“Às vezes sinto-me o Júlio Isidro dos realizadores”
Para assinalar os 35 anos da Krypton, desafiámos João Vilela a fazer uma viagem ao passado, a recordar como tudo começou. Ficámos a saber que o diretor-geral abandonou o curso […]
Sónia Ramalho
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Para assinalar os 35 anos da Krypton, desafiámos João Vilela a fazer uma viagem ao passado, a recordar como tudo começou. Ficámos a saber que o diretor-geral abandonou o curso de direito para começar a trabalhar na produtora como estafeta. Hoje, não tem pudor ao autodenominar-se o “Júlio Isidro dos realizadores” e prepara-se para lançar um novo projeto: a Krypton School.
João Vilela começa a conversa com um aviso: “gosto muito de contar histórias”. E é assim que se inicia a viagem aos primórdios da Krypton. “A minha entrada na produtora começa em 1988, no mesmo dia do incêndio nos armazéns do Chiado. Nunca mais o vou esquecer”, recorda. “Na altura, havia poucas produtoras no mercado, que abarcavam todo o trabalho, e a Krypton nasce da ideia de João Sarmento Matos e José Cruz, que tinham um espírito visionário e quiseram trazer para o mercado uma produtora diferente do que era o convencional da linguagem publicitária daquela altura”.
A aposta passou pelos videoclipes, já que um dos sócios da produtora era a Valentim de Carvalho. “Os videoclipes serviram para mostrar trabalho e experimentar linguagens novas. Em simultâneo, começámos a fazer vídeos institucionais, para acompanhar as privatizações das empresas”. Nesta altura, João Vilela era estafeta da Krypton. “Estava no curso de direito e fazia teatro profissional, pois adorava o lado artístico e detestava o curso. Como ator profissional fiz muitos anúncios e revi-me nesta lógica da produção, achei que tinha a ver com a minha personalidade”. Um dia, organizou o catering para uma equipa de produção num trabalho em Albufeira e correu tão bem que começou a trabalhar com essa produtora. “Como sou persistente e teimoso, ligava ao produtor a pedir trabalho nesta área. Um dia, disse-me que ia abrir uma produtora nova, com a Valentim de Carvalho e dois amigos, mas só tinham disponível um lugar: estafeta. Claro que aceitei”.
Dos videoclipes para a TV
João Vilela confessa que entrou para a produtora “como se fosse minha” e pouco fez como estafeta. “Comecei logo na produção. Passados dois anos, um dos sócios saiu e fiquei no lugar dele”, revela. “O negócio sempre foi muito moldado à minha maneira. Os outros sócios eram criativos e era fácil ter um baby-sitter a organizar tudo, numa altura em que as equipas eram muito reduzidas. Fazia os castings, roupa, adereços, era assistente de realização – das coisas que mais gostava de fazer”.
O primeiro trabalho que fez na Krypton foi “um videoclip para o Marco Paulo, num iate, um ambiente muito kitch, e outro para os Ban. Fizemos os videoclipes de todas bandas portuguesas e, por vezes, apareciam anúncios”. A postura diferente com que entraram no mercado – “a única produtora com um diretor criativo” – fez com que se posicionassem na vertente da criatividade. Até que um filme do Cartão Jovem ajudou a catapultar a produtora. “Foi feito por um realizador de videoclipes com um talento inacreditável. Foi muito arrojado, ao estilo da MTV internacional, e lançou os olhares para o que estávamos a fazer. Foi um marco que mudou o paradigma e, a partir daí, começámos a fazer mais anúncios de TV. A forma como trabalhámos os videoclipes abriu a porta para entrarmos na publicidade com uma linguagem completamente nova”.
Krypton School
Atualmente, João Vilela vê a Krypton como “uma instituição. Teve um crescimento que nem eu estava à espera, do qual muito me orgulho. Aproveito para contar dois episódios que mostram a dimensão e a escala da produtora (ver caixa)”. A Krypton tornou-se uma escola e, em cima da mesa, está a ideia para avançar com a Krypton School. Após duas tentativas infrutíferas – “primeiro numa associação com o CCB e depois com o ISEG”, à terceira esperam que seja de vez. “Como temos muito know- -how, as pessoas podem passar à ação. Apostámos num programa de estágios muito competente e estruturado, diria que 90% dos nossos estagiários estão colocados no mercado de trabalho. Dá muito trabalho formar pessoas, mas também dá imenso gozo”, assegura.
Apesar de ainda não ter sido implementada por falta de tempo, o programa Krypton School está em andamento e até já tem uma campanha desenvolvida pela agência O Escritório. “Temos os anúncios aprovados, queremos filmar, mas, como é para nós, em casa de ferreiro, espeto de pau e não conseguimos avançar. Mas posso dizer que, em 2024, vai surgir uma Krypton School”. Além do ensino fazer parte dos planos de João Vilela, os estágios permitem à Krypton “fazer uma filtragem de novos talentos, que são a nossa sobrevivência. O o sucesso da Krypton, numa indústria criativa onde não é suposto perdurar 33 anos na liderança, só acontece porque procuramos esse talento nos mais novos”, realça João Vilela.
“A Krypton já lançou milhares de realizadores no mercado, diria que 90% da nossa concorrência tem ex-Kryptons. Fui sempre muito proativo e tive backups de realizadores. Existem muitas pessoas com fome de mostrar o seu trabalho e o empenho de um jovem que está a começar é enorme. Se tem uma estrutura como a nossa, que dá segurança, matéria-prima, que está sempre a supervisionar, o cliente tem tudo a ganhar ao apostar nos novos talentos que propomos”.
João Vilela considera-se um felizardo por ter acertado nos novos talentos. “Devo ter sido a pessoa que mais talentos lancei em Portugal, às vezes sinto-me o Júlio Isidro dos realizadores, mas lancei realmente muitos realizadores e não me enganei com nenhum. Não quero ser arrogante, mas não me enganei”.
Este artigo foi publicado na Ed. 943 do Meios&Publicidade. Para ler o artigo na íntegra CLIQUE AQUI