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Se a Layla sabe tudo, para que vale anunciar?

“Qual é o verdadeiro poder que estas ferramentas vão ter sobre o nosso conhecimento, mas também sobre as nossas opções de consumo?”

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Se a Layla sabe tudo, para que vale anunciar?

“Qual é o verdadeiro poder que estas ferramentas vão ter sobre o nosso conhecimento, mas também sobre as nossas opções de consumo?”

João Paulo Luz
Sobre o autor
João Paulo Luz

Quando no início do século a internet começava a chegar a mais e mais gente, cedo se percebeu que o acesso à informação seria muito diferente daquilo que se conhecia até então. A escala de informação acessível, a rapidez de a conhecer e a transmitir, nunca mais seria como dantes.

Entendemos que estávamos num momento de viragem, como se de repente todos tivéssemos acesso em tempo real ao somatório da Enciclopédia Britânica com as Páginas Amarelas. Tudo o que precisávamos de saber iria estar disponível.

No entanto havia algo que se mantinha. Continuávamos a ser nós que escolhíamos o que queríamos ler, limitados às escolhas sugeridas, é verdade, mas mantínhamos o esforço de selecionar, comparar opções ou diferentes fontes de informação e conhecimento.

E este contexto que se pode resumir tão bem nos resultados de pesquisa do Google, que se mantém semelhante 25 anos depois, é um contexto ideal para publicitar outras opções e dar a conhecer novos produtos e serviços.

O convívio da publicidade com a internet que conhecemos não é apenas perfeito como foi o seu grande acelerador. Foi o que permitiu que os serviços vencedores fossem os gratuitos, aqueles que pela escala que atingiam se tornaram o ‘standard’ ou a comunidade relevante, algo impossível de alcançar com serviços pagos.

Poderemos argumentar que, na altura, isso não era claro, ainda recordamos os fundadores do Google a jurarem que nunca iriam colocar anúncios no topo dos seus resultados de pesquisa, quando os colocaram numa coluna à direita, mas as eventuais resistências à publicidade não vinham da dificuldade de integração.

A maioria dos projetos nascia, e-commerce à parte, sem modelo de negócio impulsionados por lançamentos em bolsa, com a convicção de que se tivéssemos um serviço útil o suficiente para reunir milhões de utilizadores, o modelo de negócio haveria de aparecer. Era a nova economia, dominada por engenheiros que, nesses anos, achavam a publicidade algo menor.

Mas os modelos de inteligência artificial (IA) de hoje têm uma enorme diferença. Quando colocamos questões ao ChatGPT ou a qualquer outro chat baseado em LLM (Large Language Model), que são treinados numa enorme imensidão de dados, nós conversamos com ele, com a mesma atitude de quando falamos com aquele amigo que sabe muito mais desse tema que nós.

Podemos questionar, tentar ver fragilidades nos argumentos, mas tendemos a aproveitar a oportunidade para aprender, confiando que ele estudou muito mais do que nós. Colocar publicidade nesse contexto parece mais do que pouco propício, parece desadequado.

Se essa sugestão é melhor, porque não foi a evocada? Se foi a evocada e também anuncia, transmitirá a ideia de que não foi uma sugestão desinteressada.

É talvez por isso que, mais de vinte anos depois da ‘nova economia’, a maior parte destas ferramentas aparecem fechadas a subscrição. Há quem argumente que estes modelos são muito caros, mas também os do início do século eram para a época e reuniam capitais suficientes para financiarem os primeiros tempos.

Hoje o ChatGPT da Open AI tem essa abordagem no Copilot da Microsoft, disponível gratuitamente na pesquisa do Bing, mas a maioria de projetos alternativos são pagos. E talvez isso tenha a ver com a ideia de que o convívio com a publicidade não será natural.

Numa sociedade em que estamos a ser cada vez mais convidados para pensarem por nós, para fazermos menos e menos esforço nas nossas tomadas de decisão, que espaço sobra para as marcas criarem relações connosco?

Qual é o verdadeiro poder que estas ferramentas vão ter sobre o nosso conhecimento, mas também sobre as nossas opções de consumo?

A internet trouxe-nos uma outra dimensão à forma como adquiríamos informação e decidíamos. A IA traz-nos algo muito diferente e não nos exigindo o mesmo esforço, pode vir a decidir por nós. Num primeiro momento muitos iremos preferir.

Se não acreditam, perguntem à Layla, que é a simpática assistente virtual do JustAskLayla.com, uma empresa criada em Berlim que promete juntar, através de modelos de LLM, o melhor que o social media publica sobre destinos com as múltiplas opções de reservas de hotéis e viagens.

Sobre o autorJoão Paulo Luz

João Paulo Luz

Diretor de negócios digitais e publishing da Impresa
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