Cinco temas que prometem marcar o mercado publicitário em 2023
O impacto da introdução de publicidade nas plataformas de streaming, a fragmentação da oferta e a perda de expressão dos canais free-to-air, a turbulência na medição de audiências televisivas, a […]
Pedro Durães
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O impacto da introdução de publicidade nas plataformas de streaming, a fragmentação da oferta e a perda de expressão dos canais free-to-air, a turbulência na medição de audiências televisivas, a transformação no out-of-home das duas principais cidades e o fim dos cookies analisados pelos responsáveis de seis das principais agências de meios a operar no mercado português
1. A publicidade já é uma realidade no Netflix, sendo esperado que o novo modelo de subscrição com anúncios chegue ao mercado português no próximo ano. No próximo dia 8 de dezembro é a vez do Disney+, num movimento que começará nos EUA mas não tardará a chegar aos restantes mercados onde a plataforma está presente. Qual poderá ser o impacto da introdução de publicidade nas plataformas de streaming no investimento publicitário em televisão no mercado português?
2. A perda de quota dos canais free-to-air, que tem sido uma constante à medida que a oferta de televisão se vem tornando cada vez mais fragmentada, intensificou-se em 2022. Isto numa altura em que a multiplicação da oferta OTT não dá tréguas já que o número de plataformas ao dispor do consumidor português, apesar de ser já significativo, continua a crescer, sendo disso exemplo a chegada recente da plataforma SkyShowtime a Portugal. Como vê este alargamento continuado da oferta de conteúdos televisivos e como antecipa que irá evoluir o consumo de televisão free-to-air neste contexto? Os canais generalistas estão condenados a perder expressão em 2023?
3. Um dos acontecimentos que marca o ano de 2022 ao nível do mercado publicitário prende-se com as buscas realizadas na GfK devido a uma denúncia de adulteração das audiências. Independentemente das conclusões a que a investigação em curso possa chegar, as suspeitas levantadas podem ser um espinho na credibilidade do sistema de medição de audiências? O que será necessário para apaziguar agências de meios e anunciantes e quais poderão ser as consequências de uma potencial quebra de confiança ao nível da distribuição do investimento publicitário em televisão?
4. No setor out-of-home (OOH), 2023 promete ser um ano de grande transformação na oferta de publicidade exterior nos dois principais centros urbanos. A resolução dos concursos para as concessões de Lisboa e Porto, além de trazer novos players à publicidade exterior das maiores cidades do país, está a impulsionar a renovação dos suportes, acentuando a progressiva digitalização das redes. Como espera que a oferta de publicidade exterior venha a evoluir no próximo ano em consequência deste processo de renovação e que impacto antecipa que esta transformação poderá representar ao nível do investimento publicitário no setor?
5. No digital, 2023 traz o anunciado fim dos cookies, tornando a first party data cada vez mais determinante para a estratégia das marcas e para as próprias agências de meios. De que forma antevê que o fim dos cookies irá refletir-se ao nível do investimento publicitário das marcas no digital, por um lado, e, por outro lado, naquilo que será o investimento das próprias agências de meios no sentido de criar ferramentas e fazer evoluir a sua oferta de negócio para dar resposta às novas necessidades dos anunciantes?
Bernardo Rodo, managing director da OMD
1. A oferta de publicidade nas plataformas de streaming é um assunto que exige alguma ponderação, uma vez que coloca questões novas que ultrapassam a mera canibalização do investimento publicitário em televisão. O mercado mais avançado nesta transição é o dos EUA, que aponta alguns desafios como prioritários. Em primeiro lugar, o de saber se o share de investimento vai corresponder ao share (estimado) de audiência. Pode não ser o caso, uma vez que existem variáveis de avaliação da eficácia, como por exemplo segmentação, cobertura e tempo necessário para atingir essa cobertura. Não é possível antecipar esta resposta sem saber qual a oferta de publicidade das plataforma de streaming, quantos spots um indivíduo vai ver por dia, com que segmentação e qual o custo. Algumas notícias falam de uma oferta premium das plataformas para os anunciantes associada à “qualidade” de segmentação da audiência. O segundo desafio é a articulação de alvos demográficos com alvos comportamentais, que aproxima as plataformas de streaming de modelos de media programática mas que terá de ser integrado no planeamento dito convencional. Por outro lado, existiram indícios de que Netflix e Disney iriam aproveitar a decisão de restrição de ad targeting pela Apple, o que aproxima as plataformas do território digital. Teremos ainda de perceber como reagem os utilizadores das plataformas à adesão ao modelo de subscrição com publicidade. A Netflix fala de uma redução da mensalidade em 20 por cento. Não há dúvida de que as plataformas vão desafiar a distribuição do investimento publicitário, mas ainda é cedo para perceber qual o efeito.
