Fake News: Tudo deve mudar para que tudo fique como está
Acabei de o fazer. Acabei de publicar, para partilha, uma notícia falsa ou, recorrendo ao termo anglo-saxónico actualmente mais na moda, sou autora de uma ‘fake news’. E é tão, […]
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Acabei de o fazer. Acabei de publicar, para partilha, uma notícia falsa ou, recorrendo ao termo anglo-saxónico actualmente mais na moda, sou autora de uma ‘fake news’. E é tão, mas tão fácil fazê-lo que até arrepia. Basta procurar um site que nos permite e apoia na criação da notícia e depois a partilha.
Este é um negócio que tem na sua base a promoção de cliques e a criação de um tráfego digital de tamanha dimensão, que os proprietários desses sites facilmente enriquecem com o aumento do número de acessos aos sites (audiência) e cliques em anúncios e publicidade aumentam o valor comercial de portais noticiosos. Traduzindo ‘por miúdos’: as fake news – que normalmente são fabricadas de forma a despertar a atenção dos utilizadores – dão milhões de cliques que são pagos pelos anunciantes em portais noticiosos (Google, Buzzfeed, Bing, etc.) que, por sua vez, os multiplicam em receitas publicitárias.
Mas nada disto é novo. O negócio já tem muito tempo e, como li algures, até há uns tempos, as fake news tinham apenas como target e fonte de negócio os chamados ’foolish people’.
Mas agora as fake news passaram elas próprias a ser notícia. E porquê? Porque alguns marketeers políticos descobriram uma forma fácil e eficaz de fazer spin. Tudo começou em 2016, nos EUA, com a campanha para a presidência dos EUA disputada por Hillary Clinton e Donald Trump. E resultava. Segundo uma análise realizada pelo Buzzfeed, nessa campanha as fake news criaram mais engagement no Facebook do que o top 20 dos maiores 19 grupos de comunicação social norte-americanos.
Funcionou. É fácil, é barato e dá milhões de visualizações e uma capacidade de influência brutal, pelo que os marketeers brasileiros já seguiram o mesmo esquema e a tendência vai ser para a generalização.
Este tipo de propaganda mostra-nos o pior do que há na política. A política baixa, desleal e imoral. E quem a pratica ou a deixa praticar não tem nível para representar os cidadãos de um qualquer país. A política não deve ser construída com enganos e mentiras, deve ser de missão e de respeito pelos eleitores. Pode todo este meu discurso parecer ingénuo, mas não é. A política mundial, mormente a europeia, entrou em total declínio. O eleitor divorciou-se dos políticos e começa a encontrar algum conforto nas posições políticas radicais quer de direita, quer de esquerda. E estas não são fake news.
Por outro lado, o excesso de informação e a ameaça constante das fake news – ninguém gosta de andar todo o tempo enganado – vai levar os utilizadores da internet a procurar as fontes mais seguras e a retornar às fontes tradicionais: os meios de comunicação social que efectivamente fazem jornalismo. Espero que as pressões económicas de que sofre o sector não os desvie da sua missão principal: informar de forma isenta e, principalmente, pesquisar. Queremos um jornalismo moderno que transmita confiança e a enormidade do espaço digital traz-lhe múltiplas oportunidades. Além de que não há bom jornalismo sem pesquisa. E com pesquisa não há espaço para fake news.
Serviram-me as fake news para chegar a um ponto fulcral: sendo a história feita de ciclos, acredito que estaremos a caminhar a para uma nova realidade que só surgirá porque é necessária. Como referiu o príncipe de Falconeri, no filme O Leopardo, “Tudo deve mudar para que tudo fique como está.”
Artigo de opinião de Maria Domingas Carvalhosa, fundadora e CEO da Wisdom Consulting