O número de agências de comunicação, marketing, publicidade e design que elege vilas e cidades menos populosas para se instalar está a aumentar. A distância dos grandes centros de decisão já não impede as agências criativas de prestarem serviços fora de Lisboa e do Porto, faturarem milhões e conquistarem prémios.
Com a digitalização caíram as barreiras geográficas e o trabalho remoto veio para ficar de forma definitiva, com custos operacionais menores. Atraídos por uma maior qualidade de vida, que beneficia as atividades criativas, os profissionais destas agências encontram no interior do país oportunidades globais.
“O talento não tem local de trabalho, sobretudo nas áreas criativas, no digital e no marketing. Se podemos trabalhar com talentos indianos e nepaleses, também podemos trabalhar com talento do Douro. Isto é bom para o país, que não deve ter a atividade económica centrada apenas em duas cidades”, afirma ao M&P Maria Domingas Carvalhosa, presidente da Associação Portuguesa das Empresas de Comunicação (APECOM).
Apesar de não existirem dados oficiais, Maria Domingas Carvalhosa não tem dúvidas que o número de agências a trabalhar em comunicação estratégica, criatividade e design no interior do país tem vindo a crescer. O perfil das agências também tem vindo a mudar. Estruturas mais pequenas e especializadas conquistam clientes internacionais.
“Os profissionais das áreas podem estar onde quiserem, desde que tenham talento. Podem estar no interior do país ou até no sul de Espanha. Quanto melhor instalados estiverem mais inspiração têm e os clientes sabem disso”, salienta. Mas há exceções à regra.
“Em tudo o que envolva influência junto de políticos e jornalistas, as empresas continuam, no entanto, a procurar agências de Lisboa, em primeiro lugar, e, depois, do Porto. Vai ser difícil encontrar uma consultora dessas a faturar milhões fora dessas duas cidades”, afirma Maria Domingas Carvalhosa que tem procurado atrair mais empresas de fora para a associação, desde que assumiu a direção da APECOM.
Márcio Cortez, CEO do 2Play, reconhece que Lisboa concentra as oportunidades, os eventos de networking e os diretores das marcas das maiores empresas, mas isso não impede a agência, criada há 15 anos, de crescer anualmente entre 15% a 20%. A 2Play fechou 2024 com uma faturação de €1,5 milhões, registando um crescimento de 29% face a 2023.

Márcio Cortez, CEO do 2Play, estúdio criativo sediado em Viseu, faturou €1,5 milhões em 2024, um aumento de 29% em relação a 2023
O estúdio criativo que idealizou a nova campanha de promoção turística que a Comunidade Intermunicipal do Douro (CIM Douro) apresentou na edição de 2025 da BTL – Better Tourism Lisbon Travel Market, está instalado em Viseu, onde os três sócios residem. “Já recebemos várias abordagens para nos mudarmos para o Porto ou Lisboa, mas optámos por abrir apenas uma delegação no Porto para estarmos mais próximos dos nossos clientes”, explica Márcio Cortez.
A agência desenvolve trabalhos para marcas, organizações e eventos como a Liga Portugal, a Solverde.pt, a Allianz Cup, o Novobanco, o Turismo de Portugal e a Sotinco, com 95% dos 33 colaboradores a residir em Viseu. “Muitos estudaram cá e outros regressaram após terminarem os estudos. Além da qualidade de vida, chega-se facilmente a todo o lado. Percorre-se um quilómetro num minuto”, salienta o gestor, que já se habituou ao rebuliço da capital, onde se desloca regularmente.
Rui Manuel Ferreira, fundador e CEO da agência de marketing digital Brand 22, que trabalhou com a 2Play na nova campanha da CIM Douro, também tem visto o negócio crescer. Atualmente com 12 colaboradores e 40 clientes fixos, faturou cerca de €500 mil em 2024.

