O Que é Nacional – A nova vida da Torres Novas
Depois da insolvência em 2011, a mais antiga marca de roupa de casa nacional renasce em 2020 com novos donos e gestores e prevê faturar €2 milhões em 2024. Na rubrica do M&P sobre marcas portuguesas, Inês Vaz Pinto, sócia da Torres Novas, conta como os têxteis de mesa (na foto) são o mais recente segmento e a internacionalização impulsiona o crescimento
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Aos 179 anos, a Torres Novas aventura-se em novos segmentos de mercado, estreando-se com uma coleção de têxteis de mesa, depois de entrar na roupa de cama, em 2023, e na de praia, em 2020. O plano da mais antiga marca de roupa de casa nacional passa ainda pela expansão internacional, acelerada com a aquisição da empresa de têxteis-lar britânica Design Port, em junho.
Apesar de já desenvolver projetos de têxteis de mesa para clientes B2B, esta é a primeira coleção lançada com a marca Torres Novas, que tem como inspiração o verão e o convívio à mesa. Toalhas e guardanapos com riscas finas horizontais, iguais às da coleção de toalhas de praia Barra, são as peças criadas.
“Sabíamos que queríamos expandir para esta categoria de produto e que a escolha mais óbvia para um primeiro lançamento seria uma coleção mais clássica e minimalista, alinhada com as nossas coleções de toalhas mais clássicas. Contudo, optámos por arriscar e surpreender com uma coleção de inspiração veranil”, explica Inês Vaz Pinto, sócia da Torres Novas.
A insígnia é fabricada em Portugal por parceiros que trabalham com a marca há vários anos, procurando “expandir a coleção de produtos com base na inovação e criatividade, assim como na consciência social e ambiental”, garante Inês Vaz Pinto, salientando que a missão da empresa se mantém inalterada: “oferecer a cada família produtos ‘premium’ que atravessem gerações, causando impacto em cada fase da vida”.
Vendas de €2 milhões em 2024
À venda no site da Torres Novas, no ‘showroom’ no Restelo, na loja na Comporta (até 15 de setembro) e em lojas parceiras, os produtos da coleção de mesa estão a ser comunicados nas redes sociais da marca e em ‘email marketing’, bem como através da imprensa e de influenciadores.
Redes sociais como Instagram, Facebook, TikTok e Pinterest são, aliás, a base da comunicação da marca, a par com o marketing por email, somando-se ainda um blogue que está em desenvolvimento. O trabalho de marketing e comunicação é desenvolvido internamente, recorrendo apenas ao Twelve Four Studio para as sessões fotográficas.
“O plano para 2024 é atingir os €2 milhões em vendas”, avança Inês Vaz Pinto, depois de ter fechado o ano de 2023 com uma faturação de €1,4 milhões, a subir 25% face a 2022, ano em que já tinha crescido cerca de 100%, para €1,1 milhões. Este crescimento é resultado do relançamento da Torres Novas, iniciado em 2020, quando Nuno Vasconcellos e Sá e a mulher, Inês Vaz Pinto, se juntam a Miguel Castel-Branco e assumem a empresa, com o apoio do acionista de referência e antigo administrador da Companhia de Torres Novas, Adolfo de Lima Mayer, tio-avô de Nuno Vasconcellos e Sá.
Para trás ficam os anos de agonia com a entrada da concorrência estrangeira no início do milénio, que leva ao desaparecimento de clientes importantes, em que a crise financeira de 2008 agudiza ainda mais a situação. A Torres Novas chega a ser cotada em bolsa, mas acaba por decretar insolvência em janeiro de 2011, encerrando em julho desse ano. Em junho de 2009, ainda recorre ao ‘lay off’, até junho do ano seguinte, sem que a empresa consiga dar a volta.
Quando é criada, em 1845, como Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas, pelas mãos de um grupo de comerciantes de Lisboa que queria deixar de depender das importações, a Torres Novas arranca focada na fiação de linho, juta e algodão, a par da confeção de lonas de algodão, para o mercado nacional.
No final do século XIX, é uma das maiores empresas portuguesas da indústria transformadora e quando, em 1949, é adquirida por António Medeiros e Almeida passa por um processo de modernização e promoção no estrangeiro. Em 1972, começa a fabricar toalhas de banho e outros artigos turcos, como roupões e chinelos, passando a controlar todo o processo produtivo, desde o fio de algodão até ao produto final.
