Cartoonista demite-se por Washington Post recusar publicação de ‘cartoon’ de Jeff Bezos
A caricatura satírica de Ann Telnaes (na foto) retrata o proprietário do jornal, Jeff Bezos, com outros líderes dos media e tecnologia e o Rato Mickey, a bajular Donald Trump. O editor de opinião justifica a decisão por discordar da “interpretação dos acontecimentos”
Daniel Monteiro Rahman
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Ann Telnaes, cartoonista editorial do The Washington Post e vencedora de um prémio Pulitzer, demitiu-se do cargo após o jornal ter-se recusado a publicar uma caricatura satírica que retrata Jeff Bezos, proprietário do jornal, com outros líderes dos media e da tecnologia, a bajularem Donald Trump.
“Recebi ‘feedback’ editorial e tive conversas produtivas — e algumas divergências — sobre ‘cartoons’ que enviei para publicação, mas durante todo este tempo nunca tive um ‘cartoon’ rejeitado por causa de quem ou do que escolhi para apontar a minha caneta”, escreve Ann Telnaes numa publicação online na plataforma Substack, que detalha a decisão de se demitir.
Numa declaração divulgada pelo New York Times, o editor de opinião do The Washington Post, David Shipley, defende a decisão do jornal de não publicar o ‘cartoon’ de Ann Telnaes, alegando que discorda da sua “interpretação dos acontecimentos” e que “o único preconceito era contra a repetição”.
“Nem todas as decisões editoriais são o reflexo de uma força maligna”, declara David Shipley, acrescentando que falou com Ann Telnaes e lhe pediu que reconsiderasse a sua saída. “A minha decisão foi guiada pelo facto de termos acabado de publicar uma coluna sobre o mesmo tema do ‘cartoon’ em questão e de já termos agendada a publicação de outra coluna, que será uma sátira”, justifica David Shipley.
A publicação de Ann Telnaes no Substack inclui um esboço do ‘cartoon’, que além de Jeff Bezos, que fundou a Amazon antes de adquirir o The Washington Post, inclui caricaturas de Mark Zuckerberg, fundador da Meta, Patrick Soon-Shiong, proprietário do Los Angeles Times e do Rato Mickey, mascote da The Walt Disney Company. “O ‘cartoon’ critica os executivos multimilionários da tecnologia e dos meios de comunicação social, que estão a fazer tudo o que podem para se aproximarem de Donald Trump”, argumenta Ann Telnaes.
“Embora não seja invulgar que os editores de páginas editoriais se oponham a metáforas visuais num ‘cartoon’, isto só acontece se estas lhes parecerem pouco claras ou não transmitirem corretamente a mensagem pretendida pelo autor, tal crítica editorial não se verificou em relação a este ‘cartoon’. Por vezes, as caricaturas foram rejeitadas ou revistas, mas nunca devido ao ponto de vista intrínseco da caricatura. Esta é uma mudança fundamental e perigosa para uma imprensa livre”, aponta a cartoonista.
Ann Telnaes recebeu o Prémio Pulitzer de Notícias e Comentários Ilustrados em 2001, quando trabalhava para o Los Angeles Times, tendo sido finalista na mesma categoria em 2022. Também ganhou o Prémio Reuben da Sociedade Nacional de Humoristas em 2017, tornando-se a primeira mulher a receber ambos os prémios.