Rui Manuel Ferreira, fundador e CEO da Brand 22, agência de marketing digital de Vila Real que, com 12 colaboradores, faturou €500 mil em 2024
Situada em Vila Real, a agência, que criou a marca Discover Douro, desenvolve trabalhos para a Randstad, a Caves de Murça, a Câmara Municipal de Chaves, a Carne Maronesa e marcas como a Lego, a Tomatina e a Arcádia, através do contrato que tem com o centro comercial Nosso Shopping. “Sendo transmontano, natural de Freixo de Espada à Cinta, depois de tirar licenciatura e mestrado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), decidi ficar e apostar”, explica Rui Manuel Ferreira.
Em 2011, o empresário lança a agência de comunicação RMF, que em 2019 se converte em agência criativa e adota a atual designação. Nas próximas semanas, a Brand 22 assume, a partir de Vila Real, a gestão das redes sociais do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa.
Embora ainda não os possa divulgar, a agência prepara-se para aumentar o número de clientes na capital, onde Rui Manuel Ferreira se desloca com frequência, mas a maioria está sediada no Norte. “Os trabalhos de produção audiovisual, que exigem a deslocação para criação de conteúdos, são os que mais nos limitam”, sublinha.
A localização não impediu, no entanto, a agência de desenvolver trabalhos na Suíça, na Irlanda e nos Estados Unidos. “Somos uma marca de Trás-os-Montes, mas temos a ambição de produzir para todo o mundo”, garante.
Em Vila Real, apesar de custos operacionais mais baixos e de uma vida com melhor qualidade, menos stresse e mais tempo para a família, o CEO da Brand 22 debate-se com a falta de profissionais qualificados e de reconhecimento. “Como há menos abrangência e valorização das empresas no que toca aos nossos serviços, o caminho de afirmação e valorização torna-se mais complexo”, assume Rui Manuel Ferreira.
Criatividade e inovação não têm código postal
A Oonify, agência de marketing da Nazaré, fundada em 2019, começou por prestar serviços de gestão de tráfego pago e de redes sociais, mas evoluiu rapidamente para o branding, a produção de conteúdos, a criação de campanhas, a gestão de eventos e a consultoria estratégica em comunicação. Com 22 colaboradores a tempo inteiro e uma rede de parceiros nacional, a Oonify não tem razões para sair da Nazaré. A empresa faturou €1 milhão em 2024 e cresceu 38% face a 2023.
“A criatividade e a inovação não têm código postal, além de que a Nazaré é hoje uma marca global. Tal como as ondas projetaram a vila para o mundo, nós também provamos que é possível construir uma agência de referência nacional sem estar nos grandes centros urbanos. Somos a agência que mais cresce no centro do país”, assegura Joaquim Henriques, fundador e CEO da Oonify.

A Oonify, sediada na Nazaré, faturou €1 milhão em 2024, a crescer 38%
A Infraestruturas de Portugal, a Casa da Música, a Arfai, a Casa Piriquita e a Ginja Mariquinhas figuram entre os clientes da agência que, além de vídeos de promoção turística de Leiria, Coimbra e Santa Maria da Feira, também assumiu a comunicação do projeto ‘Greater Porto’, no evento internacional MIPIM, em Cannes.
A conquista do prémio de Melhor Vídeo de Turismo do Mundo, na 36ª edição dos World Tourism Film Awards, em Valência, em 2024, é um dos feitos de que a Oonify mais se orgulha
Ao contrário dos gestores de outras agências, o CEO da Oonify, que ganhou o Prémio Gazela em 2023 e 2024 e conquistou vários troféus nos Prémios Lusófonos da Criatividade, além de prémios internacionais em Espanha, França, Alemanha, Brasil, África do Sul, Albânia e Japão, não se queixa da falta de profissionais qualificados.
“Esta região tem talento. Há criativos que procuram um projeto sólido sem precisarem de se deslocar para Lisboa ou para o Porto, embora a perceção de que as melhores oportunidades estão nos grandes centros ainda persiste”, afiança.
