“Enquanto for humana e economicamente possível, iremos manter a edição impressa”
David Pontes assumiu na última quinta-feira a direção do Público. Ao M&P, naquela que é a primeira entrevista nas novas funções, o até aqui diretor adjunto e responsável pela redação do Porto assegura que, apesar do peso que o digital já assume na operação do diário, em sentido contrário com o das vendas em papel, a edição impressa será para manter “até o mais longe possível, enquanto as nossas forças o permitirem, em termos de racionalidade económica e de esforço da redação”.
Pedro Durães
Natal no M&P com notícias diárias no site
Milka promove Calendário do Advento digital e interativo
Media britânicos recusam uso de obras protegidas por empresas de IA
Joana Santos Silva é a nova CEO do ISEG Executive Education
Holiday Inn Porto Gaia entra no ano novo inspirado na Era Disco dos anos 70 e 80
Temu cresce em mercados ocidentais e enfrenta desafio da rentabilidade
Rádio Comercial mantém liderança
Bloom lança concurso no TikTok para escolher influenciadoras digitais
Sesimbra Oceanfront Hotel convida a celebrar a passagem de ano com vista deslumbrante sobre o mar
Tascaria São Rafael é o spot perfeito com clássicos modernos portugueses para um fim de ano inesquecível
David Pontes assumiu na última quinta-feira a direção do Público. Ao M&P, naquela que é a primeira entrevista nas novas funções, o até aqui diretor adjunto e responsável pela redação do Porto assegura que, apesar do peso que o digital já assume na operação do diário, em sentido contrário com o das vendas em papel, a edição impressa será para manter “até o mais longe possível, enquanto as nossas forças o permitirem, em termos de racionalidade económica e de esforço da redação”.
Ainda assim, o novo diretor do diário da Sonaecom admite que crescer na circulação impressa paga será “muito difícil, para não dizer impossível” e que a continuidade das edições em papel é uma questão que acabará por se colocar mais à frente já que “o produto generalista, diário, como nós o conhecemos, terá tendência para, cada vez mais, sofrer erosão das suas audiências e um dia, que nós esperamos o mais longe possível, desaparecer”.
Com uma circulação paga total de 58.580, onde o digital representa já uma fatia de 48.199, o Público é caso único na imprensa generalista diária em Portugal ao registar uma circulação paga no digital quase cinco vezes superior à da sua edição impressa. Num cenário de quebra generalizada das vendas no papel, esta audiência predominantemente digital tem permitido que o diário se posicione frequentemente como a exceção, sendo muitas vezes o único título a alcançar saldo positivo na evolução da circulação paga apesar do recuo nas vendas da sua edição impressa.
Foi assim no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o relatório da APCT divulgado na passada quarta-feira, onde foi o único generalista a registar um incremento da circulação paga (+2,6%). Resultado de uma estratégia que passou a colocar a tónica no crescimento da base de assinantes e que, assegura David Pontes na entrevista publicada na edição impressa do M&P, da qual aqui publicamos apenas um excerto, é para prosseguir e aprofundar.
Meios & Publicidade (M&P): Nos dados APCT mais recentes, relativos ao primeiro trimestre, o Público volta a surgir como o único título generalista com saldo positivo, registando uma evolução favorável da circulação total paga (+2,6%), para os 58.580. Um crescimento que está assente no digital, onde a circulação paga subiu 5,6 por cento, já que as vendas da edição impressa recuaram mais 9,2%, para uma média de 10.381 exemplares por edição. As hipóteses de crescimento na imprensa generalista residem agora, exclusivamente no digital? Crescer no papel já não é possível?
