“Existe uma maior complexidade e imprevisibilidade de temas, o que pode afetar a agilidade”
Já tinha sido desafiada a voltar a emigrar, mas foi sempre recusando. Com a criação do cluster ibérico da L’Oréal, em 2019, Ana Martines deixou-se convencer. Hoje, assume a direção de comunicação & ‘engagement’ para Espanha e Portugal, a partir de Madrid, sem planos para regressar a Lisboa
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Aos 20 anos, Ana Martines trocou o Brasil por Portugal, onde viveu 23 anos. Voltou a deixar Lisboa em 2019 e rumou a Madrid, para assumir a direção de comunicação e ‘engagement’ do cluster ibérico do grupo L’Oréal, cargo que abrange a comunicação corporativa, interna e externa, incluindo a digital e a de gestão de crise. Apesar da proximidade geográfica, em Espanha encontrou formas diferentes de pensar e de trabalhar, além de um mercado maior e mais desafiante.
Trabalhar no estrangeiro era uma ambição ou acabou por ser uma circunstância?
A oportunidade surgiu naturalmente, após a criação do cluster ibérico da L’Oréal. Já tinha sido convidada por três vezes para seguir uma carreira internacional, mas as circunstâncias familiares e a minha vontade de continuar a evoluir dentro do grupo em Portugal levaram-me a recusar.
A minha recusa da mobilidade internacional, porque nunca me senti estagnada, não impediu que o grupo me convidasse, em 2019, para integrar um projeto europeu, a coordenação da área de comunicação e ‘engagement’ da L’Oréal para a Europa Ocidental, reportando ao vice-presidente europeu e membro do comité executivo do grupo, acumulando estas funções com as que já tinha em Portugal.
Que balanço é que faz desta experiência?
Tem sido muito enriquecedor. Quando surgiu o convite, não só o projeto me entusiasmou, como a oportunidade surgiu no momento ideal, tanto a nível pessoal como profissional. A distância de Madrid permite uma deslocação mais fácil para o meu marido, que vem mensalmente a Lisboa, além de possibilitar uma maior proximidade com familiares e amigos. Não me arrependo, pelo contrário, sinto-me extremamente feliz e realizada.
Quais são os principais desafios que encontrou na integração?
Foi ótima na componente humana e extremamente desafiante a nível profissional. Não senti qualquer choque cultural, nem no país nem na empresa. O sucesso da criação deste cluster é notável, a nível humano e na harmonização de processos. Atualmente, Espanha e Portugal estão no top 5 de países que mais contribuem para o crescimento do grupo e as taxas de envolvimento dos colaboradores são muito elevadas, o que nos enche de orgulho.
A minha entrada na empresa coincidiu com a implementação de vários projetos de transformação, o que se traduziu numa carga de trabalho muito elevada desde o primeiro dia, obrigando-me a uma adaptação imediata.
Apesar de sermos países vizinhos, temos formas diferentes de trabalhar?
A principal diferença que noto prende-se com a dimensão do mercado e da filial espanhola. Esta realidade é notória através das constantes visitas do comité executivo do grupo e da escolha frequente para liderarmos, agora em conjunto com Portugal, projetos-piloto de transformação de grande escala para o grupo. E também se traduz num maior investimento financeiro em projetos corporativos ou de marcas, assim como em equipas de maior dimensão.
Consequentemente, existe uma maior complexidade e imprevisibilidade de temas, o que, por vezes, pode afetar a agilidade desejada. No entanto, é inegável que Portugal possui talento capaz de desenvolver projetos igualmente incríveis, mesmo com recursos e equipas mais pequenas
Que mais-valia é que o facto de ser portuguesa tem no seu trabalho?
O talento português está muito bem preparado para grandes desafios. O espírito empreendedor, a criatividade, a agilidade e a eficiência de processos para atingir resultados são aspetos notórios. Não identifico na nossa empresa o estereótipo espanhol de agressividade na forma como expõem as suas ideias. Pelo contrário, temos um ambiente extremamente cordial que respeita as 40 nacionalidades presentes no cluster.
Se tivesse de destacar três grandes diferenças culturais, diria que os portugueses demonstram um esforço e uma facilidade notáveis em aprender espanhol, o que é surpreendente. A segunda diferença reside na forma como se participa em reuniões. Em Espanha, é muito comum interromper o interlocutor enquanto este expõe a sua ideia, o que não é considerado falta de educação. Se não o fizermos, corremos o risco de não sermos ouvido. Noto também uma sociedade mais informal e menos hierárquica.
Tendo um cargo ibérico, está atenta ao que se vai fazendo em Portugal?
Sim, trabalhando os dois mercados, é natural. Conto, também, com a Ana Baleizão, responsável pela área em Portugal, com quem mantenho uma relação muito próxima e a quem concedo grande autonomia na implementação local da nossa estratégia de reputação. Dispomos hoje de um orçamento para Portugal consideravelmente maior em campanhas corporativas. Estamos a revolucionar a forma como gerimos a reputação da marca corporativa do grupo, através de uma visão integrada de 360º, ‘multi-touchpoint’ e ‘multi-stakeholder’.
Como é que mata saudades de Portugal e do que é que sente mais falta?
Tenho o duplo desafio de matar as saudades do meu país de origem, o Brasil, onde vivi durante 20 anos, além de Portugal, onde tive a felicidade de viver durante 23 anos. Na minha casa, ambas as culturas estão muito presentes, através de músicas brasileiras e portuguesas e da culinária, diariamente. Venho a Portugal com a minha família quase todos os meses e recebemos, com muita regularidade, amigos e familiares em Madrid.
Regressar a Portugal é uma meta a curto, médio ou longo prazo?
O meu contrato é local, pelo que não existe a pressão de mudança que existe nos contratos de expatriados. Para já, não tenho planos para regressar a Portugal nem de ir para outro país. Acredito que um novo momento de reflexão surgirá quando os meus filhos forem para a faculdade. Se eles quiserem estudar aí, a minha perspetiva poderá mudar.