Ricardo Tomé, director coordenador da Media Capital Digital e docente na Católica Lisbon School of Business and Economics
5 tendências pouco conhecidas (e mais uma) de que vamos ouvir falar em 2024
Acertar nas tendências que serão evidências é sempre difícil se formos além das óbvias. E esse foi o exercício presente. Por isso, aqui não vamos falar da inteligência artificial (IA) […]
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Acertar nas tendências que serão evidências é sempre difícil se formos além das óbvias. E esse foi o exercício presente. Por isso, aqui não vamos falar da inteligência artificial (IA) ou do X e do TikTok, do fim das third-party cookies, do liveshopping e do vídeo marketing, ou sequer da regulamentação apertada sobre as BigTech. Espreitamos temas de tecnologia e marketing digital que passam ao lado do clipping massificado, mas que vão estar igualmente na agenda (assim espero). Vamos a isto.
1. A vitória da interface
O relatório Accenture Life Trends refere como uma das áreas a olhar de perto e o Insights Trend Lines, da Deloitte, reforça. Já em outubro, no MIPCOM, se debateu em volta da IA, que esta não é mais um desafio computacional onde se tenta fazer que funcione, mas sim, sobretudo, um desafio de design, fazendo com que a tecnologia possa ser facilmente usada por todos. Olhemos para o TikTok e relembremos o que, neste espaço, já referi em tempos, da vitória da sua interface em ecrã completo e recolhendo assim mais evidências para aprimorar o feed do utilizador. E, claro, a supracitada Apple pelo aprimoramento do seu design de produto, que transforma algo complexo em algo simples. Ora numa web3 onde os produtos vão ficando cada vez mais enriquecidos de funcionalidades (olhemos para o Instagram de hoje vs. de há 10 anos; ou o que irá ser o WhatsApp daqui a 24 meses, com e-commerce, pesquisa de produtos e serviços e publicidade), teremos as BigTech, mas também as marcas a olhar para os seus interfaces de produtos e serviços digitais com um enorme desafio nesta área. Desde a experiência digital em loja, aos seus websites e muito mais ainda nas suas apps (veja-se o crescimento nas que hoje estão disponíveis nos nossos supermercados, com as listas dos produtos, mas também áreas de pontos e descontos, jogos lúdicos e com recompensas, favoritos, histórico de faturas, catálogos, receitas, etc…), teremos a UX como tendência reafirmada para o sucesso da adoção e retenção dos clientes uma vez mais.
2. Identidade digital europeia
Espera-se que, em 2025, esteja em pleno o uso da eID. Em desenvolvimento já nos países membros, o objetivo da identidade eletrónica europeia é de assegurar um acesso mais seguro a serviços digitais e transações eletrónicas. Atualmente, cada estado-membro tem o seu registo nacional e a falta de um terreno legal comum tem dificultado esta identificação única. O objetivo maior, onde a eID se enquadra, é de que, em 2030, todos os serviços públicos sejam possíveis de aceder online e todos os exames e historial médico acessíveis por via digital e transferíveis pela mesma via. O propósito é que, a partir de 2024, o sistema esteja em teste e todas as empresas possam começar a desenvolver os seus serviços para que, em 2025, se aplique em larga escala. Comprar um bilhete de avião, autenticar num banco europeu, realizar uma compra num site de e-commerce e fornecer a identidade tornar-se-ão assim atos mais fáceis e seguros a partir do momento em que cada estado-membro forneça uma carteira digital na qual os seus cidadãos possam centralizar os seus documentos e registos (imagine-se a atual app iD.gov.PT, mas a nível europeu e passível de se conectar a inúmeros serviços online além-fronteiras). 2024 é o ano em que se esperam os desenvolvimentos finais e a preparação para uma nova realidade a partir de 2025.
