Opinião: Porque deveremos ser otimistas sobre o futuro dos media
Os sites de notícias tiveram, em 2023, um ano de transformação. Há pouco mais de um ano, o social media era a principal fonte de tráfego para muitos deles, mas […]
Meios & Publicidade
Bolo-rei da Versailles é a estrela do anúncio natalício do Pingo Doce (com vídeo)
Novobanco patrocina revista dos 40 anos da Blitz
Um terço dos portugueses está a gastar mais em compras online
José Guerreiro reforça departamento criativo da Lisbon Project
Perplexity já permite fazer compras
Cristina Ferreira trava execução de sentença de primeira instância da SIC
BA&N faz parceria com consultora SEC Newgate
António Zambujo é o embaixador dos vinhos da Vidigueira
ERA recorre ao humor para atrair gerações Y e Z (com vídeo)
“Cream é não provar” as novas Amarguinhas Creme
Os sites de notícias tiveram, em 2023, um ano de transformação. Há pouco mais de um ano, o social media era a principal fonte de tráfego para muitos deles, mas os desenvolvimentos políticos que se iniciaram com a vitória eleitoral de Trump, em 2016, e com a de Bolsonaro, dois anos depois, vieram a originar que a Meta optasse por se afastar, tanto quanto conseguisse, do fenómeno político. O imenso tráfego que o Facebook enviava praticamente secou e esse espaço não foi ocupado por outras redes. Instagram e, sobretudo, TikTok tocam outros targets e não funcionam como fonte de visitas aos sites e o ex-Twitter, atual X, envolto em crescentes polémicas, nunca conseguiu, ou quis, capitalizar essa oportunidade. É sintomático que seja hoje o LinkedIn a principal rede social para muitos sites de notícias, pois, não tendo uma componente de entretenimento, não encaixa na escolha que fazemos para ocupar tempos mortos de, em princípio, curta duração, sendo por isso muito menos utilizado que as redes restantes.
Mas talvez estas iniciais más notícias tenham sido boas para as redações que produzem estes sites. Sem a ajuda das redes, o jornalismo voltou a ter de atrair pelo valor da informação produzida. Perdendo a possibilidade de se cruzar no impulso das redes, teve de conseguir atrair mais users que, de forma direta, os procurassem. E o saldo, neste final de ano, é de celebrar. Não são evidentes quebras absolutas de visitas entre os players do setor, mas a composição da sua origem é muito distinta. O tráfego direto subiu imenso e hoje a principal fonte de tráfego, quando não é a direta, é o Google orgânico e logo seguida pela direta.
A Google sempre cruzou, de forma eficaz, com os resultados de pesquisa os conteúdos de notícias. Não sendo a componente noticiosa uma parte dominante do que pesquisamos no Google, o facto de a cobrir muitíssimo bem não abriu brechas na relação exclusiva que tem com quem pesquisa. Mas, com a oportunidade de quem soma sucessos, a Google foi forçando a relevância do seu Discover, onde lista notícias de acordo com o que pesquisamos e já clicámos, assumindo-se como o novo feed de notícias para muitos users. Se alguém ocupou o espaço do Facebook, os números diriam que foi o Discover.
Regressando aos media, estaremos de acordo em duas coisas. Os modelos de negócio estão em transformação pela transição para o digital, o que não é propriamente um exclusivo desta indústria, e a sua relevância não diminuiu, nem se antecipa que venha a diminuir.
No negócio, já se pode dizer que a sociedade já assumiu como natural pagar por uma subscrição de um site de informação da mesma forma que, no passado, se pagava por um jornal em banca. Há somente a enorme diferença que, em banca, não existiam inúmeras alternativas gratuitas como hoje existem num browser dos nossos telefones. Há esse desafio, mas o caminho está identificado.
Já a publicidade enfrenta um futuro imediato menos risonho. O enamoramento pela data como a base da escolha dos meios para os anunciantes tirou valor ao contexto em que os anúncios se expõem. A globalização do digital também não ajuda à relevância dos players locais, categoria em que quase toda a media se inclui. De qualquer das formas, se é evidente que as marcas comunicam para construir ou reforçar os seus atributos e para com isso venderem mais e a melhor preço, é evidente que tudo o que as envolve as contagia, para o bem e para o mal. Ignorar é errado e tudo o que é errado não perdura. Mas isso não significa que seja uma inevitabilidade que a recuperação do valor do contexto funcione apenas para a media. Há cada vez mais opções, desde as plataformas de entretenimento de filmes, séries ou música, ao retail media. Como sempre, vencerão os que melhor se posicionarem do lado certo quando o mercado perder o entusiasmo excessivo de que a data escolhe por si.
Mas ainda mais do que a clareza com que já é visível por onde o negócio deve ir, o que mais ajudará a media será a sua crescente relevância para a nossa sociedade. Num mundo marcado por guerras tão inesperadas quanto perigosas e complexas, por uma urgência climática que apenas coloca em risco a sobrevivência humana, os sistemas democráticos vão ter de se apoiar numa indústria que tenha vitalidade económica para fazer o seu papel de forma independente, seja a informar credivelmente com a diversidade necessária, seja a escrutinar os governantes eleitos. Uma sociedade que entende isso pagará por essa independência, seja diretamente ou preferindo as marcas que também o façam, e, se acreditarmos nas democracias, acreditamos nisso.
Artigo de opinião assinado por João Paulo Luz, diretor de negócios digitais e publishing da Impresa