David Pontes (DP): É possível usar a nossa experiência editorial, o facto de sermos uma redação multipremiada em termos gráficos, para criar alguns produtos em papel. O produto generalista, diário, como nós o conhecemos, terá tendência para, cada vez mais, sofrer erosão das suas audiências e um dia, que nós esperamos o mais longe possível, desaparecer. Tirando alguns casos muito particulares, e nós temo-lo feito com alguns produtos como a revista Ímpar, que fazemos duas vezes por ano, ou algumas parcerias nas áreas dos vinhos e da cultura, onde somos referência e onde gostávamos de fazer mais coisas, porventura até estendermos a oferta nesse segmento do jornalismo cultural com produtos físicos também. Mas será um trabalho mais de nicho, do que propriamente acreditar que isso será, a prazo, um fluxo constante, quer de receitas quer de audiências. Não queremos deitar fora o saber que temos do papel, queremos rentabilizá-lo, mas temos noção de que, por muito gosto que ainda haja em algumas pessoas para consumir o jornal nesse formato, ele terá tendência a desaparecer. O que andamos à procura constantemente é permitir às pessoas uma visão do mundo que o jornal ajudava a criar, uma forma de hierarquizar informação, de explicar ao leitor o que é mais importante, porque está ali concentrado num meio finito. Na linguagem digital isso é mais complicado de trabalhar. Vamos ter em breve uma nova app, mais uma vez trabalhando para os assinantes. Embora ainda não esteja completamente fechado, deve ser exclusiva para assinantes e uma das novidades será uma espécie de playlist diária, em que as notícias mais importantes estarão lá em formato áudio, nesse sentido de trabalhar a questão da hierarquização, ajudando a traduzir o mundo e explicando às pessoas aquilo que nós – que temos a obrigação de ler mais, trabalhar os temas, falar com fontes, fazer perguntas – achamos que é o mais importante para o leitor.
M&P: Apesar de falarmos em saldo positivo, é preciso não esquecer que as assinaturas digitais representam menos receita em comparação com as vendas da edição impressa. Enquanto modelo de negócio, o crescimento da circulação digital será suficiente para garantir a sustentabilidade dos títulos?
DP: Claramente, até porque os custos de produção são muito mais baixos e esses custos no papel estão cada vez mais elevados. Tivemos uma terrível dor de cabeça, que felizmente tem vindo a atenuar, com uma série de coisas que têm vindo a acontecer na economia. Ainda esta semana foi notícia que o preço do transporte marítimo baixou para níveis pré-pandemia, mas durante um período sofremos com o aumento do preço do papel. Ainda não chegou cá, mas na Europa central e do norte o problema da distribuição está a causar enormes dores de cabeça a jornais com muito mais estatura e capacidade. Há questões do modelo de negócio, nomeadamente estes custos de produção e de distribuição, que pesam tanto na operação que fazem com que as assinaturas digitais, mesmo sendo muito mais baratas do que o valor pago pelo jornal impresso, se tornem bastante mais interessantes.
M&P: Como fecharam as contas do jornal em 2022?
DP: Pensámos sempre que as coisas iriam piorar, mas o resultado final não foi assim tão mau.
M&P: Numa entrevista ao M&P no final de 2020, Manuel Carvalho referia que o jornal só daria prejuízo nesse ano devido ao impacto da pandemia já que, atendendo ao desempenho do primeiro trimestre, o Público estaria já “numa situação de sustentabilidade ou no limite da sustentabilidade”. A situação de prejuízo seria então conjuntural e o Público iria “chegar à estabilização económica e financeira num curto prazo de tempo”. Essa estabilização já foi uma realidade em 2022?
DP: Manteve-se. O Público ainda luta com uma margem de prejuízo, mas que tem vindo a baixar. O jornal tem conseguido baixar gradualmente esse esforço que pede ao acionista e 2022 não foi exceção. Esperávamos, por várias contingências, que pudesse significar um recuo mas não.
M&P: Como é que responde às críticas que por vezes vos são dirigidas, de que é mais fácil quando se tem um acionista que suporta prejuízos há vários anos?
DP: Agradecendo muito ao acionista. Somos a maior redação de imprensa em Portugal e isso deve-se a esse encontro de vontades que aconteceu ali no princípio dos anos 90 entre uma série de jornalistas que quiseram fazer um jornal moderno e um acionista que o quis fazer sem incorrer em riscos. Acima de tudo, tenho de agradecer ao acionista e, depois, mostrar com trabalho, que estamos a corresponder ao desafio que foi colocado nessa altura e que se mantém bem firme. O facto de termos um acionista como este não nos faz esmorecer de maneira nenhuma na vontade de conseguir uma melhoria de sustentabilidade para o jornal e de corresponder com exigência àquilo que ele próprio entrega e que queremos que seja cada vez menos. Não nos acomodamos de maneira nenhuma, não vivemos à sombra de achar que estamos numa espécie de fundação e que isso nos dá direitos ilimitados para fazer o jornal. O jornal vive com contingências, o jornal gostava de estar nas eleições da Turquia, gostava de ter ido à Cisjordânia, gostava de estar com correspondentes em muito mais sítios do país, mas olhamos para isso com responsabilidade. Não é mais fácil para nós só porque temos este acionista. Até porque o acionista é exigente, e bem.