Renascer depois da insolvência
A história da Torres Novas parecia ter ficado encerrada em 2011, mas com a nova gestão, assumida em 2020, rearranca focada na hotelaria. O fecho de hotéis durante a pandemia, porém, dita um novo caminho, focado na marca própria Torres Novas.
“Começámos imediatamente a ter vendas no Reino Unido, mas desde o Brexit que se tornou cada vez mais difícil servir os clientes a partir de Portugal, com a rapidez, fluidez e qualidade pelas quais nos regemos”, recorda a sócia da empresa, acrescentando que, com a aposta num centro de distribuição em Manchester e num site próprio para o Reino Unido (Torresnovas.co.uk), passam a conseguir cobrir todo o território britânico.
“Tanto a nível B2B como B2C, temos clientes em vários países da Europa e um pouco por todo o mundo, mas destacamos uma maior presença internacional em Espanha, em França e no Reino Unido. O nosso principal foco atual é a entrada no mercado do Reino Unido como um novo passo da estratégia de expansão internacional” explica Inês Vaz Pinto, prevendo que a exportação este ano represente um terço das vendas totais.
No Reino Unido, a marca está presente nas lojas Domestic Science (em Cheltenham, Tetbury e Nailsworth), na Natural Bed Company e na Rutherford & Co, focando-se nos grandes retalhistas, a par com o comércio eletrónico. Neste mercado, a estratégia é semelhante à seguida no mercado ibérico, com o trabalho desenvolvido internamente, exceto no caso das relações públicas que estão entregues a uma agência local.
Lá fora, como em Portugal, os pontos de venda estão centrados em lojas de departamento de artigos para a casa, hotéis e promotores imobiliários de luxo, além das 100 lojas parceiras (68 em Portugal) e clientes em cerca de 30 países, sobretudo na Europa, mas também na América do Norte, na América do Sul, na Ásia, em África e no Médio Oriente.
Marketing digital: foco na Meta e na Google
No início do reposicionamento, em 2020, a estratégia de marketing da marca passou por comunicar para os antigos clientes e para novas gerações, para conquistar novos consumidores, apresentando-se como uma “marca histórica de referência que estava de volta ao mercado” com uma identidade de “marca nova/antiga”, refere.
Agora, “a estratégia passa, em grande escala, pelo marketing online, redes sociais, parcerias com outras marcas e influenciadores digitais e ‘email marketing’. Estamos também presentes em lojas parceiras (físicas e online) e em feiras e eventos relacionados com o setor têxtil”, diz Inês Vaz Pinto, destacando a aposta nacional em marketing digital na Meta e na Google, sem no entanto referir os montantes investidos em marketing.
Em termos de produtos mais vendidos, Inês Vaz Pinto aponta os têxteis de banho, em que “as toalhas brancas e os tons neutros são os produtos mais procurados e o conjunto Elegance branco é o mais vendido”. Na época de verão, no entanto, os têxteis de praia assumem o protagonismo e representam grande parte das vendas, em que este ano se destaca a toalha reversível de edição limitada, em parceria com a Frederica, marca de ‘lifestyle’ da influenciadora Vanessa Martins.
O objetivo da Torres Novas é tornar-se a marca ‘premium’ de têxteis-lar de referência na Europa. “Isso implica expandir a nossa oferta para além dos têxteis de banho e explorar novas categorias de têxteis-lar, estendendo a marca Torres Novas um pouco por toda a casa”, avança a sócia da empresa.
Em paralelo com a marca Torres Novas, que tem também coleções de banho para bebés e crianças com os bordados da Madeira da Bordal, a empresa trabalha com projetos de hotelaria, ‘merchandising’ e ‘private label’, desenvolvendo produtos no segmento têxtil para outras empresas.
Inês Vaz Pinto refere que o setor têxtil tem registado um aumento contínuo desde a pandemia, o que a leva a acreditar que “existe a oportunidade de nos estabelecermos como marca de referência absoluta, dentro do segmento do têxtil-lar a nível europeu”. Mas há também desafios. “Os maiores constrangimentos das empresas do nosso setor estão relacionados com a cadeia de abastecimento de matérias primas, muito afetada pelo atual contexto geopolítico”, aponta.