O que preocupa a indústria de eventos
Millennials, relação com os clientes e até inteligência artificial. Os BEA World, que decorreram em Coimbra, receberam alguns dos líderes das principais agências de eventos do mundo Foi das ideias […]
Rui Oliveira Marques
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Millennials, relação com os clientes e até inteligência artificial. Os BEA World, que decorreram em Coimbra, receberam alguns dos líderes das principais agências de eventos do mundo
Foi das ideias mais repetidas em Coimbra: ao contrário do que está a acontecer na publicidade tradicional, cujo investimento não cresce, a live communication está a conseguir captar mais dinheiro dos anunciantes. A última edição dos BEA World em Portugal reuniu no Convento de São Francisco, em Coimbra, cerca de 400 pessoas, nomeadamente líderes de agências de eventos e responsáveis pela área de eventos e activação de várias multinacionais. “Foi muito importante trazer os BEA Awards para Portugal, porque este é ‘o’ local para produzir eventos. É o destino para conhecer, para convidar os clientes e para produzir eventos. No ano passado diziam-nos que, depois do Porto, tínhamos de ir para Lisboa, mas acho que não, temos de quebrar as rotinas. Em Coimbra temos todos os meios para desenvolver os eventos”, defendeu Ana Fernandes, vice-presidente da APECATE (Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos), co-organizadora dos BEA World em Portugal.
Salvatore Sagone, fundador do festival, constata o salto que os BEA World deram durante o período que decorreram em Portugal – aliás, este ano foi criada uma competição paralela, a dos Location Awards (equipamentos para a realização de eventos). “Nós podemos ter sucesso pelo lado da estratégia e da criatividade, mas parte do sucesso do evento está relacionada com a localização e com as condições do local. Por isso o festival quis reconhecer o valor desta importante componente do nosso sector”, justificou o responsável ao M&P.
Se o primeiro dia de actividades do festival (quinta-feira) serviu para que os finalistas defendessem o seu projecto perante os jurados – e era convicção entre os participantes que a forma como usam esses minutos é determinante para se conseguir entrar na lista de premiados – na sexta-feira vários especialistas partilharem a sua visão sobre as grandes tendências do sector. Por aqui também se falou de millennials, conteúdos, relação com os clientes e até inteligência artificial.
“Somos mais rápidos em encontrar desculpas do que em encontrar uma forma de resolver as queixas dos clientes”, atirou Tuija Seipell, numa intervenção dedicada à experiência dos consumidores. A editora do site CoolHunter relatou um exemplo pessoal. “Como passo quatro meses por ano em hotéis, tenho muito pouca tolerância quando as coisas não funcionam bem. Nos sites todos os hotéis parecem ser um paraíso, com lounges atractivos, casais a beber champanhe e quartos óptimos. Na verdade, não é assim. Já estive em hotéis óptimos em que sempre que saía do elevador, deparava-me com carrinhos e carrinhos de lençóis e toalhas. Quando convida uma pessoa para sua casa deixa à vista dos convidados a roupa e os materiais de limpeza? Claro que não. Porque deixamos que a hotelaria quebre as regras básicas da hospitalidade? Uma vez falei sobre isto com a recepcionista que respondeu: ‘Que podia fazer”? Depois falei com a directora do hotel que justificou: ‘Esse serviço é outsourcing’”. Foi a partir deste exemplo que Tuija Seipell lançou a questão: “Quais são as coisas negativas que estamos a fazer aos clientes na nossa indústria e de que nem nos apercebemos? Nós achamos que prestamos um melhor serviço aos clientes do que aquele que realmente prestamos. Estamos mais atentos aos nossos CEO do que aos clientes finais. Temos de ter consciência de que o serviço que prestamos aos nossos clientes nunca é demasiado bom, pode ser melhorado. Qual a solução? Às vezes não se trata de criar novos serviços, até porque criam novos problemas. Mais vale fazer menos e melhor”.
No caso da indústria de eventos, apontou Tuija Seipell, é preciso de ter em conta a experiência do consumidor, a partir do seu ponto de vista. “Estamos a entregar responsabilidades da produção de eventos a vários fornecedores, como hotel, venues, transportes, comunicação. Mas isso não interessa ao consumidor, já que ele quer ter uma experiência uniforme”. Será por isso uma boa ideia as grandes empresas contratarem um customer experience manager? “Quem pode pagar, pode ter esse cargo in-house. O problema é que quando se está dentro das organizações há aspectos que nem se apercebe. Fica-se cego.”
Contradição: criar emoções entre participantes e tirar partido dos eventos virtuais
Outro dos temas transversais a várias intervenções esteve relacionado com a importância de criar relações emocionais com os eventos – algo que a crescente aposta em tecnologia pode colocar em causa.
