Entre as oportunidades das plataformas e a gestão dos direitos
As plataformas de streaming estão a criar oportunidades para as produtoras nacionais que os canais lineares não permitiam até aqui, mas o caminho ainda agora começou Na mesma semana em […]

Rui Oliveira Marques
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Vanessa Tierno (Opto), Bruno Santos (Coral Europa), José Amaral (SPi) e Ricardo Pereira (Globo, em videochamada)
As plataformas de streaming estão a criar oportunidades para as produtoras nacionais que os canais lineares não permitiam até aqui, mas o caminho ainda agora começou
Na mesma semana em que decorreu o 7º Encontro de Produtores Independentes de Televisão, a Netflix confirmou que tinham arrancado as gravações de Rabo de Peixe, a segunda série original da plataforma em Portugal, após Glória. Produzida pela Ukbar Filmes e realizada por Augusto Fraga e Patrícia Sequeira, Rabo de Peixe consiste num thriller com toques de humor sarcástico, que conta a história de quatro amigos cuja vida muda para sempre com a chegada de uma tonelada de cocaína. O painel promovido pela APIT, que juntou responsáveis das produtoras Coral Europa e SPi e dos serviços de streaming Opto e Globoplay, evidenciou como estas plataformas vieram aumentar as potencialidades do setor e a exploração de novos formatos. “Dou os parabéns à SPi. Eu estava em pânico com Glória. Se não fosse bom, nunca mais nenhuma plataforma iria olhar para Portugal. Glória é uma grande história, excelentemente produzida”, elogiou Bruno Santos, a propósito da primeira série original da Netflix em Portugal, com assinatura da SPi. O diretor geral da Coral Europa ilustrou ainda a dinâmica que a Opto, lançada em outubro de 2020, veio trazer ao mercado nacional. “É maravilhoso termos uma plataforma de streaming em Portugal. É uma janela de mercado que não existia. Na Coral tivemos duas produções com a Opto que não teriam janela nem oportunidade de serem feitas. São projetos específicos que não teriam cabimento num generalista”, admitiu Bruno Santos.
Do lado da Opto, Vanessa Tierno assegura que a plataforma de streaming paga da Impresa está a “correr muito bem. É com grande orgulho que digo que já produzimos mais de 100 horas. Além dos conteúdos originais, temos tido a experiência de trazer os conteúdos dos canais lineares para a plataforma. Estreamos primeiro os episódios das novelas na Opto e todos os dias estão entre os mais vistos”, assegura a diretora de conteúdos da plataforma. Também a Globoplay, que entrou em Portugal em outubro do ano passado, “está a ir melhor do que esperávamos”, admite Ricardo Pereira. Para a plataforma brasileira, o grande mercado internacional é composto pelos emigrantes, nomeadamente os brasileiros que vivem nos EUA, Europa ou Japão. “Já o mercado da Globoplay em Portugal e em África, no próximo ano, é o dos que estão habituados a consumir o produto Globo”. É que, segundo o diretor da Globo Portugal, sete dos 10 programas mais vistos na Globoplay são novelas. Ricardo Pereira acredita que será inevitável que a Globoplay aposte num original com produção portuguesa, mas ainda “não há data”. “As plataformas são animais famintos de produção. A necessidade vai fazer com que mais cedo ou mais tarde produzamos algo em Portugal para a Globoplay. É só uma questão de tempo”. Ricardo Pereira estabeleceu ainda uma ponte para a plataforma da Impresa: “A Opto e Globoplay são as únicas plataformas de conteúdos ligados à televisão exclusivamente em língua portuguesa. É normal que a colaboração entre a Globo e a SIC só se reforce. Para as produtoras independentes é só uma questão de tempo. Quem sabe, no ano que vem, a gente fale disso”. Recorde-se que a série O Clube, da Santa Rita Filmes, foi criada para a Opto mas está também disponível na plataforma brasileira.
No entanto, José Amaral, diretor geral da SPi, considera que, apesar das novas oportunidades de produção de conteúdos, “há uma parafernália de direitos que não estão a ser devidamente explorados”. Dando como exemplo a plataforma de streaming da SIC, José Amaral referiu que a SPi tem “interesse em trabalhar com a Opto mas há aqui questões que, lá para fora, têm de ser afinadas. O que existe em Portugal para crescer são os direitos. Se partirmos o nosso ativo em partes, iremos agregar valor para que algo que vale 50 possa valer 500”, ilustrou. José Amaral apontou para outra produção desenvolvida para a Opto. “A série Vanda foi comprada pela Legendary Pictures, uma distribuidora norte-americana que entrou na origem do projeto. Havia a ideia de que o nosso conteúdo não viajava, o que não é verdade. Por exemplo, agora estamos a fazer uma coprodução com a Islândia”.
Ainda a propósito dos direitos, Vanessa Tierno ressalvou: “Não sou a favor de que tudo fique do lado do canal. Tem de haver flexibilidade, mas quando temos uma obra por encomenda, obviamente queremos que o IP [intellectual property] fique do lado do operador. A ideia nasceu do nosso lado, mas os dois lados têm de estar a ganhar”. Ricardo Pereira relatou ainda, a propósito da questão dos direitos, que a Globo “está a passar por uma mudança enorme. Estamos a produzir 1100 horas de conteúdo e isto sem contar com as novelas e os programas de antena aberta. Hoje a Globo tem de produzir para a TV aberta, paga, streaming e cinema. Os advogados têm hoje mais trabalho na Globo do que os produtores”, ironizou.