“Há muitas campanhas que parecem feitas pelo Gustavo Santos”
Manuel Soares de Oliveira, fundador da agência Mosca, ajuda a fazer o retrato do sector das agências criativas em Portugal e explica por que aposta no humor.

Rui Oliveira Marques
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A entrevista decorreu já num ambiente de pré-mudança de instalações. A agência criativa Mosca, criada em 2013 pelo ex-fundador e director-geral da Uzina Publicidade, Manuel Soares de Oliveira, vai em breve mudar-se de Alcântara para Santos. “A Mosca nasceu um bocado punk, o objectivo era que fosse uma agência para pessoas que gostam de publicidade e que se divertem a fazer publicidade”, refere em entrevista publicada na última edição do Meios & Publicidade em papel. Manuel Soares de Oliveira ajuda a fazer o retrato do sector das agências criativas em Portugal e explica por que aposta no humor.
Meios & Publicidade (M&P): Nos tempos que correm não é arriscado apostar no território do humor? Facilmente certas situações podem ser consideradas machistas ou “politicamente incorrectas”.
Manuel Soares de Oliveira (MSO): A polémica em si não é má. No início das redes sociais qualquer crítica que aparecesse era o pânico geral: reunião com a administração e a agência para analisar duas pessoas que não gostaram do anúncio. Agora sabemos que as redes sociais libertam os palermas deste mundo. Adorei uma definição que li no outro dia que dizia que as redes sociais são onde as pessoas que não lêem nada escrevem muito. Hoje já não se apagam comentários, até dão credibilidade à página. Agora no festival de Cannes a campanha que ganhou mais prémios, a da Burger King. baseia-se no humor, goza com o McDonald’s, de certeza que houve muita gente que não gostou daquilo, além do próprio McDonald’s. A polémica é boa. Com a crise, as pessoas, anunciantes e directores de marketing estiveram muitos anos com medo. Não havia emprego, não queriam arriscar e fazer uma campanha que pudesse custar o emprego. Se fizessem uma campanha que ninguém critica mas também ninguém elogia, passavam despercebidos. A crise instalou o medo em todos nós, e não apenas nos anunciantes.
M&P: Esse medo continua instalado?
MSO: Ultimamente tenho visto menos medo, com marcas com vontade de arriscar. Mas o medo ainda está lá. Há muitas campanhas que parecem feitas pelo Gustavo Santos, aquele grande orador, com campanhas do género “tu especial”, “tu vais conseguir”, que são vómitos autênticos. Depois há a parte das campanhas “We are the world”, do dar as mãos, dos jovens a tocar guitarra…
M&P: Na praia…
MSO: A quantidade de anúncios com jovens a tocar guitarra na praia… Filmes que são sequências de imagens com jovens a divertirem-se. Mas quem se lembra disto depois? Claro que se for uma grande marca com muito dinheiro para gastar, as pessoas vão-se lembrar. Mas se fizessem publicidade inteligente gastavam metade do dinheiro e as pessoas lembravam-se ainda mais. Nisso o Licor Beirão é inteligente. Faz umas campanhas que não têm nada a ver com a categoria em que está – e têm resultados. Hoje, seja pelo humor, pelo atrevimento ou pela polémica, como é o caso da Nike, há marcas a querer fugir do padrão. Depois há a praga do politicamente correcto que leva marcas que não têm nada de responsabilidade social e aparecem a dizer uma coisas que não têm a ver com a sua identidade.
M&P: Está a trabalhar a título pessoal com o partido Iniciativa Liberal cuja campanha nas eleições europeias foi elogiada várias vezes.
MSO: Também levou pancada. A pior das coisas é passar pela vida e ser indiferente. Já trabalhei PS e PSD e eram certinhos. A Iniciativa Liberal é fantástica. Tem vários desafios. Tem um nome complicado, as pessoas não percebem que é um partido. Não tem ninguém conhecido. Tem uma ideologia que é estranha à maioria dos portugueses, com muitos que colocam os liberais ao mesmo nível dos protofascistas. Depois, não têm dinheiro e têm a audácia de dizer que recusam as subvenções estatais. Todos os cartazes são pagos por donativos. Eles desafiaram-me e adoro fazer esse trabalho, mexe com as pessoas.
M&P: Apesar dessa visibilidade, o partido não conseguiu eleger ninguém para o Parlamento Europeu.
MSO: Teve praticamente um por cento, mas no concelho de Lisboa e Porto chegou quase aos três por cento. Para primeira prestação não foi um resultado mau. Não é um partido que ambiciona ser maioritário, ambiciona introduzir algumas ideias na política e na discussão. É raro os publicitários assumirem que fazem campanhas. O Edson e o Bidarra assumiram que fizeram campanhas.
M&P: É uma área que pode “queimar” um criativo?
MSO: Conseguimos dar dois nomes, Edson e Bidarra, mas há muitos que colaboram com os partidos e não o assumem.
M&P: A propósito da experiência de fundar a Mosca, o Estado trata bem novas empresas?
MSO: Nem pensar, mas isso todos nós sabemos. Não me lembro de ouvir este governo falar das empresas. Até José Sócrates, que tinha muitos defeitos, teve várias vezes programas para as empresas. Mesmo à direita, até à semana passada, não me lembro de o PSD nos últimos quatro anos ter falado sobre empresas.