Com o Festival CCP a arrancar oficialmente a 16 de maio, na Fábrica de Pão – Beato Innovation District, em Lisboa, Susana Albuquerque quer que da edição deste ano saia uma perspetiva aprofundada da criatividade nacional, “quando vivemos na ‘espuma dos dias’, a achar que ninguém faz nada de jeito”.
Em declarações ao M&P, a presidente do Festival CCP e diretora criativa executiva da Uzina, avança que “gostaria que olhássemos para os Ouros e sentíssemos orgulho no que estamos a fazer. É preciso vencer a falta de autoestima de acharmos que não fazemos coisas boas em Portugal. Somos um mercado pequeno, mas não temos ideias piores. Mesmo nas agências lá fora, não é todo o trabalho que é premiado, é apenas uma parte”.
Em relação à qualidade dos criativos nacionais, Susana Albuquerque considera que “há muita gente boa em Portugal a fazer bom trabalho. Não temos motivos para nos sentirmos inferiores. Temos menos escala e dinheiro. E o dinheiro ajuda a criatividade”.
Em relação à escassez de prémios internacionais no último ano, nomeadamente em Cannes, realça que “os prémios são por vagas, já tivemos agências com desempenhos ótimos em Cannes. O que ainda não conseguimos é ter consistência e massa crítica para ganhar todos os anos”.
Além do olhar mais alargado e construtivo face à criatividade nacional, a presidente do festival deseja também ver na 12ª Semana Criativa de Lisboa, que decorre de 16 a 23 de maio, “pessoas da estratégia, clientes e criativos, jovens e velhos”. Nesta matéria, o programa contribui com propostas transversais de conferências e workshops.
Conferências reforçadas com Alta Voz
Entre as seis conferências oficiais que constam do programa, a 22 de maio, Susana Albuquerque destaca às 12h a ‘O Nosso Futuro Não é Competir com Máquinas, Mas Criar o Que Elas Nunca Poderão Sentir’ com Miguel Simões, CEO da Lola MullenLowe Western Europe, e Tomás Ostiglia, diretor criativo executivo da Lola MullenLowe.
Outra das escolhas é a ‘Burned Out Brands: Why Marketing’s Lost Its Fire and How We Get It Back’, às 10h, com Tobey Duncan, diretor de estratégia da Uncommon Creative Studio.
A tertúlia da APAP, ‘Verdade Seja Dita – AI AI AI!?’, que junta agências e anunciantes e aborda o papel da inteligência humana no processo criativo, nas áreas do design e da publicidade, é outros dos destaques de Susana Albuquerque.
“No ano passado tivemos mais de mil participantes no festival, com as conferências todas cheias. A minha expectativa é que seja casa cheia nas conferências de dia 22”, refere. A presidente do festival explica que este ano foi aberto um segundo dia de conferências, com o Alta Voz, a 20 de maio, “porque tivemos muitas propostas de pessoas que queriam fazer coisas no festival. Por exemplo, a Scopen – ‘que ainda não é sócia do clube, mas vai ser’ – vai fazer a entrega do prémio Best Agency to Work For, durante o festival”.
No âmbito das conferências Alta Voz, Susana Albuquerque salienta ainda a participação do programa de televisão Pitch, que irá fazer uma emissão a transmitir na CNN, com uma conversa entre Lourenço Thomaz (Coming Soon) e Frederico Van Zeller (Dentsu), sobre criativos versus máquinas. A Coming Soon, por seu lado, propõe uma reflexão sobre os criativos com mais de 50 anos – ‘Serei Demasiado Velho Para Ser Criativo?’ -, num debate moderado por Marcelo Lourenço, cofundador e diretor criativo da Coming Soon.
Betclic estreia-se com ativação para jovens criativos
No polo oposto, direcionado aos jovens criativos com mais de três anos de experiência, o workshop ‘Dois Gajos do Porto Sentam-se Numa Mesa de Lisboa Para Dar Bitaites’ põe Hugo Veiga (diretor criativo global da AKQA) e João Coutinho (cofundador e CEO da Atlantic New York) a avaliar portefólios.
Em linha com a ideia de formar novas gerações de criativos, Susana Albuquerque refere a ativação da Betclic, que se estreia como patrocinador oficial e convida os jovens que vão assistir ao festival a fazer uma execução da campanha ‘Aposto Que Não És Capaz’. O vencedor ganha uma formação na escola de criatividade Brother.
