O caminho do MyWay é o matchmaking
João Paulo Meneses – jornalista da TSF e investigador
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João Paulo Meneses – jornalista da TSF e investigador
Os serviços de música on demand, como o MyWay recentemente criado, competem com o universo da rádio musical – pela simples razão de que a rádio musical foi durante décadas o grande (o único) abastecedor gratuito de música.
Para sobreviverem, estes serviços têm de ganhar espaço e tempo de consumo à rádio musical e por isso, para poderem afirmar-se face à rádio, pelo menos duas características são essenciais:
– Dar poder ao utilizador, poder para escolher a música ou para a rejeitar e, por exemplo, para construir playlists;
– Diversidade de oferta, que passa muito pela capacidade de associar a um determinado pedido outras opções, tentando surpreender os ouvintes;
Se a primeira das condições depende muito do que é negociado com as editoras (e portanto não está tão dependente da vontade do próprio projecto), a segunda é, por assim dizer, a mais-valia de cada um dos mais de 200 projectos existentes no mercado.
Se considerarmos que a oferta musical é relativamente homogénea (o que um serviço tem o outro também pode e deve, genericamente, ter), a diferença está nesse matchmaking [expressão usada por Stanley Schmidt, editor da revista Analog: Science Fiction and Fact], nessa capacidade de, com base numa indicação dada pelo utilizador, lhe propor opções que sejam do seu agrado.
Para se perceber a importância dos sistemas de recomendação, veja-se o sucesso do Pandora nos EUA (Pandora que é um dos mais retrógrados serviços no capítulo do poder do utilizador mas que, em alternativa, tem um matchmaking excelente).
No caso do MyWay – mesmo com a ressalva de que estamos na versão beta [o que impede que se fale noutros aspectos do projecto] – devo dizer que esperava um matchmaking mais ‘competente’ por um lado e mais ousado por outro.
Competente porque me parece que as primeiras propostas são oferecidas de uma forma muito ‘burocrática’ (a partir do nosso pedido, é construído um algoritmo sempre com os mesmos artistas. Exemplo: a partir de Grizzly Bear, o MyWay propõe-me Alice in Chains, 3 Doors Down, Cranberries e Alanis Morissette; sempre os mesmos, por esta sequência, até eu desistir; noutros casos, a sequência é ainda mais curta: propus Divine Comedy, sugerem-me apenas Chris Isaak e A Fine Frenzy; e quando ‘pedi’ Keane, propuseram-me apenas… Keane);
Ousado, porque me parece que os ‘encontros’ propostos são ou duvidosos (Divine Comedy com Chris Isaak? Grizzly Bear com Alice in Chains?) ou básicos (quando propus ao sistema Marisa Monte, as respostas foram Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Chico Buarque. Não está mal, mas falta, claramente, um pouco de ousadia).
Imagino que os responsáveis pelo MyWay pretendam competir no mercado global – é esse um dos trunfos das propostas online (e afinal chamam-se MyWay…). Mas, pelo menos para já, é myway.pt e apenas em português. Ou seja, parece haver uma aposta clara no mercado português.
Não se percebe assim que a oferta ao nível da música portuguesa seja tão ‘apertada’. Quando propus UHF, o MyWay deu-me, alternado, Adelaide Ferreira (!); quando quis ser mais ‘moderno’ e escolhi Samuel Úria, o sistema só tinha um matchmaking com David Fonseca. E quando experimentei Carlos do Carmo, só houve Carlos do Carmo.
Dir-se-á: quem quer ouvir Carlos do Carmo não ficará satisfeito por poder ouvir 20 ou 30 músicas de Carlos do Carmo? Das primeiras vezes sim, mas – como acontece a quem tem um leitor de mp3 – chegará o cansaço por ouvir apenas o que já conhece e é preciso refrescar. O matchmaking serve para isso.
O MyWay vai fazer muito melhor, certamente. Mas num mercado altamente concorrencial, as primeiras impressões são determinantes. Será, portanto, um início muito tímido. Um início beta, provavelmente.
Relativamente ao seu principal concorrente, o Cotonete, o MyWay tem desde já uma grande vantagem: é muito mais intuitivo, menos poluído visualmente e não exige uma janela ‘pop up’ com o player de audição. Mas o Cotonete é um adversário poderoso, porque permite escolher as músicas, em concreto, que se acrescentam à playlist – dá, portanto, poder – e o MyWay, pelo menos por agora, não.
De qualquer forma, e porque está muito a tempo de corrigir os eventuais erros aqui detectados, não sendo possível um matchmaking virtuoso como o do Pandora, pelo menos que se inspire no poder que o Grooveshark dá aos seus utilizadores (o Grooveshark é, a esse nível, o melhor sistema que conheço).