2. Como em qualquer mercado, a diversificação de oferta de qualidade é uma ameaça evidente à oferta incumbente. No entanto, e para não constatar o óbvio, julgo que existe uma questão mais interessante, que é a dispersão de audiências por múltiplas plataformas (não apenas de televisão) e como podem as marcas fazer chegar os seus conteúdos a essas audiências. O principal desafio que os canais generalistas enfrentam está precisamente no conteúdo de entretenimento que compete com essa oferta, que por sua vez implica um maior esforço em atrair indivíduos mais jovens, que tendem a procurar formatos alternativos. Em alguns mercados, essa resposta é dada pelos reality shows e talk shows de forma eficiente. Por outro lado, é importante perceber se o principal fator de desinteresse da audiência é o conteúdo ou o facto de ser consumido linearmente, o que explica o motivo pelo qual a oferta on demand dos canais generalistas, mesmo em ficção, está atualmente a competir com as plataformas de streaming. Isto significa que poderá existir no futuro um modelo pago para o conteúdo de televisão atualmente disponível, o que por sua vez tem implicações na atual oferta de subscrição e no convívio desses conteúdos com a publicidade.
3. Pela função que desempenho atualmente na direção da CAEM, e na qualidade em que estou a responder a esta entrevista, entendo não dever fazer considerações em relação a este assunto.
4. Das alterações previstas, julgo que terão maior impacto a redução de posições e digitalização de suportes, com a possibilidade de existirem redes adaptadas a cada anunciante, com maior flexibilidade de implementação. Quanto à digitalização, não existem dados definitivos da eficácia dos formatos tradicionais estáticos e digitais. O principal argumento a favor do formato digital é a possibilidade de impactar o consumidor com conteúdos diversificados, mais apelativos e num ambiente em que valoriza esse conteúdo por ser uma distração. Por outro lado, os formatos estáticos têm uma maior retenção do conteúdo, estão inseridos no ambiente urbano de forma mais visível e contribuem para construção de marca a longo prazo. O desafio é fazer conviver estes dois formatos sem que isso implique redundância na comunicação e desperdício de investimento.
5. As agências de meios são uma peça importante da discussão. O facto de não serem permitidos third party cookies vai implicar uma nova forma de pensar as campanhas digitais. Por um lado, vai existir um retrocesso a metodologias experimentadas de presença em verticais de conteúdos e tópicos de interesse, que são conhecidos pela afinidade com o utilizador que as marcas têm identificado. Por outro, terá de existir uma maior aposta no desenvolvimento de tecnologia (CDP) que permita integrar informação offline e online, por exemplo CRM e DMP. Estas plataformas terão de ser alimentadas com first party data, através de soluções conhecidas, como email marketing. Os cookies first party continuam a existir em benefício próprio, em soluções que permitam identificar o utilizador na sua navegação em plataformas com registo e, por sua vez, criar segmentos por interesses, tópicos e navegação. Uma parte significativa do investimento publicitário é feito em plataformas, globais e algumas locais, o que significa que não haverá retração do investimento no digital.
Filipe Teotónio Pereira, diretor geral da Nova Expressão
1. As plataformas de streaming são um touch point relevante com o consumidor e, nessa medida, a possibilidade de introduzir publicidade é uma boa noticia para os anunciantes. E isto ainda é mais significativo se estivermos a falar de alvos mais jovens. Por outro lado, as plataformas de streaming dispõem de informações relevantes sobre os seus utilizadores, que poderão se integradas de forma a segmentar e contextualizar a comunicação. Sendo um movimento recente, será necessário monitorizar se o investimento que irão captar será por transferência de televisão ou digital. Estamos também atentos ao impacto que os pacotes de menor preço poderão ter na atração de novos utilizadores para estas plataformas.
2. A multiplicação da oferta OTT foi um dos fatores catalizadores da alteração do modelo de negócio, com abertura à publicidade. Enquanto aguardam por uma nova vaga de concorrentes, as plataformas têm necessidade de se diferenciar para atrair utilizadores e ganhar músculo para produzir conteúdos que requerem investimentos cada vez mais avultados. Os canais generalistas terão de conviver com esta realidade e exponenciar os seus argumentos, assumindo a diferenciação da sua oferta e investindo na qualidade e agilidade dos seus conteúdos. O nível de perda de quota dos canais free-to-air não é transversal em todos os alvos. É necessário ter capacidade de analisar analiticamente esta variável de forma a obter os melhores resultados da comunicação.