Quanto à disponibilidade de tempo dos criativos para assistirem ao festival, tendo em conta que decorre durante o horário de expediente, Susana Albuquerque considera que “não há festivais todos os dias” e apela aos participantes e às agências que se consigam organizar, salientado que no recinto do festival há wi-fi e espaços onde se pode trabalhar.
“Na Uzina, escrevi um email a incentivar as pessoas a escolherem o que querem ver e fazer, ao abrigo da lei da formação profissional, sem prejudicarem o planeamento do trabalho”, revela a diretora criativa executiva da agência.
Inscrições decrescem para 843
A edição de 2025 do Festival CCP regista um ligeiro decréscimo no número de inscrições face ao ano anterior, com 843 inscrições de 104 entidades, entre freelancers, agências, agências ‘in-house’, estúdios, produtoras e pós-produtoras.
A categoria com mais trabalhos a concurso é a de publicidade (251), seguida por design (193), ‘craft’ em publicidade (160), digital (134), experiências de marca (95) e integração (10).
“Este ano tirámos a categoria de meios, que tinha sido criada com o objetivo de atrair agências de meios, o que não aconteceu. A maioria das inscrições são de agências criativas e havia muitas duplicações”, justifica Susana Albuquerque, acrescentando que “continua a haver a subcategoria de meios, mas dentro da categoria de publicidade”.
Em todas as categorias, estão também integradas subcategorias de estratégia – “que é uma área que precisa de atenção” – e a inovação é retirada da categoria de integração, ficando incluída em cada disciplina. O marketing relacional, por seu lado, também é eliminado – “porque não fazia sentido” – e distribuído pelas várias disciplinas.
Depois do encerramento da votação online de ‘shortlist’, a 4 de maio, e da votação presencial a 14 e 15 de maio, num espaço cedido pela Xerox, os trabalhos finalistas candidatos a prémios são divulgados dia 16.
Todas as fases de votação são auditadas pela BDO, que apoia o festival desde a primeira edição. Os vencedores são anunciados a 23 de maio, na Gala de Entrega de Prémios, na Fábrica de Pão do Beato Innovation District.
Polémica ‘É Uma Menina’ leva a ajustes no júri
Sobre a polémica no festival do ano passado com o anúncio da Dentsu ‘É Uma Menina’, para o BPI, Susana Albuquerque garante que o trabalho chega à ‘shortlist’ nas categorias de publicidade e ‘craft’, neste caso inscrito pela produtora.
“Depois da polémica que foi levantada nas redes sociais, a Dentsu decidiu retirar as suas peças de concurso. Manteve-se em ‘shortlist’ em ‘craft’, uma vez que tinha sido inscrito pela produtora. É um assunto ao qual gostava de não voltar, gerou muitos equívocos, mas isto foi o que aconteceu: o júri não retirou o trabalho do concurso, só decidiu que era ‘shortlist'”, recorda, salientando que a ‘shortlist’ só é fechada em sala e o júri pode despromover ou promover os trabalhos por categoria.
A presidente do festival considera que “não há nada que possamos fazer para evitar estas situações, ainda assim continuamos o nosso esforço de ter o melhor júri e o mais competente possível”. Neste sentido, “este ano reduzimos o número de jurados, exceto em publicidade. Isto faz com que tenhamos um critério mais apertado, por termos pessoas mais séniores, capazes e isentas”.
Esta decisão é tomada em linha com as reações ao anúncio do BPI. “Achámos que era uma boa solução, tendo em conta que, no caso da Dentsu – por não termos premiado o anúncio do BPI -, o que apareceu nas redes sociais foi dizerem que não éramos maduros”, refere.
Questionada sobre a importância de ter no júri criativos das novas gerações, que trazem outras perspetivas à análise dos trabalhos, Susana Albuquerque considera que “o jurado júnior é muito útil para o mercado” e que, por esta razão, “desde o ano passado temos no júri os criativos que foram mais premiados no Brief Aberto, que não podem votar, mas podem dar opiniões”.
Este ano, há outras alterações no que diz respeito ao júri de ‘shortlist’, que é composto pelos sócios do clube, que podem votar numa categoria. “Fizemos um inquérito junto dos sócios, que consideraram que se devia manter, mas reduzindo a ponderação de 50% para 40%, enquanto o júri oficial tem uma ponderação de 60%. Outra novidade é que o presidente do júri tem um resumo das votações”, acrescenta.