Para atrair novos profissionais à região, a agência criou o centro de formação Oonify Space, em 2023, que já acolheu 1.800 alunos, tendo também estabelecido um protocolo com a Lisbon Digital School, para ampliar o leque de formações.
“Afastamo-nos do ruído e da velocidade das grandes cidades para nos focarmos naquilo que realmente importa, que é criar estratégias e campanhas que façam a diferença, além de mantermos uma proximidade real com os clientes sem a pressão de um mercado saturado”, assegura Joaquim Henriques.
Apesar de estar a cerca de 380 quilómetros da Oonify, em Faro, Pedro Águas, CEO da agência de design, marketing e publicidade Kor Creatives, fundada como LCPA Creative Agencies em 2014, tem a mesma visão. “Não é a localização que define a excelência. Estarmos no Algarve permite-nos ter uma perspetiva diferenciadora, sem ser limitadora”, assegura.

Para atrair novos profissionais criativos à Nazaré, a Oonify criou o Oonify Space, que já acolheu 1.800 alunos
Com uma faturação de €925 mil em 2024, um crescimento de 27% face a 2023, a empresa emprega 16 colaboradores, mas prevê chegar ao fim de 2025 com 20. Ana Aeroportos, Universidade do Algarve e Multi Portugal, com um portefólio que inclui ainda os Armazéns do Chiado, o Retail Sintra, o Plaza Madeira e o Forum Viseu.
“Temos a vantagem de estar num local com custos operacionais otimizados mas a desvantagem de termos de fazer um maior esforço de posicionamento, porque existe a perceção de que tudo acontece nas grandes capitais”, lamenta o CEO da Kor Creatives, que já ganhou 11 troféus nos Prémios Lusófonos da Criatividade.
A agência, que acaba de ganhar a concessão de publicidade nas frotas de autocarros de Évora e Beja, faz parte das 5% melhores PME portuguesas pelo terceiro ano consecutivo, tendo também sido distinguida pela Great Place To Work Portugal em 2024.
Trabalho remoto agiliza processos
Ao contrário da administração da Brand 22 e da 2Play, que se recusa a abandonar o local da fundação, os dois fundadores da agência de design Bullseye, criada em 2011, tiveram de trocar Paços de Ferreira por Vila Nova de Gaia, onde era mais fácil contratar profissionais especializados, para fazer crescer o negócio. Com a pandemia, habituaram-se ao trabalho remoto.
“Mantemos esse modelo até hoje, com total integração, flexibilidade e foco no talento, independentemente da geografia”, afirma João Silva, cofundador e CEO da Bullseye. O portefólio de clientes integra empresas, organizações e marcas de diferentes dimensões, como a Metro do Porto, a Stockvirtual, a Arts 56, a Woodtale e a Evolve Media, além de trabalhos em países como São Tomé e Príncipe, Austrália, Rússia, Estados Unidos e Bélgica.
“Estamos a desenvolver o branding de uma empresa de topo no setor da energia no Dubai, uma das dez maiores do mundo da sua área”, revela o gestor, que com uma equipa de apenas quatro pessoas, “ágil, focada e multidisciplinar”, faturou €250 mil em 2024, um aumento de 15% face a 2023.
“Talvez ainda subsista algum estigma sobre as agências que não estão nos grandes centros urbanos, mas o trabalho consistente e diferenciador quebra qualquer preconceito”, admite João Silva, que descreve a conquista do prémio Agência de Design do Ano nos Prémios Lusófonos da Criatividade, em 2018, como um marco. “De lá para cá, já conquistámos distinções de Ouro, Prata e Bronze nesse concurso”, informa.
Invicta é alternativa à capital
Se para muitas agências estar fora dos grandes centros é uma escolha estratégica, para outras, o Porto surge como uma alternativa viável a Lisboa, ao combinar a dinâmica de um grande mercado com um custo de operações mais competitivo e uma concorrência mais reduzida.