3. Economia da partilha – massificada
Vai sendo falado, mas não fura a agenda mediática. E, contudo, lá vai aparecendo, desde referências no magazine digital Versa, ao supra citado relatório Trendwatching.com. Estamos com um pé a saltar da expectation economy à exchange economy. Mais que a economia da troca, a economia da partilha, agora massificada. A ações como a popularizada pela Patagonia em que, há já décadas, os clientes podem reparar as suas roupas ao invés de as deitar fora e comprar novas juntam-se agora gigantes, como a Inditex, com a Zara Pre-Owned. Mas, num mundo longe do apogeu de crescimento económico dos anos 80 e 90, mergulhado em incerteza económica, provável recessão ou crescimentos gélidos, não basta poder comprar mais barato nem tão pouco revender e comprar em segunda mão ou reparar na marca. O intercâmbio num ecossistema circular será o próximo passo, onde serão preferidas as marcas que abraçarem essa interligação com outras marcas num ecossistema digital comum, deitando abaixo os “muros” onde o consumidor precisa criar contas separadas. Muitas ideias no mundo do empreendedorismo das start-ups já em marcha neste capítulo. Felizmente.
4. Ler
Isso mesmo. Texto. Mas não refiro aqui simplesmente os #BookToks das parangonas noticiosas, mas sim algo mais amplo. Depois da explosão do micro conteúdo em forma de tweets ou stories e do vídeo mobile curto a inundar o léxico com reels e tiktoks, é o regresso do texto. À medida que a tecnologia avança na área da IA, teremos a facilidade na geração de histórias em texto que acentuarão a relevância deste formato. Sobretudo na sua versão mais imersiva: livros, contos, artigos escritos, testemunhos – histórias que acompanham imagens e nos explicam porque um produto ou serviço é mais eficaz que os seus 101 concorrentes. Num mundo infestado de feeds e conteúdos efémeros, continua relevante a criação de conteúdo evergreen, que fica, perene, ao serviço de pesquisas, útil quando alguém procura aprofundar conhecimento. A maior consciência do uso de tecnologias e da dependência das mesmas não irá fazer com que os ecrãs sejam substituídos pelo papel, mas veremos marcas e influenciadores a procurarem diferenciar-se num mundo visual competitivo, procurando inovar e liderar pela diferença com um “novo” formato. Até aqui o áudio, com os podcasts, e agora regressando ao texto.
5. Personalização & sincronização social de massas
De um lado, o aprimoramento de algoritmos cada vez mais potenciados por IA com modelos computacionais de larga escala farão da nossa experiência digital não uma personalização por segmentos de gostos, mas sim totalmente individualizada. Do outro, a necessidade de nos ligarmos aos nossos pares fará com que emerjam experiências sociais em grupo cada vez mais procuradas (e bem pagas). Do liveshopping às plataformas de streaming com espetáculos em direto para vários países, dos megaconcertos aos videojogos para juntar os amigos. A díade do dia a dia será complementar a experiência personalizada e a sós com a necessidade de nos juntarmos a muita gente com os mesmos gostos – nos Jogos Olímpicos, no Europeu de futebol, nos festivais de música, quanto mais gente, melhor. E, depois disso, a ressaca, sossegados no silêncio e no regaço do nosso feed personalizado… para novamente, daí a dias, nos atirarmos a mais um megaevento, não interessa o preço. Sozinhos em casa e, logo depois, juntos em massa.
…mais uma: confiança
Num horizonte de incerteza, esta será a tendência que já não o é. Desde sempre facilitando decisões de compra, impulsos de favoritos, subscrições de newsletters, seguidismo em redes sociais, partilha de dados pessoais, geração de recomendações boca a boca junto de terceiros e lembrança top-of-mind. A tendência que sempre foi manter-se-á. Mas sairá reforçada. Perante mais marcas além-fronteiras, mais incerteza na decisão, mais desconhecido um mundo que se julgava apenas próspero e agora ameaçado no clima, mais influencers a promover isto e aquilo… A confiança ganha pela qualidade dos produtos, pelos valores defendidos, pela verdade das promessas e benefícios cumpridos. A marca, dela aqui se fala, manter-se-á um farol. Cuide dela.
Artigo de opinião assinado por Ricardo Tomé, diretor coordenador da Media Capital Digital e docente na Católica Lisbon School of Business and Economics