Vikram (Maxus)
“As empresas continuam a ver o marketing como um custo”
A queda do investimento, a criatividade nas agências de meios e o domínio do Google e do Facebook no digital segundo o responsável mundial da Maxus, do grupo WPP
Rui Oliveira Marques
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No final da semana passada, cerca de 90 quadros internacionais da network Maxus estiveram reunidos em Cascais. Um pretexto para ouvir Vikram Sakhuja, CEO global da Maxus, sobre os planos desta agência de meios do grupo WPP que está presente em 55 países.
Meios & Publicidade (M&P): Portugal está mergulhado numa crise gigante que continua a ter como consequência a quebra no investimento publicitário. O que pode neste momento fazer uma agência de meios para ajudar os seus clientes?
Vikram Sakhuja (VS): Deve fazer com que a media trabalhem melhor. Este é um negócio de eficiência e eficácia. Quando as coisas estão complicadas temos de aumentar a eficiência, ter a certeza de que os preços ficam ainda mais baixos. Mas também temos de ter um foco na eficácia. Como é que o marketing pode ajudar a fazer crescer o meu negócio? Se a economia contrai dois por cento, os investimento em comunicação caem 15 a 25 por cento. Nas empresas, o marketing continua a ser visto como um custo e não como um investimento. Como não conseguem cortar outros custos, acham que é mais fácil cortar na publicidade. As agências de meios estão na melhor posição para aconselhar sobre a melhor forma de investir em publicidade.
M&P: Mas as agências de meios têm a força suficiente para serem ouvidas pelos clientes?
VS: Espero bem que sim. Eu também já estive do lado do cliente e sei que nestes momentos o CEO ou o director financeiro dizem que é preciso cortar. Uma agência de meios tem de ajudar o director de marketing a fazer crescer o negócio e a demonstrar que caminhos podem ser seguidos. O marketing é metade ciência e metade arte. Temos de perceber a marca, o consumidor, a concorrência e temos de ser eficientes. É verdade que quando o mercado está bem, as coisas são mais fáceis. Quando as coisas estão mal temos dois caminhos: ou cortamos a torto e a direito ou então temos de perceber como podemos trabalhar mais para conseguir obter resultados.
M&P: Quando olha para os mercados pelos quais é responsável, o desempenho das agências é equilibrado ou há regiões, como por exemplo a Europa, que lhe provocam dores de cabeça?
VS: Se olhar para as regiões do mundo vê que as nossas receitas estão distribuídas de uma forma equilibrada entre as Américas – e aqui a América Latina ainda tem um peso pequeno –, a Europa e a Ásia. Cada um representa um terço do nosso negócio. O crescimento também vem destes mercados de uma forma equilibrada. Na Europa, que está a passar um momento mais desafiante, a Alemanha e o Reino Unido estão a correr bem. Mesmo tendo em conta as circunstâncias, Espanha que está num momento complicado da sua economia, está a responder bem.
M&P: É curioso que a operação na América Latina ainda seja pequena, já que os grandes grupos estão a apostar em força na região.
VS: Enquanto rede global, a Maxus tem apenas cinco anos. Mas estamos no México e na Argentina. Estes dois mercados estão a correr muito bem. Neste momento temos 70 escritórios em 55 países.
M&P: Qual é o papel da Maxus no GroupM?
VS: Estamos com a Mindshare, Mediacom e MEC. Somos a quarta rede global do grupo. Somos mais pequenos mas somos quem está a crescer mais. O estudo da RECMA, que mede o desempenho das agências de meios, refere que somos quem mais cresceu nos últimos três anos. Nós somos uma agência que ganhou forma na era digital. Somos mais ágeis do que os outros. Como somos mais jovens, lutamos mais pelas nossas marcas. Acredito que somos mais integrados que as outras agências. Durante o processo de planeamento, há muita gente que fala de media integrada, mas depois apresenta planos de TV, de imprensa, de internet, de social media, de search, de outdoor. Juntam tudo e dizem que é um plano integrado. Mas isso não é verdade, a isso chama-se marketing media. Integrado é quando se leva todo o pensamento estratégico sobre a marca para as opções disponíveis. O digital não é um meio, é transversal a tudo o que fazemos. A televisão, rádio, outdoor e até a forma como consumimos imprensa são digitais. Fazemos este trabalho melhor que as outras agências. Nós também temos uma abordagem diferente. Gosto de pensar que somos um conjunto de agências locais e não como uma multinacional que tem sede em Londres ou Nova Iorque.