Este é o caso da Porto de Ideias, agência de comunicação e relações públicas que nasce no Porto em 2008. Para a agência, liderada por Carlos Furtado e Isabel Côrte-Real, o Porto é mais do que uma escolha geográfica, é uma vantagem competitiva. “Conhecemos bem o mercado empresarial e associativo da região, o que nos continua a trazer vantagens. Foi a escolha acertada porque o mercado se apresenta global”, declara Isabel Côrte-Real.
Com menos concorrência do que em Lisboa, a Porto de Ideias destaca-se como uma opção de referência no norte do país, com clientes como a Água Monchique, a Leica, a Continental e a CustoJusto, entre outras. “As grandes agências multinacionais estão concentradas na capital e nem todas têm delegações no Porto. Isto fortalece a nossa posição no mercado enquanto opção de qualidade”, sublinha Carlos Furtado.
Ter sede no Porto em vez de em Lisboa não constitui um obstáculo para a agência, segundo Isabel Côrte-Real. “A concorrência em Lisboa é grande e não queremos entrar nesse campeonato. Quando há necessidade de o trabalho ser desenvolvido em Lisboa, temos uma parceria estratégica com uma consultora de comunicação que nos dá o apoio necessário”, revela.

Fundada no Porto, a Garra Publicidade é responsável pela campanha ‘Há Um Lugar Para Ti’, criada para a STCP
A poucos quilómetros da Porto de Ideias, encontra-se a Garra Publicidade, na freguesia de Ramalde. Fundada em 1994 por Manuela Sá, a agência criativa também não tem intenções de se expandir para a cidade das sete colinas.
“Nem está nos nossos horizontes abrir uma agência na capital. Nos dias que correm, confesso que já não há tantas as diferenças”, enfatiza Manuela Sá, CEO da Garra, que regista uma faturação de €2,9 milhões em 2024, equivalente a um crescimento de 4,43% face a 2023. A estratégia da Garra passa pelo fortalecimento da presença no Porto, tirando partido das vantagens competitivas que a região oferece.
“Mais a norte, sentimos uma economia forte e em crescimento. São muitas as empresas locais e estas valorizam a proximidade, o atendimento dedicado e um foco nos detalhes”, argumenta Manuela Sá.
Para a agência, que conta com um portefólio de clientes entre os quais se destacam a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), a Unilever, a Super Bock, a Olá e a Salsa, o facto de estar no Porto não influencia a captação de clientes. “Temos clientes de Lisboa e de outras regiões do país. Não são só do Porto ou do norte do país”, conclui Manuela Sá.
Mais a sul da cidade invicta, entre a Igreja do Carmo e a Torre dos Clérigos, encontra-se a Legendary People + Ideas, agência criativa fundada em 2014 por Diogo Pinheiro e Hugo Pinto. Atualmente conta com cerca de 40 colaboradores e, em 2024, regista um crescimento de 20% na faturação face a 2023, consolidando a trajetória que tem vindo a construir.
Através de clientes como a Corticeira Amorim, a Solverde, o ActivoBank, a Endesa e a Stihl Espanha, com quem colabora através do escritório que abre em Madrid em 2024, a agência reforça a aposta no Porto e consolida a presença no contexto ibérico.
“Fundámos a Legendary num momento em que o ecossistema criativo e publicitário se encontrava concentrado em Lisboa. No entanto, sendo ambos naturais do Porto, sabíamos que isso não constituía uma limitação, mas sim uma vantagem”, revela Diogo Pinheiro, CEO da Legendary.
Para Diogo Pinheiro, num mercado dinâmico, é a qualidade, a relação e a confiança que definem o valor de uma colaboração, não a morada da agência. “O Porto deu-nos identidade, deu-nos raízes, mas nunca nos impôs limites”, sustenta. A presença no Porto não tem constituído um obstáculo à captação de clientes a nível nacional e internacional para a Legendary.
