Ainda somos nós? Opinião de Ricardo Melo
A tecnologia desempenha um papel cada vez mais central nas nossas vidas e é importante refletir sobre como o avanço tecnológico está a influenciar a nossa capacidade de sermos autênticos, […]
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A tecnologia desempenha um papel cada vez mais central nas nossas vidas e é importante refletir sobre como o avanço tecnológico está a influenciar a nossa capacidade de sermos autênticos, especialmente no ambiente de trabalho onde os desafios são constantes e onde a pressão está presente de diversas formas. Será que o uso da tecnologia, e principalmente com o boom da inteligência artificial (IA), está a abrir espaço para deixarmos de sermos nós na ânsia de nos tornarmos em algo que não somos ou em mostrar capacidades que não temos?
Uma das tecnologias mais notáveis que está a ser usada por praticamente todas as indústrias é o ChatGPT, um modelo de linguagem baseado em IA desenvolvido pela OpenAI e que ultrapassou os 100 milhões de utilizadores nos primeiros dois meses do seu lançamento. Temos assistido a uma constante evolução e disseminação de ferramentas com base em IA que todos os dias nos chegam e impactam o modo como trabalhamos, colaboramos, como questionamos ou até pensamos. Mas com isso não estaremos a perder a nossa autenticidade? Quais as implicações que isso tem para nós enquanto profissionais e não só, quais os impactos que podemos ter enquanto sociedade? Por exemplo, na área da educação, como poderemos ajustar a integração das ferramentas de IA? Teremos uma oportunidade significativa de aprimorar a formação dos nossos estudantes sem comprometer o seu pensamento crítico e criatividade e individualidade? Como podemos garantir que estas ferramentas não os levam a optar pelo caminho mais fácil e a limitar o seu potencial? Nos modelos remote ou híbridos de trabalho, até que ponto existe o risco de nos afastarmos cada vez mais dos outros e de nós próprios e da nossa autenticidade?
Até que ponto não nos relacionamos cada vez mais com estas ferramentas para efetuar tarefas, do que trocar ideias com colegas na busca de soluções e de geração de discussões que nos levem a um caminho e desta forma continuarmos a potenciar a colaboração, a empatia e o sentimento de trabalho conjunto. Este risco é real e acredito que temos um papel fundamental no equilíbrio de potenciar formas saudáveis de colaboração e de trabalho que possam acrescentar valor, mas que, com a ajuda destas ferramentas, possa ser potenciado e agilizado na busca de melhor performance e resultados, mas preservando e até incentivando aquilo que nos define enquanto pessoas, que é a nossa capacidade e até necessidade de socialização e comunicação.
Acredito que temos de encontrar um equilíbrio saudável entre a eficiência e a autenticidade, pois o risco de nos “perdermos” é grande e cada vez mais tentador com as facilidades oferecidas por cada uma destas ferramentas. É fundamental compreender de que forma podem ser potenciadoras do talento individual e como podem ajudar em tarefas em que efetivamente é necessário ser mais produtivo, mas também ter a capacidade de exercer o nosso espírito critico e de colocar a nossa autenticidade como pilar no uso destas ferramentas.
Seria tentador usar um ChatGPT, por exemplo, para escrever este artigo. No entanto, por muito assertivo que pudesse ser e por muito fácil e rápido que seria, mesmo usando as prompts corretas e dando um tom de voz adequado à minha forma de escrever e pensar, não seria autêntico e eu ter-me-ia “perdido” no facilitismo. Por outro lado, pode ser bastante útil no desbloqueio de algumas ideias, até mesmo na sugestão de alguns tópicos, entre outros.
“A forma como comunicamos é o que nos define”. Acredito que a chave para o sucesso está em encontrar um equilíbrio que permita o uso eficaz da tecnologia enquanto preservamos a nossa individualidade, autenticidade, espírito critico e criatividade. Se formos capazes de reconhecer como esta evolução tecnológica irá mudar o modo como vivemos e trabalhamos e como a podemos usar, vamos também ter a capacidade de nos mantermos autênticos nos vários aspetos da nossa vida.
Artigo de opinião assinado por Ricardo Melo, head of frontend na Fullsix