Radiografia ao setor da comunicação e relações públicas
O mercado da consultoria de comunicação em Portugal terá movimentado, em 2020, cerca de 85,7 milhões de euros. Valor que representa o volume de negócios somado por 117 empresas, das quais apenas nove por cento faturam mais de dois milhões de euros. Quase metade do negócio (46 por cento) está concentrado em menos de um décimo das consultoras
Pedro Durães
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O mercado da consultoria de comunicação em Portugal terá movimentado, em 2020, cerca de 85,7 milhões de euros. Valor que representa o volume de negócios somado por 117 empresas, das quais apenas nove por cento faturam mais de dois milhões de euros. Quase metade do negócio (46 por cento) está concentrado em menos de um décimo das consultoras
Os números, recolhidos e trabalhados pela Informa D&B para a Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas (APECOM), remontam a 2020 mas ajudam a traçar alguns dos elementos caracterizadores do setor em Portugal. Embora ainda sem dados do último ano, permitem igualmente aferir um primeiro impacto da pandemia, que veio inverter a evolução do mercado nos últimos anos. Em crescimento até 2019, o setor não foi imune à covid-19, sofrendo uma quebra na ordem dos 10% no primeiro ano de pandemia. Uma radiografia ao mercado em seis pontos.
1. Travão no crescimento
Contabilizando 117 empresas que cumprem os requisitos de atividade dos estatutos da APECOM, o estudo conduzido pela Informa D&B fixa em 85,7 milhões de euros o volume de negócios do setor da comunicação e relações públicas em 2020. A partir dos resultados registados por este conjunto de empresas desde 2017, primeiro ano com dados recolhidos, conclui-se que o mercado da comunicação apresentava uma tendência de crescimento transversal aos indicadores financeiros analisados, na ordem dos 20 por cento em volume de negócios e dos 17,8 por cento em número de empregados, até ver a sua evolução travada pela chegada da covid-19.
Com um volume de negócios de 80,2 milhões de euros em 2017, o setor atingiu os 95,7 milhões de euros no último ano pré-pandemia, recuando 10,4 por cento em 2020. A inversão da evolução sentiu-se consequentemente nos resultados líquidos das empresas do setor, que caíram 40 por cento, dos 5,1 milhões de euros em 2019 para os 3,1 milhões de euros em 2020. Apesar das quebras face a 2019, com exceção dos resultados líquidos, onde a queda foi mais acentuada, os indicadores financeiros do setor permanecem acima dos valores de 2017. A rentabilidade das empresas foi igualmente afetada, com a margem EBITDA (em percentagem do volume de negócios), que em 2017 era de 11,7%, a descer dos 9,7% em 2018 e 2019 para os 9% em 2020. O mesmo acontece com a margem líquida (resultados líquidos em percentagem do volume de negócios), a descer dos 5,5% em 2019 para os 3,6% em 2020.
2. Acelerador no negócio internacional
Numa altura em que a contração foi evidente do mercado nacional, as empresas do setor terão procurado alternativas de negócio além-fronteiras. Em 2020 há apenas um indicador financeiro com evolução positiva: Exportações. Situação que, indica a APECOM, “poderá denotar o esforço efetuado pelas empresas do setor em procurar mercados alvo alternativos e/ou parcerias com redes internacionais que permitissem potenciar a venda de serviços”. Analisando a evolução nos últimos anos, este indicador esteve sempre na casa dos 8 milhões de euros até 2019 (8 milhões em 2017, 8,9 milhões em 2018 e 8,8 milhões em 2019). Já em 2020, ano em que 64 das 117 empresas analisadas registaram negócios com o exterior, o indicador Exportações atingiu os 11,1 milhões de euros.