“Atualmente, trabalhamos com marcas de norte a sul do país e não identificamos uma concentração de clientes na região norte. Essa diferença já não é tão evidente como há alguns anos”, considera o CEO da Legendary, acrescentando que “no início, o mercado estava mais concentrado em Lisboa e o Porto parecia oferecer mais espaço para crescer, mas hoje existem mais empresas espalhadas pelo país”.
“Se, no início, a proximidade foi um fator diferenciador, rapidamente percebemos que vivemos num país pequeno e que a distância nunca foi um obstáculo”, refere. A agência vai apostar numa nova localização no Porto e tem como objetivo criar um polo criativo, “com conversas abertas, conferências e formações, dirigidas não só à equipa interna, mas também acessíveis ao mercado”, revela Diogo Pinheiro.
O apelo de Lisboa
Ainda que algumas agências não possam, ou queiram, estar na capital, nem todas podem virar costas a Lisboa, como explica Sofia Barros, secretária-geral da Associação Portuguesa das Agências de Publicidade (APAP). “Os meus associados são as agências líderes, vulgo ‘grandes’. E, para se ser grande, infelizmente, tal como em muitas outras indústrias, na maioria dos casos é preciso estar em Lisboa”, realça.
Liliana Castro, que avança para a criação da agência de comunicação e relações-públicas portuense FES Agency em 2013, reconhece que trabalhar no Porto “fecha algumas portas, pois não estamos no centro da ação da capital”.
A CEO e fundadora da agência que trabalha com clientes como a Shamir, a STCP, a Startup Braga e a Câmara Municipal do Porto, entre outras, acrescenta que “algumas empresas contratam em Lisboa pelo simples facto de reconhecerem que as maiores agências estão na capital”.

Criada no Porto, a agência de comunicação FES Agency opera sob o conceito de ‘Filling Empty Spaces’
A FES Agency, que trabalha nas áreas de estratégia, organização de eventos, produção de conteúdos e redes sociais, não desvaloriza a importância da capital. “É recorrente termos de ir a Lisboa a reuniões e eventos, pelo que é importante estarmos presentes junto dos nossos clientes”, salienta a responsável.
No entanto, apesar da perceção de distanciamento, Liliana Castro acredita que é possível ter sucesso a partir do Porto. Por isso, ter uma presença física em Lisboa não faz parte da estratégia da agência. “A FES opera, desde sempre, em regime ‘full-remote’, com os nossos colaboradores a trabalharem a partir de diferentes cidades do país”, esclarece.
A localização da agência pode influenciar a captação de clientes, mas é o trabalho final que faz a diferença. “A nossa comunidade principal está no Norte, onde conhecemos mais profissionais e estabelecemos relações. Ser de Lisboa é visto como estar no centro da ação e estar no Porto retira um pouco essa ideia, mas à medida que desenvolvemos o nosso trabalho e entregamos resultados, desmistificamos essa visão”, sublinha.

Marta Kadosh (à esq.) e Mónica Pimentel (à dir.) fundam a agência de relações públicas HoneyGuide no Porto, em 2021
A HoneyGuide, agência de assessoria em relações públicas e comunicação fundada por Marta Kadosh e Monica Pimentel em 2021, é um exemplo de como a ligação à capital é essencial, mesmo trabalhando a partir do Porto. “A forma como trabalhamos, a nossa presença em Lisboa é constante, quer fisicamente, quer através das relações que temos vindo a construir”, declara Marta Kadosh, cofundadora da HoneyGuide, que aumenta o volume de negócios em 15% em 2024.
A agência portuense, que conta com um portefólio de clientes que inclui marcas como a Cantê, a Fora, o Oeiras Parque e a Atlanta Mocassin, entre outros, já tem uma equipa em Lisboa. “O nosso foco está mais em continuar a crescer com propósito do que em multiplicar moradas”, revela Monica Pimentel, cofundadora da HoneyGuide.
