“Vamos ter, no futuro, mais clientes para além da TVI”
A perceção da Plural como “a produtora da TVI” tem os dias contados. “Vamos ter, no futuro, mais clientes para além da TVI. O desenvolvimento internacional vai levar a isso”, assegura Piet-Hein Bakker numa entrevista ao M&P onde assume a ambição de transformar a produtora da Media Capital num dos principais fornecedores, a nível nacional, de conteúdos para canais de televisão estrangeiros, plataformas de streaming e todo o tipo de clientes internacionais.
Pedro Durães
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A perceção da Plural como “a produtora da TVI” tem os dias contados. “Vamos ter, no futuro, mais clientes para além da TVI. O desenvolvimento internacional vai levar a isso”, assegura Piet-Hein Bakker numa entrevista ao M&P onde assume a ambição de transformar a produtora da Media Capital num dos principais fornecedores, a nível nacional, de conteúdos para canais de televisão estrangeiros, plataformas de streaming e todo o tipo de clientes internacionais. “É um grande objetivo da Plural afirmar-se, nos próximos anos, como a principal produtora de conteúdos para fora de Portugal”, aponta o diretor geral da produtora.
Meios & Publicidade (M&P): Assumiu a liderança da Plural há três meses. Como descreve a produtora que encontrou e quais as prioridades que identificou?
Piet-Hein Bakker (PHB): A Plural é uma produtora com 30 anos de experiência e isso vê-se. São processos de trabalho muito oleados, as equipas têm um conhecimento extraordinário de como se deve produzir ficção, está tudo muito bem estruturado. Portanto, o primeiro contacto foi de muito respeito e de tentar aprender o mais possível destes processos. Em relação a desafios e prioridades, a primeira que tenho aqui, e para a qual fui contratado, é claramente a internacionalização da Plural. Neste momento, ainda não temos uma atividade internacional intensa, para além da venda das novelas “em lata” para outros mercados. E esse é um processo que não é feito pela Plural mas sim pela TVI. É uma área que está a ser muito bem trabalhada, atualmente as novelas da Plural estão presentes em mais de 160 países. O que não está a acontecer ainda, e este sim é o grande objetivo, passa por criar e produzir projetos para as plataformas de streaming, bem como coproduções, que podem ou não incluir como parceiros essas plataformas ou outras produtoras estrangeiras. Aí o negócio é diferente. O negócio clássico de uma produtora é a margem que faz na diferença entre o orçamento e o custo. Esse negócio vai continuar a ser a base, em grande parte, da Plural. Mas há outro negócio, que é o do futuro, o negócio da distribuição. É nossa intenção também fazer parte de produções, geridas por nós e baseadas em projetos nossos ou em projetos de outras produtoras internacionais, sobre as quais podemos obter uma percentagem dos direitos. Ou seja, um investimento que nos permita depois ter receitas através da distribuição na mesma proporção do investimento no total dos custos. É claramente um negócio em que queremos entrar e no qual iremos apostar.
M&P: O que tem faltado para que isso não tenha acontecido até aqui?
PHB: Se olharmos para o mercado, até agora só foi feito um projeto diretamente para a Netflix e um outro que está a ser gravado neste momento. Dois projetos apenas. Também não temos aqui um grande atraso em relação à concorrência. O que se passa é que para jogar nesta divisão internacional é preciso muito tempo para desenvolver os projetos. As produtoras internacionais vivem dos projetos que têm, das ideias que desenvolvem, isso é o mais importante. Somos tão bons ou tão maus quanto a qualidade dos projetos que apresentamos.
M&P: Referiu a intenção de avançar com coproduções a nível internacional. No entanto, mesmo a nível nacional, esse não tem sido um modelo seguido pela Plural e pela TVI. A única exceção recente terá sido a mini-série Pecado, mas a produção ficou a cargo da Maria & Mayer. Por que motivo não foi a Plural a produzir este projeto?
PHB: Desde logo porque isso tem a ver com o investimento do ICA [Instituto do Cinema e Audiovisual], que só pode ser obtido por produtoras independentes. A Plural, pertencendo ao grupo Media Capital, não pode ir a jogo. Mas quando falo em coproduções estou realmente a referir-me mais a coproduções internacionais em que os parceiros, juntos, conseguem juntar um orçamento que seria impossível só em Portugal. É uma forma de conseguir atingir níveis de orçamento que no mercado português seriam impensáveis.