3. Dimensão das empresas e concentração do mercado
Um mercado sobretudo composto por empresas de pequenas dimensões e micro-empresas, onde as poucas que dispõem de estruturas mais alargadas ficam com quase metade do negócio. De forma simplista, é desta forma que se caracteriza o panorama empresarial do setor português da comunicação e relações públicas. “Ainda que apenas 9% das empresas tenham uma faturação entre os dois e os 10 milhões de euros (segmento pequenas empresas), estas representam 46% do volume de negócios do setor e são responsáveis por 37% do número de colaboradores, refletindo uma expetável concentração do mercado nos players de maior dimensão”, descreve a APECOM. A grande maioria (60%) das empresas analisadas são micro-empresas com uma faturação entre os 50 mil e os 500 mil euros, seguindo-se 23% das empresas com faturações entre os 500 mil e os 2 milhões de euros. Há ainda uma fatia de 8% das empresas que ficam abaixo da fasquia dos 50 mil euros faturados.
Também no que diz respeito ao número de colaboradores, conclui o estudo, “mais de um quarto do mercado é composto por empresas com mais de 10 colaboradores, sendo o nicho de 3% com mais de 50 colaboradores o responsável por 19% do volume de negócios do setor”. Metade do volume de negócios do setor está concentrado nas empresas que apresentam estruturas entre os 10 e os 50 colaboradores. Desta forma, estas empresas, em conjunto com aquelas que contam com mais de 50 profissionais, são responsáveis por mais de dois terços do volume de negócios do setor (69%), enquanto as empresas até nove colaboradores, situação da larga maioria das 117 empresas analisadas (73%), representam apenas 31% do volume de negócios.
4. Impacto da pandemia no número de empresas e na força de trabalho do setor
As 117 empresas contabilizadas em 2020 pela análise da Informa D&B para a APECOM representam uma diminuição de quatro empresas face às 121 que o mesmo estudo registava no último pré-pandemia, regressando aos números de 2017. Uma diminuição que foi acompanhada igualmente por um recuo no número de trabalhadores. Com uma força de trabalho de 1.117 profissionais distribuídos por estas 117 empresas, o setor contabilizava em 2020 menos 52 colaboradores face aos 1.169 do ano anterior mas, ainda assim, acima dos 992 registados em 2017, o primeiro ano analisado. Ainda que a pandemia tenha tido reflexos negativos nos indicadores Volume de Negócios (-9,6%) e Resultados Líquidos (-40%), ambos em linha com o tecido empresarial, a quebra em termos de colaboradores ficou abaixo desta variação (-2,5%), o que revela que ainda assim se procurou minimizar o impactos em termos de recursos humanos”, sublinha a APECOM.
5. Maturidade das empresas e remunerações médias
“Este é um setor maduro, em que dois terços das empresas tem entre 6-19 anos e uma idade média de 14 anos (aproximadamente +1 ano do que o benckmark do tecido empresarial)”, indica a APECOM. Para além destas, 23% das empresas no mercado somam mais de duas décadas, enquanto apenas 13% correspondem a novas empresas no mercado, com menos de cinco anos de atividade. Analisando o volume médio de negócios das empresas do setor, este situa-se nos 732 mil euros (vs 909 mil euros do benchmark), enquanto o número médio de empregados é de 9,5 (vs 7,9 da média do tecido empresarial), situação que, refere a associação, permite “concluir que este é um setor cujo principal ‘asset’ e foco de maior investimento são as pessoas (recursos humanos). O estudo mostra ainda que as remunerações dos 1.117 colaboradores so setor representam “sensivelmente 25% do volume de negócios, inferindo-se, daqui, uma remuneração média anual de 19.337 euros”.
6. Igualdade? Elas são mais mas eles é que lideram
As mulheres representam mais de dois terços dos 1.117 profissionais contabilizados nas empresas do setor da comunicação e relações públicas mas esse domínio está ainda longe de ter representação equivalente quando estão em causa posições de direção. “Se no indicador emprego predominam as mulheres (68%), nos cargos de liderança e gestão o género masculino é predominante”, refere o estudo, onde se conclui que as mulheres não vão além dos 38% destes cargos. Ainda assim, a APECOM salienta que “este split é mais equilibrado do que o verificado no tecido empresarial, com uma proporção de cerca de 40% mulheres para 60% de homens”.