Publiquei recentemente um ‘post’ no LinkedIn em que partilhei – e subscrevi – uma carta de uma agência de comunicação brasileira a declinar a participação num concurso. Esse ‘pitch’ teria sido proposto a 12 agências. Doze. A resposta da agência foi, a meu ver, brilhante.

Entre dizer que um processo com 12 agências implicava mais de 200 pessoas a trabalharem de graça e que o concurso ia contra todas as práticas de governança ambiental, social e corporativa, a agência disse o que muitos ainda não arriscam dizer.

E a minha publicação disparou. Chegaram likes de todos os lados, emojis com aplausos e comentários de quem já passou pelo mesmo (não passámos todos?). Nos dias que seguiram à publicação do ‘post’, as visualizações do meu perfil treparam, e em pouco tempo o meu parágrafo ativista chegou às 45 mil impressões.

Em vez de me sentir influencer da rede social mais corporativa do planeta, cresceu em mim uma certa tristeza que, prometi a mim mesmo, não se transformaria nunca em resignação. E por isso, venho cobrar a todos uma coisa muito simples e que quase todos aprendemos, quando eramos mais novos, que é ‘muito bonito’.

Respeito.

A todos os níveis. A começar pela situação relatada pela agência brasileira. Abrir um concurso a tudo o que mexe no reino das agências devia ser proibido e vai contra todas as regras de ética empresarial.

Existem guias de boas práticas das associações que nos representam. Do lado das agências, basta perguntar quantas agências estão na consulta, e declinar se for caso disso. Enquanto houver agências a entrar nestes festivais, a discussão irá eternizar-se.

Mas vou mais longe. Respeito.

Pela dedicação, profissionalismo, determinação em cumprir os prazos e espírito de colaboração das agências. Desconheço se os guias de boas práticas terão algum capítulo sobre ‘feedback’ das marcas que abrem concursos.

Se não, faça-se. Imponha-se. Há concursos com prazos apertadíssimos em que os seus responsáveis, depois de receberem a proposta e ouvirem as apresentações, remetem-se ao silêncio. Longo. Demasiado longo. Ofensivamente longo.

Na Adagietto, concorremos a um pitch ‘dos grandes’, em outubro de 2022, com muito entusiasmo e com a intenção de sermos o parceiro certo. Esforçámo-nos e investimos tempo numa proposta. Juntámos equipas, fizemos brainstorms, respondemos a muitas questões e orçamentámos ao cêntimo, como mandava o briefing. Foram muitas horas de várias pessoas investidas neste processo.

Seguiram-se 18 meses de … nada. Dezoito meses. Ao longo dos meses fomos pedindo ‘feedback’ e pouco ou nada íamos sabendo. Foi já sem grande surpresa que recebemos por email a newsletter do Meios & Publicidade a informar que a marca tinha escolhido o parceiro para trabalhar a sua comunicação. Dezoito meses depois, a decisão chegou através de uma notícia. Do ‘cliente’, nem uma palavra.

Respeito.

Pelo facto de as agências serem profissionais na definição do preço que praticam. Se o nosso trabalho vale ‘x’, não devolvam uma contraproposta financeira muit(íssim)o mais baixa sem esperarem que a dedicação ou o âmbito de trabalho sejam os mesmos. Se nos dizem que não têm budget definido, não respondam à nossa proposta com um “a vossa proposta está acima do budget que temos disponível”.

Respeito.

Da necessidade urgente que exista. Se há algumas décadas as agências eram organizações desengonçadas, sem grandes regras e dispostas a ir a tudo sem grande rigor ou disciplina – o que de alguma forma favoreceu o que hoje vivemos, atualmente somos empresas tão disciplinadas e escrutinadas como as marcas com quem trabalhamos. E não estamos para isto.