Opinião: AI is the new Oppenheimer moment. But Prompt is good
Quando, nos anos 70 do século passado, as calculadoras começaram a ser produzidas em escala e em dimensões realmente portáteis, iniciou-se a discussão sobre os seus benefícios. Ninguém duvidava da […]
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Quando, nos anos 70 do século passado, as calculadoras começaram a ser produzidas em escala e em dimensões realmente portáteis, iniciou-se a discussão sobre os seus benefícios. Ninguém duvidava da utilidade e do impacto positivo na produtividade. Eram evidentes os ganhos de tempo na execução de cálculos que outrora eram realizados manualmente.
O que muitos questionavam era que o facilitismo que a máquina introduzia iria conduzir a uma diminuição das nossas competências, gerando uma dependência que, sem a calculadora, as gerações futuras seriam incapazes de fazer uma simples divisão ou multiplicação.
Ainda hoje o tema não é pacífico, levando a que o responsável pela educação no governo britânico, desde 2010 até hoje, tenha em 2011 legislado pela limitação do uso da calculadora nos primeiros anos de ensino. Há quem advogue que não exercitar o cálculo mental não leva ao desenvolvimento de capacidades indispensáveis na aprendizagem. Ao contrário, há quem defenda que deveremos focar-nos na resolução dos problemas não perdendo tempo com as tarefas de cálculo.
A mesma discussão assistimos 20 anos depois, com a proliferação das folhas de cálculo nos computadores pessoais nos anos 90. Impossível rejeitá-las pelo enorme impacto na produtividade, muitos disseram que iríamos tornar-nos piores técnicos, totalmente dependentes e sem o domínio de uma parte fundamental do conhecimento técnico. Capazes de interpretar resultados, mas incapazes de os calcular.
No início deste século, a internet trouxe-nos o acesso quase imediato a quantidades de informação enciclopédica e técnica, que muitos disseram que não seria mais necessário assimilar esses conhecimentos como até então. A cada inovação tecnológica ficámos sempre deslumbrados pelas novas capacidades e simultaneamente assustados que a substituição das competências humanas para essas tarefas nos conduzisse a uma diminuição de capacidades que nos viesse a tornar menos preparados que as gerações anteriores.
Mas a verdade é que o que aconteceu foi o contrário. As novas gerações são mais rápidas a aprender e o conhecimento humano continua a acelerar a sua evolução. A tecnologia tem sido um enorme catalisador das nossas capacidades, tornando também o acesso ao conhecimento muito mais facilitado em qualquer parte do mundo.
Será verdade que podemos ter matemáticos que não sabem sequer a tabuada e que teremos analistas financeiros que não sabem chegar aos cálculos dos rácios que interpretam, mas isso não os torna necessariamente piores. Porventura, dedicaram mais tempo a desenvolver as capacidades de facto diferenciadoras, deixando para as máquinas as tarefas de rotina.
E, se olharmos a discussão sobre o impacto da inteligência artificial no ensino e nas nossas ocupações profissionais, vimos que há imensa semelhança. Iremos apoiar-nos cada vez mais nas máquinas, exercitando cada vez menos determinado tipo de memória, de cálculo mental e de raciocínios lógicos, mas a nossa interpretação dos factos permanecerá, pelo menos por enquanto, a justificar a intervenção humana.
Se visitarmos a “Khanmigo Education AI” da Khan Academy, embora ainda só disponível nos EUA, percebemos imediatamente que as novas formas de aprendizagem irão democratizar as melhores práticas, baixando os custos de acesso à melhor educação e proporcionando verdadeiros elevadores sociais àqueles que hoje só excecionalmente os conseguem percorrer.
Temos, no entanto, que considerar que a disrupção que agora se inicia, se tem paralelo na substituição de tarefas e dos receios que isso gera, não terá semelhanças sobre o potencial que se antecipa. Se, na maior parte das vezes que hoje se ouve a expressão inteligência artificial é para caracterizar funções que antes dizíamos que eram realizadas por algoritmos e machine learning, há já outras ações em que a máquina começa, de facto, a fazer mais do que juntar aprendizagens anteriores.
O limite aqui poderá ser o momento em que começa a criar algo de novo. Desde as artes, às teses científicas e à própria produção de legislação que nos rege enquanto sociedade, as máquinas terão, em princípio, vantagens de capacidades, mas ninguém deseja que assumam o controlo. Se essa discussão ainda nos parece prematura, o impacto de bots a gerarem correntes de opinião nas redes sociais já é uma realidade.
Ao dia de hoje, são orientados por humanos e não têm vontade própria e é essa a fronteira que mais receio nos traz. Mas o caminho deverá ser tirar partido da tecnologia aproveitando-a mais vezes para o bem que para o mal, tal como a nossa história provou sermos capazes.
Os dilemas que o filme “Oppenheimer” nos recordou recentemente, em que nos questionamos se a evolução científica nos ajudará ou se irá condenar-nos à destruição, estão hoje presentes na discussão sobre as alterações climáticas e, inevitavelmente, sobre a inteligência artificial. Mas se a ciência nos trouxe estes desafios onde estaríamos sem ela?
Artigo de opinião de João Paulo Luz, diretor de negócios digitais e publishing da Impresa