Chegamos ao fim da linha?
Mais de 71 por cento dos profissionais do sector publicitário considera que,
Pedro Durães
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Mais de 71 por cento dos profissionais do sector publicitário considera que, actualmente, deixou de fazer sentido a utilização dos termos above e below-the-line, contra apenas 26,3 por cento que lhes atribuem ainda alguma validade. A conclusão é de um estudo sobre terminologia na publicidade conduzido pelo estudante de Gestão de Marketing do IADE Miguel Fialho e que já mereceu atenção da publicação australiana Marketing Mag. Para a realização de Dropping the Line?, Miguel Fialho entrevistou por e-mail cerca de 260 publicitários das maiores agências em todo o mundo (cerca de 200), entre elas a Saatchi & Saatchi Europe, Middle East & Africa, a Leo Burnett Germany, a ANR BBDO e a Euro RSCG Netherlands. O resultado alcançado, que demonstra que estes termos começam a ser considerados obsoletos pelo próprio mercado, foi em si mesmo uma surpresa para o autor do estudo, sendo que não era sua intenção inicial averiguar a validade dos termos. Como o próprio refere no estudo a que o M&P teve acesso, “esta questão (se estes termos devem ou não ser utilizados) não foi considerada inicialmente mas, como estava a ter muitas respostas que me referiam que os termos estavam datados, quis confirmá-lo com um espectro de opiniões mais amplo. Ficou bastante claro que a maioria dos participantes, mais de dois terços, consideram que estes termos fazem parte do passado”, aponta Miguel Fialho.
Mas quais são as razões para tão esmagadora opinião sobre termos que continuam a ser utilizados com tanta frequência? Perceber o que motivou estas respostas foi o passo seguinte. Segundo razões que o estudo procurou aprofundar, um dos motivos apontados pelos inquiridos prende-se com o facto de a comunicação ser hoje encarada como algo integrado, deixando de fazer sentido a separação entre formas de comunicação above e below-the-line, um pouco à semelhança da discussão que se vem mantendo em torno da crescente integração da comunicação on e offline. Segundo o autor, outra das razões tem a ver com a “fragmentação a que assistimos em todos os canais de media nos últimos anos. Chegámos a um ponto em que os consumidores podem produzir os seus próprios conteúdos e é comum ver cidadãos anónimos a gravar imagens que depois vemos às 20h na CNN”. A necessidade de surpreender os consumidores tem feito com que as marcas reorientem a sua estratégia de marketing integrando todas as formas de comunicação à disposição, factores que, em conjunto, terão contribuído para o esbater dessa linha que separa o above do below. Ainda assim, avança o estudo, há 26,3 por cento de inquiridos que continua a encontrar razões para fazer perdurar a utilização destes termos, já que “continua a ser uma forma de diferenciação entre os vários veículos de comunicação e pode ser útil em situações em que seja necessário ilustrar as diferenças que os separam”, lê-se no estudo.
No princípio era o cinema
Por que motivo é o cinema considerado above-the-line se o investimento nesse canal é sempre tão reduzido em todos os países do mundo? Esta questão foi o ponto de partida para este estudo de Miguel Fialho. De acordo com os dados recolhidos, 75,38 por cento dos inquiridos considera ser esta a categoria em que se enquadra o meio cinema, enquanto apenas pouco mais de 10 por cento lhe atribui a classificação below-the-line, sendo de realçar que o número de não respondentes é superior aos que consideram o cinema um meio below-the-line, com 14,23 por cento. Segundo o estudo, um dos motivos para tanta gente considerar o cinema above-the-line remete para o facto de “a maioria dos anúncios utilizados ser originalmente concebida para televisão e depois adaptada ao cinema”.
Outra questão colocada por Miguel Fialho focava a caracterização da internet de acordo com estes termos. E é nesta questão que se começa a evidenciar as confusões e incertezas que esta terminologia causa no sector, com as respostas mais repartidas. Cerca de 47,7 por cento dos inquiridos aponta para above-the-line quando fala em investimento publicitário na internet, enquanto o below-the-line recolhe 21,9 por cento das respostas. Mais de 16 por cento preferiu não responder, sendo que a percentagem de profissionais do sector que considera ser necessário recorrer a outros termos para classificar a internet ascende aos 14,2 por cento. Nesta questão, o autor diz ter optado por colocar a opção “outros termos” por ter recebido respostas como “depende da situação”, “umas vezes below, outras vezes above”, “através da linha”, “a internet é a linha” ou “as duas”. Miguel Fialho sublinha que as dinâmicas na internet são muito intensas, pelo que “as estratégias de comunicação precisam de ser integradas e, como muitos dos inquiridos apontaram, o sucesso reside provavelmente numa abordagem 360º”. Uma situação que demonstra para onde caminha a publicidade, que deixa cada vez mais de ser encarada nas perspectivas tradicionais. “É um novo mundo e as respostas correctas mudam a cada cinco segundos”, traça Miguel Fialho.
A morte da publicidade tradicional em 10 pontos
A publicidade tradicional está a perder preponderância perante o advento da comunicação digital. Há quem aponte mesmo que está a morrer. Com as mudanças emergentes, as agências e todo o sector precisam de mudar para se adaptar. Mas qual o caminho a seguir? O estudo Informe R.I.P., feito junto de 30 anunciantes (entre eles marcas como Coca-Cola ou Mercedes) e apresentado recentemente em Madrid pela agência Contrapunto BBDO, traça algumas tendências:
1. O sector enfrenta uma situação de complexidade aberta (já que as novas formas de comunicação têm uma estrutura ilimitada), e paradoxal porque os novos meios oferecem prós e contras exigindo que os anunciantes mantenham a coerência estratégica de todas as acções da marca, o que conduz à necessidade de contratar hiperespecialistas;
2. Assistimos a uma nova era em que a comunicação está transformada numa rede de interconexões e em que cada movimento num terminal têm influência sobre todos os outros. Tudo está ligado;
3. O meio digital deve ser visto como o meio ambiente em que as pessoas vivem e não como mais um meio, já que hoje o digital tem influência sobre todos, mesmo aqueles que não são utilizadores habituais;
4. As marcas estão obrigadas a mudar – sem pôr em causa a sua coerência interna e a solidez da sua identidade, as marcas devem ser dinâmicas. Um exemplo disto é o Google, que faz frequentemente variações do logótipo;
5. O ADN da marca é mais preponderante do que nunca mas é preciso uma “genética adaptativa” – com os objectivos perfeitamente definidos, a marca responderá mais facilmente aos obstáculos;
6. Os conceitos tradicionais de cobertura, repetição e frequência morreram, assim como morreu o GRP, que trabalha essas variáveis. Comunicar a marca já não se trata de chegar ao máximo de utilizadores e expor-lhes o máximo número de impactos. Hoje, o importante é chegar aos líderes de opinião;
7. Está a instalar-se a ideia de zapping inverso: o consumidor já não tem tempo para procurar no meio daquilo que não quer ver. Com a multiplicação de canais vai directamente ao que lhe interessa;
8. A publicidade morreu, nasceu a comunicação com formato publicitário. Os consumidores querem mensagens mais atractivas, desejáveis e o mais divertidas possível. Neste estudo, R.I.P. significa, por isso, Revolução Ilimitada da Publicidade;
9. Apesar de tudo, a chave continua a ser a criatividade. Uma boa ideia é sempre uma boa ideia;
10. Chegou o momento das ideias revolucionárias e arrojadas. A eficiência das campanhas deixa de ter a ver com a estrutura em torno dos custos mínimos com máxima penetração.