M&P: Aliás, quando tomou posse disse que não havia razões para que as agências fossem dirigidas a partir de Londres e Nova Iorque. No seu caso, dirige a Maxus a partir de Bombaim.
VS: Disse isso porque a nossa equipa global tem pessoas que estão em Londres, nos Estados Unidos, em Singapura e na Índia. Temos de ter a capacidade de trabalhar sem fronteiras.
M&P: Apesar da tónica que coloca na capacidade digital, a Maxus não está condenada a ser uma pequena agência do grupo WPP?
VS: Não é uma questão de tamanho mas de desafio. A Apple já não é uma empresa pequena mas continua a ter essa vontade de desafiar o mercado. Já não somos pequenos, somos uma agência de média dimensão. Segundo a RECMA, no ano passado estávamos perto dos sete mil milhões em billings. Se continuarmos a crescer ao mesmo ritmo, em breve estaremos no top 7 ou 8 das maiores agências. Mesmo sendo maiores, espero que tenhamos as mesmas características de quando éramos mais pequenos. Mas, sabe, acho que temos a dimensão correcta. Temos de ter cuidado para não estar a criar estruturas que depois têm de ser cortadas quando o mercado abranda.
M&P: Como descreve a operação da Maxus em Portugal?
VS: É uma operação pequena e muito bem integrada no GroupM. O António [Duarte, managing director] trabalha de muito perto com o José Pedro [Dias Pinheiro, CEO do GroupM]. Há uma oportunidade para crescer e precisamos de mais new business. É uma organização estável que tem merecido a confiança dos clientes.
M&P: A Maxus já é uma agência suficientemente forte para disputar os grandes concursos internacionais?
VS: Sim, mas temos de trabalhar melhor a nossa imagem. Há mercados onde a Maxus não tem a notoriedade que merece. Quando obtemos o feedback dos auditores de media ou dos clientes, temos uma classificação muito mais elevada do que as outras agências. Somos melhores, mas os grandes clientes ainda não têm bem a certeza sobre quem somos e o que fazemos.
M&P: Esteve no último festival de Cannes? Como viu o desempenho das agências de meios?
VS: Estive. Tivemos um bom desempenho. Ganhámos um ouro nos Young Lions e uma prata nos Media Lions. Cannes é a celebração da criatividade e não tanto da eficácia. Sobre os Media Lions, continuo a ver que as ideias vêm das agências de publicidade mas o dinheiro continua nas agências de meios. Isso quer dizer que as agências de publicidade são melhores a contar histórias, no storytelling. O próprio júri não tem tempo para analisar cada case. É através de um vídeo que tem de resumir de uma forma simples o trabalho. Depois, em Cannes, as histórias humanas e emocionais funcionam melhor.
M&P: É importante que nas agências de meios haja pessoas só dedicadas à criatividade?
VS: Depende do que chamar criatividade. As pessoas do planeamento são muito criativas. Um processo de planeamento implica olhar para a categoria do produto, para o consumidor, para o desafio do cliente, para os insights que depois são aplicados na media. Também temos de ter presente que por vezes a criatividade de uma agência de publicidade limita-se a um spot de 30 segundos. Nós precisamos de conceitos mais transversais. O próprio perfil das agências de meios mudou muito. Dantes fazíamos apenas planeamento e compra de meios. Agora temos de fazer bons planos de comunicação, temos de dar vida às ideias. Por exemplo, em Camberra tínhamos de promover o turismo local. Podíamos ter feito uma campanha de meios normal e umas brochuras, mas fizemos um catálogo humano. Pegámos em 500 pessoas e levamos a Camberra para partilharem nas redes sociais, de uma forma natural, a sua experiências na cidade. Fizemos isto porque sabemos qual o potencial do word of mouth. Outro exemplo. Queríamos lançar a UPS na China. A empresa ia levar peças do Exército de Terracota [Guerreiros de Xian] para fora da China. Com a UPS, dissemos que tínhamos sido escolhidos para proteger um dos maiores tesouros da China. Como demos vida a esta ideia? Fizemos uma plataforma de comunicação deste conceito apenas nos aeroportos.