M&P: Tendo em conta essa situação de prejuízo, e olhando para o peso que a circulação digital tem na circulação paga do Público (48.199 de um total de 58.580), está em cima da mesa, ou terá estado em algum momento, acabar com a edição em papel e passarem a ser um jornal exclusivamente digital?
DP: Acho que vai estar. Não está neste momento. Enquanto for humana e economicamente possível manter uma edição impressa, iremos mantê-la. Até porque a edição em papel ainda tem um peso importante em termos de receitas, não só pelas vendas mas pela publicidade, porque ainda há muitas empresas e parceiros que querem ver fixadas no papel as suas mensagens. Depois, porque um legacy paper garante uma outra presença, uma outra acuidade, que um meio só digital não tem ainda conseguido impor. Há uma ideia de materialidade em relação à edição impressa que ajuda a que a marca Público seja mais forte do que se fosse apenas digital. Agora, o mundo está a mudar. É uma questão que tem sido repetida, até internamente. Evidentemente que fazer uma edição impressa tem um custo em termos de máquina de produção que não é irrelevante. Se nos libertássemos de alguns desses custos, teríamos certamente mais forças em determinadas coisas que fazemos no digital. É uma questão que vai sendo objeto de discussão mas até agora não temos nenhuma razão para desistir. Acreditar num crescimento, isso sabemos que é muito difícil, para não dizer impossível.
M&P: Como estão atualmente divididas as receitas do jornal entre papel e digital?
DP: O digital ultrapassou as receitas do papel há pouco tempo. O facto de esse turnover ter acontecido recentemente é também um sinal de que o papel ainda tem um peso significativo.
M&P: Ainda que não esteja em cima da mesa nesta fase acabar com a edição em papel, a circulação impressa paga está nos 10 mil exemplares vendidos (9.218 em banca). Até onde é possível descer sem colocar em causa a sustentabilidade? Há um patamar mínimo estabelecido pelo acionista?
DP: Não. Nunca foi estabelecido um número. Não sei qual é o limite mas, enquanto as receitas, nomeadamente as de publicidade, ainda significarem o que significam, temos tempo para fazer essas contas. Não é uma coisa para os próximos dois ou três anos. Acho que, mais lá para a frente, se vai colocar. Vamos tentar encontrar estratégias que ajudem a mitigar isso. Alguns títulos têm procurado concentrar a sua operação do papel nos últimos dias da semana. É sempre uma interrogação que temos, mas ainda não fizemos essas contas.
M&P: Passar o Público a semanário seria uma possibilidade?
DP: É uma possibilidade que poderá ser estudada. Ainda não sentimos necessidade, até pela evolução das receitas que já referi, de parar para fazer essas contas. Ainda temos aqui alguma margem para que o paraquedas continue a funcionar. O foguetão são as assinaturas, que estão em sentido ascendente. O paraquedas é a edição impressa. Enquanto conseguirmos controlar o vento de forma satisfatória vamos tentar manter. No caso do DN, a inversão que acabaram por fazer resulta da leitura que eles próprios fizeram da maturidade que existia no mercado para ser uma marca exclusivamente digital, concentrando a edição em papel no fim-de-semana. Olhando para o que se passa na imprensa de referência a nível global, vemos que manter a edição impressa é ainda absolutamente crucial para que a marca continue a viver com a pujança e a força que tem.
M&P: Mas não sustentarão uma edição impressa que venda mil exemplares, à semelhança do que acontece com outros títulos.
DP: Não. Dificilmente. Não só pela lógica económica, mas pelo esforço interno que representa fazer uma edição impressa, que tem naturalmente um peso grande na operação da redação.
Leia aqui a entrevista completa, disponível exclusivamente para assinantes do M&P