3. Não me parece que esta situação em concreto possa trazer perturbação. Acontece no âmbito do normal funcionamento das instituições. Por outro lado, o mercado publicitário é um mercado maduro que tem sabido responder de forma rápida e consistente às situações com que se tem deparado.
4. O ritmo de transformação na oferta de publicidade exterior é dos principais vetores de crescimento neste meio. Mas não é o único. Importa também considerar a consolidação do estudo de audiência e a perspetiva de voltarmos a ter um ano sem restrições de circulação. O mercado tem enorme expectativa sobre a capacidade de as autarquias e operadores cumprirem os prazos anunciados para a instalação dos novos equipamentos. Uma empreitada exigente em termos operacionais e de investimento. A renovação e digitalização dos equipamentos, combinada com dados de audiência e a tecnologia adequada, prometem elevar a eficácia do meio outdoor a um nível inédito.
5. Todo o ecossistema digital, incluindo anunciantes, publishers e agências, tem vindo a trabalhar há vários anos para dar resposta ao contexto “cookieless”. E o foco tem sido o de encontrar soluções que permitam manter a assertividade da comunicação em contexto digital. É o caso de iniciativas de publishers nacionais com desenvolvimento e utilização de first party data ou segmentação contextual através de inteligência artificial, construindo de forma cada vez mais sólida segmentos qualificados, compatíveis com RGPD e acionáveis para campanhas específicas. Os dados que as marcas recolhem nos seus próprios canais também podem, e devem, ser considerados para iniciativas de comunicação segmentadas, de forma cruzada com um adequado planeamento de campanhas nos restantes canais de media digital. Embora considerados “walled gardens“, as redes sociais continuam a ser uma opção e alternativa para comunicar de forma segmentada dado que são ambientes que controlam o acesso dos utilizadores a conteúdos e serviços. Caso se concretize em 2023, e tendo em conta as medidas de antecipação do ecossistema, o contexto “cookieless” parece não ter potencial para quebrar a dinâmica cas se associarem e estarem presentes em momentos de audiência pro-ativa e disponível. Todo o mérito para as rádios que têm conseguido captar audiência com um consistente investimento em conteúdos e programação. Mas, para além do reforço de conteúdos, o meio rádio tem revelado a sua dinâmica na proliferação de utilização de plataformas digitais.
Pedro Gândara, executive director da Starcom
1. É crescente a velocidade com que adoptamos novas plataformas, sejam elas de streaming, novas redes sociais ou novos canais de televisão, estando a mesma dependente do custo de adesão, da popularidade, da relevância (temporária ou não) ou da qualidade dos conteúdos que nos permitem usufruir. Esta velocidade não encontra paralelo na forma como evolui a estrutura do investimento publicitário, que ancora em certezas de retorno e que é feito, na sua maioria, para grandes massas heterogéneas. Razões pelas quais a televisão continua a merecer a maioria do investimento publicitário em Portugal. A já substancial penetração que a Netflix apresenta (cerca de 57 por cento de acordo com GWI), e com uma demografia de utilizadores que está maioritariamente entre os 15 e os 44 anos, faixas etárias que apresentam um cada vez menor consumo de televisão linear, poderão fazer desta plataforma um complemento à presença publicitária em televisão. Contudo, será necessário avaliar o custo dessa mesma presença para as marcas, o impacto que a introdução de publicidade terá na estrutura de assinantes da Netflix e o inventário que finalmente a plataforma conseguirá disponibilizar. Portugal não fará parte da lista de países onde a introdução de publicidade na Netflix se fará já em 2023 (eventualmente no final do ano) pelo que teremos tempo para avaliar o comportamento dos consumidores e marcas nos países onde isso será já uma realidade no início do próximo ano.
2. Os canais generalistas apresentam soluções de volume, com conteúdos vocacionados para a grande maioria da população, e que continuam a merecer a escolha de um vasto conjunto. Contudo, seja por via de novos canais temáticos, seja pelo crescimento da oferta OTT, seja pelo aparecimento de novas redes sociais, a dispersão da forma como consumimos conteúdos é uma realidade, e as soluções generalistas veem diminuída a sua base de consumidores. É, pois, normal que os canais FTA assistam a uma diminuição das suas audiências, que é mais acentuada quanto mais jovem a população em análise, mas que será de alguma forma transversal. Tendência que deverá ter continuidade nos próximos anos.
