O que é notícia nos media sociais?
Se as notícias são cada vez mais uma experiência partilhada e multiplataforma, até que ponto os media tradicionais e as redes sociais emergentes partilham a mesma agenda mediática?
Ana Marcela
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Se as notícias são cada vez mais uma experiência partilhada e multiplataforma, até que ponto os media tradicionais e as redes sociais emergentes partilham a mesma agenda mediática? Será que os temas que despertam a atenção dos bloggers são os mesmos que cativam os utilizadores do Twitter, do YouTube ou que marcam a agenda dos media tradicionais? O estudo, apresentado em Maio, do Pew Research Center – Project for Excellence in Journalism, New Media, Old Media, que analisou durante um ano as diferentes plataformas (sete meses no caso do Twitter), dá algumas luzes sobre quais os temas que despertam o interesse dos utilizadores nestes veículos de comunicação. “Em termos gerais, as histórias e temas que ganham relevo nos media sociais diferem substancialmente daqueles que lideram a imprensa tradicional. Mas também se diferenciam grandemente uns dos outros. Das 29 semanas em que monitorizámos as três plataformas sociais, os blogues, Twitter e o YouTube partilharam apenas uma história de topo”, pode ler-se no estudo, referindo que o tema em questão era as eleições iranianas. “Cada plataforma de media social parece ter a sua própria personalidade e função”, conclui o estudo. Enquanto os bloggers gravitavam para histórias mais emocionais, em torno dos direitos dos indivíduos ou grupos, desencadeando uma paixão ideológica, no caso do Twitter a tecnologia – em particular a própria plataforma – é o tema principal, enquanto que no YouTube, dado as suas características, os utilizadores tendem a privilegiar “um misto internacional mais abrangente já que os vídeos transcendem as barreiras da linguagem de uma forma que os textos não conseguem”. Em comum as três plataformas têm a reduzida capacidade de atenção dos seus utilizadores em relação a uma história: nos blogues 53 por cento das histórias de topo durante uma semana não ficam na lista mais do que três dias, no Twitter o mesmo ocorre com 72 por cento das histórias, e mais de metade (52 por cento), agarram a atenção dos utilizadores apenas durante 24 horas.
Em termos de notícias os media sociais tendem a dar relevo a histórias que não têm tanto destaque nos media tradicionais e, realça o estudo, “há poucos indícios, pelo menos até ao momento, de que a imprensa tradicional agarre nessas histórias como resposta”. Num ano, apenas a controvérsia sobre os e-mails em torno da investigação sobre o aquecimento global (Climategate) ganhou espaço nos blogues e mais tarde fôlego nos media tradicionais, refere o estudo.
Os temas que marcam as agendas
Dos media sociais em análise, os blogues são aqueles que apresentam maiores semelhanças com a imprensa tradicional em termos de agenda. Não só os bloggers remetem com maior frequência para os media tradicionais como fonte de informação (99 por cento das histórias em blogues remetem para plataformas de media tradicionais), como tendem a ter mais interesse por temas como política, governo e política internacional, caros à imprensa tradicional. Contudo, entre as duas plataformas existem diferenças, com a blogosfera e a imprensa a partilharam as mesmas notícias em menos de um terço das semanas analisadas. “Os bloggers tendem a gravitar para eventos que afectam os direitos individuais e normas culturais – temas como o casamento de indivíduos do mesmo sexo, o racionamento dos cuidados de saúde ou as políticas de privacidade do Facebook – enquanto que a agenda dos media tradicionais é mais impulsionada pelos acontecimentos, sendo mais institucional”, refere o estudo. Os bloggers também tendem a privilegiar áreas que não encontram espaço nos media tradicionais, com os temas de ciência (10 por cento) e tecnologia (8 por cento), por exemplo, a surgir como terceiro e quarto temas nos blogues.
No Twitter os utilizadores focam-se mais nos temas de tecnologia (43 por cento) e ligados à web. “Em alguns casos usam o meio para promover activismo e envolvimento, mas tendem a ser episódicos e, em certa medida, motivados por circunstâncias especiais”, sendo emblemáticos os casos dos protestos motivados pelas eleições no Irão – considerado, até pela análise realizada pela plataforma, como o tema mais mediático do ano passado – e o terramoto no Haiti. “Mais frequentemente o Twitter serve um propósito mais imediato: partilhar informação de última hora”, refere o estudo, frisando que no caso desta plataforma de microblogging privilegia-se os blogues e sites exclusivamente online (40 por cento) como fonte de informação. O ambiente no Twitter é, contudo, menos politizado do que nos blogues, tendendo a apresentar um “tom mais inclusivo de comunidade, no sentido dos seus utilizadores serem defensores uns dos outros e da própria plataforma”.
Também no YouTube a agenda mediática raramente coincide com a dos media tradicionais: em apenas oito das 49 semanas estudadas o vídeo de topo tinha o mesmo tema. Então que vídeos preferem os utilizadores do YouTube? “A maioria dos vídeos mais vistos tem uma qualidade e dinâmica visual que faz com que as pessoas os queiram partilhar com outras pessoas”, pode ler-se no estudo. Gaffes de políticos ou celebridades, vídeos humorísticos ou “de coisas que são ou boas ou más demais para se acreditar”, do qual é exemplo, o vídeo de Susan Boyle, vencedora do programa Britain’s Got Talent, visto mais de 100 milhões de vezes em menos de um mês. Mais de um quarto dos vídeos mais vistos (26 por cento) referem-se a acontecimentos ocorridos no exterior dos Estados Unidos, “muitos deles em línguas estrangeiras e sobre assuntos que receberam praticamente nenhuma atenção na imprensa americana ou em qualquer outra media social de origem anglo-saxónica”.
– Algumas conclusões
1. Os media sociais e a imprensa tradicional apresentam diferentes agendas mediáticas. Os blogues partilharam a mesma história de topo com os media tradicionais em apenas 13 das 49 semanas estudadas, no caso do Twitter o mesmo ocorreu em quatro das 24 semanas, e do YouTube ocorreu em oito das 49 semanas;
2. Nas redes sociais os assuntos ganham rapidamente visibilidade, mas desaparecem de forma igualmente rápida. No Twitter apenas 5 por cento das cinco principais histórias se mantêm no top cinco na semana seguinte, nos blogues esse valor é de 13 por cento e no YouTube 9 por cento. No caso da imprensa tradicional metade das cinco histórias principais mantêm-se no topo da agenda mediática na semana seguinte;
3. A política também encontrou lugar no blogues (17 por cento) ou no YouTube (21 por cento). Já no Twitter é a tecnologia que obtém o foco da atenção dos utilizadores (43 por cento);
4. Apesar de manterem uma agenda substancialmente diferente dos media sociais, os blogues dependem fortemente da imprensa tradicional para a obtenção da sua informação. Mais de 99 por cento das histórias encontradas em blogues linkam para jornais e redes de televisão (BCC, CNN, The New York Times e The Washington Post representam 80 por cento dos links); Os bloggers também usam de forma distinta as plataformas de media: para temas políticos e relacionados com o governo dão preferência aos jornais como fonte de informação;
5. O Twitter é menos dependente da imprensa tradicional: metade dos links remetiam para media tradicionais, 40 por cento para fontes de notícias exclusivamente online como o Mashasble e CNET, os restantes 10 por cento têm origem em informação de agências noticiosas e de blogues não noticiosos;
6. No YouTube, 26 por cento dos vídeos mais vistos eram de fontes externas aos Estados Unidos.