BP e British Airways debaixo de fogo
A British Airways está a enfrentar um ciclo de greves que pode fazer com que os prejuízos se agravem,
Rui Oliveira Marques
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A British Airways está a enfrentar um ciclo de greves que pode fazer com que os prejuízos se agravem, enquanto a BP está na origem de uma catástrofe ambiental de proporções históricas no Golfo do México, EUA. Estes dois casos ajudam a perceber o papel que pode estar reservado à comunicação em situações de crise.
Os tripulantes de cabine da companhia aérea britânica iniciaram uma greve que parece não ter fim. Na origem do conflito estão o anúncio da redução de 1.200 postos de trabalho, o corte na dotação nas viagens de longo curso e o congelamento de salários por dois anos. Na semana passada a companhia esteve em greve e esta semana entrou numa nova fase, que terminou ontem. Entre os dias 5 e 9 de Junho deverá realizar-se a terceira fase de greves. Por cada dia de paragem, a British Airways perde oito milhões de euros, para além de deixar milhares de clientes insatisfeitos em terra. Como se não fosse suficiente, a empresa apresentou, no último ano fiscal, prejuízos de 491 milhões.
Uma greve com estas dimensões reveste-se de características quase bélicas. O sindicato Unite pôs no ar um anúncio com um testemunho na primeira pessoa de uma profissional de cabine – na verdade era uma actriz –, que dizia: “Eu preferia estar a fazer o trabalho de que gosto muito, que é cuidar dos passageiros que permitem que a British Airways continue a voar. Ao contrário disso, estou a lutar pelo meu futuro. Quero dizer-lhe porquê. Tratar a tripulação de cabine de uma forma decente não custa um cêntimo a mais. Pelo contrário, estão a desperdiçar milhões a tentar esmagar-me e humilhar-me. Os passageiros, os accionistas e a restante direcção da British Airways têm de perguntar a Willie Walsh [CEO da empresa], porquê?” O esforço continua no online, no site www.brutish-airways.com, onde o sindicato detalha os argumentos que estão a levar os trabalhadores à greve. No meio desta disputa, os concorrentes Easyjet e Lufthansa aproveitaram para lançar campanhas de publicidade onde explicavam que nas suas companhias os passageiros não se arriscavam a ficar sem voo.
A British Airways parece ter aprendido com os problemas que enfrentou na abertura do Terminal 5 do aeroporto de Heathrow (Londres) em Março de 2008, em que centenas de voos foram cancelados nos dias a seguir à inauguração. Na altura, o CEO Willie Walsh foi acusado de não dar justificações convincentes sobre o assunto. Agora multiplicou-se em entrevistas e acções de relações públicas online. Os especialistas britânicos detectaram o dedo de media training nas frases mais assertivas: “Podemos enfrentar quaisquer concorrentes. Não podemos é lidar com sindicatos que querem destruir o nosso negócio”, disse numa entrevista a um canal de televisão. Outro pormenor que os observadores notaram foi que, nas entrevistas, além de sugerir que era próximo dos líderes dos sindicatos, tratou-os apenas pelo primeiro nome. Uma forma de convencer os empregados de que tinha acompanhado directamente as negociações com os sindicatos, ao mesmo tempo que colocava a pressão para terminar a greve nos líderes sindicais.
Alex Woolfall, que dirige a área de gestão de crise da agência Bell Pottinger, comentou ao PR Week que há 10 anos os estúdios de televisão seriam a única opção para que o CEO da British Airways explicasse à opinião pública a sua visão dos factos. “A internet significa agora uma alternativa à conferência de imprensa ou ao saltar de estúdio em estúdio na esperança de que os media reportem o que se pretende. Willie Walsh também o fez, mas o uso do site da British Airways, a meu ver, humanizou-o, permite que ele se coloque ao lado do consumidor”. Só no espaço reservado em Britishairways.com a explicar aos passageiros as implicações da greve existem sete vídeos com o responsável máximo da empresa. O esforço de comunicação da companhia foi ao ponto de pintar a frase “Keep the flag flying” em 12 Boeing 777, para relembrar o esforço da companhia para manter no ar o maior número de aviões possível.
Mais graves são os desafios que a BP tem pela frente. “Estamos decepcionados. Não fomos capazes de controlar o fluxo do poço”, declarou o director-geral da BP, Bob Dudley, à CNN, após mais uma tentativa de travar a fuga de petróleo que está na origem da maré negra no Golfo do México. A administração Obama já admitiu que este é “provavelmente o pior desastre ambiental” do país. Para a marca significa o fim do posicionamento que adoptou na última década. Em 2000 a BP deu início a um rebranding que serviria para descolar da imagem de petrolífera. O BP de British Petroleum passaria a designar Beyond Petroleum (além do petróleo). O novo posicionamento, além de fixar a empresa no território das energias renováveis, iria representar um esforço grande da companhia na área da sustentabilidade. O projecto ainda hoje é apresentado como um case study da Ogilvy & Mather, que trabalhou a marca, e foi eleito em 2001 como a campanha de relações públicas do ano. No entanto, já em 2008 a Greenpeace considerava a BP o maior exemplo de greenwash. Nessa altura, 93 por cento do investimento da empresa (20,3 mil milhões de euros) destinava-se às áreas do gás e do petróleo, enquanto a energia solar e eólica eram responsáveis por pouco mais de quatro por cento. Para perceber o impacto da actividade da BP, a Greenpeace referia que em 2007 as emissões de dióxido de carbono da empresa eram equivalentes às de Portugal, significando que a BP era das empresas do mundo que emite mais CO2. Argumentos que levam a que a organização ecologista defina a BP como Beyond Propaganda ou Burning the Planet.
Um dos impactos imediatos do acidente no Golfo do México poderá ser a organização de boicotes. No Reino Unido 15 por cento dos consumidores dizem-se dispostos a deixar de consumir produtos BP, enquanto na faixa etária 18-24 anos a percentagem sobe para os 19 por cento. As conclusões são do Lightspeed Research, após 11 mil entrevistas. O Greenpeace lançou entretanto, através de anúncios de página inteira nos jornais, um desafio para receber propostas para um novo logótipo da companhia. A marca já suspendeu toda a actividade de marketing que tinha previsto, incluindo o esforço pan-europeu para promover o BP Ultimate, que deveria arrancar nos próximos dias. O impacto do desastre está longe de ficar pela reputação. No início do ano as acções da BP chegaram aos 62,3 dólares, agora rondam os 45 dólares.