A inteligência artificial (IA) está no centro das atenções, revolucionando praticamente todas as vertentes da nossa vida e das nossas interações com produtos e serviços, abrangendo diversas áreas, desde a saúde até à educação.

Contudo, há um aspeto fundamental que muitas vezes é negligenciado nesta jornada: a acessibilidade digital. Há vários milhões de pessoas que não conseguem utilizar corretamente plataformas digitais, devido a alguma deficiência.

A Lei Europeia da Acessibilidade (EAA) obriga, entre outras coisas, muitas empresas a serem digitalmente acessíveis até 2025. Este deve ser um foco prioritário de todos os intervenientes, para mitigar essas dificuldades e garantir acesso a todos e para todos.

E com tudo isso uma questão se levanta: teremos agora um poderoso aliado para ajudar e acelerar esse processo? No contexto atual, é ainda cedo para acreditar que a IA vai eliminar a necessidade de um esforço humano dedicado. Esta visão pode criar uma falsa sensação de facilidade, fazendo parecer que a IA fará tudo de forma autónoma, o que não é verdade.

A acessibilidade requer um compromisso contínuo e consciente de todos os envolvidos, garantindo que a tecnologia seja aplicada de forma ética e eficaz, sempre com o foco na inclusão e equidade, e que poderá efetivamente ser uma ferramenta muito útil para criar um espaço digital para todos.

Uma das aplicações mais promissoras é na melhoria das ferramentas de leitura de ecrã. Com a ajuda da IA, os ecrãs podem interpretar de forma mais precisa e eficiente os conteúdos complexos, como gráficos, imagens, vídeos, gráficos, tabelas, entre outros, tornando-os compreensíveis e altamente descritivos em áudio para pessoas com deficiência visual.

Outra aplicação significativa é a geração automática de legendas para vídeos, onde ferramentas de IA podem criar legendas precisas em tempo real, facilitando a compreensão de conteúdos multimédia para pessoas com deficiência auditiva.

Além disso, o reconhecimento de voz, potenciado pela IA, pode transcrever fala para texto instantaneamente, ou beneficiando indivíduos com dificuldades motoras ao permitir a navegação e a interação, sem a necessidade de usar um teclado ou outro dispositivo.

A IA pode também avaliar e ajustar automaticamente elementos visuais de uma plataforma digital para garantir o melhor contraste e combinações de cores adequadas para pessoas com daltonismo ou baixa visão.

Ferramentas de deteção de erros de acessibilidade baseadas em IA podem identificar e corrigir problemas e assim ajudar no processo de desenvolvimento de aplicações digitais, melhorando a qualidade final destes produtos assim como reduzindo custos de desenvolvimento.

Os assistentes virtuais personalizados, impulsionados por IA, podem vir a ajustar a interface e o conteúdo das plataformas, conforme as necessidades específicas de cada utilizador.

Apostar no desenvolvimento de ferramentas de monitorização baseadas em IA pode sugerir melhorias para manter as plataformas digitais em conformidade com os padrões de acessibilidade, assegurando que permaneçam atualizados, à medida que novos conteúdos e novas funcionalidades são adicionadas.

Desta forma a IA não só pode melhorar como também revolucionar a acessibilidade web, impulsionando novas formas de interação, que podem diminuir ou até eliminar barreiras. O uso da voz para comandos e navegação, assim como a tradução em tempo real, são exemplos de como a IA pode tornar a web mais acessível.

Melhorar a acessibilidade tem um impacto positivo mais amplo, onde os serviços públicos, por exemplo, podem fornecer serviços essenciais a uma audiência mais vasta, garantindo que todos os cidadãos tenham acesso igualitário a informações e serviços.

Para as marcas e empresas, investir em acessibilidade pode ampliar significativamente o seu mercado. Tornar os produtos e serviços digitais acessíveis a todos não só cumpre uma responsabilidade social, mas também permite alcançar novos públicos, posicionando as marcas de forma mais relevante e inclusiva.

Embora o potencial da IA para melhorar a acessibilidade seja imenso, é essencial lembrar que não nos devemos refugiar na tecnologia para resolver os problemas por nós, temos responsabilidade de garantir um futuro acessível a todos. A acessibilidade não é apenas uma componente técnica, é uma questão de equidade e inclusão.

Ao criar e desenvolver sistemas e tecnologias, devemos garantir que todas as pessoas possam usá-los, independentemente de suas habilidades ou condições. A IA, quando utilizada de maneira ética e responsável, pode ser uma aliada poderosa na criação de um mundo verdadeiramente acessível e inclusivo para todos.