Jeannine Koch, uma das fundadoras da conferência digital Re:publica, em Berlim, explicou por que tem a preocupação para colocar os participantes em contacto e a trocarem ideias e experiências. O evento nasceu em 2007 com 300 participantes. O Re:publica contabiliza 20 mil pessoas, mil oradores e três dias, apresentando-se como um festival dedicado ao impacto da digitalização na sociedade. Agora os promotores multiplicam-se por eventos ao longo do ano em vários continentes. A preocupação por estarem ligados ao público é constante. Cerca de 30 por cento da programação do Re:publica resulta de sugestões da comunidade. “Temos de criar um ambiente em que os participantes falem e troquem conhecimentos entre si. Temos de ter um ambiente engraçado, guiado pelo design e pela comunicação, que seja divertido, atraente e inclusivo”, disse, sustentando que pretende que os participantes saiam do evento com “uma experiência para o resto da vida, que fique na memória, que oiçam algo que lhe toque”.
Já Gerd De Bruycker, CMO da Cisco Systems para a Europa do Norte e responsável pelos eventos na zona EMEA, levou a Coimbra a experiência de um encontro de grande dimensão onde a componente digital é fulcral. Trata-se do Cisco Live, que decorre em Barcelona com a participação de 30 mil pessoas e que gerou 15 mil menções nas redes sociais ou os 665 mil minutos de vídeos visualizados. Para 2019 o objectivo é o de duplicar o número de visualizações online. “Estamos a construir uma experiência online para conseguir que essas pessoas online interajam com as que estão no próprio evento”, contou. Outro eixo de trabalho consiste em personalizar a experiência. “Tanto para a app como para o site, desenvolvemos um sistema de recomendações tendo por base as preferências anteriores e as características das pessoas para que os participantes possam ter experiências diferentes de acordo com os seus perfis.” A Cisco tem estado a apostar em inteligência artificial. É isso que permite que, por exemplo, após fazerem o check-in no hotel, os visitantes do Cisco Live recebam uma mensagem com informação útil sobre o evento. A equipa de eventos da multinacional é composta por 10 pessoas. A mais recente contratação correspondeu a um “digital marketing & data analytics expert”. Outra das áreas em que a Cisco tem estado a apostar é a dos webinars. Apesar de admitir que apenas metade dos inscritos assistem aos webinars, Gerd De Bruycker contou que já teve webinars com 10 mil participantes.
Os eventos online não servem apenas para aumentar o tráfego dos sites ou para dar notoriedade a eventos reais. Podem ser também fonte de receita. Esta foi a ideia defendida por William Thomson, responsável pela britânica Gallus Events, noutro momento dos BEA World. “É possível escalar um evento de 50 pessoas para um de 500 pessoas online. Nos eventos físicos temos a limitação de espaço, temos de imprimir documentação, preparar sacos de brindes e pensar na comida e bebida dos participantes. Como a tecnologia já está disponível, é mais simples e barato trazer as pessoas para um evento online”, defendeu. O responsável admitiu que a monetização ainda está a dar os primeiros passos nesta área. No primeiro evento online pago, “decidimos cobrar o mesmo fee que aplicávamos aos eventos físicos. Diziam-me que ninguém ia pagar. O certo é que 150 pessoas pagaram 75 libras porque quando temos um bom conteúdo podemos cobrar por ele”.
Agências fora-da-caixa: uma é de um adolescente, outra de um coreógrafo
Charles Bhar (16 anos) e Yemi AD (37 anos) são dois exemplos de novos líderes de agências de eventos que saem do padrão do sector. A agência de Yemi AD, a Jad Productions, saiu de Coimbra com o segundo lugar na lista de melhores trabalhos graças a #24Ride, um evento de livestream que durou 24 horas para lançar o Mercedes-Benz A-Class. Doze participantes conduziram 20 influenciadores por nove cidades com vários desafios pelo meio. A agência está sediada em Praga, mas trabalha para a Europa Central. Tem ainda presença em Los Angeles já que Yemi AD é também coreógrafo e director artístico de espectáculos de Kanye West. “Sempre que contrato uma pessoa sénior, ela não fica muito tempo, porque somos muito fora-da-caixa e não temos limites. Estamos sempre a experimentar e com isso perde-se muita energia”, reconheceu.
