Morte à sede, ao plástico e ao aborrecimento
Pedro Ribeiro valoriza o entretenimento na publicidade e, por isso, a campanha que gostaria de ter feito é a The Biggest Ad Ever da Liquid Death, criada por uma equipa interna desta marca de água enlatada. A campanha que mais gostou de fazer foi a Vidas Extraordinárias, para a associação Acreditar
Daniel Monteiro Rahman
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Qual é a campanha que gostaria de ter feito?
Gostaria de ter feito qualquer uma das campanhas da Liquid Death e destaco a que lançaram durante o último Super Bowl, a The Biggest Ad Ever, mas só como exemplo.
Quais são as razões dessa escolha?
Criada em 2019 por Mike Cessario, um ex-diretor criativo de publicidade, a Liquid Death é apenas água numa lata. Mais do que qualquer campanha ou execução, aquilo que mais gosto é da ideia da própria marca. A Liquid Death declarou morte à sede e ao plástico, assumindo a ausência de atributos diferenciadores – é apenas água em lata, nada mais – e apostando tudo na narrativa, na cultura e, acima de tudo, no entretenimento. Na construção da própria marca, portanto. Essa é a melhor ideia de todas.
Nesta campanha referida, a Liquid Death quis entrar na conversa do ‘Big Game’ sem lá estar verdadeiramente, transformando a face das suas caixas num espaço publicitário que qualquer marca podia licitar no eBay. A licitação viria a ser ganha pela Coinbase (um dos maiores destaques do intervalo publicitário do Super Bowl do ano anterior, com o surpreendente QR Code Super Bowl ad) por uns interessantes 500 mil dólares (€464 mil). Uma ideia engenhosa e com impacto direto no negócio.
O que é que lhe chamou mais a atenção: o texto, a imagem, o protagonista ou outro aspeto da campanha?
Mais do que publicidade, esta marca faz entretenimento. Morte à sede, ao plástico e ao aborrecimento, são os apelos mais próximos de um ‘call-to-action’ que podemos encontrar na sua comunicação. Visualmente, também não há compromissos. Vale tudo, desde que seja divertido. Em The Biggest Ad Ever, o formato ‘hardsell sketch’ e o argumento da audiência muito superior à do Super Bowl, por uma fração do preço, são os ingredientes surpreendentes desta campanha.
Esta campanha inspirou-o a nível criativo?
A Liquid Death inspira-me porque demonstra a força de uma marca e das ideias. Por si mesmo, o produto não acrescenta nada e não se diferencia. Está longe de criar uma necessidade, pelo contrário, responde a uma das mais básicas. É só água e serve só para beber. E não é só giro. É negócio. A Liquid Death vende e vende muito.
Segundo a Forbes, as vendas a retalho da Liquid Death aumentaram mais de 100% entre 2022 e 2023, crescendo de 110 milhões de dólares (€102 milhões) para 263 milhões de dólares (€244 milhões). Atualmente, a marca está avaliada em 1,4 mil milhões de dólares (€1,3 mil milhões). Marcas fortes e boas ideias vendem.
Qual é a campanha que fez que mais o concretizou profissionalmente e porquê?
A campanha Vidas extraordinárias para a Associação Acreditar – uma associação de apoio a crianças e jovens com cancro – foi das últimas campanhas em que participei na Tux & Gill e na qual tenho muito orgulho. É uma campanha de angariação de donativos, com filmes, imprensa e digital, que tem duas pequenas histórias quotidianas na sua base. Numa dessas histórias temos uma criança pequena a fazer uma traquinice às escondidas – rouba uma fatia de bolo acabado de fazer -, com o pai a fingir que não vê nada.
Na outra história, vemos um casal de adolescentes a namorar, quando a mãe da menina irrompe pelo quarto sem pedir permissão, deixando a adolescente em fúria. Ambas são situações perfeitamente banais, mas com um twist que não é verdadeiramente um twist, porque está à vista de todos desde o início e não tem impacto na história. Tanto a criança pequena quanto a adolescente têm cancro, o que não as impede de viverem uma vida normal.
É isso que a Acreditar promove nas suas casas de acolhimento e é o que crianças e jovens com cancro e as suas famílias mais querem: uma vida normal. Uma verdade poderosa, simples, sem filtros e surpreendente. Motivos mais do que suficientes para gostar muito desta campanha.
Como é que chegou a esta ideia e avançou para a concretização?
A principal inspiração para esta ideia veio de visitas à Casa da Acreditar e de conversas com as equipas envolvidas. Foi esta imersão que nos fez entender que a casa da associação existe para dar o máximo de normalidade à vida das pessoas que por lá passam. Possibilitar momentos de normalidade a uma família, com um fardo tão pesado quanto um diagnóstico de cancro pediátrico, é um dos maiores objetivos da associação.
E isso é surpreendente por si mesmo. Mostrar pequenas histórias banais inspiradas nesta normalidade e sem as habituais reviravoltas emocionais, pareceu-nos um caminho diferente e genuíno. Na sua concretização quisemos manter a simplicidade e a pureza, com o mínimo de artifícios.
O que é que faz quando não tem ideias?
Procuro ver ou fazer algo que não tem nada a ver. Esquecer o briefing por alguns instantes. E depois, insistir e pensar mais.
Ficha técnicaCampanha: The Biggest Ad Ever |
Ficha técnicaCampanha: Acreditar |