Narissa O’Moore (Hard Rock)
Hard Rock Café: Um negócio global associado à música
Narissa O’Moore, european marketing manager do Hard Rock Café, explica a estratégia em entrevista ao M&P.
Rui Oliveira Marques
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O Hard Rock Café assinalou 10 anos de existência em Lisboa com um concerto privado de David Fonseca. Narissa O’Moore, european marketing manager do Hard Rock Café, faz um balanço do projecto em entrevista ao M&P. A responsável pelo marketing europeu nem hesita em apontar o Hard Rock preferido: Veneza. “É o mais pequeno da Europa, mas está localizado junto a um canal, onde passam as gôndolas. É muito especial”. Já a memorabilia que mais destaca é a Flying V de Jimmy Hendrix. Flying V. “Era a melhor guitarra do seu tempo. Está no café de Londres”, justifica.
Numa década foram vendidos no Hard Rock Lisboa 250 mil Legendary Burgers, 140 mil brownies, 1,4 milhões de draft beer e quase 900 mil cocktails. Em termos de música, houve uma média de 88 concertos e 104 sessões de DJ por ano. Quanto ao merchandising, as vendas na capital portuguesa chegaram às 900 mil t-shirts e aos 120 mil pins.
Meios & Publicidade (M&P): Há alguns anos, muitos portugueses, quando iam a Londres, consideravam o Hard Rock um dos sítios obrigatórios para visitar. A marca continua a ter este efeito? Continua a ser aspiracional entre o target jovem?
Narissa O’Moore (NO): Uma parte importante da nossa marca tem a ver com o conceito música e, nesse contexto, levamos aos cafés bandas apelativas para o target mais jovem. Mas tentamos chegar a diferentes targets através da música. Mesmo na nossa loja temos diferentes tipos de t-shirts e de chapéus que são pensados para os mais jovens. Mantemos as guitarras dos anos 70 e 80 nas paredes mas continuamos a acrescentar objectos mais recentes.
M&P: O target são principalmente turistas? Em Lisboa, existe a preocupação em chegar ao público local?
NO: Definitivamente os nossos objectivos são 100 por cento locais. Claro que os turistas têm sempre interesse em conhecer o Hard Rock local mas nós queremos chegar às pessoas de Lisboa. A nossa festa de aniversário foi um exemplo disso: Lisboa a celebrar o 10º aniversário. Queríamos agradecer à cidade e às pessoas que nos têm apoiado. Queremos que a marca seja importante para todos.
M&P: Qual o peso do merchandising nas receitas?
NO: É uma parte significativa do nosso negócio, mas não vou poder dar muitos detalhes. A nossa marca e o logotipo são facilmente identificáveis. As pessoas adoram o nosso merchandising. A t-shirt clássica continua a ser a peça mais vendida, mas temos feito um esforço para diversificar e para agradar a públicos diversificados, mas tendo sempre como umbrella o rock. Trabalhamos ainda com diferentes músicos, no âmbito da nossa área de responsabilidade social, para criarem t-shirts em que uma parte das vendas vai para uma organização escolhida pelos artistas. Por exemplo, estamos a trabalhar com os U2 e uma percentagem significativa dessas vendas vai para a Amnistia Internacional. Estas t-shirts são muito vendidas em todo o mundo. Fazemos isto todos os anos com artistas diferentes.
M&P: Como lidam com o merchandising falsificado? A empresa combate activamente a contrafacção?
NO: Há alguns anos tivemos de tentar pôr fim a situações complicadas. Mas continuam a acontecer. Há tempos estive em Marrocos e vi as t-shirts à venda em todos os mercados. Mesmo que não exista um Hard Rock Café, as pessoas continuam a comprá-las talvez pela piada. Mas no passado houve casos com alguma dimensão. Por exemplo, nas ilhas Canárias havia há uns 10 anos um Hard Rock que não vendia apenas t-shirts,. Era todo o conceito que era copiado.
M&P: Como vê a operação do Hard Rock em Lisboa?
NO: O staff é muito simpático. É uma fasquia que temos quando contratamos para a nossa equipa. Têm de estar apaixonados por música e pelo bom serviço. As pessoas são muito bem acolhidas aqui. Este café é um espaço fantástico. Já foi um cinema e tem um palco, que é uma coisa que muitos cafés não têm, como é o caso de Londres. É um espaço fantástico para concertos.
M&P: Como está a correr a operação no sul da Europa? A crise obrigou a reajustar a oferta nos mercados mais afectados?
NO: Não podemos negar que existe uma crise económica que afectou também os Hard Rock Cafes, mas queremos continuar a fazer crescer a marca e a contribuir para a comunidade. Estamos a criar programas que sejam atractivos para as pessoas dessas cidades. Por exemplo, criámos uma happy hour em Madrid, em que fazemos 2 por um 1 nas cervejas e nos cocktails entre as 17h e as 19h. Estamos a implementar estes programas para ajudar, na medida do possível, os consumidores e para fomentar as nossas vendas.