Outro dos projectos da agência checa consistiu no festival Ynspirational, a pensar na geração Y e com várias áreas: digital, desporto, espírito e conferências. Cada área era patrocinada por um cliente da agência. “Era mais barato para o cliente e mais rentável para nós, já que tínhamos dinheiro das bilheteiras e dos patrocinadores. Era também interessante ver como e que eles competiam entre si”. A agência está, entretanto, a mudar de foco. “Acabámos com a área de conferências. Queremos deixar de ser uma agência 360 graus para ser uma agência em que 50 por cento do trabalho é digital. O vídeo interessa-nos muito mas é caro e só alguns é que sabem fazê-lo bem. Precisamos de mais recursos e estamos a desenvolver um projecto para que o vídeo tenha mais peso”, contextualizou.
Charles Bhar fundou aos 14 anos uma agência de social media e marketing de influenciadores focada na geração Z. Localizada em Hamburgo, a equipa da Tubeconnect Media é actualmente composta por 20 pessoas. Os séniores gerem, os teenagers dão ideias. Um dos projectos da agência consistiu num projecto com influenciadores para o banco BVR. No início trabalhava com 30 influenciadores, agora o banco trabalha com 150.
“Tentem integrar adolescentes na equipa, nem que sejam os vossos filhos. Não podemos pensar na geração Z como uniforme.” O conselho do adolescente alemão não é vago. É que a própria geração Z divide-se em crianças, adolescentes e mini-millennials. “Os meus amigos já não estão no Facebook, que só serve para ver os aniversários e para falar com os meus pais”. As crianças entre os 9 e os 11 anos dedicam-se a ver vídeos no YouTube, ao Tik Tok (que inclui o Musical.ly) e a partilhar conteúdos via WhatsApp Stories, uma vez que (ainda) não podem ter um canal próprio no YouTube ou perfil no Instagram. Já os adolescentes preferem os Streaks do Snapchat. “É preciso criar uma história e conteúdo relevantes, mas se estiver na plataforma errada os adolescentes não vão querer ligar-se”, alertou. Esta é a geração que lida com naturalidade com a figura dos influenciadores. Basta pensar no caso do Ryan Toys Review, que tem 14 milhões de seguidores e que se dedica a experimentar brinquedos. Coisa de crianças? Segundo a Bussiness Insider, factura 11 milhões de dólares ao ano. “Esta geração não é apenas nativa digital. É também nativa social. Se coloca online uma foto que não tem likes ao fim de meia hora, apaga a foto. Ninguém encara isto como uma vergonha, é uma evolução”, apontou Charles Bhar.
Quatro portugueses premiados
OCubo venceu o primeiro prémio na categoria Melhor Evento Cultural nos prémios BEA World de 2018, com o projecto Lisbon Under Stars. Todos os finalistas portugueses foram distinguidos. A Everything is New com o Palco Comédia do NOS Alive ficou em segundo lugar na categoria de Inovação em Sustentabilidade. A Up Partner, com o evento Nestlé Vencer 2018, chegou ao segundo lugar na categoria de Melhor Incentivo/Team Building. Já a Live Experiences, com o festival EDP Cool Jazz 2018, ficou em terceiro lugar na categoria Melhor Evento Musical.
O grande prémio foi entregue ao projecto Google Home Training, desenvolvido pela agência indiana Laqshya. Tratou-se de um programa de formação de força de vendas para dar a conhecer o dispositivo Google Home. As equipas foram fechadas num espaço que simulava uma casa, tendo de recorrer ao Google Home para encontrarem forma de sair, tal como no formato escape room. No final da experiência, 95 por cento dos participantes conseguiram sair da sala, resolvendo os desafios através do Google Home e desenvolvendo o conhecimento adequado para a venda e promoção do dispositivo.
O festival contou com 303 trabalhos inscritos, de 29 países e 122 agências. Chegaram à shortlist 151 projectos. Portugal foi o 10º país com mais inscrições (11), num ranking liderado pela Itália, Alemanha, Rússia, República Checa e Bélgica.
Festival segue para Istambul
“Esta é a Liga dos Campeões dos eventos. Estão cá 122 agências a competir. Este é o festival que quer difundir a voz da live communication por todo o mundo”, descreve ao M&P Salvatore Sagone, fundador do BEA World, que é organizado pelo ADC Group, com sede em Milão. A empresa é ainda responsável pelo BEA – Festival Italiano de Eventos e de Live Communication.
No próximo ano o festival de eventos de âmbito internacional irá decorrer em Istambul. “Começámos em Milão, onde estamos sediados, e onde ficámos nove anos. Depois aceitamos o desafio de torná-lo itinerante. Fomos para Sevilha por dois anos. Depois estivemos em São Petersburgo, no Porto e agora em Coimbra. É uma oportunidade para que as cidades mostrem como é que estão preparadas para receber eventos”, acrescenta Salvatore Sagone.