M&P: Como vê o papel do Google e do Facebook? Não parece que estão a dominar o panorama da media digital mundial?
VS: São plataformas muito grandes e importantes para a construção das marcas. Temos boas relações com o Facebook e com o Twitter, do ponto de vista do grupo. Temos parcerias que nos permitem ter acesso a dados privilegiados, o que no caso do Facebook permite trabalhar melhor o targeting.
M&P: Não estão a tirar margem a outros projectos digitais?
VS: Enquanto agência de meios olhamos para o Facebook e Google como media owners. Como com qualquer media owner, queremos ter boas relações com eles. Acredito que é uma relação win-win. Com o Google, por exemplo, pode haver clientes que argumentam que se podem trabalhar directamente com eles e têm acesso aos resultados finais mas o Google trabalha muito bem com as agências. Bem sei que o meu patrão Martin Sorrell [CEO do grupo WPP] costuma dizer publicamente que o Google é um “frenemy”, um amigo e um inimigo em simultâneo. Pela minha experiência, há uns anos usaria essa mesma expressão para definir o Google. Actualmente acho que estamos a fazer um caminho lado-a-lado. O Google, Facebook, Yahoo e Microsoft têm a preocupação de ter relações próximas com as agências de uma forma que não existia antes. A melhor forma de o fazermos é através da partilha de dados/informação. Assim podemos fazer um melhor targeting. Estas empresas vão continuar a ter um papel muito importante.
M&P: Mas é um protagonismo que parece que está a deixar de lado as empresas de media tradicionais, que também querem captar receitas das marcas no digital.
VS: Estamos numa mudança de paradigma. Passámos da notoriedade das marcas para o engagement. A notoriedade construía-se através da interrupção. Havia momentos em que as pessoas estavam a ver televisão ou a ler jornais e a publicidade era algo que interrompia. No engagement temos de pensar como é que as pessoas vão ver os nossos conteúdos. Agora passamos do engagment para a influência. A influência tem a ver com tornar as pessoas embaixadoras da nossa marca. Este processo é como uma viagem. Há marcas que estão em diferentes momentos desta viagem. O panorama dos media também nos dá opções diferentes. Há media que nos ajuda a construir notoriedade e aí até podemos nem precisar de digital porque, mesmo assim, a minha mensagem passa. Se pensamos na influência, podemos até nem precisar do Google. Depende muito da estratégia da marca. O Google e o Facebook também têm noção disso. Sabem que não podem resolver 100 por cento dos problemas do mercado. O Google dá-nos o Adwords, que é uma ferramenta poderosa mas que não se aplica a todos os nossos desafios. Se estou a vender um champô não me vai ajudar. Pensemos no case dos Real Beauty Sketches da Dove, que ganhou muitos prémios em Cannes e que tem um insight fabuloso: as outras pessoas acham-nos mais bonitos do que aquilo que nos achamos sobre nós próprios. Isto é engagement e aqui posso usar o Facebook. Enquanto agência de meios temos de perceber quais as forças de cada uma destas plataformas e saber usá-las. É que dizer que o Facebook tem 800 milhões de pessoas não significa que consiga usar bem esse potencial.
M&P: Reuniu os responsáveis mundiais da Maxus em Cascais. Quais são as principais ideias que transmitiu às suas equipas?
VS: A mensagem principal é a do crescimento. A Maxus vai ser a agência que mais vai crescer no grupo WPP. O crescimento que tivemos nos últimos três anos vai ter de se manter nos próximos três. Este é o nosso desafio. Esperamos também conseguir mostrar a nossa diferenciação: somos profundamente integrados e temos uma sustentação tecnológica. Compreendo que em alguns mercados sejamos mais pequenos mas temos de ser capazes de estar ligados numa network que nos dá força. Por exemplo, em Portugal o António Duarte [managing director da Maxus Portugal] trabalha com oito ou 10 pessoas. Mas há duas mil pessoas na Maxus global que o podem ajudar. Depois temos a ligação ao GroupM que também nos fortalece. Estes encontros servem para que as pessoas percebam que não estão sozinhas nesta tarefa e que temos pessoas muito boas que têm de trabalhar em rede.
Entrevista publicada na última edição do M&P em papel