Marcas tiram partido do regresso dos ‘dumbphones’
“O interesse pelos telemóveis retro só se manterá elevado até surgir uma solução mais eficaz, uma vez que as pessoas dependem demasiado dos ‘smartphones’ para os abandonarem” defende James Roberts, professor de marketing na Hankamer School of Business da Universidade de Baylor
Daniel Monteiro Rahman
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Este é o ano do regresso do ‘dumbphone’ e as marcas estão a aproveitar. Com as redes sociais cada vez mais polarizadas e alguns utilizadores a preferirem a vida offline, os ‘dumbphones’ estão a servir como estratégia de marketing para algumas marcas que criam os seus próprios modelos destes telemóveis retro, noticia a Ad Age. No essencial, os ‘dumbphones’ são o oposto dos ‘smartphones’, são dispositivos móveis propositadamente limitados à realização de apenas um pequeno número de tarefas.
Recentemente, a PepsiCo lançou um ‘flip phone’ com a sua marca Flamin’ Hot, para oferecer ao vencedor de um concurso da marca nas redes sociais. Embora o aparelho venha com um período de serviço de apenas um ano, é promovido como uma forma de encomendar aperitivos da Flamin’ Hot e não necessariamente para substituir o telefone principal do consumidor.
A Human Mobile Devices (HMD), fabricante dos telemóveis Nokia, por seu lado, lançou dois ‘flip phones’ em parceria com duas marcas diferentes. Em agosto, a empresa anunciou através de um anúncio publicitário um novo ‘flip phone’ da Barbie com um design cor de rosa, que inclui acessórios e capas no estilo da Barbie.
Centenas de milhares de aparelhos, no valor de 129 dólares (€116), foram comprados e o dispositivo esgotou-se antes do lançamento a 1 de outubro nos Estados Unidos.
Em abril, a HMD revelou o Heineken Boring Phone, concebido para desencorajar o uso de redes sociais e incentivar a socialização nos bares. Criado em parceria com a marca de moda Bodega, o telemóvel apresenta um design em linha com o estilo translúcido utilizado por vários aparelhos no final dos anos 90. A Heineken distribuiu 5 mil Boring Phones juntamente com uma campanha publicitária.
Os consumidores que procuram uma pausa dos seus hábitos de navegação online estão interessados nos ‘dumbphones’ apenas como um meio para atingir um fim, explica James Roberts, professor de marketing na Hankamer School of Business da Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, citado pela Ad Age.
James Roberts está atualmente a trabalhar numa investigação que mostra que as pessoas que reduzem o uso das redes sociais apresentam níveis mais baixos de stress e ansiedade. Embora os ‘dumbphones’ prometam afastar as pessoas das redes sociais, o professor especula que “o interesse pelos telemóveis retro só se manterá elevado até surgir uma solução mais eficaz, uma vez que as pessoas dependem demasiado dos smartphones para os abandonarem”.
A maioria das empresas de telecomunicações ainda não aderiu à tendência dos ‘dumbphones’, mas algumas aderiram ao seu sentimento. Em julho, a USCellular lançou uma campanha que desencoraja as pessoas a passarem demasiado tempo no telemóvel e recorreu a Alanis Morissette para reconhecer a ironia da mensagem.
A campanha gerou quase dois mil milhões de impressões nas redes sociais e nos meios de comunicação social desde o seu lançamento, a 23 de julho. “Muitas dessas visualizações vieram do Instagram”, revela Marisa Perazzelli, diretora de planeamento da The Martin Agency, que criou a campanha.
A campanha reconhece a ironia que também se aplica aos ‘dumbphones’ das marcas. Ao oferecerem os seus próprios dumbphones, a Mattel e a Heineken incentivaram os consumidores a passarem menos tempo num dos seus principais canais de marketing.
Mas não se estão a prejudicar totalmente ao fazê-lo, de acordo com Lars Silberbauer, diretor de marketing da HMD. “O ponto de contacto que a Barbie está a criar sempre que se usa o telefone, quer seja para brincar ou para o utilizar realmente, é que se está a entrar no mundo da Barbie ao fazê-lo. Essa é a forma recorrente de interagir com a marca fora do espaço digital”, argumenta.