Por que as marcas estão a deixar de priorizar a criatividade?
Uns culpam as ‘holdings’ por priorizarem os meios em detrimento da criatividade, outros acreditam que a dependência do marketing de desempenho e da tecnologia está a prejudicar o ofício. Há ainda quem defenda que a criatividade não está em declínio, mas a evoluir para outros objetivos
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Daniel Monteiro Rahman
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A criatividade, outrora considerada o alicerce da indústria publicitária, tem vindo a tornar-se uma prioridade cada vez menor para as marcas, segundo os executivos da indústria entrevistados pela Ad Age. Há vários pontos de vista para explicar o motivo, mas a motivação financeira é transversal, noticia a Ad Age.
Alguns culpam as ‘holdings’ por banalizarem o trabalho, ao darem prioridade aos meios em detrimento da criatividade, enquanto outros acreditam que a dependência do marketing de desempenho e da tecnologia está a prejudicar o ofício. Há ainda quem defenda que a criatividade não está em declínio, mas a evoluir para satisfazer a procura de conteúdos personalizados e abordar a publicidade numa perspectiva orientada para os resultados e baseada em dados.
“As ‘holdings’ estão a reduzir os orçamentos da criatividade para garantirem as contas mais lucrativas de meios e há pouca ou nenhuma expetativa de que as agências criativas gerem lucro”, argumenta Tom Denford, CEO e cofundador da empresa de consultoria norte-americana ID Comms, citado na Ad Age.
Para David Droga, CEO da Accenture Song, que detém a Droga5, a criatividade não está a morrer, mas a ressurgir de formas e por via de pessoas diferentes. “Ao tentarem conquistar os meios de comunicação, as ‘holdings’ desvalorizaram a única coisa que as separa de todas as outras empresas: as nossas ideias, estratégias, produção e produtos”, defende David Droga, acrescentando que “os clientes também começaram a não valorizar a criatividade e a deixar de pagar por ela, o que se torna numa espécie de destruição autoinfligida”.
A definição tradicional de criatividade na indústria, centrada sobretudo em filmes de 30 segundos para marcas, é demasiado restritiva, segundo Justin Billingsley, diretor de crescimento da Monks, empresa britânica de consultoria de marketing. “Atualmente, a criatividade está relacionada com a integração de meios de comunicação, tecnologia e dados, sendo os funcionários mais valorizados aqueles que conseguem orquestrar estes elementos”.
Erin Riley, CEO global da TBWA, sustenta que esta agência detida pelo Omnicom não está preocupada com o facto de os profissionais de marketing desvalorizarem a criatividade, uma vez que as grandes ideias continuam a ser muito procuradas. “Num mundo em que a tecnologia em evolução está a otimizar a uniformidade, os melhores profissionais de marketing reconhecem que a criatividade inovadora e disruptiva é mais valiosa do que nunca”, defende Erin Riley.
A ascensão das agências independentes
Independentemente das razões, o cenário atual está a conduzir a uma separação da criatividade na indústria, entre as ‘holdings’ e as agências independentes. As marcas recorrem às ‘holdings’ principalmente para serviços integrados, transformação do negócio e meios de comunicação, mas procuram frequentemente agências independentes de menor dimensão para campanhas criativas disruptivas.
Alguns dos entrevistados apontam as agências criativas independentes — muitas delas dirigidas por antigos executivos insatisfeitos com os grandes grupos de publicidade — como líderes na criação de anúncios que se destacam. De acordo com a Ad Age, estas agências são também as que estão a ganhar as contas maiores. Outros executivos consideram até que as ‘holdings’ e as agências independentes já nem sequer operam no mesmo setor.
A publicação dedicada a agências independentes, Indie Agency News, salienta que, dos 57 anúncios exibidos no Super Bowl 2025, 25 foram criados por agências independentes e 22 por agências de ‘holdings’. Apenas dez foram produzidos internamente.