3. Até que haja conclusões da investigação, continuamos a confiar no sistema de medição de audiência vigente e não temos qualquer comentário sobre esta questão.
4. O ano de 2023 deverá ser para o OOH em Portugal um ano de consolidação e avaliação. Consolidação do novo equilíbrio entre os diversos players que resultou dos concursos de Lisboa e do Porto e que deverá ter novos capítulos à medida que a digitalização de mais cidades acontece. Consolidação das novas ofertas, quer do ponto de vista físico quer do ponto de vista financeiro, sendo expectáveis alterações significativas em ambos os aspetos. Consolidação da oferta digital, da sua extensão, do seu modelo de comercialização, integrado nas redes de papel, modelo tradicional de custo por face ou evoluindo para a compra programática. Da consolidação da aceitação e utilização do novo modelo de medição, que permitirá credibilizar a entrega da oferta de exterior em Portugal. E de avaliação, por parte das marcas, da nova realidade e da sua nova relação custo/benefício, e da forma como o exterior poderá fazer parte das suas ações de comunicação. Até ao momento, a avaliação que fazemos junto das marcas com quem trabalhamos é de que existe uma manutenção das intenções de investimento em exterior. A sua concretização dependerá da forma e da velocidade com que a consolidação acontecer.
5. Muitas das vantagens que atribuímos hoje à comunicação digital têm por base os cookies. A personalização das ofertas e das experiências, a capacidade de segmentação e “targetização”, a possibilidade de otimização e medição das campanhas. Todas dependem da existência de cookies. Uma menor possibilidade de segmentação e de controlo tornará menos atrativa para as marcas a comunicação em digital, com impacto junto dos publishers, que tenderão a privilegiar modelos de negócio baseados em subscrição, ao invés de modelos baseados em publicidade, tornando a web menos acessível. A comunicação digital com escala passará apenas pelos “walled gardens”, com capacidade para usar a sua própria data, dentro dos seus muros. Desta forma, marcas e agências, pretendendo continuar a comunicar junto de audiências relevantes, terão de optar por criar as suas próprias infraestruturas de first party data e/ou estabelecer parcerias junto de publishers e de outros parceiros para a utilização da sua data, que lhes permitam enriquecer as suas bases de dados e perfis. Hipóteses que poderão ser complementadas com a maximização do uso dos contextos como forma de segmentação. A evolução terá de passar também pela forma como marcas e agências abordam a medição dos resultados em digital e avaliam o sucesso das suas campanhas. Pelo que se prevê um 2023 de muito trabalho de preparação para o fim da era do cookies.
Rodrigo Albuquerque, managing director da Arena Media
1. No panorama de meios português, a televisão linear ainda é a principal alavanca de cobertura massificada em muitos dos targets de comunicação, e não será em 2023 que esse panorama se alterará. A introdução destes novos players poderá impactar o investimento publicitário como um todo, e não apenas em televisão. Se pensarmos que podemos trazer o potencial de segmentação do digital (não numa fase inicial, porque as possibilidades serão mais limitadas, mas a tendência será evoluir para esse cenário) para um device com maior exposição e maior potencial de gerar atenção, poderemos estar a olhar para um shift de investimentos diferente. Mas o oposto também pode ser verdade: se pensarmos que conseguimos utilizar o mesmo meio (televisão), mas com uma entrega de mensagem mais personalizada – à semelhança do que já temos hoje com alguns formatos já existentes em televisão, então sim, podemos assistir a uma migração de investimento neste sentido.
2. Olhando para o panorama económico nacional (e europeu), estamos a antecipar um consumidor muito mais racional em 2023. E esta racionalidade no consumo estender-se-á ao mercado dos serviços de subscrição, abrangendo, naturalmente, os serviços de streaming. Não deixando de ser verdade que a oferta é atualmente muito variada, antecipamos que o escrutínio do consumidor será maior e que o número de serviços subscritos será menor em 2023. Com efeito, no contexto de incerteza económica atual, o consumidor seguramente não vai poder suportar todas as subscrições, nem ter tempo para todas as plataformas que existem, ou que venham a surgir, competindo as OTT também com as restantes ofertas de canais de Pay TV e outras subscrições (canais desportivos e/ou outros temáticos, etc), também bastante fortes e alguns incluídos até nos pacotes standard das operadoras de TV. Para além disso, em contextos económicos e sociais mais instáveis, os meios de comunicação ganham relevância no leque de conteúdos que os consumidores mais creditam como credíveis e relevantes. Juntando estes dois fatores, e apesar da tendência decrescente de quota dos canais free-to-air, não antecipo que 2023 venha a ser um ano de perda para estes canais.
