breve descrição que a pesquisa do Google apresentava nos ia trazer informação relevante para o que queríamos saber.
A pesquisa foi melhorando, nestes mais de 25 anos, mas não se alterou, talvez pela proteção ao modelo de negócio de anúncios no topo dessa lista de ‘links’, que gera hoje para a Alphabet, empresa que detém a Google, quase metade da sua imensa receita.
Mas com a chegada do ChatGPT, do Copilot ou do Perplexity, já todos percebemos que a mudança se iniciou. A passividade da pesquisa da Google, que apenas organizava páginas web, está a ser substituída por ferramentas que ativamente interagem connosco. A pesquisa dá lugar a um diálogo, em que a ferramenta é ativa, influencia o curso da conversa e nos entrega textos finais, com um discurso fluído sobre o que queremos saber.
A mudança é gigante. O Google hoje orienta as nossas escolhas e até as opiniões, encaminhando-nos para páginas específicas. Mas no ‘chatbot’ as escolhas e as opiniões são construídas e oferecidas como a resposta e a solução final.
Tudo vai mudar. De que adianta colocar anúncios numa ferramenta que nos diz qual é a melhor escolha para nós? Não uma lista, mas a escolha adequada ao que queremos. No comércio eletrónico, as alterações vão ser enormes e ainda não se vislumbra como essas ferramentas poderão ser orientadas por modelos de negócio. Se a prescrição for paga, perde-se a confiança na escolha apresentada.
No conhecimento enciclopédico, tudo será mais fácil e estruturado e não nos oferece grandes dúvidas. Mas quando falamos de temas que têm várias perspetivas e até opiniões, como iremos lidar com estas ferramentas, que terão imenso crédito sobre o que nos dizem e que argumentam connosco, num diálogo marcado pela superioridade do seu conhecimento?
As dúvidas são muitas, mas já é claro que o caminho é por ferramentas que vão facilitar ainda mais o acesso à informação. As respostas em linguagem natural vão tornar o conhecimento mais acessível e compreensível para um público mais amplo, através de uma abordagem mais íntima e que nos faz sentir como se estivéssemos em diálogo com um especialista, em vez de simplesmente a navegar por links de pesquisa.
A pesquisa por via de um ‘chatbot’ proporciona respostas rápidas e diretas a perguntas complexas. Isso tem perigos evidentes, mas é evidente que vai aumentar significativamente a eficiência na procura por informação, permitindo que as pessoas obtenham respostas mais rapidamente para as suas dúvidas e necessidades de conhecimento.
A inteligência artificial não se resume ao ChatGPT, ao Copilot nem ao Perplexity, mas não será arriscado dizer que esta alteração vai ser tão grande ou maior do que foi a internet e o ‘smartphone’ nas nossas vidas.