Quanto à principal desvantagem de não estar na cidade das sete colinas, Diogo Pinheiro, CEO da Legendary, salienta a falta de profissionais qualificados. “Desde o início, tivemos de assumir um papel formador, investir em talento e criar contextos de aprendizagem contínua. O lado positivo é que acabamos por construir equipas muito alinhadas com a nossa cultura e visão”, acrescenta.
Lisboa continua a fazer parte dos planos da agência de Diogo Pinheiro e Hugo Pinto, mas de uma forma estratégica. “A expansão só faz sentido se for uma decisão estruturada. A nossa intenção é concretizar essa entrada através da aquisição de uma agência que partilhe os nossos valores e complemente a nossa oferta. Queremos crescer com propósito e não apenas com o objetivo de marcar presença”, revela Diogo Pinheiro.
Globalização aproxima mercados
Criar agências fora dos grandes centros urbanos também pode ser uma opção estratégica. É o caso da Framework Lab, agência de comunicação de Braga especializada em ‘branding’, estratégia, marketing e multimédia, com 20 colaboradores, ligada à Universidade do Minho. É nas ‘startups’ da região que tem a maior base de clientes.
“A principal vantagem de estarmos em Braga é a perspetiva diferente que conseguimos dar às marcas, com abordagens um pouco diferentes das apresentadas pelas grandes agências”, sublinha Sérgio Costa, CEO da Framework Lab. Desde a fundação, em 2013, a agência já desenvolveu trabalhos para marcas como a Deeply, a TMG Automotive e o Jornal de Notícias, onde Sérgio Costa foi jornalista.
As pequenas e médias empresas são o foco do grupo Red, que no início de 2025 se mudou para Leiria, para estar mais próximo dos clientes. Fundado em 2007, em Fátima, o grupo já realizou cerca de cinco mil projetos para 600 empresas e organizações, incluindo o Burger King, a Everything is New, a Altice, a Federação Portuguesa de Futebol e o Hard Rock Cafe. Embora não divulgue valores, em 2024 a faturação do grupo cresceu 30%.
Além da agência de comunicação, Red Agency, o grupo detém o estúdio de fotografia, vídeo e multimédia Red Media, a agência de marketing Red Mkt, a agência de eventos e ativação de marca Red Events, a agência de produção gráfica Red Print, a agência de inovação e tecnologia Red Lab e a WMG, empresa de expositores. O mercado internacional é a próxima aposta e há planos para expandir a operação.
“Inicialmente estávamos numa posição estratégica entre Lisboa e Porto, o que nos permitiu acompanhar de perto as empresas da região de Leiria. No entanto, o mercado e as formas de trabalho evoluíram. Hoje, a localização física tem uma importância relativa”, conclui Michel Gonçalves, CEO do grupo Red.