3. Não existe qualquer quebra de confiança. Não existe, igualmente, necessidade de apaziguamento entre agências de meios e anunciantes, pelo simples facto de não haver qualquer desentendimento entre as partes relativamente a este tema, uma vez que, inclusivamente, as agências de meios não se reveem na queixa que foi apresentada.
4. Sim, finalmente foram concluídos os processos dos concursos de Lisboa e Porto, estando neste momento a ser revelada aos anunciantes e agências a oferta disponível. Por outro lado, a pandemia teve consequências na mobilidade dos consumidores, tanto a nível quantitativo como na sua forma. E, nesse sentido, o meio exterior continuará a ter um papel muito relevante e indispensável nas estratégias de meios, sobretudo em campanhas de branding e posicionamento, que são claramente beneficiadas com a comunicação de imagem. Espera-se de facto que esta “nova” oferta traga maior qualidade, flexibilidade e agilidade, permitindo um maior número de opções às marcas e, com isso, tornar-se um meio mais apelativo e eficaz. Se a transformação dos parques for rápida e eficaz, e a oferta corresponder às expectativas, penso que nos próximos anos o meio OOH poderá efetivamente vir a registar um crescimento na sua quota.
5. A tendência tem sido de crescimento do share do investimento digital nos últimos anos, e não deverá deixar de ser assim no futuro próximo. Aquilo que antevemos, e para que trabalhamos, é no sentido de arranjar alternativas robustas à utilização de third party cookies. Este movimento tem origem numa maior necessidade de privacidade e proteção de dados pessoais por parte dos utilizadores, e não por uma quebra no consumo do meio. Os consumidores continuarão a consumir conteúdo no meio digital, e prevê-se que este consumo continuará a aumentar – Portugal ainda está atrás de muitos países europeus na adoção do digital – o que significa que as oportunidades de contacto existem. O ano de 2023 – e 2022 já tem vindo a ser assim – servirá, forçosamente, para testar estas alternativas, aferir a sua viabilidade, robustez e eficácia, preparando da melhor maneira o futuro da comunicação em digital dos nossos clientes. Olhando para as ferramentas para trilhar este caminho, sim, tem de ser feito investimento por parte das agências – e o Havas Media Group já antecipou esse cenário e já tem, ao dia de hoje, uma ferramenta cookieproof – mas também por parte dos clientes. Os anunciantes serão os detentores dos data points mais relevantes, a sua própria first party data, e terão de investir em mecanismos de recolha, tratamento e ativação desta mesma data. Para isso podem, ou não, recorrer aos seus parceiros. É algo em que já estamos a trabalhar com alguns dos nossos clientes.
Rui Freire, managing director da Initiative
1. Quando essa possibilidade se verificar em Portugal não deverá haver um impacto significativo na migração de investimento publicitário, mas virá competir de uma forma mais vincada com o inventário dos canais Pay TV e até com algumas áreas digitais.
2. Cada tipologia de canais/plataformas tem o seu perfil de audiência e, à medida que o long tail de alternativas se intensifica, a competição pelo share of time e share of pocket dos espetadores aumenta, dado que as escolhas se fazem em função dos conteúdos preferidos e isso é que condiciona a adesão ou substituição de plataformas pagas, para além da multiplicidade de canais já disponíveis nos pacotes de TV por subscrição. Nesse sentido, para não perderem relevância, os canais generalistas terão de manter uma oferta de conteúdos atrativos e diferenciadores como é o caso da aposta na ficção nacional.
3. A confiança no sistema de medição não está em causa, dado o constante escrutínio a que está sujeito por diferentes entidades independentes que asseguram a credibilidade do mesmo através de acompanhamento permanente e auditorias técnicas regulares.
4. O meio exterior tem vindo a apresentar um bom nível de crescimento de investimento e o mesmo só poderá ser potenciado com o alargamento e sofisticação da oferta de inventário, nomeadamente com a introdução de redes digitais e modelos diferenciados de compra (para além das redes fixas), que permitam tirar melhor partido das potencialidades do meio.