M&P: Existem planos de expansão para Portugal?
NO: De momento não. Há sempre coisas no pipeline. Estamos com os olhos abertos.
M&P: Quem estiver a ler esta entrevista deve achar que tem um emprego de sonho, por associar música e uma marca global. É um trabalho fácil?
NO: Não é fácil, mas é apaixonante. É verdade que viajo muito e é um privilégio trabalhar na área da música. Apesar de desafiante, adoro o que faço. Trabalho para a empresa há 10 anos. Comecei no bengaleiro nos dias em que havia eventos. Nessa altura ganhava muito pouco. Fui crescendo na empresa até chegar onde estou agora. Quando se cresce assim, fica-se muito à vontade com as várias áreas da empresa. Conhece-se bem os cantos à casa e os problemas que as pessoas enfrentam.
M&P: Quais são os problemas mais frequentes com que tem de lidar?
NO: Um dos maiores projectos que tenho em mãos é o Hard Rock Calling, que é um festival gigante que realizamos em Londres todos os anos. É a maior iniciativa da marca. Consiste num festival que dura dois dias. Há sete anos que acontecia no Hyde Park, mas pela primeira vez vai decorrer no Parque Olímpico Isabel II, onde se realizaram os Jogos Olímpicos. Este será o primeiro grande evento neste recinto desde Londres 2012. No entanto, às vezes o desafio está relacionado com a abertura de um novo café ou com problemas com a equipa.
M&P: Londres é o mercado mais importante?
NO: Não necessariamente. É importante porque foi aí que a marca começou. Só isso é suficiente para prestarmos muita atenção, mas estamos atentos a todos os cafés. Todos são especiais e fazem dinheiro à sua maneira.
M&P: Enquanto responsável europeia, qual o café que considera que faz um trabalho especial ou que mais se destaca?
NO: Neste momento, estão a decorrer projectos que considero especiais. Temos uma exposição itinerante com 20 das melhores peças de roupa de artistas, que estão a dar a volta ao mundo. Pela primeira vez vamos ter as roupas a circular numa exposição. A memorabilia é muito importante para a nossa marca. Foi assim que começámos, quando o Eric Clapton nos deu a primeira guitarra. Destaco ainda as iniciativas de solidariedade. Uma pessoa do staff de Barcelona envolveu-nos no projecto de um cidadão que ajudava escolas e hospitais na Índia. Começámos a vender pins em que todas as vendas iam para o seu projecto. Depois foram umas pulseiras. Ao fim destes anos já ajudamos a construir escolas e a ajudar nos hospitais. Estamos a devolver às comunidades o que recebemos delas.
M&P: Os cafés têm autonomia para implementar este tipo de projectos? Ou existe uma necessidade de seguir orientações internacionais?
NO: Nós deixamos os cafés desenvolverem programas locais. O que é obrigatório que façam é alguma coisa em termos de responsabilidade social. Em Outubro, por exemplo, temos uma iniciativa global relacionada com o cancro da mama. O nosso staff vai a hospitais, ajuda miúdos a aprender música. Não se trata de angariar dinheiro, mas sim de partilhar,. Em Lisboa, ajudamos a limpar a praia.
Planet Hollywood: O imitador que falhou
Actualmente a marca Hard Rock é sinónimo de restaurantes, hotéis e casinos. São cerca de 175 negócios em 55 países. Tudo começou em 1971 com um restaurante em Londres, que pretendia ser conhecido pelos hambúrguers. O designer Alan Aldridge, que já tinha trabalhado com os Beatles, criou o logotipo. Dois anos depois, o restaurante acolheu o primeiro concerto com Paul McCartney & Wings. Actualmente a multinacional promove cerca de 15 mil espectáculos por ano. As poulares t-shirts nasceram em 1974, quando o Hard Rock começou a patrocinar uma equipa de futebol. As camisolas com o logo foram imediatamente um sucesso e começaram a ser vendidas com ao público. Este é um motores da empresa. É que 40 por cento das vendas da marca dizem respeito ao merchandising das lojas. Coube a Eric Clapton, em 1979, a iniciativa de oferecer uma guitarra ao restaurante, que se tornou no ponto de partida para que os responsáveis começassem a coleccionar objectos dos artistas, expostos nas paredes dos restaurantes. Hoje há 74 mil peças, incluindo de artistas locais, como roupa dos Moonspell ou uma guitarra de Rui Veloso, no caso de Lisboa.
Este modelo de negócio já tentou ser copiado, sem sucesso. O antigo CEO do Hard Rock, Robert Earl, com o produtor Keith Barish, criaram o Planet Hollywood. O primeiro restaurante abriu em 1991, em Nova Iorque, com o apoio de estrelas como Sylvester Stallone, Bruce Willis, Demi Moore, and Arnold Schwarzenegger. A empresa faliu, obrigando ao encerramento de quase 100 restaurantes. Neste momento existem apenas oito restaurantes Planet Hollywood e um hotel e casino em Las Vegas.