A agência que só trabalha para a geração ZA Strive, agência de marketing digital especializada em conteúdo para as redes sociais e em marketing de influência, sediada em Esposende, centra o negócio na geração Z, e desenvolve estudos e estratégias para as marcas que pretendem chegar a consumidores mais novos. Fundada em 2022 por três sócios, André Campos, Tiago Costa e Lucas Monte, a agência foi pensada para estar longe das maiores cidades do país. “Esposende é um sítio calmo, com uma beleza natural incrível, estrategicamente localizada entre Porto, Braga e Viana do Castelo, três polos urbanos com enorme talento”, justifica Lucas Monte, cofundador e diretor de conteúdos da agência. Ao longo dos últimos três anos, a Strive desenvolveu trabalhos para clientes como Fitness Factory, LuxSteel, Kōzōwood e Unilever. O vídeo que criaram para a Cif, integrado numa estratégia de conteúdos para TikTok, alcança 20 milhões de visualizações. “O nosso trabalho é a prova de que as grandes ideias não nascem só nos grandes centros”, afirma o empresário, revelando que a aposta para 2025 passa pela criação de relatórios de análise exclusivos sobre a geração Z, com dados relevantes para as marcas que querem conectar-se com os consumidores mais novos. |
A Bazooka prevê um crescimento de cerca de 50% em 2025
Bazooka em Lisboa para acelerar crescimento em 2025Apesar de estar a crescer no Porto, onde é fundada, em 2008, a Bazooka, agência criativa cofundada por Flávio Gart, Raquel Belard e Telmo Silva, reforça a presença nacional e, em janeiro deste ano, abre um escritório em Lisboa. A Bazooka, que começa por ser conhecida como uma agência de guerrilha ‘human-friendly’, consegue conquistar vários clientes fora do Grande Porto, incluindo alguns em Lisboa. No entanto, Flávio Gart admite que a ausência de uma presença física em Lisboa acabou por ser limitativa para a agência, que concentra a maior parte do negócio no norte do país, com um portefólio de clientes que inclui marcas como a Adidas, o Continente, a Danone e a Continental, entre outras. “Já tínhamos clientes em Lisboa e, de forma a melhor servi-los e a potenciar essa proximidade com mais marcas, abrimos um espaço na capital e já estamos a trabalhar em novos projetos”, justifica Flávio Gart, que se muda do Porto para Lisboa para gerir o novo escritório da agência. Ainda que trabalhe maioritariamente com clientes nacionais, a Bazooka tem uma trajetória de crescimento contínuo nos últimos anos, tendo desenvolvido campanhas publicitárias em países como a Alemanha, os Estados Unidos, a Espanha, o México, a Dinamarca, o Japão, a França, a Suíça e o Reino Unido. Para 2025, com o novo escritório, a agência prevê um crescimento de cerca de 50%, o que reflete a importância da capital no mercado da criatividade. |

Fundada em 1962 no Porto, a Opal é uma das agências criativas mais antigas em Portugal
Opal: desafios e oportunidades globaisFundada em 1962 no Porto, a Opal é uma das agências criativas mais antigas em Portugal e, talvez, uma das que mais cresce nos últimos anos, dentro e fora do país. Com vários escritórios, incluindo um em Lisboa, a agência aumenta o volume de negócios em cerca de 40% nos últimos três anos. As campanhas da Opal destacam-se pela criatividade e incluem clientes como a Super Bock, a Worten e a Galp. A agência foi premiada com vários prémios ao longo dos anos, incluindo um Leão no Festival de Publicidade de Cannes, distinções nos World Independent Advertising Awards e ainda no Festival Internacional de la Publicidad Independiente, na Argentina. Bruno Rente, CEO da Opal, reflete sobre o mercado das agências fora de Lisboa. Por que razão escolheram abrir a agência no Porto e não em Lisboa? Quando a agência foi fundada o Porto era uma região efervescente, comercial e muito ligada ao exterior, quer pelo vinho do Porto, quer pela indústria da região norte. Hoje, estamos no Porto, sim, mas também em Lisboa e no mundo. A nossa presença estende-se da Alemanha ao Japão, do Brasil à Coreia do Sul, da China aos Estados Unidos, cobrindo mercados na Europa, América e Ásia. Temos raízes nortenhas, mas uma visão sem fronteiras. O que distingue uma agência sediada no Porto de uma na capital? Cada cidade tem as suas particularidades. Mais do que a localização, o que realmente distingue uma agência é a forma como opera. No caso da Opal, temos uma tradição e uma cultura que privilegia a relação próxima com os clientes, baseada numa disponibilidade e num compromisso incondicionais A localização de uma agência influencia a captação de clientes? Trabalhamos com empresas de todo o país. Entre os nossos dez maiores clientes, apenas três são da região norte. No entanto, o setor da comunicação e da criatividade está a evoluir tão rapidamente, impulsionado pela digitalização e pelas novas formas de consumo de media, que acredito que os desafios e oportunidades são globais e não territoriais. |