M&P: Testar outros formatos terá sempre de passar pelo apoio do ICA? A audiência, na televisão generalista portuguesa, não permite rentabilizar projetos que não sigam o modelo habitual da novela?
PHB: A realidade do bolo publicitário que existe em Portugal é a que todos sabemos. É muito mais pequeno do que nos países que temos à nossa volta. Logo, a lógica de investimento tem de ser proporcional a esta realidade. Mas há várias formas, a nível nacional através do ICA, e a nível internacional, através de coproduções.
M&P: Até que ponto é possível diversificar os conteúdos produzidos por uma produtora como a Plural, integrada num grupo de media com um canal onde a aposta passa sobretudo pelo formato novela? Terá forçosamente de passar pela internacionalização?
PHB: Aí era melhor falar com a TVI sobre qual a estratégia em termos de ficção. Mas temos falado sobre a possibilidade futura de haver outros formatos de ficção a nível nacional. Isso é uma intenção. Agora, temos de estar sempre conscientes das limitações que existem em Portugal a nível orçamental. Obviamente que o modelo novela, por ser um formato que é feito com mais volume, consegue amortizar melhor e mais facilmente absorver os custos fixos que são necessários. Aqui há, no fundo, um modelo criado em função da realidade da televisão em Portugal. Depois, também tem a ver com hábitos. A novela é realmente um produto muito popular, as pessoas gostam de ver e estão habituadas. É uma diferença entre a televisão portuguesa e, por exemplo, a espanhola, a francesa ou a alemã. A presença na grelha de três ou quatro novelas num dia, em dois canais, é uma situação única na Europa. Isso tem muito a ver com as preferências do público, não é uma questão de não haver orçamento para outra coisa.
M&P: Mas acha que não há audiência para outros formatos? No streaming já percebemos que existe apetência dos portugueses por outro tipo de conteúdos. Na televisão generalista, em sinal aberto, é diferente?
PHB: Se há ou não audiência, depende sempre do interesse da série. Temos de criar as nossas audiências, não é algo fixo. Não devo entrar em questões estratégicas de um canal como a TVI, não é obviamente o meu pelouro, mas acredito muito no poder destas formas de ficção, não desfazendo o interesse e a atração das novelas, que continua a ser um facto. Temos diariamente, numa novela como Festa é Festa, mais de um milhão de pessoas a ver. Todos os dias com mais de um milhão durante 390 episódios. É uma novela muito bem feita, é uma fórmula feliz. E pretendemos, naturalmente, continuar com este tipo de fórmulas felizes. Não é só pensar noutras formas de ficção, é pensar muito bem o modelo novela e perceber, criativamente, o que podemos fazer também aí para levar a uma evolução desse modelo.
M&P: Até porque essa fórmula, como refere, nem sempre será garantia de sucesso. O caso de Rua das Flores, que aposta na mesma fórmula de Festa é Festa, acabou por não ter os mesmos resultados em termos de audiência. Isso veio sublinhar essa necessidade de diversificar conteúdos?
PHB: Não diria tanto. A experiência que a TVI fez e que nós produzimos para o horário das 19h é muito diferente do horário das 21h30. Para já, é um horário que está a ser dominado há mais de 15 anos por um programa: O Preço Certo. Depois, a TVI não tem ficção neste horário desde 2009. Tudo isto é novo. E ver televisão às 19h tem uma componente forte de hábito, é muito mais difícil mudar hábitos nessa faixa do que às 21h30. Não é um sprint mas sim uma maratona. Temos de dar tempo a este tipo de séries para poder mudar os hábitos das pessoas. E se olharmos para as audiências, é difícil tirar conclusões muito lineares e diretas. O Preço Certo faz um rating de sete por cento, nós fazemos cinco. São 200 mil pessoas de diferença, de 700 mil para 500 mil. Mas 500 mil pessoas a ver uma novela ainda são muitas pessoas. Não quer dizer que o nosso objetivo não seja sempre ser o número um, mas às vezes também convém não tirar conclusões tão diretas das audiências. Obviamente que somos autocríticos e, também no caso da Rua das Flores, estamos sempre a pensar o que podemos melhorar. É algo que fazemos em todas as novelas que produzimos, tentamos sempre perceber o que pode não estar a funcionar tão bem e encontrar soluções.
A entrevista a Piet-Hein Bakker pode ser lida na íntegra na edição impressa do M&P