5. O tema dos cookies não deverá ter impacto no investimento em digital dos anunciantes dado que o ecossistema de mercado se está a reorganizar para acomodar as necessidades de comunicação nesse novo paradigma tecnológico, num ambiente onde as questões da privacidade são salvaguardadas. Naturalmente que as agências estão a investir, também pelo seu lado, em recursos e ferramentas que permitam manter e até evoluir as suas capacidades de implementação e medição das campanhas digitais neste novo ambiente, respondendo aos novos desafios à medida que o próprio mercado for definindo as novas práticas.
Samuel Godinho, CEO da Carat
1. O desvio de investimento que possa ser feito para as plataformas de streaming não terá um impacto assim tão forte, estando limitado aos anúncios que podem passar, o que faz com que o volume não represente um decréscimo percentual tão grande em televisão no mercado português. Os investimentos têm de estar adaptados ao consumo de meios atual, e as plataformas de streaming e o Connected TV fazem parte da nossa realidade. Todos os restantes meios continuam a ter um papel crucial na resposta aos objetivos de comunicação das marcas. Outro aspeto relevante que resulta da introdução de publicidade nas plataformas de streaming, prende-se com a necessidade de existência de métricas que comparem de forma equitativa a audiência e o custo associado. Devemos, pois, iniciar uma reflexão alargada quanto às métricas/indicadores utilizados para medir o custo da audiência.
2. É normal o aparecimento de novas plataformas mais segmentadas e adaptadas a certos e determinados targets. Obviamente que as audiências médias em TV FTA tem tendência a decrescer, mas isso já é uma realidade e não algo que vá acontecer em 2023. No próximo ano apenas será a continuidade desse mesmo tipo de comportamento de consumo. Da mesma forma que os investimentos cresceram vs 2021 nos canais de televisão Pay TV, exatamente porque a fragmentação faz parte da realidade do nosso mercado. Os canais FTA não estão condenados a perder expressão, têm sim objetivos diferentes e públicos diferentes, dependendo sempre da adaptação da tipologia de conteúdos que conseguirem ir entregando.
3. Este é um tema que preferimos não comentar. O assunto em questão não deve, em nosso entender, ser tratado no formato e sede do presente artigo.
4. O OOH tem construído percursos muito próprios de acordo com as necessidades, como por exemplo o estudo de audiências. Também a passagem pelos concursos vai alterando e adequando os media vendors a realidades e licenças por regiões, também elas diferentes, que podem ser vistas como um investimento ou, por outro lado, um complemento do que já tinham. É verdade que mais recentemente apareceram novos players em OOH, mas a concorrência é algo saudável e positivo para o mercado. O OOH, no pós-covid, tem vindo a recuperar os seus níveis de investimento publicitário. A adequação e novos formatos com maior visibilidade trazem às marcas um forte impacto na comunicação one-to-one com o consumidor. A própria digitalização do OOH consegue trazer uma maior dinâmica à comunicação e, por outro lado, captar maior investimento aumentando assim o seu inventário. Estas montagens de novos formatos estão já a preparar uma nova realidade em Portugal, que já existe noutros países, que é a compra programática, a compra eficiente segmentada (com menos desperdício na comunicação) e mais sustentável.
5. Vivemos uma época de transformação intensa no que diz respeito à forma como os dados são recolhidos e como os podemos utilizar para aumentar a eficácia da nossa comunicação. Apesar de, à primeira vista, o fim dos cookies parecer negativo, é importante percebermos que esta mudança parte de uma preocupação crescente com a privacidade dos utilizadores, e é algo que deve ser muito valorizado. Num mundo sem cookies, torna-se fundamental as empresas garantirem que a sua first party data é precisa, bem medida e está no centro das suas decisões. Na Dentsu ajudamos todos os nossos clientes a fazer este caminho e temos equipas que garantem o fator higiénico de medição da first party data. Estamos a acompanhar com muito interesse as soluções que os nossos parceiros estão a desenvolver para garantirem que conseguimos ativar audiências relevantes para os mais diversos segmentos. A falta de cookies é cada vez menos valorizada através de utilização da nova forma de utilizar contextual, do uso de data modelada através de algoritmos, seja por qualquer outro tipo de identificadores ou até a first party data de diferentes proveniências. O fim das cookies não implica o fim das decisões de investimento data driven, significa apenas que temos de arranjar estratégias de medição baseadas em marketing mix modeling, recorrendo a empresas de estudos de mercado e criando sinergias com os nossos parceiros. Já estamos a dar estes passos com alguns clientes e será certamente a realidade num futuro próximo. Estas novas metodologias requerem uma expertise que posiciona as agências como os parceiros estratégicos no que diz respeito a medir e garantir a eficácia do investimento e a maximização dos resultados de comunicação.